Debate
Por estes dias, o Insper promoveu um encontro, capitaneado por André Lara Resende, para lançar o seu livro, Moeda e Ortodoxia, com a participação de Marcos Lisboa, Samuel Pessoa e Pedro Duarte. Foi um debate bem rico, que versou sobre os dilemas de uma taxa de juros muito elevada, e questionamentos sobre sua eficácia, e a situação fiscal que só piora. Vejamos o que foi discutido.
André Lara Resende. Interessante q ele é muito crítico a este arcabouço monetário hoje existente, por não achar razoável um juro real de 9,5%. Acha também q a questão fiscal é um falso problema, visto que como emitimos dívida em moeda nacional é só ir rolando, financiando, empurrando para frente. Tudo bem, Itália, Japão, EUA, fazem o mesmo. Só que lá as políticas públicas conseguem ter uma certa aderência ou credibilidade, ao contrário do Brasil. Me impressiona, portanto, a muito pouca consideração sobre a variável expectacional, visto que a piora da situação fiscal vai tornando a rolagem de dívida algo mais difícil, de menor qualidade, com a maior colocação de títulos com liquidez e prazos imediatos. É inevitável considerar que o perfil da dívida piora, com o aumento desta, de forma perigosa. André Lara não encara isso como problema.
Pedro Duarte. Sobre o panorama da teoria econômica nos anos 50, pode-se colocar alguns pontos de introdução e depois. Parte de Keynes, na sua TGEJM, de 1936, no debate sobre a “armadilha da liquidez”, com a moeda sendo elástica e a política monetária perdendo eficácia. Daí a necessidade de adoção de políticas fiscais a preencherem este vazio, tornando importante a adoção da teoria keynesiana. Na leitura dele, e dos outros também, Keynes montou um arcabouço teórico cercado de suposições, depois organizadas por Hisks e Hansen no famoso ISLM, nos anos 50, e depois daí tudo se transformou. Um desafio aqui é como criar a ponte entre o curto e o longo prazo, no debate sobre o papel da moeda, sua neutralidade no longo prazo e sua importância no curto prazo. Os clássicos não dividiam o papel da moeda no tempo, os keynesianos, sim.
Marcos Lisboa. Acha que estamos caindo então no debate da crise que a ciência econômica atravessa. Os únicos preceitos teóricos q se sustentam são os da microeconômicos, pois com menos variáveis e mais fáceis de serem testáveis empiricamente. A Macro se esgota pela dificuldade de criar modelos “entorno”. A MACRO Keynesiana não passou de um “sonho em noite de verão”, ainda que cercada de suposições. Ou seja, foi o ISLM q tentou dar a teoria keynesiana alguma elegância. Marcos Fernandes, um amigo, discorda. Diz ele, “não acho que macro tenha acabado não… modelos de metas de inflação, com câmbio flutuante, regras de juros que orientam o banco central sai extremamente úteis, tem funcionado bastante bem… por exemplo, acho que a Argentina tá faltando uma política monetária para complementar a política fiscal… isso pra mim vem de lá da macroeconomia tradicional…
Samuel Pessoa. A contribuição de Samuel foi mais marginal, visto ele não se considerar um macroeconomista monetário. Para ele, que o chama atenção, no início do livro, é o debate entre Eugênio Gudin e Roberto Simonsen, considerando o primeiro um grande pensador, meio que injustiçado. Disse Samuel que Gudin, acertadamente, foi o primeiro a pensar a produtividade, no debate público da nossa lúgubre ciência.
Minhas impressões. Interessante é ver como a nossa lúgubre ciência possui vazamentos, fragilidades retóricas, enfim. André Lara Resende argumenta que é impossível colocar a complexidade de uma sociedade "humana", tantas variáveis, dentro de um modelinho, enquanto Marcos Lisboa contra-argumenta q o debate hoje deve ser o de um modelo teórico que tenha formalização, ou seja, tenha evidência empírica, podendo ser testável.


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