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MACRO MERCADOS DIÁRIO 26/05/21 - CPI, REFORMAS E POLÍTICA MONETÁRIA

Terça-feira teve a CPI da Covid como destaque, mas também a aprovação na CCJ da reforma administrativa, assim como o IPCA-15 no piso das projeções. Por aqui, nada muda no transcurso da política monetária, nos EUA, seguem os debates em torno do início do processo de tapering pelos diretores do Fed, com muitos já considerando discutir o tema nas próximas reuniões do FOMC.

Esta parece ser a opinião, por exemplo, do vice-presidente do Fed, Richard Clarida, sinalizando que “pode haver em algum momento” o início deste debate. A inflação segue no radar, sendo divulgado o PCE de abril, e seus correlatos, nesta sexta-feira. Os indicadores norte-americanos, no entanto, ainda não são definitivos sobre se a economia roda em ritmo acima do esperado (ou não). Isso não se observa pela confiança dos consumidores, que entre abril e maio recuaram de 117,5 a 117,2, pelo Conference Board, enquanto que as vendas de imóveis novos recuaram 5,9% em abril contra março. Este último indicador se justifica pela alta da inflação recente, mostrando que os preços dos imóveis seguem em forte elevação, inibindo as compras. Neste contexto, ontem foi dia de correção nas bolsas de valores em NY. Fecharam em queda, com o DJ recuando 0,24%, a 34.312 pontos, S&P -0,21%, a 4188, e a Nasdaq -0,03%, a 13.657. O indicador de dólar, o DXY recuou 0,23%, a 89,639 pontos e no mercado de juro, nos rendimentos dos treasuries, os T 2Y foram a 0,141%, os T 10Y a 1,55% e os t 30Y 2,25%.

Isso nos leva a concluir que o Fed segue atento, reconhecendo os efeitos transitórios na alta dos preços, mas não descartando o início do ciclo de desmonte da política acomodatícia em breve. Muitos falam no final deste ano, com 2023 sendo o start para a elevação do juro. Outros acham que pode acontecer antes.

Tudo isso se reflete no comportamento do dólar, em queda contra as principais moedas, fortalecendo o real, mesmo que na margem, e retirando um pouco a pressão sobre a inflação doméstica.

O IPCA15 de maio ficou no piso das projeções de mercado, 0,44%, contra 0,6% em maio, mas acumula 7,27% em 12 meses, bem acima do teto da meta de inflação deste ano (5,25%). Ao fim deste ano deve ficar em torno de 5,3%, impactado pelos preços administrados, previstos em 8,4% neste ano, destacando os reajustes de energia elétrica em “bandeira vermelha”. Em maio subiu 2,31%, elevando o grupo habitação a subir 0,79%, contra 0,45% no mês anterior. Não esqueçamos também do gás de cozinha, em mais um mês de reajuste. Para os próximos meses novas altas da energia elétrica são previstas, assim como na tarifa de transporte público. Isso nos leva a crer que o grande vilão da inflação neste ano serão os preços administrados.

Isso abre espaço para um ciclo mais intenso de ajustes da taxa de juros, embora em normalização parcial e em menor tempo. A Selic deve ir a 5,5% ao fim deste ano, sendo previsto mais um ajuste de 0,75 ponto percentual no Copom de junho. Em agosto teremos outro. Resta saber em que intensidade. Tudo dependerá dos indicadores (data depend).

Sobre a CPI da Covid, ontem foi a fez da Dra Mayra Pinheiro, que negou a obsessão pela cloroquina, mas defendeu seu tratamento preventivo, sem maiores efeitos colaterais. Chamou atenção, no entanto, sua preocupação em blindar o presidente Bolsonaro, nas não deixando de criticá-lo por defender o tripé, uso de máscara, de uso gel e o isolamento social, ou até confinamento.

Nesta quarta-feira não teremos depoimentos e o relator, o presidente e os membros discutirão a convocação dos governadores e prefeitos, sendo possível a convocação de governadores mais alinhados com o Planalto, como Claudio Castro do Rio de Janeiro, ainda mais depois da mobilização de motos no fim de semana. Outro governador esperado será o do Amazonas. Será decidido se será reconvocado o ex-ministro da Saúde Pazuello, prestes a uma reserva compulsória pelo Exército.

Enquanto isso, na CCJ da Câmara, ontem, por 39 votos a 26, foi aprovada a primeira fase da reforma administrativa. O próximo passo é a Comissão Especial, onde o trabalho será melhorar a proposta. Ou seja, sua admissibilidade foi aprovada, agora indo para CE e sabermos se a proposta não fere cláusulas pétreas da Constituição. A previsão é que o texto seja enviado para o Senado no segundo semestre. De acordo com Lira, a proposta manterá todos os direitos e garantias dos atuais servidores. Eventuais mudanças serão válidas apenas e tão somente para os servidores admitidos após a reforma.

Sobre a reforma tributária, os debates transitam pelas possíveis etapas de um fatiamento, incluindo mudanças no imposto de renda de pessoas físicas (aumento da faixa de isenção) e jurídicas, IPIs seletivos, passaporte tributário, além da tributação sobre consumo, a "reforma do consumo".

Outro tema em discussão é a extensão do auxílio emergencial, enquanto um programa de renda mínima — ou "renda cidadã" — mais amplo do que o Bolsa Família. Este projeto pode acabar servindo muito mais como “escudo” contra temores de “intervencionismo" (como os gerados pela saída do presidente da Previ) e de aumentos de gastos visando agenda social e eleitoral do que como reforma de largo escopo na máquina pública.

A recuperação econômica, ainda que sem reformas mais amplas, parece cada vez mais ser a principal aposta do Planalto e do ministério da Economia, Paulo Guedes, bem como do Centrão, para que o governo retome a popularidade e mantenha a confiança do mercado.

Neste, ontem foi dia de realização. O Ibovespa não teve fôlego para superar o recorde de fechamento de 125.076 pontos. Recuou 0,84%, a 122.987 pontos, com giro financeiro de R$ 28,1 bilhões. Na semana, o ganho é de 0,32%, no mês de 3,44% e no ano 3,34%. Já o dólar fechou o dia em alta de 0,23%, a R$ 5,3371. No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 caiu cinco pontos-base a 5,00%, o DI para janeiro de 2023 teve queda de nove pontos-base a 6,71%, o DI para janeiro e 2025 recuou 10 pontos-base a 8,16% e o DI para janeiro de 2027 registrou variação negativa de oito pontos-base a 8,76%.

Na agenda do dia, estejamos atentos aos Dados do Setor Externo de abril (Bacen), com foco na curva dos investimentos estrangeiros.

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