domingo, 28 de setembro de 2025

Leitura de domingo

 Leitura de Domingo: Marcas chinesas já são mais de 10% dos carros vendidos no Brasil


Por Eduardo Laguna


São Paulo, 22/09/2025 - As montadoras chinesas tiveram um desembarque avassalador no Brasil. Menos de quatro anos depois de BYD e GWM começarem a vender seus primeiros modelos no País, as marcas chinesas, na soma de todas, já respondem por mais de 10% dos carros de passeio comprados pelos brasileiros. Hoje, é mais fácil encontrar uma concessionária de carros chineses do que de marcas como Toyota, Renault, Hyundai e Honda, estabelecidas com fábricas e operações comerciais há décadas no Brasil.


Mapeamento da Neocom, empresa especializada em análises do mercado automotivo, mostra que BYD, GWM, Omoda & Jaecoo (O&J) e GAC têm, juntas, 347 pontos de venda, entre concessionárias completas e showrooms. Mesmo tendo sido construído basicamente com importações de carros, o número só fica atrás das redes de revendas das três maiores montadoras do País: Stellantis (mais de mil); General Motors (565); e Volkswagen (443).


Até aqui, os chineses nadaram de braçada na introdução dos carros híbridos e elétricos no mercado brasileiro. O apetite deles é grande, como mostram as metas anunciadas. Enquanto a BYD mira uma posição entre as cinco maiores marcas do País - hoje, está no sétimo lugar em automóveis -, a GWM fala em chegar futuramente a um volume entre 250 mil e 300 mil veículos no Brasil, embora sua fábrica em Iracemápolis, no interior paulista, arranque com capacidade de produção de 50 mil carros por ano.


Essa ambição será desafiada, no entanto, por lançamentos programados pelas montadoras tradicionais, incluindo a chegada dos automóveis híbridos das três do pelotão de frente: Stellantis, GM e Volks. Ou seja, mais concorrentes para disputar o mercado de novas tecnologias que, embora em expansão, tem limitações de crescimento. Uma pesquisa da Webmotors mostra que praticamente metade dos consumidores vê a insuficiência de pontos de recarga e a sensação de dificuldade na revenda como obstáculos à compra de carros elétricos e híbridos plug-in, aqueles cuja bateria é carregada na tomada.


Nos últimos três anos, enquanto enfrentavam barreiras tarifárias nos Estados Unidos e na Europa, as marcas chinesas multiplicaram por sete suas vendas no Brasil. Nas previsões da Bright Consulting, devem fechar 2025 acima de 260 mil unidades, o equivalente a 10% do mercado, quando se consideram tanto os carros de passeio quanto os utilitários leves, como picapes.


Após pressão das montadoras tradicionais, representadas pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o imposto sobre as importações de carros híbridos e elétricos vem subindo gradualmente desde o ano passado, com retorno à alíquota máxima (35%) marcado para julho do ano que vem, o que atinge sobretudo os veículos da China.


Montadoras com fábricas no Brasil, como a BYD, que está prestes a começar a produzir em Camaçari (BA), e a GWM, que já tem fábrica funcionando no interior de São Paulo, têm à disposição cotas que somam US$ 463 milhões para trazer automóveis desmontados sem imposto de importação. Fora das cotas, poderão contar até o fim do ano que vem com imposto de importação mais baixo - 14%, contra alíquotas sobre carros totalmente montados que, a depender da tecnologia, variam hoje entre 25% e 30%. Mas a partir de janeiro de 2027, todos, inclusive os carros que terão montagem final no Brasil, terão que pagar imposto de importação de 35%.


Diante de tributos mais altos nas importações e com novos concorrentes pela frente, a desaceleração no crescimento dos carros chineses está sendo projetada por algumas consultorias. Entre elas, a Bright Consulting vê a participação de mercado deles estacionar em 13% a partir de 2027.


Segundo Alexandre Ayres, CEO da Neocom, a cidade de São Paulo, onde está o maior mercado do País, já emite sinais de que as marcas chinesas não encontrarão a mesma facilidade para seguir crescendo de forma exponencial. Na capital paulista, quase metade da expansão das vendas de carros eletrificados de janeiro a julho foi explicada pelo Fastback, um híbrido da Fiat. "A Fiat foi a marca que mais cresceu nesse segmento, o que evidencia o desafio que as montadoras chinesas enfrentarão à medida que as marcas tradicionais de grande volume lançarem seus produtos elétricos e híbridos", comenta Ayres.


Contato: eduardo.laguna@estadao.com


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Adhemar Bahadian

 Segue meu artigo de amanhã no JB digital. Voce poderá encontra-lo tambem no substack. 


Ressonâncias e Dissonâncias.

 Adhemar Bahadian

            As ressonâncias dos pronunciamentos dos chefes de Estado nas Nações Unidas não cessam de provocar considerações de imenso interesse no Mundo. As dissonâncias também.

           Se a cada dia que passa o discurso do Presidente do Brasil recebe unânimes aplausos e leitura atenta pela imprensa internacional, onde sistematicamente é classificado como um ponto de virada no clima angustiante dos últimos meses, os discursos do Presidente Trump e do chefe de governo de Israel, em contrapartida, são objeto de perplexidade um e de constrangimento o outro.

          O discurso de Trump talvez se notabilize sobretudo pelas críticas profundas à própria ONU, desfigurando seu papel no pós-guerra e os ideais dos próprios representantes dos Estados Unidos que se notabilizaram pela sempre unânime defesa da paz inscrita na Carta de São Francisco.

           Um discurso entre arrogante e inepto a tornar transparente que a política externa dos Estados Unidos da América tem muito ou quase nada a dizer, senão a ilusória pretensão de seu Presidente de receber obrigatoriamente o prêmio Nobel da Paz, sabe-se lá por quê.

              Já o discurso do chefe de governo de Israel, pronunciado diante de um plenário esvaziado pelo que talvez seja o maior gesto de repúdio, expresso  na  saída deliberada  de grande parte dos representantes governamentais  antes de o orador tomar a palavra, nada mais foi do que uma clara e desafiadora manifestação contra  o triste cenário de morticínio na faixa de Gaza.

              As conclusões  são óbvias. Tanto o MAGA de Trump quanto a hostilidade à criação de um Estado Palestino receberam  reprovação da comunidade internacional representada por seus mais altos dirigentes.

          O MAGA, em sua expressão internacional, se revela um Consenso de Washington elevado a décima casa da barbaridade geopolítica. A tentativa de destruição da ONU, tão clara e cínica, terá espantado os mais céticos diante do multilateralismo surgido pós-segunda guerra. 

          Trump simplesmente associa o crescimento dos Estados Unidos à eliminação de todos os mecanismos e regras em defesa do comércio internacional e os substitui por um jogo de cartas marcadas em que todos os baralhos são devidamente embaralhados com mão de ferro.

           MAGA é o novo nome do neocolonialismo mais retrógrado, mais agressivo e mais indiferente ao destino do planeta, às mudanças climáticas e sobretudo ao aumento óbvio dos desajustes sociais e econômicos a que estamos a assistir.

            Há porém uma outra face nesta cenografia. Por mais que se queira camuflar, a reação de repúdio internacional, densa e quase unânime, parece romper finalmente o sombrio nevoeiro de impasses sucessivos.

         O próprio Trump dá sinais, esperto que é, de que o desgaste de sua popularidade, inclusive internamente, o obriga a docemente mudar o andar da carruagem.

           Há indicações claras de que  a repercussão do discurso de Lula abre a porta de um debate ansiado faz  tempo por vozes frequentes nas Nações Unidas e fora dela. Ou se reforma e se recompõe a Carta das Nações Unidas, inclusive com a reforma de seu Conselho de Segurança, ou a remilitarização crescente  dos Estados tenderá ,mais cedo ou mais tarde, a provocar a multiplicação de conflitos regionais, o desarranjo do sistema  de finanças e comércio internacionais. 

       O movimento de reforma não será tão rápido quanto deveria. Há velhas e enrustidas ideologias que ainda se supõem verdades absolutas. Mas, como no caso do MAGA, os retrocessos evidentes se mostram insustentáveis e certamente serão prejudiciais a Estados e Mega-empresas.

        No centro do debate, os exageros e aspirações indevidas das big-tecs e a lambança da liberdade de expressão, hoje tão empobrecida nos Estados Unidos, onde até comédia dá cadeia.

           Mas é exatamente aí que vejo sucessivas correntes marinhas, sucessivas grutas povoadas de moreias. A questão da chamada liberdade de expressão é o novo nome da Torre de Babel. 

         Os Estados Unidos de Trump, embora a relativize internamente, parece opor-se a regulamentações nacionais como já vimos frequentemente. E, como se sabe, os Estados Unidos são mestres em não-aceitar jurisdições internacionais e apregoam a soberania da lei americana erga-omnes.

            Nas conversações Trump-Lula, convém recordar, agendas pre’-acordadas nem sempre são respeitadas na Casa Branca. Temo que o tema seja temível para gregos e troianos. 

             A soberania aí pode ser desacatada com argumentos jurídicos "pret-à-porter". Terreno movediço, onde ressonâncias e dissonâncias tendem a se confundir.

Fernando Costa

 Bem, como eu já disse varias vezes anteriormente, uma coisa sao os isentoes críticarem com razao Bolsonaro por ter ajudado a sepultar a lava jato e a CPI da toga para salvar seu filho Flavio, OUTRA COISA COMPLETAMENTE DIFERENTE EH SE UTILIZAR DESSA DIMENSAO PARA JUSTIFICAREM E PASSAREM PANO PARA A PERSEGUICAO DO STF CONTRA UM ESPECTRO POLÍTICO. Coisas diferentes. 


E até parece que os tucanos sao purinhos né, com inumeras denúncias que FHC gastou capital político não para continuar a aprovar reformas estruturais difícilimas, mas para aprovar uma reeleicao que permitisse que continuasse no poder. Ainda relembro que os puristas tucanos produziram o Aecio dos áudios vazados nada republicanos e do Alckmin, que voltou a cena do crime.


Em suma, os tucanos não tem estatura moral para criticarem Bolsonaro, muito menos para realizarem uma analise desse nivel completamente DESPROPORCIONAL, de LEGITIMAREM o assalto à constituição, ao estado de direito e a democracia ocorrido no pais nos últimos 6 anos pelo STF em nome de equívocos que um político realizou, mas que também cometeram. Os tucanos tem também as maos sujas de sangue, quando ultrapassaram as criticas pontuais para legitimarem ESSA FARSA INTELECTUAL que um golpe foi tentado no pais. 


Em tempo, QUEM NÃO ESTA PERMITINDO O SURGIMENTO DE UMA OUTRA DIREITA ???? Somente esse argumento falacioso demonstra como os tucanos sempre compram sem questionar as narrativas da mídia, assim como na infaltilizacao que fomos sancionados porque um deputado persuadiu um pais e nao porque esse pais concluiu o ÓBVIO que não existe democracia com lawfare, com uma juristocracia perseguindo correntes políticas. Aqui também o culpado eh um deputado, NÃO EH QUE GRANDE PARTE DO POVO BRASILEIRO POSSUI UM DISCERNIMENTO E LIBERDADE de entender que outros COMO OS TUCANOS, que sempre minimizam e passam pano para uma elite que busca impor sua HEGEMONIA cultural goela abaixo da população, não defendem com vigor mudanca estrutural de pautas que uma elite não aceita. NAO, SEGUNDO OS ILUMINADOS TUCANOS, repetindo o desrespeitoso talking point da esquerda DE TRATAR UM SEGMENTO ENORME DAPOPULAÇÃO COMO GADO, COMO MASSA DE MANOBRA POR NÃO CONCORDAREM, o problema não está neles (até na falta de autocritica das razoes porque o PSDB nao se elege nem para sindico de predio sao iguais aos petistas), O PROBLEMA EH QUE ESSE GRANDE SEGMENTO da população que depois da redemocratização votou em diferentes espectros políticos virou EXTREMA DIREITA da noite para o dia, somente por divergir. E ESSES SAO OS DEMOCRATAS ISENTOES !

Pensatas jurídicas

1. Dizem q o Lula pediu penico de encontrar com Donald Trump, diante das evidências de perder a narrativa vitimista de sempre, decorrente do autoritário tarifaço. Além disso, é nesse papo furado q ele vem recuperando popularidade. O q ele vai dizer agora? Reflitam.

2. Critica corrente é q muitos recorrem ao achismo. Não possuem argumentos técnicos. Tecnicismo, às vezes, tem o objetivo de encobrir a real. O Direito se arvora muito desta ferramenta para soltar bandidos. Sempre acha "brechas" na lei, no Código Penal, me permitam, no escambau. Assim como este "STF" aparelhado encontrou brechas na lei, na sua tecnicidade, para soltar o sapo e quadrilha, os advogados da turba da "tentativa de golpe" estão achando variadas brechas para soltar os caras. Está adiantando algo? Não. Pq o STF, cinicamente, vem se movendo ao sabor dos ventos. Se movimentando de acordo aos q estão no poder. Isso é justiça? Reflitam

3. O "Prerrogativa", grupo da OAB q sustenta o Lula no poder, só ganhou evidência, nas suas variadas bancas de advocacia, pq vive da procrastinação, do "trânsito em julgado", do empurrar com a barriga, da chicanagem. O q, muitas vezes, sustenta estes advogados de porta de cadeia, q soltam quem paga mais a partir deste tecnicismo? O FALACIOSO E CANALHA argumento de q deve-se esgotar todos os recursos para prender alguém. Vcs sabiam q 30% das receitas destes escritórios advém destes esquemas de chicanagem? Sim, pq se o processo fica dançando para as várias instâncias de apelação, os escritórios recebem mais em custas judiciais.

4. Existe crime perfeito? Não, não existe. O bom advogado sempre conseguirá pegar o pilantra, assim esperamos, mas o fato é q o q rola é uma tremenda assimetria de oportunidades e possibilidades, isso não se tem dúvida. É o gato atrás do rato. Um dia a casa cai, ou não!

5. Antônio Pallocci fez uma delação premiada demolidora contra o Lula. Demolidora. Só q o sapo, o PT, foram lá, cooptaram o STF e destruíram esta prova. Anularam a delação. Por isso, eu pouco debato hje em dia e sempre digo: É para quem pode e paga mais.

6. Aliás, a prisão em Segunda Instância, batalha do Sérgio Moro por criar os "atalhos" para prender gente da laia do Lula, seria a pedra de cal contra esta gente. O STF, diligentemente, pq muitos lá precisam sustentar seu rico patrimônio, foi lá e a enterrou. É muita lavanderia (ou branqueamento de capital) em Portugal, né não?

7. E finalmente, o Eduardo Tagliaferro está dando trabalho, mas já viram pq zero de repercussão? O cara conhece as vísceras do STF. Por que não consegue avançar nas suas denúncias? 

Ganha uma "jabuticaba" quem souber responder...Boa semana a todos.

Novas Concessões

 *Leitura de Sábado: Onda de novas concessões acirra disputa por mão de obra no setor rodoviário*


Por Elisa Calmon e Luiz Araújo


São Paulo e Brasília, 23/09/2025 - A "onda" de novas concessões rodoviárias no Brasil, com o maior número de leilões em 17 anos, esbarra em um gargalo de mão de obra especializada. O avanço acelerado de projetos, somado à redução no ritmo de formação de profissionais, tem levado concessionárias a adotar diferentes estratégias. As iniciativas incluem investimentos em tecnologia, assim como programas de capacitação e retenção.


Entre 2015 e 2018, auge das ações da Operação Lava Jato e da crise fiscal, o País realizou apenas dois leilões de rodovias federais. De 2019 a 2022, não passaram de sete. Entre 2023 e 2025, o número saltou para 16, enquanto a meta do governo federal é entregar 35 concessões até o final do atual mandato. Em 2024, foram sete, maior marca em 17 anos. Os números não incluem os projetos estaduais, que também têm ganhado tração.


Para o CEO da MoveInfra, Ronei Glanzmann, a aceleração reflete um amadurecimento dos aspectos jurídicos e econômicos no setor de concessões. No entanto, o especialista identifica uma "dor de crescimento", com o descasamento entre a demanda e oferta de profissionais.


"Temos financiamento disponível, bons contratos e leilões competitivos, um atrás do outro, mas está na hora de executar os projetos e há um gargalo de mão de obra", afirma Glanzmann, representante da entidade que reúne os seis principais grupos de infraestrutura do País.


A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima um déficit de 75 mil engenheiros no Brasil. O País forma cerca de 40 mil profissionais da área anualmente, enquanto outros integrantes do Brics, como Rússia e China, contabilizam mais de 450 mil graduandos, de acordo com dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea).


O fechamento e reestruturação de grandes empresas de construção após a Lava Jato e o maior apelo de outros setores ajudam a explicar o menor interesse pela área de engenharia, segundo o diretor executivo de Pessoas e Organização da Arteris, Roberto Paolini. "As novas gerações migraram muito para serviços, tecnologia e inteligência artificial, que se tornaram mais atrativas. No entanto, ainda precisamos muito dos engenheiros 'hard', aqueles que projetam, constroem e executam", afirma.


Enquanto isso, a pouca mão de obra disponível é disputada por outros setores, como o da construção civil, também fomentado por políticas públicas. A lista de desafios inclui ainda a alta complexidade da carreira de engenharia e baixo salário inicial na comparação com outros segmentos, avalia o sócio do escritório Bocater Advogados, Thiago Araújo. "O cenário só poderá ser modificado a partir da atualização dos cursos e uma melhoria nas projeções do mercado de trabalho", comenta.


Estratégias


A regionalidade é uma das estratégias da EcoRodovias para atrair e reter talentos, segundo o diretor de engenharia do grupo, Filippo Chiariello. "Contratar pessoas em faculdades próximas ao local que irão atuar gera mais fidelidade, porque cria um senso de pertencimento. Funciona melhor do que trazer alguém de um grande centro e levá-la para o interior, por exemplo", explica.


O foco na qualidade do ambiente de trabalho é outra iniciativa adotada pela EcoRodovias. "Salário e benefícios são importantes, mas o clima pesa muito", afirma Chiariello. O executivo cita ainda a tecnologia como aliada. "Equipamentos mais autossuficientes reduzem a necessidade de mão de obra altamente especializada, enquanto a engenharia digital oferece ferramentas que ampliam a base de profissionais capazes de atuar", explica.


A inovação também é utilizada pela Motiva (ex-CCR) para reduzir a mão de obra nos canteiros e melhorar as condições de trabalho, segundo  a diretora de Pessoas da companhia, Danila Cardoso. A executiva destaca que a empresa contratou quase 500 engenheiros entre janeiro de 2024 e julho deste ano, enquanto cerca de 80 vagas seguem abertas para serem preenchidas até dezembro.


De olho nessa demanda, a Motiva fomenta parcerias com universidades. "Além de atrair jovens, buscamos profissionais experientes e criamos programas de mentoria. Também estamos em conversas com a PUC-Rio para montar nossa própria escola de engenharia, focando no 'upskilling' [aprimoramento] de funcionários", relata Danila.


A Arteris, por sua vez, aponta foco em capacitação e clima organizacional para reter talentos. Paolini ressalta que a empresa busca absorver profissionais após grandes entregas, conciliando ciclos de investimento e de pessoal. "Temos feito programas de desenvolvimento para lideranças e áreas técnicas em parceria com instituições como Fundação Dom Cabral e Fundação Getúlio Vargas", diz o executivo.


Diante do descompasso entre formação e demanda, a Arteris criou programas próprios de capacitação para fidelizar engenheiros e reduzir o "canibalismo" entre concorrentes. Paolini alerta, no entanto, que a escassez eleva salários e pode levar a promoções aceleradas de profissionais ainda juniores, o que "compromete a qualidade da execução".


Contatos: elisa.ferreira@estadao.com; luiz.araujo@estadao.com


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Ativos digitais

 *Leitura de Sábado: Após anos de experimentações, ativos digitais encontram casos de uso real*


Por Aramis Merki II


São Paulo, 26/09/2025 - Stablecoins são criptoativos lastreados em moedas soberanas na proporção de um para um. Funcionam como representações digitais de uma determinada divisa na tecnologia blockchain. Elas têm o potencial de ser um ponto de virada para o mundo dos ativos digitais: ultrapassam o caráter especulativo e há casos de uso tanto para investimento quanto para transações financeiras.


O Boston Consulting Group (BCG) aponta que estes ativos podem revolucionar a forma de pagamentos, ainda que apenas 1% do total de movimentações de moedas digitais estáveis seja para este fim. "Depois de ano de experimentação, o dinheiro digital está se movendo para um novo estágio de adoção", destaca o BCG em relatório.


Globalmente, o volume de transações com stablecoins está em seus recordes. Em agosto, o montante transacionado alcançou US$ 1,9 trilhão, de acordo com o consolidador de dados The Block. O valor superou o do mês anterior, que já havia sido o maior registrado até então. Os dados são apenas da blockchain ethereum.


Diante do universo cripto, as stablecoins representam apenas 7% da capitalização total. Individualmente, a USDT, stablecoin de dólar da Tether, é a quarta maior moeda digital, com capitalização de mercado de cerca de US$ 173 bilhões. A primeira e mais popular criptomoeda, o bitcoin, totaliza US$ 2,23 trilhões, seguida de longe por ethereum (US$ 500 bilhões).


O mercado aponta que a legislação dos Estados Unidos que estabelece parâmetros para o setor, chamada de Genius Act, é o que tem impulsionado o crescimento. A lei passou a valer em 19 de julho deste ano, em um aceno da administração de Donald Trump aos ativos digitais.


A regulação americana inclui exigências para que a reserva que embasa as moedas seja feita em títulos do Tesouro dos EUA. Isto é visto, inclusive, como uma forma de impulsionar de forma perene a demanda pelos "Treasuries". Além disso, é uma avenida para que o dólar reforce a sua posição de reserva de valor global.


"A adoção global de stablecoins lastreadas em dólar está estendendo a influência monetária americana além das fronteiras tradicionais, refletindo e consolidando o papel descomunal do dólar americano nos mercados globais", aponta a Chainalysis, empresa de análises do setor cripto, em relatório.


O bom momento do setor pode ser medido pelo sucesso das ações da Circle, empresa que emite a stablecoin USDC e foi listada na Nasdaq em junho deste ano. A ação chegou a acumular alta de 675% em relação ao preço da oferta pública (IPO, na sigla em inglês) no primeiro mês em negociação. Houve uma correção substancial após o frisson, mas o papel tem negociado a cerca de US$ 130, bem acima do que foi precificado na estreia, US$ 31.


Já a Tether, emissora da USDT, não tem capital aberto. Mas o CEO, Paolo Ardoino, informou nesta semana que a empresa busca investidores. Segundo informações da Bloomberg, o plano é captar de US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões em troca de uma fatia de 3% da companhia. Isto significa que a Tether pode ser avaliada entre US$ 500 bilhões e US$ 666 bilhões.


Adesão local


O presidente do BTG Pactual, Roberto Sallouti, já afirmou que as stablecoins vão transformar o mercado. Ele pontuou, no entanto, que a falta de regulamentação no Brasil é um fator limitante. O banco tem a sua BTG Dol desde abril de 2023. A infraestrutura, a custódia e a arquitetura do lastro em dólar estão sob a responsabilidade do próprio banco.


Neste mês, o tradicional Safra iniciou a sua incursão neste mundo. Lançou o Safra Dólar, estruturada em uma rede blockchain privada com apoio da empresa de tokenização Hamsa.


A principal stablecoin brasileira é a BRZ, lastreada no real. É emitida pela Transfero desde 2019. Em dados da Receita Federal, as operações com o ativo totalizam mais de R$ 1,9 bilhão entre janeiro e maio deste ano. No mês de maio, a BRZ foi a sexta cripto em volume de negociação em reais. Ficou atrás das stablecoins de dólar USDT e USDC, conforme a tabela abaixo.



Fonte: Receita Federal


Segundo levantamento da Iporanga Ventures, as moedas digitais vinculadas ao real movimentaram mais de R$ 5 bilhões em 2024. A principal diferença é que a stablecoin de dólar atrai interessados na moeda americana como uma reserva de valor. No caso da moeda digital de real, a finalidade é sobretudo transacional: pagamentos internacionais são um dos casos de uso mais frequentes.


O ex-presidente do Banco Central (BC) Roberto Campos Neto, atualmente vice-chairman e chefe global de políticas públicas do Nubank, aponta que as stablecoins de dólar têm ganhado espaço justamente em economias emergentes. "É uma forma que as pessoas encontraram para ter uma conta em dólar", disse ele em evento sobre ativos digitais esta semana.


Divisas de países em que os juros são altos não são atrativas para que as stablecoins sejam usadas como reserva de valor, aponta Campos Neto. Afinal, nestes cenários, é mais vantajoso ter renda fixa.


Contato: merki@broadcast.com.br


*Conteúdo elaborado com auxílio de Inteligência Artificial, revisado e editado pela Redação da Broadcast


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Semanal

 *O mito de Sísifo da Desinflação*


A semana foi marcada por aumento da incerteza em relação ao ciclo de cortes do FED por conta da alta atividade econômica nos dados do segundo trimestre, o que trouxe maior cautela aos investidores globais. A revisão do PIB americano do segundo trimestre, elevou o crescimento para 3,8% (de 3,3%), e levando o mercado a reduzir a probabilidade de dois cortes adicionais de juros neste ano. A amplitude das revisões recentes dos dados também reacendeu, entre economistas, o debate sobre a confiabilidade das estatísticas e das metodologias utilizadas.


Nesse contexto, dirigentes do Banco Central Americano ajustaram o tom dos discursos, reforçando a parcimônia na condução da política monetária e enfatizando o risco de cortes prematuros para a sustentabilidade do processo desinflacionário. Entre os membros mais conservadores, a avaliação é de que a inflação segue estacionada acima da meta, sem tendência clara de convergência, o que recomenda cautela adicional.


No front político, Donald Trump retomou a agenda tarifária, decretando novas taxações — destaque para a alíquota de 100% sobre medicamentos importados por empresas sem fábricas nos EUA. O ponto sensível é a importância do segmento farmacêutico na pauta de exportações da Europa para os EUA (tema que já aparecia como exigência de alíquota máxima pelo Reino Unido em conversas comerciais). Caso o embate se intensifique, é plausível esperar retrocesso nas negociações em curso.


Os mercados refletiram essa combinação: o S&P 500 caiu 0,3% e o Russell 2000, 0,7%; Nasdaq recuou 0,5% e o Dow Jones, 0,2%. O principal destaque foi a curva de juros: todas as maturidades subiram — o título de 2 anos avançou 1,9% (para 3,6%) e o de 10 anos, 1,0% (para 4,2%). Os Treasuries longos tiveram leve queda de 0,1%. O dólar se valorizou 0,6% no mundo — um movimento que merece atenção, dado o posicionamento consensual vendido na moeda entre investidores globais.


Em outras praças, houve retração moderada: Nikkei (-0,3%), emergentes (-0,6%), enquanto o DAX subiu 0,4%. A China sentiu a nova rodada de taxações: ações tradicionais caíram -0,2% e de tecnologia -1,6%. Ouro e petróleo tiveram altas expressivas, de 2,2% e 5,8%, respectivamente.


*O teatro do poder: Ato II em Brasília*


Localmente, dois eventos políticos dominaram as discussões. Primeiro, o encontro entre Lula e Trump em evento da ONU: o presidente americano elogiou o brasileiro e sinalizou abertura ao diálogo para eventual acordo comercial. Segundo, a alta da aprovação de Lula, que atingiu o maior patamar do ano, em pesquisa divulgada esta semana.


Nesse ambiente, o governador Tarcísio de Freitas — preferido por parte relevante do mercado — reforçou que não deve disputar a Presidência em 2026, priorizando a reeleição em São Paulo. O discurso ganhou firmeza após seguidos ataques de Eduardo Bolsonaro e veio acompanhado de acenos a Ratinho Jr. como possível nome da direita.


Esses movimentos dificultam a tese de renovação política em 2026. Vale notar que Lula e Trump devem se reunir novamente na próxima semana; se houver avanço nas negociações, a popularidade do presidente brasileiro pode subir ainda mais. Em nossa avaliação, o mercado precifica como altamente provável a renovação política; caso esse cenário se torne incerto, há espaço para abertura de prêmios de risco locais.


Os preços refletiram esse quadro: o Ibovespa caiu 0,3%, enquanto o dólar subiu 0,4%. Na curva, os títulos públicos com vencimento em 2030 avançaram nas duas pontas: prefixado (+0,8%, para 13,3%) e indexado ao IPCA (+0,8%, para IPCA+7,8%).


Qualquer necessidade estou à disposição.

Um abraço, Breno - Rubik Capital.

Produtividade é a saída

  O mundo está girando (e rápido): o Brasil vai acompanhar ou ficar para trás? 🌎🇧🇷 Acabei de ler uma análise excelente de Marcello Estevã...