domingo, 3 de agosto de 2025

PT sendo PT

 Fontes: PT aprova posição contrária à autonomia do BC em encontro


Por Cícero Cotrim


Brasília, 02/08/2025 - O PT aprovou hoje uma resolução contrária à independência operacional do Banco Central. O trecho vai constar do documento a ser entregue no fim do 17º Encontro Nacional da sigla, apurou a Broadcast. Este texto vai orientar a gestão do novo presidente do partido, Edinho Silva.


A emenda afirma que a aprovação da independência formal do BC em 2021, no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, levou a uma "independência do povo e da democracia e uma completa dependência dos banqueiros e da Faria Lima", o que teria levado à política de juros altos. A redação final pode ser marginalmente alterada.


Por diversas vezes, o ex-presidente do BC Roberto Campos Neto foi acusado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por membros do PT de manter os juros altos para sabotar a economia. Desde que o novo chefe da autarquia, Gabriel Galípolo, assumiu o cargo, as críticas foram moderadas. Galipolo foi indicado por Lula.


Hoje, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) com o objetivo de conceder a autonomia orçamentária, financeira e administrativa ao BC está parada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.


Contato: cicero.cotrim@broadcast.com.br


Broadcast+

Leitura de domingo

 Leitura de Domingo:agronegócio antevê alta do custo de produção c/reação do Brasil ao tarifaço


Por Isadora Duarte


Brasília, 30/07/2025 - À medida que se aproxima a entrada em vigor da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros, cresce no setor agropecuário o temor pela intensidade das respostas do governo brasileiro. Há dois temas que acendem o alerta do segmento em relação à eventual reação do Brasil: a imposição de tarifas recíprocas sobre insumos importados dos EUA e a quebra de patentes de biotecnologias e insumos agrícolas, segundo interlocutores ouvidos pelo Broadcast Agro.


Representantes do agronegócio anteveem aumento do custo de produção caso o Brasil aumente as tarifas sobre produtos importados dos EUA, além da pressão já sentida pela valorização cambial. "A preocupação não é somente com a perda das exportações, mas também com o aumento do custo de fertilizantes, defensivos, sementes e biotecnologia, caso o Brasil resolva retaliar", explicou uma liderança do setor.


A apreensão é justificada, pois no comércio internacional quem paga pela tarifa é o importador. Neste caso, as indústrias brasileiras tenderiam a repassar ao preço final dos produtos o maior custo com insumos trazidos de fora, implicando a elevação do custo de produção das lavouras. "Sobretaxar os insumos americanos seria um desastre", observou um empresário, grande produtor de grãos, à reportagem. Ele lembra que já houve aumento no custo dos insumos importados, considerando a valorização de cerca de 2% do dólar ante o real, desde o anúncio do tarifaço pelo governo norte-americano em 9 de julho.


Embora os Estados Unidos não sejam o principal fornecedor de fertilizantes para o Brasil, 3% do que é aplicado nas lavouras nacionais advém do País, segundo dados do Comextat - sistema de estatísticas do comércio exterior do governo brasileiro, com desembolso de US$ 605 milhões em 2024. De defensivos agrícolas, o Brasil importa aproximadamente US$ 1,4 bilhão por ano de produtos provenientes dos Estados Unidos, com 23 mil toneladas internalizadas no último ano.


Outra fonte da indústria lembra que há volume significativo de importação de produtos de "meio de produção", o que também pode comprometer as entregas do setor com maior custo. "A indústria seria mais prejudicada com uma eventual retaliação do Brasil", apontou um executivo do setor.


O receio dos representantes deve-se em parte ao fato de que autoridades do governo já sinalizaram a intenção de adotar a lei da reciprocidade, caso a tarifa prevista para 1º de agosto se concretize. Logo após o anúncio da sobretaxa pelo governo norte-americano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a dizer: "Se ele (Trump) cobrar 50% da gente, a gente vai cobrar 50% dele". Depois o governo recuou e vem sinalizando que uma eventual reciprocidade de tarifas não seria linear, em virtude, justamente, dos eventuais impactos para a indústria pelos insumos importados americanos.


O governo vem manifestando que o objetivo é esgotar as negociações com os Estados Unidos por meio das vias diplomáticas. Mas, em paralelo, prepara um pacote de respostas que pode ser acionado caso as negociações não prosperem. Esse pacote é elaborado no amparo da Lei da Reciprocidade Econômica.


O temor aflige também as multinacionais que atuam no País com licenciamento de tecnologias patenteadas. A quebra de propriedade intelectual e de patentes, em especial de medicamentos, é uma das opções mais maduras dentro do governo como eventual reação aos EUA, caso não haja reversão do tarifaço, como já mostrou a Broadcast. Há a avaliação de que o Brasil possa antecipar, por exemplo, o fim do período em que há direito de patentes dos fabricantes.


A quebra de patentes é a medida mais avançada porque foi a primeira saída avaliada por áreas técnicas do governo assim que Trump venceu a eleição, no fim do ano passado, e já começou a incorporar ameaças comerciais em seus discursos. Os estudos foram interrompidos quando o Brasil ficou entre os países com as menores sobretarifas - de 10%, no "Liberation Day" de 2 de abril. A suspensão de patentes é considerada uma das medidas mais eficientes para sensibilizar o governo norte-americano, dada a sensibilidade do tema da propriedade intelectual no país. Além disso, a quebra de patentes é uma medida com precedente. Durante o contencioso do algodão entre Brasil e Estados Unidos, disputa que se estendeu de 2002 a 2014, os Estados Unidos retomaram as tratativas com o Brasil somente após a ameaça brasileira de quebra de propriedade intelectual, lembram fontes que conduziram as negociações à época.


Representantes da indústria e de multinacionais americanas que atuam no País já pediram ao governo que a medida seja adotada apenas em "último caso". O risco de quebra ou de suspensão de patentes geraria, segundo interlocutores do setor, imprevisibilidade para empresas que operam no País e falta de segurança jurídica após investimentos de "milhões de dólares" em inovação de insumos agrícolas. "As empresas precisam da garantia de que terão retorno mínimo ao oferecer os produtos ao mercado depois de anos de aporte em pesquisa", observou um interlocutor do setor.


A preocupação foi externada recentemente pela Croplife Brasil (associação que representa a indústria de defensivos químicos, bioinsumos, biotecnologia e mudas e sementes), em encontro com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).


Em nota, a CropLife Brasil afirmou que monitora o cenário do setor agroindustrial e os possíveis impactos decorrentes da aplicação da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros que acessam o mercado norte-americano, bem como de eventual retaliação por parte do governo brasileiro sobre a medida. A entidade afirma que há dois riscos para a indústria de tecnologias agrícolas.


"O primeiro deles decorre de uma eventual imposição de tarifas recíprocas, com implicação direta nos preços de defensivos agrícolas importados dos EUA (14% do valor total). Essa medida acarretaria o consequente aumento do custo da produção agrícola e num importante impacto sobre o preço dos alimentos. Além disso, a eventual quebra de patentes de tecnologias como ação de retaliação brasileira pode, no médio e longo prazos, acarretar impactos sistêmicos na cadeia de suprimentos, prejudicar o acesso dos produtores brasileiros a soluções modernas e sustentáveis e enfraquecer a posição do País como líder em produtividade agrícola", disse a CropLife na nota.


A entidade justifica que o processo de inovação de uma tecnologia exige alto investimento e pesquisa. "O desenvolvimento de um defensivo químico ou de uma nova semente com biotecnologia, por exemplo, chega a levar mais de dez anos de testes e estudos, além de investimentos de centenas de milhões de dólares. A quebra da confiança na lei de patentes pode comprometer os investimentos em pesquisa, gerando prejuízos para a agricultura brasileira", alerta a CropLife Brasil na nota. A entidade cita como exemplo a Argentina, onde não há pagamento de direitos de propriedade intelectual nas sementes salvas por parte dos produtores, o que acarreta, segundo a entidade, a falta de estímulo à inovação e ao melhoramento genético no país, que tem produtividade de soja 30% menor do que a do Brasil. "A CropLife, assim como demais entidades da indústria nacional, defende a prorrogação da negociação e do diálogo entre os dois países, dado o comprometimento a diversas cadeias produtivas em caso de imposição tarifária e/ou ações de retaliação", finaliza.


Contato: isadora.duarte@estadao.com


Broadcast+

JR Guzzo

 Nota da redação: Esta é a última coluna de J.R. Guzzo para o Estadão. O texto foi escrito e enviado à redação na sexta, prática rotineira do jornalista, que também escrevia às quartas-feiras. Guzzo morreu na madrugada deste sábado, vítima de infarto.


“A primeira vítima das tiranias, pelo que comprova a experiência dos últimos 2.000 anos, costuma ser a verdade - se bem que tantas misérias costumam chegar juntas, nesses casos, que fica difícil cravar as top 10. O efeito mais visível é a pane geral nos circuitos cerebrais onde se produz o pensamento racional. O debate político cessa de emitir sinais de vida inteligente.


É precisamente o que está acontecendo neste momento de escuridão que cerca o mais vicioso conflito jamais surgido nas relações do Brasil com a maior potência econômica, militar e política do mundo. Os Estados Unidos, dentro das suas leis, aplicaram punições ao Brasil pelo que estimam ser o comportamento delinquente do governo e do ministro Alexandre de Moraes. A reação oficial brasileira é um hino contra a razão.


Em nenhum aspecto do contencioso o Brasil de Brasília e o seu sistema de propaganda estão construindo uma calamidade tão reles quanto no pacto anormal que têm com o ministro Moraes. 


O governo brasileiro decidiu que Moraes, cujas decisões e conduta são o verdadeiro motivo pelo qual os americanos adotaram as sanções, está acima das obrigações humanas, como os arcanjos e os profetas. O Brasil é o ministro. O ministro é o Brasil. 


Não chega a ser uma ideia; é apenas uma proposição estúpida. Por conta dela, todo cidadão brasileiro está no dever cívico, quase legal, de apoiar o ministro nas suas desventuras com a lei americana - e nas decisões em que viola a lei brasileira. Não importa o que tenha feito na sua função. Ou você fica do lado dele, e do que ele faz – ou então é linchado como traidor da pátria, sabotador do Brasil e inimigo da soberania nacional. É dessa descompensação que sai a última causa da esquerda nacional, como o “Sem Anistia” e outros naufrágios: “Mexeu com o Xandão, mexeu com os brasileiros”.


Com is “brasileiros”? Que brasileiros, cara pálida? Mexeu nada. Só mexeu com o próprio Moraes. Os crimes de que é acusado pelo governo americano - e que o jogam na escória mundial dos torturadores, assassinos em massa, genocidas, terroristas, criminosos de guerra etc. etc. – não têm absolutamente nada a ver com os “brasileiros”. Têm a ver apenas com Moraes e com os seus cúmplices. Não são problema seu. São problema deles.


Não foi você, nem Donald Trump, que abriu ilegalmente um inquérito policial que já dura seis anos, serve de caixa de ferramentas para todo tipo de repressão e torna ilegal tudo o que deriva dele – como os processos do golpe. Não foram os “brasileiros” que condenaram a 17 anos de prisão a moça do batom. Não fomos nós que levamos à morte o “Clezão”. Por que temos de pagar pelo que ele fez?”

Roberto Macedo

 Meu artigo hoje no Estadão:

‘Economania’, meu livro de educação financeira

O Estado de S. Paulo.19 Dec 2024Roberto Macedo ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), É CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR

Hoje usarei este espaço para falar um pouco sobre esse livro, que tem 316 páginas e foi lançado na semana retrasada. É para o cidadão comum, como quem vive de salário e nem pode ou quer contar com uma boa herança, com prêmios lotéricos ou com atividades ilegais para construir um patrimônio que lhe dê tranquilidade na aposentadoria, cujo planejamento deve começar o mais cedo possível.


O livro tem 104 dicas de educação financeira. Não usei o termo lições porque o entendi como muito professoral, ena minha visão o poupador tem quete rum papel muito ativo ao administrar sua poupança e seus investimentos. E conhecendo esse processo, inclusive porque, mesmo recorrendo a planejadores financeiros, é preciso saber como atuam e cobram pelos seus serviços.


Na capa do livro está a sua dica básica. A poupança é usualmente definida assim: renda menos consumo igual à poupança, mas o que se poupa não pode ser colocado em terceiro lugar como nessa definição, como se fosse um resto, que pode nem existir. É preciso ver a poupança como segue: renda menos poupança igual a consumo, com a poupança tendo uma meta ambiciosa e o consumo reduzido ao indispensável.


O livro não foi elaborado na base do achismo. Cita vários premiados com o Nobel de Economia e outras fontes e dados como argumentação. Um desses premiados é Daniel Kahneman, um psicólogo americano escolhido por suas contribuições à economia comportamental, que passou a ganhar espaço no final do século passado. Em particular por sua crítica à teoria neoclássica, hoje ainda dominante no ensino de microeconomia, e que argumenta que o ser humano é racional. Kahneman demonstrou que essa racionalidade é limitada, com dois sistemas de raciocínio, um rápido e instintivo, o sistema 1, baseado em crenças, princípios e desejos ocasionais, e outro, o sistema 2, bem analítico e racional, e que deve orientar boas decisões, particularmente as ligadas à poupança e aos investimentos.


Lançamento procura suprir importante carência da sociedade brasileira, pois o noticiário sobre investimentos vem principalmente do mercado financeiro


Passando ao conteúdo, ele tem 15 capítulos que agrupam as 104 dicas, inclusive o intitulado “Especialmente, mas não só para mulheres”. Sobre os assuntos que aborda, é bem completo, talvez o mais, e podem ser mencionados os seguintes conceitos básicos: dinheiro, preços, juros, inflação e outros, o que é educação financeira e por que é necessária, como adquiri-la e mantêla, o efeito da inflação sobre salários e ativos financeiros, as fontes de renda e como ampliá-las, os riscos da longevidade e a aposentadoria, dívidas boas e más, o processo decisório pessoal segundo a economia comportamental, liquidez, rentabilidade, risco e o perfil do investidor, a Teoria Moderna de Portfólio ou carteira de investimento, a hipótese de mercados eficientes, o cidadão diante do Estado, uma fórmula para a prosperidade pessoal, os fundamentos do hábito de poupar, aspectos básicos dos investimentos, o investimento em capital humano (como educação e saúde), o valor do investimento em educação, investimentos em renda fixa e variável, investimentos em imóveis e fundos imobiliários, a administração dos gastos de consumo, mais fontes gratuitas de educação financeira, a calculadora financeira do site do Banco Central, e muito mais! O livro está sendo oferecido no site amazon.com.br, procurando-se pelo nome do autor. O título do livro não funciona.


O livro também procura suprir o que chamo de “carência informativa”, pois o noticiário sobre investimentos vem principalmente do mercado financeiro e enfatiza renda fixa e renda variável. Ora, o melhor investimento que fiz na vida foi em educação, conforme reconheço no livro. O mercado informa também sobre investimentos em fundos imobiliários, mas não em imóveis por si mesmos. Também investi nessa área e não tenho queixas. Aliás, quando adolescente, éramos uma família de oito filhos e morávamos em residências alugadas pelo banco onde meu pai trabalhava, mudando de uma cidade para outra. Minha mãe largou o magistério para cuidar da filharada e nos ensinou muito. Do meu pai uma grande lição foi que na sala de jantar havia a foto de uma casa que conseguiu construir aos poucos em Belo Horizonte e na qual pretendia morar quando se aposentasse. Recomendava também que todos nós fizéssemos isso. Resultado, logo depois de completar 20 anos, havia me mudado para São Paulo. Logo comprei uma quitinete em construção dando uma entrada e com prestações mensais. Levou cerca de cinco anos para ficar pronta, mas no final fiquei com o imóvel, que depois revendi para comprar outro maior e assim por diante, sempre dando uma entrada e pagando prestações. Um imóvel adquirido dessa forma é considerado produto de compromisso com a poupança e mostro outros no livro.


Tem prefácio de Armínio Fraga, fundador da Gávea Investimentos, Ph.D. em Economia pela Universidade Princeton (EUA) e ex-presidente do Banco Central. Ele conclui seu prefácio afirmando: “A leitura dele é um excelente investimento! Seja um ‘economaníaco’”. •

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Manifesto

 RESTAURAR A DEMOCRACIA É TAREFA DOS BRASILEIROS (Editorial do jornal Gazeta do Povo)


“Nesta quarta-feira, o ministro do STF Alexandre de Moraes foi incluído na lista de autoridades estrangeiras sancionadas pela Lei Global Magnitsky, de acordo com o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Tesouro (Ofac, na sigla em inglês) norte-americano. A legislação foi criada para punir violadores de direitos humanos ou corruptos notórios, e impõe uma série de restrições para que essas pessoas façam qualquer tipo de negócio com empresas norte-americanas ou que tenham atuação nos Estados Unidos – até mesmo o uso de cartões de crédito com bandeiras de empresas dos EUA deve ser afetado. Esta “pena de morte financeira” vem se somar à perda do visto norte-americano, que já havia sido decidida pelo governo dos EUA semanas atrás.


No comunicado, o Ofac afirma que Moraes “usou seu cargo para autorizar detenções arbitrárias preventivas e suprimir a liberdade de expressão”; afirma, ainda, que ele promove “uma caça às bruxas ilegal contra cidadãos e empresas americanas e brasileiras” e que o ministro “é responsável por uma campanha opressiva de censura, detenções arbitrárias que violam os direitos humanos e processos politizados”. Quanto a isso, aliás, não há dúvida alguma: em um hipotético bingo de ataques à democracia, Moraes teria preenchido a cartela completa. O ministro encarna, hoje, a autocracia judicial que substituiu a democracia brasileira: processa, julga e prende sem o devido processo legal, atropela liberdades democráticas, ataca garantias parlamentares, censura e oprime – e não faz distinção de nacionalidade, incluindo empresas e cidadãos norte-americanos entre os alvos de suas decisões arbitrárias.


Dito isto, se a aplicação, a Moraes, da Lei Magnitsky é a melhor resposta que o governo norte-americano poderia dar, se ela é proporcional ou não, se havia outros trâmites institucionais que poderiam ser seguidos antes de uma medida tão drástica, se houve manifestações oficiais anteriores que poderiam ser consideradas um “aviso” do que estava por vir, não é avaliação que pretendemos fazer agora. Compreendemos especialmente que as muitas centenas de brasileiros que foram calados, desmonetizados ou mesmo presos graças a Moraes, bem como os parentes dessas pessoas e todos os que se solidarizam com as vítimas do arbítrio, estejam em júbilo com a decisão norte-americana. Mas também para essas pessoas é preciso fazer um aviso importante: não é uma cavalaria em branco, azul e vermelho, capitaneada por Donald Trump e Marco Rubio, que salvará o Brasil e devolverá a democracia ao país.


Se hoje o Brasil passa a vergonha global de ter um juiz de sua suprema corte colocado ao lado de gente como o ditador da Belarus e os responsáveis pelo assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi, é graças a uma outra vergonha, ainda maior: a omissão, quando não o aplauso, de todos os que poderiam ter freado os ímpetos autoritários de Moraes e não o fizeram. Jornalistas que elogiaram a censura, instituições da sociedade civil que se calaram diante da abolição do devido processo legal, deputados que avalizaram a destruição da imunidade parlamentar, senadores que, sendo o contrapeso constitucional ao STF, se esconderam em vez de levar adiante processos de impeachment mais que justificados – todos esses ajudaram, de alguma forma, a alimentar a enorme desordem que vivemos hoje, e que dá margem a respostas estrangeiras como a que acaba de ocorrer.


São esses brasileiros que precisam reconhecer o seu papel no processo que levou ao fim da democracia no Brasil e, mais que fazer um mea culpa, têm de lutar para desfazer o estrago causado pela autocracia judiciária, cada um agindo da forma que lhe cabe, na arena da opinião pública ou no parlamento. A crítica firme ao sistema de censura que se instalou no Brasil, a defesa intransigente das garantias individuais contra os abusos do sistema persecutório, a proteção das garantias parlamentares, a investigação do arbítrio por meio da CPI do Abuso de Autoridade, a responsabilização de ministros no Senado: nenhum norte-americano, por mais poderoso que seja, é capaz de fazer isso em nosso lugar.


A restauração da democracia no Brasil depende necessariamente destas medidas, muito mais que de quaisquer sanções estrangeiras. Estas últimas, independentemente de serem ou não justificadas, podem ter efeitos ainda desconhecidos e imprevisíveis – basta ver como Lula conseguiu reverter uma parcela de sua impopularidade apelando para um patriotismo de botequim em reação ao tarifaço de Trump. Já uma fortíssima reação interna contra os desmandos do Judiciário será praticamente impossível de frear, caso os brasileiros estejam firmemente decididos a não mais se acovardar. Não podemos terceirizar a tarefa de salvar o país do autoritarismo: só os brasileiros podem realizar a necessária virada.”

Papo de um Economista de Mercado 17

 Diário de um economista de mercado 17


1. Nas minhas andanças pela terrinha, me recordo impressionado do "gap" civilizacional entre ambos os países, Brasil e Portugal. 


2. Não tem este papo academista e tolo de que a Europa é mais desenvolvida economicamente que o Brasil. Não é. O que eles têm é o que chamo de "marco civilizatório", suas instituições são respeitadas e preservadas. Ao contrário das nossas.


3. Portugal tem isso. É um povo melancólico, triste até, conformado. Mas possuem este traço, são "suaves" e tolerantes no trato diário. Por exemplo, aceitam bem os imigrantes.


4. Argumento que os "patrícios" são tolerantes e pela pobreza, muito "econômicos". Dizem ser forte a influência judaica.


5. Tudo isso para dizer que eu ficava abismado ao ver os potenciais em recursos naturais do Brasil, a riqueza em recursos, não ter dependência ao exterior. 


6. O Brasil é uma potência da natureza. Seus recursos naturais são abundantes, assim como seus recursos humanos, pela diversidade e criatividade. 


7. Não entendia por que somos tão "atrasados". Talvez pela ausência de mecanismos institucionais mais maduros. Talvez...


8.O Congresso é um acúmulo de "fichas sujas", sendo minoria os de "boa fé", com espírito público; o Judiciário está na mão de uma instância tóxica, nomeada por critérios nebulosos; e o Executivo? São mais de 20 anos de governanças em baixo nível, somos liderados por populistas despreparados. 


Não pode dar certo...


Vamos monitorando.

Papo de um Economista de Mercado 29

 Papo de um Economista de Mercado 29


Agenda

JHN Consulting 


1. Considero esta quarta-feira (10) um momento crucial no Brasil, no mundo.


2. Pelo lado das reuniões de política monetária, a expectativa é de que nos EUA o Fed mantenha a taxa de juros em 4,25% a 4,50%, mesmo com as pressões em contrário do governo Trump, em embate com o presidente da instituição, Jerome Powell. Cresce, inclusive, a tese da manutenção da taxa, dada a instabilidade com a "guerra tarifária". Neste caso, a inflação estaria no radar.


3. Em direção semelhante, temos por aqui a decisão do Copom, também pela manutenção da Selic em 15% anuais. O momento de instabilidade, com o governo Trump impondo uma "mão pesada" de 50% de tarifa de importação para bens domésticos, também é um complicador, assim como a inflação, pelo IPCA, ainda fora da meta, com projeção para este ano acima do teto, mais próxima de 5,70% pela Focus.


4. Ainda temos o dia 1/8 como crucial, quando o governo Trump deve impor esta "mão pesada". Lembrando que o governo brasileiro vem tentando estabelecer algum canal de comunicação com o americano, dificultado pela questão política.


5. Mesmo assim, possível que alguns alimentos, café, laranja, por exemplo, e a Embraer tenham algum atenuante neste front de tarifação. 


6. Nos EUA, ainda temos nesta semana uma agenda pesada de indicadores de mercado de trabalho, destacando o Jolts, o ADP, em geração de empregos privados, e o payroll, todos importantes para a decisão do Fed. 


7. Em complemento, ainda temos o PCE, indicador de gastos de consumo nos EUA, muito acompanhado pelo Fed. Saem também diversos indicadores de crescimento da economia no mundo.


8. Fato é que, neste momento de "stress", pelo "tarifaço", estes dados podem se tornar essenciais para a decisão do Fed, mesmo que divulgados com "atraso".


Vamos monitorando.

Produtividade é a saída

  O mundo está girando (e rápido): o Brasil vai acompanhar ou ficar para trás? 🌎🇧🇷 Acabei de ler uma análise excelente de Marcello Estevã...