quarta-feira, 12 de novembro de 2025

José Eduardo Agualusa

 VAMOS SABER MAIS E MAIS SOBRE O PREFEITO ELEITO DE N.Y.C. !!! ALGUMAS COLOCAÇOES DO AUTOR NAO CONCORDO...MAS:


Mamdani, o africano

Novo prefeito de NY é síntese da diversidade. Nunca perdeu contato com a Uganda Natal. Entre Seus assessores mais próximos, vários são judeus, antissionistas

Por José Eduardo Agualusa

08/11/2025 00h30  


Zohran Kwame Mamdani, o novo prefeito de Nova York, é uma síntese viva do melhor que o continente africano tem — a diversidade.


Leão de Ouro em Veneza: Mãe de Zohran Mamdani, novo prefeito de Nova York, já concorreu ao Oscar; conheça a cineasta Mira Nair

 

Zohran nasceu na capital de Uganda, Kampala, em 1991, filho de uma das mais aclamadas cineastas independentes da Índia, Mira Nair, e de um respeitado cientista político ugandês, Mahmood Mamdani. O pai, filho de tanzanianos de origem guzerate, de religião muçulmana, decidiu que o filho se chamaria Kwame, em homenagem a Kwame Nkrumah, primeiro presidente de Gana e um dos fundadores do movimento pan-africanista.


O pequeno Zohran viveu em Kampala e na Cidade do Cabo — na África do Sul da era de Mandela —, em uma casa sempre cheia de artistas e de figuras importantes da vida política africana. A família se fixou em Nova York quando ele ainda era criança. Porém, Zohran nunca perdeu contato com a terra natal. Já adulto, tentou uma carreira como rapper em Kampala, cantando, sem grande talento, mas com muita alegria e convicção, em inglês e em swahili. Em Uganda, aliás, a vitória de Mamdani foi acolhida com enorme euforia, sobretudo pela juventude.


Mamdani acendeu um clarão de esperança no coração de muitos americanos — e não apenas deles. Finalmente, parece ter surgido alguém capaz de enfrentar com sucesso o discurso populista de Donald Trump e dos seus sinistros simulacros internacionais.


Trump intuiu isso. Dias antes das eleições, aterrorizado, apelou aos seus seguidores para que não votassem no candidato republicano, Curtis Sliwa, e sim em Andrew Cuomo — um democrata da velha guarda, que concorreu como independente —, uma vez que este parecia ter mais possibilidades de vencer o jovem candidato socialista. Na mesma ocasião insurgiu-se também contra os largos milhares de judeus que apoiam Mamdani, classificando-os de “estúpidos”.


A este propósito, vale a pena referir que entre os assessores mais próximos do futuro prefeito de Nova York estão vários judeus jovens, antissionistas. Naturalmente, não têm nada de estúpidos. A vitória de Mamdani deve ser creditada não só ao seu brilhantismo, autenticidade e carisma, mas também à perspicácia da equipe que o rodeia.


Em um dos momentos mais emocionantes do seu discurso de vitória, Mamdani dirigiu-se diretamente ao presidente norte-americano: “Donald Trump, sei que está assistindo. Só tenho estas palavras para você: aumente o volume!” Logo acrescentou: “Se existe alguma forma de aterrorizar um déspota é desmantelando as condições que permitiram que acumulasse poder.”


Nova York já foi governada por brancos e negros, por milionários, por advogados pouco escrupulosos, por todo gênero de políticos profissionais, mais ou menos comprometidos com o sistema. Nunca por um contador de histórias africano, com uma mãe hindu e um pai criado numa família islâmica. Em Zohran Mamdani, a grande cidade reencontra a sua alma mestiça e cosmopolita. A vitória do jovem imigrante ugandês abre uma explosão de luz num tempo sombrio.


E quanta falta nos fazia um pouco de luz!

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