domingo, 24 de agosto de 2025

Leitura de domingo

 *Leitura de Domingo: Setores ligados à economia doméstica têm bom desempenho, mas juro é alerta*


Por Ana Paula Machado, Beth Moreira, Caroline Aragaki, Isabela Mendes e Mateus Fagundes


São Paulo, 19/08/2025 - A temporada de balanços do segundo trimestre de 2025 teve como destaque positivo as empresas ligadas à economia doméstica e os bancos. Esses segmentos apresentaram crescimento expressivo nas receitas e boas margens, salvo algumas exceções pontuais - como o Banco do Brasil.


No levantamento feito pela reportagem a partir do compilado do Prévias Broadcast, 60% das empresas apresentaram números em linha ou acima do esperado no segundo trimestre.


O setor de varejo foi um dos destaques da temporada, na opinião do head de Equity Research para América Latina do Citi, André Mazini. O profissional ressalta que o segmento registrou alta de dois dígitos nas vendas no conceito mesmas lojas (SSS, na sigla em inglês), impulsionado pelo clima mais frio.


Nessa lista de companhias com as melhores performances no segundo trimestre estão o varejo e as construtoras; entre elas, segundo Mazini, do Citi, figuram Lojas Renner, C&A, Alpargatas e Petz.


"Inclusive a C&A é a nova queridinha eu diria. A empresa teve um turn around nos últimos tempos e está rodando muito bem", afirma. Mazini avalia, no entanto, que o terceiro trimestre deve ser mais difícil para o segmento, principalmente por causa da base de comparação forte de 2024.


Entre as varejistas que não foram tão bem, segundo o Citi, estão a Natura, que ainda enfrenta dificuldades com a Avon Internacional, e o Magazine Luiza.


Bancos


Os bancos brasileiros também tiveram um trimestre positivo, segundo Mazini, do Citi, com inadimplência sob controle apesar da desaceleração do crédito. Como destaques, ele cita Itaú e BTG, com retorno sobre o patrimônio (ROAE) acima das expectativas.


O Inter, por sua vez, apresentou boa expansão do ROAE, sólido patrimônio e lucro acima do esperado. Ainda entre os digitais, o Nubank entregou ROAE de 27%, nível que o analista considera elevado.


Já o Bradesco mostrou recuperação, com ROAE em alta e ganho de margem financeira. O BB, no entanto, continua a mostrar pressão do segmento agro, o que tem deixado o mercado cético, segundo o profissional.


Juros


Apesar das surpresas positivas, os balanços do segundo trimestre mostraram de forma mais concreta os efeitos do aperto monetário feito pelo Banco Central. Com a Selic a 15%, as despesas financeiras passaram a consumir ainda mais os recursos operacionais das companhias, especialmente as mais alavancadas, pontua Mazini, do Citi.


Há, contudo, uma esperança para as empresas e para os investidores: com os primeiros sinais de desaceleração da atividade doméstica, o debate se desloca para o momento em que o BC vai cortar os juros.


O estrategista-chefe de ações de Brasil e LatAm do Itaú BBA, Daniel Gewehr, lembra que o mercado antecipa a precificação da política monetária entre três e cinco meses, o que pode trazer otimismo em breve.


"O primeiro trimestre estava com a economia forte, mas os juros ainda não tinham pesado, no segundo vimos uma economia ainda forte, mas influenciada pelos juros. Para o terceiro trimestre, a perspectiva é de desaceleração da economia, com juros altos, mas com perspectivas de corte em breve", diz.


Contatos: ana.machado@estadao.com, beth.moreira@estadao.com, caroline.aragaki@estadao.com, isabela.mendes@estadao.com e mateus.fagundes@estadao.comCS


Broadcast+

Paulo Baía

 A crosta sígnica da existência humana **


      * Paulo Baía 


“Compreender, interpretar é traduzir um pensamento em outro pensamento num movimento ininterrupto”, escreve Lucia Santaella, em um de seus trechos mais luminosos sobre a semiótica. E prossegue: “É porque o signo está numa relação a três termos que sua ação pode ser bilateral: de um lado representa o que está fora dele, seu objeto, e de outro lado, dirige-se para alguém em cuja mente se processará sua remessa para um outro signo ou pensamento onde seu sentido se traduz”. Santaella, nesse gesto de precisão conceitual e lirismo poético, revela o que somos: seres aprisionados e libertos por signos, criaturas que respiram significados, que só existem porque habitam símbolos que, ao mesmo tempo, nos aproximam e nos afastam do real.


Essa formulação ecoa o núcleo da semiótica de Charles Sanders Peirce. O signo, em sua concepção, é triádico: há sempre um objeto, um signo e um interpretante. E não há fim no processo. Cada interpretação conduz a outra, num encadeamento infinito de semiose. O mundo, portanto, não é dado em sua nudez, mas sempre envolto por representações, como uma pele que recobre o sensível. Santaella lembra: a palavra “mesa” não é a mesa em si, mas remete a um outro signo, a outro conceito, a uma cadeia de significações. Esse deslocamento incessante constitui, ao mesmo tempo, a miséria de nossa condição, pois jamais tocamos o real puro, e sua grandeza, pois é esse movimento que nos permite construir ciência, poesia, memória, política, religião.


Claude Lévi-Strauss, em sua antropologia estrutural, mostrou que o signo é mais do que mediador: é a própria estrutura do mundo social. O mito, para ele, não é simples relato, mas gramática de pensamento, linguagem condensada que organiza o caos e institui o sentido. A crosta sígnica, que em Santaella é camada que nos afasta do contato direto com o sensível, em Lévi-Strauss é matriz simbólica, condição de inteligibilidade, a arquitetura invisível que nos permite dar forma à experiência. A leitura estruturalista da cultura mostra como os signos classificam, ordenam e estabilizam, tornando o real habitável.


Clifford Geertz levou esse raciocínio adiante ao definir cultura como “teias de significados que o homem mesmo tece e nas quais está suspenso”. A análise cultural, disse ele, não é ciência experimental em busca de leis, mas ciência interpretativa em busca de significados. A metáfora do dicionário usada por Santaella, cada palavra se explica por outra palavra, é o exemplo mais simples dessa condição. Para Geertz, o etnógrafo deve produzir uma “descrição densa”, captar não apenas o gesto visível, mas o campo de significados que o envolve, porque o humano nunca é apenas ação, mas sempre interpretação.


Pierre Bourdieu acrescenta outra dimensão ao problema: os signos são também instrumentos de poder. O capital simbólico estrutura a vida social tanto quanto o econômico, porque títulos, rituais, estilos de linguagem e marcas de distinção produzem hierarquias, naturalizam desigualdades e legitimam a dominação. A crosta sígnica de Santaella, sob a lente de Bourdieu, é campo de luta: um espaço onde se disputam sentidos, onde se define o legítimo e o ilegítimo, o culto e o vulgar, o válido e o descartável.


Roland Barthes, por sua vez, alerta que o mito moderno transforma o contingente em eterno, o histórico em natural. Para ele, os signos são sempre políticos, porque nunca são neutros: já carregam ideologias, já transmitem interpretações mascaradas de obviedade. Santaella fala da miséria da condição simbólica; Barthes lembraria que é nessa miséria que se instala a ideologia, que se naturalizam narrativas, que se legitima o poder. O signo, ao designar, já interpreta, e ao interpretar, já oculta.


Jacques Derrida radicalizou essa percepção ao falar da différance, esse jogo incessante em que o sentido nunca se fixa, mas se adia, sempre remetido a outro signo. O que Santaella chama de fuga interminável do significado encontra, em Derrida, sua formulação filosófica mais extrema: não existe presença plena, apenas vestígios e rastros que se diferem e se diferenciam. A condição humana é, assim, ser habitante de um campo de adiamentos, condenada à tradução interminável.


Se olharmos para Michel Foucault, o problema se transforma em arqueologia do saber. Os signos não apenas traduzem o real, mas constituem regimes de verdade, sistemas discursivos que delimitam o que pode ser dito, visto e pensado em determinada época. O signo é dispositivo, e como tal, é também prática de poder e saber. A crosta sígnica de Santaella, lida com Foucault, é a episteme: o campo invisível de regras que organizam discursos e determinam a inteligibilidade de uma sociedade.


Durkheim, no nascimento da sociologia, também compreendeu a centralidade dos símbolos. Para ele, as representações coletivas eram a alma das sociedades, e os ritos eram momentos de efervescência nos quais os indivíduos experimentavam o poder do coletivo simbolizado. O totem não era apenas um objeto, mas a materialização do grupo, a condensação simbólica da força social. Nesse sentido, a crosta sígnica não é apenas obstáculo, mas experiência de sacralidade, mediação necessária entre indivíduos e sociedade.


George Herbert Mead, precursor da escola interacionista, destacou que o self humano só emerge no campo da linguagem e da interação simbólica. A identidade não é algo dado, mas algo produzido no jogo de signos, na constante interpretação do olhar e da fala dos outros. A crosta sígnica, aqui, é condição de subjetividade: só nos tornamos sujeitos porque somos atravessados por signos.


Norbert Elias, em sua análise da civilização, mostrou como os processos sociais se traduzem em códigos simbólicos de comportamento: etiquetas, modos de falar, formas de vestir e comer. A sociedade se escreve sobre os corpos por meio de signos e símbolos que disciplinam gestos e regulam interações. O indivíduo, imerso nessa rede, internaliza regras como se fossem naturais. O signo, nesse caso, é o próprio mediador da civilidade.


Max Weber também ofereceu contribuições importantes. Para ele, a ação social é sempre orientada por significados. O sociólogo deve interpretar o sentido que os atores atribuem às suas ações, e é esse sentido, sempre simbólico, que organiza as condutas sociais. O mundo humano não se define apenas pela causalidade, mas pelo tecido de interpretações que atribuem finalidade às práticas.


Erving Goffman, com sua sociologia dramatúrgica, revelou como a vida cotidiana é estruturada em encenações simbólicas. Cada interação social é uma performance de signos: gestos, expressões, modos de vestir, posturas, que transmitem significados e produzem identidades diante de plateias sociais. A crosta sígnica é, então, o próprio palco da vida, onde se encenam papéis e se negociam legitimidades.


Victor Turner, estudando ritos de passagem e símbolos em sociedades tradicionais, mostrou como os signos condensam múltiplos significados e atuam como operadores de transformação. O símbolo, para Turner, é polissêmico, processual, capaz de organizar transições de estado social e de produzir momentos de comunhão. A linguagem simbólica não é apenas representação, mas força de transformação.


No presente, percebemos que nunca vivemos de maneira tão intensa a condição descrita por Santaella. Nas redes digitais, nos algoritmos, na circulação vertiginosa de imagens, memes, palavras, slogans e narrativas, a semiose infinita se torna experiência cotidiana. Cada enunciado é já outro enunciado, cada sentido se multiplica, cada narrativa se contradiz, cada símbolo se volatiliza em mil versões. A crosta sígnica se torna oceano de signos, sem centro nem borda, onde cada interpretação é provisória e cada significado é disputado com ferocidade.


Esse é o paradoxo essencial: somos seres condenados a nunca alcançar o real em sua nudez, mas também seres agraciados pela possibilidade infinita de criação. A crosta sígnica, que ao mesmo tempo nos aprisiona e nos liberta, é a superfície onde se inscrevem nossas práticas sociais, nossas instituições, nossas artes, nossas religiões, nossas ciências, nossas lutas políticas.


Ler Santaella, ao lado de Peirce, Lévi-Strauss, Geertz, Bourdieu, Barthes, Derrida, Foucault, Durkheim, Weber, Mead, Goffman, Turner e Elias, é compreender que o humano não existe fora da linguagem, que não há sociedade fora dos signos, que não há cultura fora das redes de significados. Nossa miséria é nunca estar diante das coisas mesmas. Nossa grandeza é poder reinventar incessantemente os mundos que habitamos. Talvez seja nesse intervalo, nesse hiato entre signo e coisa, entre sentido e real, entre palavra e corpo, que resida o núcleo mais belo e mais doloroso da experiência humana: a certeza de que o real nunca se oferece puro, mas também a esperança de que, ao transformar os signos, possamos transformar o próprio real.


             * Sociólogo , cientista político e professor da UFRJ 

            

             ** Este texto foi apresentado em uma palestra na cidade de Canoas, no Rio Grande do Sul, na Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), em outubro de 2018.

Amilton Aquino

 Hora de superar Lula e Bolsonaro: lições e desafios para 2027


O editorial do Estadão deste domingo, intitulado “Hora de acordar, Brasil”, faz coro a uma demanda cada vez mais urgente: precisamos nos livrar dos populismos que nos dividem. O problema é: como?

A teoria dos jogos, infelizmente, nos diz que ainda teremos de conviver por um bom tempo com a odiosa polarização que nos impede de chegar a consensos mínimos sobre o que é melhor para o país.


Ao que tudo indica, porém, o eleitor chegará à urna menos empolgado e mais desconfiado do que está por vir, temendo inclusive uma vitória de pirro. E sim, isso já representa um avanço — um primeiro passo rumo à contagem regressiva para a superação de Lula e Bolsonaro, cada dia mais envelhecidos e mais expostos diante das contradições que se acumulam.


O certo mesmo é que 2027 será um ano difícil. A dívida pública, que em proporção ao PIB recuou de 88,6 % em 2020 para 76,1% % em 2022, voltou a se expandir rapidamente a partir da nova temporada de estímulos artificiais do governo Lula. Isso compromete boa parte dos recursos públicos com o pagamento de juros. 


Como sair dessa enrascada? Aumentando ainda mais a carga tributária — já muito acima da média dos emergentes e comprometendo nossa competitividade no mercado internacional, como aposta o governo Lula? Ou reduzindo gastos e apostando na eficiência da máquina pública, como têm feito alguns governadores de direita que sonham herdar o espólio de votos bolsonaristas?

Não tenho a menor dúvida de que a segunda opção seria a melhor para o país — caminho trilhado, sobretudo, pelos estados governados pela direita nas regiões Sul e Centro-Oeste. 


Naturalmente, por estar à frente do estado mais rico da federação, Tarcísio de Freitas é visto como o principal candidato anti-PT na próxima eleição. Mas não descartaria Ratinho Jr., que, até o final do seu segundo mandato, terá elevado o PIB do Paraná em cerca de 63 %, passando de aproximadamente R$ 440 bilhões para R$ 718 bilhões em 2024, apostando não apenas no agronegócio, mas também na diversificação da economia. Confesso que fiquei bem impressionado com uma entrevista que vi recentemente. Se Tarcísio desistisse e Ratinho Jr. herdasse o espólio bolsonarista, acredito que suas chances aumentariam significativamente ao longo da campanha. Arrisco dizer até que teria mais potencial de crescimento que Caiado ou Zema.


O que me preocupa mesmo, no entanto, é 2027. Se Lula for reeleito, a parte positiva será a lição que o povo brasileiro aprenderá sobre o custo das políticas expansionistas, abrindo caminho para um pós-Lula mais duradouro. Se, por outro lado, um candidato da oposição mais moderado vencer, como reagirá diante da pressão dos bolsonaristas radicais e da fúria petista diante dos cortes necessários? Se for bem-sucedido, ótimo para o Brasil. Se fracassar, o PT volta com força para repetir a dose, voltando a raspar o tacho — como agora.


O mais provável, infelizmente, é que o Brasil continue crescendo abaixo da média mundial, sustentado pelo agronegócio, pela mineração e por algumas ilhas de excelência industrial. No mais, seguirá sendo beneficiado pela evolução tecnológica, que reduz custos de forma geral na economia e, claro, torna a Receita Federal ainda mais eficiente em extrair recursos do setor produtivo para sustentar o elefante estatal.

sábado, 23 de agosto de 2025

Paulo Roberto de Almeida

 RESUMO DA ENTREVISTA 

Por Paulo Lyra (via Paulo Roberto de Almeida) : 


Antes de Trump: 


• EUA tinham um sistema bipartidário sólido (Democratas e Republicanos), que oferecia estabilidade mas poucas alternativas ao eleitor descontente.

• O país nunca havia perdido sua democracia nem experimentado regimes autoritários, o que gerou excesso de confiança nas instituições.

• Elites políticas, mídia e sociedade civil não estavam treinadas para resistir a autoritarismo.

_____________________________


Durante o governo Trump (2016–2020): 


• Surgiu um governo personalista, comandado por um presidente que não respeita normas democráticas, sem visão de longo prazo e com práticas de bullying político.

• Trump prometeu abertamente usar o Estado contra adversários (investigar rivais, perseguir mídia, deportações em massa, repressão a protestos).

• Sociedade civil (universidades, empresas, imprensa) reagiu de forma fragmentada e individual, sem coordenação, tornando-se vulnerável.

• Suprema Corte (de maioria conservadora) fortaleceu o Executivo, subestimando a ameaça de Trump.

_____________________________


Golpe de 2020 e depois: 


• Trump tentou reverter o resultado eleitoral — uma violação da regra fundamental da democracia: aceitar a derrota.

• As instituições falharam:

. Senado não o condenou no impeachment.

. Justiça foi lenta e depois limitada pela decisão da Suprema Corte de ampliar imunidade presidencial.

. Partido Republicano o renomeou como candidato mesmo após a tentativa de golpe.

• Levitsky avalia que, a partir daí, os EUA entraram em um regime de autoritarismo competitivo: ainda há eleições, mas com uso do Estado para desequilibrar o jogo.

____________________________


Situação atual: 


• Levitsky considera que os EUA já perderam a democracia — o sistema está deteriorado.

• Polarização extrema bloqueia reformas (ex.: fim do Colégio Eleitoral, limitar gerrymandering).

• Base eleitoral de Trump é fiel (30–35%), o que torna improvável sua derrota definitiva apenas por má gestão ou crise econômica.

• A sociedade civil e o Partido Democrata não estão liderando a resistência; atuam de modo hesitante, enquanto o trumpismo avança.

Leitura de sábado

 *Leitura de Sábado: Wall Street vê, em discurso de Powell, porta aberta para corte de juros*


Por Aline Bronzati, correspondente


Nova York, 22/08/2025 - Desta vez, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, não cravou a retomada do corte de juros nos Estados Unidos, mas seu discurso no simpósio de Jackson Hole foi lido em Wall Street como uma porta aberta para a flexibilização monetária. Bancos como o Santander, Deutsche Bank e Barclays revisaram os seus cenários para uma redução nas taxas em setembro, e não apenas em dezembro, como previam anteriormente.


"Com a política em território restritivo, a perspectiva básica e o equilíbrio cambiante dos riscos podem justificar o ajuste de nossa postura de política", disse Powell, em seu último discurso no tradicional simpósio de Jackson Hole, antes de largar o bastão no próximo ano.


O chefe do BC dos EUA dedicou parte do discurso à deterioração do mercado de trabalho dos EUA, tema central do evento deste ano. Segundo ele, os riscos de queda no emprego estão aumentando. "E, se esses riscos se materializarem, podem fazê-lo rapidamente na forma de demissões em massa e aumento do desemprego", alertou.


Apesar disso, o chefe do BC dos EUA afirmou que a política monetária não segue um "curso predeterminado". Ele classificou a situação atual como "desafiadora", mas disse que ainda é possível agir com "cautela", uma vez que os riscos para a inflação estão inclinados para o lado positivo, e no emprego para o lado negativo.


As falas de Powell impulsionaram os índices acionários em Wall Street e derrubaram o dólar frente ao real e os juros dos Treasuries, que são os títulos do Tesouro americano. "Foi um discurso mais dovish", resume o estrategista-chefe da corretora Avenue, William Castro, diretamente de Jackson Hole.


As chances de o Fed cortar os juros em setembro saltaram a cerca de 90% após as falas de Powell, conforme levantamento da plataforma americana CME Group. "Agora é essencialmente 100% (as chances de um corte em setembro) após o discurso do presidente Powell em Jackson Hole", disse o presidente da Queen's College e conselheiro econômico chefe da Allianz, Mohamed El-Erian.


Para o economista-chefe do Santander nos EUA, Stephen Stanley, Powell fez uma reviravolta de quase 180 graus em seu discurso, influenciado pelo fraco relatório payroll de julho, o principal termômetro laboral dos EUA. E isso o fez Stanley mudar sua projeção de corte de juros de dezembro para setembro. "Para meu ouvido experiente, sua fala soa como um sinal bastante definitivo de que Powell pretende pressionar por um afrouxamento na reunião de setembro", diz Stanley, que agora vê o Fed cortando os juros em 0,25 ponto porcentual nas reuniões de setembro e dezembro.


Já o americano Jefferies disse que a mudança de postura de Powell corrobora com a sua expectativa de três cortes de juros neste ano, a partir da reunião do próximo mês. "O presidente Powell abriu caminho para a flexibilização em setembro em seus comentários em Jackson Hole, como esperávamos", reforçou o canadense TD Bank.


Em um tom mais conservador, bancos como o Morgan Stanley e o CIBC Economics avaliaram que a fala de Powell não foi uma chancela definitiva de que o Fed cortará os juros em setembro. Em especial, quando comparada ao discurso do ano passado. Na ocasião, Powell afirmou: "Chegou a hora de ajustar a política. A direção da viagem é clara, e o momento e o ritmo dos cortes de taxa dependerão dos dados recebidos, das perspectivas em evolução e do equilíbrio dos riscos".


Para Stanley, do Santander, Powell preferiu deixar uma "margem de manobra" na edição deste ano do simpósio de Jackson Hole. "Sua fala foi um sinal forte. Comparado a isso, a conclusão de hoje deixa Powell com uma margem de flexibilidade", avalia. Na sua visão, um relatório payroll forte em agosto, com a criação de 250 mil novas vagas - em julho, foram 73 mil - poderia fazer o Fed se abster de cortar em setembro. Mas esse não é o seu cenário base, diz.


"Continuamos a ver o próximo relatório de empregos como mais importante para determinar se os cortes recomeçam em setembro ou outubro", reforça o economista do CIBC Economics Andrew Grantham, em comentário a clientes.


Inflação e arcabouço


Outros dados que serão monitorados com atenção por Wall Street antes da reunião de setembro são a próxima leitura do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) de julho, que será conhecida na próxima semana e é a medida de inflação preferida do Fed, e o CPI de agosto.


"O Fed está preparado para cortar as taxas já em setembro, salvo uma surpresa nos relatórios de emprego e CPI de agosto", diz o economista-chefe do Morgan Stanley para os EUA, Michael Gapen. Ele, que até então descartava cortes de juros neste ano, admite que as chances de um corte de juros em setembro aumentaram.


Em seu discurso, Powell alertou para o risco de a pressão ascendente das tarifas sobre os preços estimular uma dinâmica inflacionária mais duradoura nos EUA, mas Wall Street se concentrou mais na deterioração do mercado de trabalho. "A questão que importa para a política monetária é se esses aumentos de preços provavelmente aumentarão materialmente o risco de um problema inflacionário contínuo", disse o banqueiro central.


O chefe do BC dos EUA também anunciou mudanças no arcabouço da política monetária da autoridade, em discurso no simpósio de Jackson Hole, nesta sexta-feira. Essa revisão ocorre a cada cinco anos, e os ajustes já eram amplamente esperados pelo mercado. No mercado, as mudanças foram celebradas. A leitura de Wall Street é de que o Fed corrigiu excessos da revisão de 2020.


Contato: aline.bronzati@estadao.com


Broadcast+

Bco Master, um balanço

 🏦 *BRB confirma Vorcaro fora da gestão do Master e diz que novo banco terá valor de R$ 100 bilhões- Estadão*

•  Pela proposta, o BRB terá 49% das ações ordinárias e 100% das preferenciais do Master, totalizando 58% do banco.

•  O conglomerado BRB/Master poderá atingir R$ 100 bilhões em ativos.

•  O BRB comprará ativos do Master avaliados em R$ 24 bilhões, deixando outros R$ 51,2 bilhões de fora.

•  Auditoria identificou ajustes de R$ 601,9 milhões no patrimônio líquido e reforço de provisão de crédito de cerca de R$ 2 bilhões.

•  A expectativa é que a operação aumente o lucro do BRB em R$ 1,5 bilhão em cinco anos, podendo superar R$ 2,7 bilhões em 

2029.

•  O valor pago pelo BRB será equivalente a 75% do patrimônio líquido consolidado do Master, com metade à vista e o restante em seis anos.

•  Deputados do PT solicitaram investigação da PF sobre irregularidades no Banco Master, após relatório da CVM apontar investimentos de R$ 2,1 bilhões em empresas sem capacidade econômica comprovada.

•  A autorização para o BRB comprar parte do Master foi sancionada pelo governador do Distrito Federal.

*Ativos que não farão parte do negócio entre BRB e Master:*

•  Precatórios: R$ 9,43 bilhões

•  Operações de crédito concentradas ou sem garantias: R$ 7,59 bilhões

•  Direitos creditórios e ações: R$ 19,48 bilhões

•  Certificados de recebíveis imobiliários: R$ 2,47 bilhões

•  Outros créditos: R$ 12,28 bilhões

*Total: R$ 51,52 bilhões*

Já pelo lado dos passivos, o BRB diz que R$ 33 bilhões de Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) com rentabilidade de 120% da taxa de Depósito Interfinanceiros (CDI) foram excluídos da operação.

O banco também informou que, após auditoria, houve um ajuste de R$ 601,9 milhões no patrimônio líquido do Master.

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Perímetro de operações

 *BRB: PERÍMETRO DA OPERAÇÃO COM MASTER PASSOU DE R$ 19,8 BILHÕES A R$ 51,2 BILHÕES*


Por Ana Paula Machado


São Paulo, 22/08/2025 - O BRB informou que, após o processo de diligência para o negócio com o Banco Master, ficou definido que o perímetro da transação, inicialmente, estimado em R$ 19,8 bilhões de ativos e passivos a serem excluídos, passou a ser de R$ 51,2 bilhões, na estruturação da operação.


As próximas etapas da transação incluem aprovação pelo Banco Central, a finalização da Reorganização Societária do Banco Master e a realização de auditoria do preço, com a devida avaliação dos ativos e passivos pelo BRB e auditoria independente no momento do fechamento.


Segundo comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), do lado do ativo do Master, foram retirados precatórios no total de R$ 9,43 bilhões, R$ 7,59 bilhões em operações de crédito concentradas ou sem garantias reais, determinados fundos de investimento em direitos creditórios e ações no total de R$ 19,48 bilhões, certificados de recebíveis imobiliários de R$ 2,47 bilhões, exclusão de R$ 12,28 bilhões em outros créditos, incluindo recebíveis de ativos judiciais e posições cujas contrapartes não foram avaliadas.


"Do lado do passivo, além de depósitos interfinanceiros entre empresas do conglomerado Master, foram excluídos aproximadamente R$ 33 bilhões de Certificados de Depósitos Bancários (CDBs)", disse o BRB.


O BRB informou, ainda, que no passivo, além de depósitos interfinanceiros entre empresas do conglomerado Master, foram excluídos aproximadamente R$ 33 bilhões de Certificados de Depósitos Bancários ("CDBs").


"O trabalho de auditoria apontou, ainda, ajustes de R$ 601,9 milhões no patrimônio líquido, concentrados em exposições tributárias, trabalhistas e valores a receber que serão liquidados antes da conclusão da aquisição."


Além disso, ressaltou o BRB, os acionistas do Banco Master reforçaram as provisões de crédito em cerca de R$ 2 bilhões, elevando a cobertura sobre a carteira de crédito. "Assim, o ativo de partida do Banco Master na operação foi estabelecido em cerca de R$ 24 bilhões, o que, somado ao BRB, dará origem a um conglomerado prudencial com aproximadamente R$ 100 bilhões em ativos."

Produtividade é a saída

  O mundo está girando (e rápido): o Brasil vai acompanhar ou ficar para trás? 🌎🇧🇷 Acabei de ler uma análise excelente de Marcello Estevã...