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Cora Ronai

 OTIMO !!!


Seu André

A família real britânica é o espetáculo mais duradouro da História. Nenhum roteirista seria capaz de inventar algo tão coerente e absurdo

Por Cora Rónai — Rio de Janeiro

06/11/2025 00h30  

Príncipe Andrew — Foto: Adrian Dennis / AFP


Às vezes, sinto inveja dos ingleses. Eles têm um reality show sem igual, transmitido há 1.154 anos sem intervalos, com figurinos suntuosos, cenários monumentais e um drama familiar que se reinventa a cada geração. Temporada após temporada, diferentes núcleos se revezam em paixões e traições, intrigas e ciumeiras, doenças, mortes, nascimentos e toda sorte de escândalos, sempre com o contraponto leve e divertido de episódios de moda, comportamento e decoração. A quantidade de material derivado é incalculável, e se espalha por todas as mídias: filmes, séries, exposições, documentários, podcasts, best-sellers. O orçamento é milionário, mas, considerando a qualidade do entretenimento, sai até barato.


Estou falando, claro, da família real britânica, o espetáculo mais duradouro da História. Nenhum roteirista seria capaz de inventar algo tão coerente e absurdo ao mesmo tempo. Desde que Alfredo, o Grande, derrotou os vikings em 878 (um épico!), até os spin-offs modernos de Harry & Meghan, o roteiro se renova com notável constância e uma vocação infalível para o sucesso. Não há tempos mortos. Basta um casamento ou uma separação, um funeral ou uma entrevista atravessada, para que o enredo volte a borbulhar.


Outros países tentaram emplacar diferentes versões do show, mas — com exceção do Antigo Egito, que manteve a superprodução “Faraó” ao longo de três milênios — nenhum conseguiu segurar o drama por tanto tempo sem perder a audiência (e, ocasionalmente, algumas cabeças aqui e ali).


A temporada que começou em janeiro deste ano, quando novas mensagens trocadas entre o Príncipe Andrew e Jeffrey Epstein vieram à tona, está melhor do que nunca. Andrew, o tio canalha, renunciou aos seus títulos em outubro — mas, àquela altura, era muito pouco, muito tarde. Ele já estava envolvido em novo escândalo, agora com espiões chineses, e, na semana passada, não só foi oficialmente destituído das honrarias como, ainda por cima, acabou despejado do palácio de 30 quartos que ocupava, há 20 anos, sem pagar aluguel.


Perdeu uma dúzia de títulos militares, inclusive o de vice-almirante da Marinha, e arrisca perder até aquela medalhinha que ganhou pilotando helicóptero na guerra das Malvinas. Deixou de ser príncipe, duque de York, conde de Inverness, barão de Killyleagh e cavaleiro da Ordem da Jarreteira. Seu nome foi apagado de vez da lista de nobres do reino.


De agora em diante, atende apenas por Andrew Mountbatten Windsor, um mister qualquer.


Seu André.


Parece bobagem para nós que temos problemas cívicos reais (sem trocadilho), mas é o escândalo do século para os ingleses que, pela primeira vez em muito tempo, estão vendo manchetes praticamente iguais em toda a extensão da sua polarizadíssima imprensa. Todos os jornais estão indignados, e todos estão cobertos de razão.


O ex-príncipe é o melhor exemplo do que a aristocracia produz de pior: privilégio sem talento, arrogância sem disfarce, imunidade sem mérito. É um personagem secundário que insiste em roubar a cena — e que, nesta trepidante temporada, acabou levantando a ponta do tapete das finanças nada transparentes da família real.


Antes que a casa caia, será exilado em Sandringham, um paraíso campestre onde, espera-se, será pouco visto e menos lembrado, numa espécie de cancelamento às antigas. A audiência agradece.

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