domingo, 19 de outubro de 2025

Terremoto no mercado

 *O homem que causou um terremoto no mercado financeiro*


da Redação16 de maio de 2025, 14:22



André Vieira*


Brazil Stock Guide – João Daniel Piran de Arruda carrega um currículo de elite no mercado financeiro. Formado em administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), passara quase 15 anos no Bank of America (BofA), onde liderou a área de derivativos e estruturação de dívida corporativa na América Latina. Antes, atuara no Crédit Agricole, em São Paulo e Londres. Conhecido por sua habilidade em montar operações complexas, ganhou fama como um engenheiro financeiro capaz de transformar exposição cambial em rentabilidade. Quando assumiu o cargo de CFO da Ambipar, em agosto de 2024, aos 43 anos, parecia o nome certo para levar a companhia a um novo patamar de sofisticação financeira.


Foi essa reputação técnica que lhe garantiu liberdade quase total — e que, ironicamente, permitiria a criação do instrumento que precipitaria a situação atual da Ambipar. O contrato que depois parecia rotineiro: um simples aditivo a um hedge cambial. Mas por trás da aparência técnica havia uma estrutura letal. A crise foi deflagrada quando a Ambipar transferiu seus derivativos do Bank of America (BofA) pagando uma multa de R$ 20 milhões e um prêmio de R$ 62 milhões para o Deutsche Bank, em fevereiro de 2025, acreditando estar reduzindo custos e ampliando eficiência.


Na prática, a operação montada sob supervisão de Arruda criou um mecanismo em que o valor de mercado dos próprios títulos da Ambipar passou a definir o grau de estrangulamento financeiro da companhia a cada oscilação. O nome soava sofisticado — PIK bonds (Payment-in-Kind), instrumentos que permitem postergar pagamentos de juros em forma de novos títulos —, mas o efeito foi devastador: cada queda no preço dos papéis disparava novas chamadas de margem, drenava o caixa e ampliava o risco de crédito. O hedge transformou-se em armadilha. Quando o mecanismo dos PIK bonds veio a público, abalou a credibilidade da Ambipar e levou os bancos a antecipar o vencimento de dívidas.


Antes da tempestade, havia o símbolo do sucesso: os green bonds. No ano anterior, a Ambipar — por meio da Ambipar Lux S.à r.l. e de veículos nas Ilhas Cayman — lançara seus primeiros títulos sustentáveis internacionais, no valor de US$ 750 milhões, premiados como o melhor bond do ano. As emissões, Ambipar Green Bonds 9,875% 2031 e 10,875% 2033, foram registradas na Bolsa de Luxemburgo (LuxSE) e certificadas segundo os Green Bond Principles da ICMA. À época, foram celebradas como marcos do mercado brasileiro: papéis com selo ambiental, atrelados a metas de carbono e economia circular. Foi justamente sobre esses títulos — que Arruda ajudara a estruturar ainda no BofA — que sustentaria, num momento posterior, o mecanismo de proteção cambial que se tornaria fatal.


O Brazil Stock Guide acompanhou os desdobramentos da crise da Ambipar desde a sua eclosão há um mês. Ao longo dessas semanas, a reportagem ouviu uma dezena de pessoas envolvidas direta ou indiretamente nas negociações — executivos, advogados, analistas e credores — e analisou centenas de páginas de documentos. Eles mostram, em detalhe, como um instrumento de proteção financeira evoluiu para uma estrutura de alto risco — e como um aditivo de proteção transformou uma história de sucesso corporativo em um caso de referência sobre alavancagem e falhas causadas por seu gestor financeiro.


Fundada em 1995, por Tercio Borlenghi Junior, a Ambipar começou como uma pequena empresa de coleta e tratamento de resíduos industriais. Três décadas depois, transformou-se em um grupo multinacional presente em mais de 40 países, gerando cerca de 25 mil empregos diretos e 100 mil indiretos. Seu modelo de negócio se dividia em duas frentes complementares: Ambipar Environment, dedicada à gestão de resíduos e soluções de economia circular; e Ambipar Response, especializada em emergências químicas e desastres industriais. O crescimento veio por aquisições em série — uma estratégia agressiva de M&A.


Entre 2020 e 2023, já listada na B3 (AMBP3), o grupo comprou dezenas de ativos nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e América Latina, incluindo a Allied International Emergency, a One Stop Environmental e a PERS – Professional Emergency Resource Services. Em 2023, a divisão Response foi listada na NYSE American (ticker AMBI), após fusão com a SPAC HPX Corp., numa operação liderada por João Arruda quando ainda estava no BofA, dando à Ambipar status de pioneira global em ESG entre emergentes. No Brasil, suas ações chegaram a integrar o índice verde da B3, com certificação da S&P, e eram apresentadas como símbolo de “capitalismo regenerativo”.


Fundos estrangeiros — entre eles gestoras dos Estados Unidos, Reino Unido e Escandinávia — tornaram-se acionistas relevantes. No auge da euforia verde, as ações da Ambipar se valorizaram mais de 800%, impulsionadas pela onda ESG. A capitalização de mercado superou R$ 44 bilhões, segundo a Elos Ayta Consultoria, no fim de 2024, quando o faturamento alcançou quase R$ 7 bilhões. Naquele momento, a Ambipar representava uma ideia de país: o Brasil moderno, exportador de soluções sustentáveis, com uma multinacional brasileira nascida do lixo industrial.


A chegada de João Arruda à Ambipar se deu pelas relações do passado. Ele conhecia Tercio Borlenghi havia quase uma década, desde os tempos em que o Bank of America assessorava as captações externas, ajudava no IPO e no follow-on da companhia. O convite veio num jantar no fim de 2023. Borlenghi queria alguém que falasse “a língua de Nova York, Faria Lima e Leblon”, requisitos que parecia oferecer.


Como condição para aceitar o cargo de CFO, pediu e recebeu carta branca para reestruturar os departamentos financeiro, de governança, compliance, jurídico, recursos humanos, tributário, bem como as áreas de comunicação e marketing. Logo depois de assumir, em agosto do ano passado, demitiu vários executivos com posição de destaque nesses departamentos. O conselho, confiante na experiência dele, aprovou tais mudanças. “Ele falava com assertividade, trazia garantias técnicas”, relembra um ex-membro. “Mas essa suposta experiência virou deslumbramento.”


Em fevereiro, a Ambipar transferiu sua carteira de derivativos cambiais do Bank of America para o Deutsche Bank. O novo contrato prometia spreads menores e maior eficiência operacional. Para encerrar a antiga operação, a empresa desembolsou cerca de R$ 20 milhões em multa ao BofA — um custo apresentado internamente como parte de uma “otimização financeira”. O que parecia um avanço técnico, porém, se transformou em armadilha. A estrutura firmada com o Deutsche, reforçada meses depois pelo aditivo de agosto — o chamado pik bond — alterou profundamente o perfil de risco da companhia, concentrando as garantias no banco alemão e impondo o pagamento adicional de R$ 62 milhões. O que era para reduzir exposição acabou ampliando o grau de dependência e vulnerabilidade financeira da Ambipar.


Durante os meses de março a agosto, o hedge funcionou em silêncio. Mas a partir de agosto, com o fatídico aditivo já em vigor, tornou-se explosivo. O valor dos green bonds caiu de 100 para 60 centavos por dólar. Na semana anterior à saída de Arruda do cargo de CFO da Ambipar, o Deutsche passou a exigir dezenas de milhões diariamente em depósitos de margem, totalizando R$ 170 milhões em cinco dias. Em 16 de setembro, chegaram três notificações no mesmo dia, somando mais R$ 70 milhões.


*O colapso financeiro*


A ruptura começou a se desenhar em meados de setembro. No dia 18 de setembro, uma quinta-feira, Arruda convocou para a segunda-feira seguinte uma reunião em Nova York com bondholders internacionais — seria a primeira oportunidade para explicar a deterioração dos títulos e o aditivo assinado com o Deutsche.


Mas a crise ganhou velocidade. Na sexta-feira, 19 de setembro, último dia útil da véspera do encontro, ele surpreendeu a todos ao apresentar ao conselho seu pedido de demissão por e-mail às 22h30, não comparecendo à reunião do dia 22. “Todo mundo estaria lá — fundo americano, europeu, brasileiro — e ele sumiu”, lembra um interlocutor. O gesto foi interpretado dentro da empresa como o ponto de ruptura definitivo: a confirmação de que o sistema criado para beneficiar a Ambipar havia se voltado contra ela.


No fim de semana, escritórios de advocacia em Londres e Nova York começaram a questionar o Deutsche sobre a execução das garantias e o possível descumprimento de cláusulas de disclosure nos títulos verdes — inaugurando a fase jurídica da crise.


Na abertura do mercado, na segunda-feira, 22 de setembro, o hedge financeiro começou a colapsar. Os derivativos dispararam, os títulos lastreados em green bonds passaram a ser liquidados compulsoriamente, e o fluxo de chamadas de margem ia drenando o caixa da companhia, à medida que bancos estrangeiros executavam as garantias. Em poucos dias, os títulos da dívida despencaram para US$ 0,16 por dólar de face. Na bolsa, o descrédito total dos investidores. Neste primeiro mês de crise, as ações da Ambipar, que chegaram a valer R$ 26, caíram 97%, valendo menos de R$ 0,40 no pregão mais recente. “Foi o Big Short brasileiro. Só que o subprime era verde”, disse um trader.


No mercado internacional, o risco de crédito da Ambipar ficou exposto em tempo real. Quando a agência de classificação de risco S&P baixou o rating de “AA” para “D”, os Credit Default Swaps (CDS) da companhia — seguros contra calote — dispararam, refletindo a probabilidade de default superior a 50% em 12 meses. O CDS virou termômetro da crise: cada nova chamada de margem elevava o prêmio de risco, e cada alta no CDS derrubava ainda mais o preço dos títulos. Esse ciclo vicioso é descrito na literatura acadêmica como margin spiral — a “espiral de margem” conceito formulado por Markus Brunnermeier e Lasse Pedersen (2009), que descreve o colapso em cadeia gerado por chamadas de margem sucessivas. Foi exatamente o que ocorreu: o preço caía, o CDS subia e o Deutsche exigia mais garantias.


*Os efeitos para o investidor de varejo*



A implosão da dívida detonou a ideia de segurança em produtos vendidos ao varejo com base nos green bonds da Ambipar. A corretora XP comercializou Certificados de Operações Estruturadas (COEs) prometendo “IPCA + 11,75%” e “sem exposição cambial”, sugerindo a segurança de um título de renda fixa. Vendidos pela XP por meio de seus assessores de investimentos, agentes autônomos e plataformas digitais, carregavam nomes chamativos: COE ESG Brasil Verde, Ambipar Global Environment, Green 2031 Performance. O apelo funcionou: cerca de R$ 900 milhões foram captados, boa parte de investidores conservadores e pessoas físicas.


Esses produtos que eram instrumentos de crédito apresentados como investimentos seguros eram, na prática, apostas contra a própria Ambipar. Por trás da promessa de rentabilidade fixa, investidores de varejo financiavam a ponta perdedora de um CDS que lucrava com a deterioração dos títulos da empresa. O aditivo obrigava a companhia a depositar garantias diárias sempre que seus papéis perdiam valor — um ciclo que sugava liquidez e acelerava o colapso. Na outra ponta, fundos internacionais recebiam o cupom integral dos bonds — um arranjo que só fazia sentido se o default fosse esperado, e rentável.


Quando o preço dos títulos despencou e as cláusulas de cross-default foram acionadas, os COEs vendidos a investidores de varejo viraram pó: cada real aplicado passou a valer centavos. Centenas de clientes receberam mensagens: os papéis haviam atingido o “nível de gatilho de perda total”. A promessa de proteção evaporou em uma tarde. “Disseram que era verde, que era seguro. Perdi tudo”, escreveu um investidor no Reclame Aqui, dentre as dezenas que registraram queixas no site de defesa do consumidor.


Estima-se que cerca de 4.200 pessoas físicas tenham sido afetadas. O caso já alimenta ações coletivas e uma possível investigação da CVM por “falha material de transparência” e “conflito de interesse entre originação e distribuição”. A XP prepara um fundo exclusivo para os investidores que acreditam que podem recuperar ao menos parte dos prejuízos caso a empresa se recupere.


*Proteção à Justiça*


Diante do colapso, a Ambipar recorreu à Justiça. Em 24 de setembro, ingressou na 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro com um pedido de proteção temporária contra credores. Os bancos reclamaram. A decisão liminar suspendeu execuções e cláusulas de aceleração por 30 dias, prorrogáveis. Na petição, a companhia alegou “abuso de poder contratual” e “distorção da finalidade do hedge”.


O controlador da Ambipar também tornou pública uma carta endereçada ao conselho em 10 de outubro. Borlenghi Junior afirmou que Bradesco e Opportunity teriam vendido ações de sua titularidade em violação a liminar judicial. As operações, segundo ele, reduziram sua participação de 73,48% para 67,68%, causando perdas de R$ 20 bilhões de marketcap (US$ 3,4 bilhões). Em resposta, o Opportunity alegou não ser credor do FIP Everest, apenas cotista minoritário, sem poder de execução. O Bradesco, até o momento, não se manifestou publicamente.


Um pedido formal de recuperação judicial por parte da Ambipar é considerado iminente e poderá ser apresentado brevemente. A medida daria fôlego ao caixa da Ambipar, preservaria empregos e permitiria que a operação de emergência e gestão de resíduos continue funcionando enquanto o grupo negocia com os credores e tenta se reerguer.


A crise da Ambipar deixou de ser apenas financeira. A empresa ingressou com ação criminal no Tribunal de Justiça de São Paulo contra João Arruda e outros dois executivos. O processo investiga falsidade ideológica, fraude, estelionato e manipulação de informações na montagem do hedge com o Deutsche Bank.


Procurado, o ex-diretor financeiro da Ambipar não deu entrevista. Mas, em nota, David Rechulski, seu advogado de defesa, afirma que o inquérito policial representa “mais um movimento errático” da Ambipar, dentro de uma sequência de tentativas anteriores de atribuir responsabilidades indevidas a Arruda. Segundo ele, a Ambipar teria imputado ao seu cliente a assinatura de documentos que, na verdade, foram firmados por outros executivos. Entre eles, um termo de cessão do Bank of America ao Deutsche Bank — “assinado pelo próprio filho do controlador e diretor estatutário da empresa” — e o aditivo contratual com o Deutsche, “rubricado pelos diretores estatutários Thiago Silva e Luciana Barca”.


Rechulski diz ainda existirem mensagens do controlador, Tercio Borlenghi Junior, enviadas a Arruda “comemorando a assinatura do aditivo com o Deutsche Bank, que agora afirmam desconhecer”. “Narrativas falaciosas não resistirão às evidências”, conclui Rechulski. Nenhuma cópia de documento foi mostrada à reportagem e o advogado não comentou sobre as responsabilidades do próprio gestor financeiro da companhia, alvo do inquérito policial instaurado.


No fim, a promessa de governança global da Ambipar terminou nos tribunais — e o experimento da companhia com os green bonds tornou-se um exemplo dos riscos do mau uso da inovação financeira por João Daniel Piran de Arruda, pelo Deutsche Bank e pela XP.


https://www.brasilconfidencial.com.br/o-homem-que-causou-um-terremoto-no-mercado-financeiro/

sábado, 18 de outubro de 2025

Leitura de sábado - UBS e Prior

 *Leitura de Sábado: UBS vende ações da Prio para reduzir exposição a Tanure, dizem fontes*


Por Cynthia Decloedt


São Paulo, 16/10/2025 - O Banco UBS Brasil adotou a estratégia de reduzir sua exposição em créditos tomados pelo empresário Nelson Tanure junto ao Credit Suisse, banco suíço adquirido pelo UBS em 2023, apurou a Broadcast. Nesse movimento, o UBS desmontou uma das operações de crédito que tinham as ações da Prio como garantia, resultando na venda de posição relevante das ações da companhia produtora de petróleo que estavam em posse do banco. A operação foi feita na semana passada.


A venda pelo UBS de uma parte das ações da Prio foi comunicada ao mercado pela própria empresa na segunda-feira, 13. A Prio informou que o banco suíço reduziu participação relevante em derivativos, com liquidação financeira, referenciados em ações de emissão da Prio. Na quarta-feira, 14, em outro comunicado, a Prio informou que o UBS Brasil reiterou posição consolidada de 6,43% em derivativos com liquidação financeira referenciados em ações de emissão companhia.


A Prio é considerada um dos principais casos de sucesso dos investimentos feitos por Tanure em empresas problemáticas. A companhia passou por uma grande transformação desde 2013, quando a então HRT foi adquirida pelo empresário. A Prio vale hoje perto de R$ 32 bilhões e se consolidou como uma das maiores exploradoras e produtoras de petróleo privadas.


Mesmo depois desta operação, o UBS segue com parte de uma exposição em empréstimos tomados pelo empresário, que somavam entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões antes desta liquidação, conforme fontes. As operações de crédito a Tanure foram feitas no segmento de gestão de fortunas (wealth managment) do Credit Suisse. O banco foi comprado pelo UBS em 2023, em uma operação global.


EMAE


A decisão de diminuir sua exposição ao empresário acontece em meio a uma série de eventos recentes envolvendo o nome de Tanure e suas empresas investidas. No início deste mês, o empresário perdeu o controle da EMAE, empresa de energia privatizada no ano passado pelo governo de São Paulo. A perda se deu por uma operação feita após o vencimento antecipado de um empréstimo de R$ 520 milhões tomado por meio de uma emissão de debêntures subscritas pela XP. Os papéis eram garantidos por ações da EMAE e ainda da Ambipar, que está reestruturando uma dívida de R$ 11 bilhões e caminha para entrar em recuperação judicial.


O vencimento antecipado das debêntures da EMAE foi decretado após a Phoenix Água e Energia, holding que tinha o controle da EMAE e onde Tanure é o principal acionista, deixar de honrar um compromisso de cerca de R$ 130 milhões. Como mostrou a Broadcast, credores estavam atentos aos movimentos da EMAE havia pelo menos seis meses, incluindo relacionados ao uso do caixa da EMAE. O maior deles, revelado pela Coluna do Broadcast, foi o acordo para a compra de R$ 250 milhões em debêntures conversíveis, bônus de subscrição e títulos de dívida emitidos no exterior (bonds) da Light, empresa na qual Tanure é um dos acionistas de referência.


Procurado, por meio da assessoria de imprensa, o empresário Nelson Tanure questionou a informação apurada pela Broadcast. O UBS não comentou e a Prio não retornou até a publicação da nota.


Contato: cynthia.decloedt@estadao.com


Broadcast+

Leitura de sábado - ANAC

 Leitura de Sábado: Regulador não pode ser fardo adicional para setor aéreo, diz Faierstein/Anac


Por Luiz Araújo


Brasília, 16/10/2025 - O diretor-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Tiago Faierstein, afirma que sua gestão terá como pilar o diálogo com o Congresso Nacional. Tendo assumido o posto há dois meses, o presidente avalia que, de forma equivocada, a agência se distanciou do Legislativo, o que teria enfraquecido o orçamento e levado ao desalinhamento entre a agenda regulatória e projetos parlamentares.


Em entrevista à Broadcast, Faierstein defende que a independência técnica não pode significar isolamento institucional e que o diálogo com o Executivo e o Legislativo é essencial para recompor o orçamento e garantir estabilidade regulatória. "A Anac tem excelência técnica, mas perdeu capacidade de articulação. Nosso papel é reconstruir essa ponte."


Com passagens pela Infraero, o diretor-presidente destaca que a estatal tem condições de recuperar protagonismo na aviação regional. "Após anos de déficit, ela conseguiu equilibrar as contas e hoje tem capacidade de investimento", afirma. Confira os principais trechos da entrevista:


Broadcast: Recentemente o senhor falou sobre a necessidade de equilíbrio do papel regulatório para que o setor aéreo não seja prejudicado. Como deve ser esse equilíbrio?


Tiago Faierstein: No fim do dia, o que queremos é melhorar o serviço para a população. A principal reclamação em relação às companhias aéreas é o preço da passagem. Há espaço para reduzir custos. Dois fatores impactam diretamente o valor das passagens. O primeiro é a oferta e procura: temos mais pessoas querendo viajar e menos aeronaves disponíveis, devido à manutenção, escassez de peças e atraso na entrega de novos aviões - uma situação global, não apenas do Brasil. O segundo ponto é o custo dolarizado: cerca de 60% das despesas do setor dependem do dólar. Quando a moeda sobe, o custo sobe. Mesmo com tarifas elevadas, os voos estão lotados, e as companhias enfrentam dificuldades financeiras. O objetivo é que a Anac não seja um fardo adicional para o setor, já pressionado por custos dolarizados e alta judicialização. Entre os temas em discussão, está a jornada dos tripulantes. Temos dialogado com o sindicato dos aeronautas em busca de um consenso. A ideia é equilibrar os interesses e manter a segurança e o bem-estar de todos.


Broadcast: A questão da judicialização está próxima de ser resolvida, certo? Já que há um julgamento em curso no STF que terá repercussão geral.


Faierstein: O Supremo vai decidir se prevalece o Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA) ou o Código de Defesa do Consumidor (CDC). Se o STF entender que prevalece o CDC, pouco há o que fazer. Mas se prevalecer o CBA, teremos de atualizar a Resolução 400. A Anac pretende apresentar uma proposta de atualização ainda este ano, respeitando os prazos de consulta pública e de análise de impacto regulatório.


Broadcast: O Congresso se mostrou bastante crítico às companhias nos últimos anos. Não há risco de se opor a pautas como a flexibilização da jornada dos tripulantes?


Faierstein: A relação com o Congresso é de diálogo constante. Estamos próximos, trocando informações e sentindo a temperatura das pautas para evitar decisões desalinhadas. O objetivo é que a Anac seja o centro de consulta técnica antes de qualquer projeto de lei sobre o setor. Isso já está mudando. Passei nove meses entre a indicação e a sabatina no Senado, o que me permitiu circular, entender o ambiente e amadurecer o diagnóstico. A Anac tem reconhecida excelência técnica, mas se isolou nos últimos anos, deixou de dialogar com o Congresso. Esse isolamento foi prejudicial. Quando se deixa de conversar com o Congresso, perde-se orçamento e espaço na formulação de políticas públicas. O Congresso quer proximidade, quer ouvir, e é isso que estamos restabelecendo. Temos um programa de regulação responsiva, que ajusta o nível de normatização conforme o risco. Agora queremos aplicar o mesmo conceito à comunicação: conversar antes de publicar novas regras, antecipar informações ao Congresso e aos atores do setor. Assim, as demandas chegam mais amadurecidas e com menos ruído político.


Broadcast: O senhor vê perspectiva de que o problema de orçamento das agências seja superado nos próximos anos a partir dessa aproximação com o Congresso?


Faierstein: Esse é o principal foco do nosso trabalho. Já temos compromisso do presidente da Comissão de Infraestrutura e de lideranças da Câmara e do Senado para recompor o orçamento das agências reguladoras. Reativamos o Conselho das Agências Reguladoras Federais, que estava parado, e hoje temos uma pauta conjunta. Fui eleito vice-presidente, ao lado do diretor-geral da ANTT, Guilherme Sampaio. Estamos atuando de forma integrada com Aneel, Anvisa, Antaq, ANA e outras.


Broadcast: E com o governo, como será a relação?


Faierstein: A relação com o governo é de alinhamento e colaboração, especialmente com o Ministério de Portos e Aeroportos. A Anac foi criada para regular, certificar e fiscalizar, mas também para atuar de forma alinhada às políticas públicas do governo federal, como está previsto na sua lei de criação. Isso não compromete a independência técnica, pelo contrário: fortalece a atuação institucional. A agência precisa da política pública e do orçamento, e o governo precisa da Anac para executar suas diretrizes. Dialogar não é depender. A independência não deve ser confundida com isolamento. Eu costumo dizer que o diretor não está ali apenas para seguir normas, mas para dar rumo, direção e visão institucional.


Broadcast: Quais são as marcas pretendidas para sua gestão?


Faierstein: Nossa agenda não é quantitativa, baseada em número de resoluções ou regulamentos alterados. É qualitativa e estratégica. Queremos que o setor de aviação civil saia desta gestão melhor do que entrou: mais cidades atendidas, mais pessoas voando, companhias mais saudáveis. O foco é o olhar da sociedade. O crescimento do setor só se sustenta com um mercado equilibrado. E não existe aviação civil bem-sucedida no mundo sem apoio do Estado. Nosso trabalho será direcionado para as áreas em que a Anac tem controle efetivo e pode gerar resultados concretos. Vamos focar naquilo que está ao nosso alcance e que pode, de fato, produzir impacto positivo no setor.


Broadcast: Como o senhor avalia o papel dos aeroportos regionais para o avanço do setor?


Faierstein: O Programa Ampliar, criado pelo Ministério de Portos e Aeroportos, é fundamental. Ele estabelece uma mesa de negociação entre governo e concessionárias, oferecendo contrapartidas como extensão de prazo ou reequilíbrio contratual em troca da assunção de aeroportos regionais deficitários. Não se trata de obrigar as concessionárias, mas de criar incentivos. É uma política pública inteligente, semelhante à que originou a Infraero, que administrava aeroportos pouco atrativos à iniciativa privada até se tornarem rentáveis. A lógica agora é a mesma: fomentar o desenvolvimento da aviação regional com apoio estatal, até que esses ativos se tornem viáveis.


Broadcast: Qual é o papel da Infraero no atual contexto?


Faierstein: A Infraero é uma empresa pública financeiramente independente, com mais de R$ 2 bilhões em caixa e 51 anos de experiência técnica. Após anos de déficit, ela conseguiu equilibrar as contas e hoje tem capacidade de investimento. É um ativo importante do governo e pode voltar a ter protagonismo na execução de políticas públicas, como a construção, reforma e administração de aeroportos regionais. A ideia não é que ela gere lucro, mas que cumpra sua função social de desenvolver infraestrutura onde o setor privado não tem interesse imediato. O equilíbrio financeiro permite que a empresa use seu caixa para investir em projetos públicos, sem depender do Tesouro. A Infraero também presta serviços remunerados, como consultoria e operação sob contrato com prefeituras, o que ajuda a manter a sustentabilidade. O importante é que, com as contas equilibradas, o dinheiro em caixa possa ser direcionado a investimentos em aviação regional, cumprindo o papel público para o qual a empresa foi criada.


Contato: luiz.araujo@estadao.com


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Leitura de sábado - peso do juro

 Leitura de Sábado: Peso do juro aumenta e deve prejudicar balanços de varejistas e alavancadas


Por Ana Paula Machado


São Paulo, 17/10/2025 - A desaceleração da economia brasileira deve se refletir nos resultados financeiros das empresas listadas na Bolsa no terceiro trimestre. Analistas e estrategistas ouvidos pela Broadcast afirmam que a taxa elevada de juros penalizará as companhias mais ligadas à atividade doméstica, especialmente as do setor varejista, mas com efeitos também sobre aquelas com endividamento alto. A temporada de balanços ganha fôlego a partir da próxima semana.


A percepção dos profissionais é a de que os resultados do período de julho a setembro evidenciarão a Selic a 15% "fazendo o trabalho dela", ou seja, desacelerando a economia em ritmo de pouso suave para diminuir a inflação. Segundo o Projeções Broadcast, o terceiro trimestre deve mostrar crescimento de 0,2% no Produto Interno Bruto (PIB), ante 0,4% nos três meses anteriores.


"As empresas que são mais sensíveis a este cenário podem apresentar um resultado pior, mas dentro do esperado, não deve ter nada fora da curva", afirma o analista de investimentos da Daycoval Corretora, Gabriel Mollo. "O que mais preocupa é a inadimplência, e isso afeta mais os bancos e varejo, o que acaba contaminando a economia como um todo."


O peso dos juros elevados nos resultados das empresas brasileiras deve permanecer, pelo menos, até o primeiro trimestre do próximo ano, de acordo com os analistas. A expectativa, segundo eles, para o início do ciclo de corte da Selic é a partir de março de 2027.


"O corte está demorando mais do que o mercado imaginava em função do discurso muito conservador do Banco Central", avalia o diretor de Equity Research Latin America do Citi, André Mazini.


O estrategista de ações da Genial Investimentos, Filipe Villegas, é mais pessimista e acredita que o ciclo de afrouxamento monetário deve se iniciar somente em maio ou junho, estendendo os efeitos da restrição monetária por mais tempo que o previsto.


"Em dezembro deve haver uma desaceleração forte da economia, mas hoje o que temos de precificação da curva de juros é um corte da Selic e a partir de janeiro e olhe lá."


Exposição


Expostas imediatamente ao ciclo monetário, as empresas varejistas devem ver a sua receita cair no terceiro trimestre deste ano. "O setor vai performar mal, pois o País está desacelerando e acredito que vai apresentar resultados consistentes quando Selic começar a cair, isso em março do ano que vem", projeta Mollo, da Daycoval Corretora.


O economista da Valor Investimentos Ian Lopes também acredita que o setor segue em um momento delicado, em função das altas taxas de juros. "Apesar de resilientes, os juros altos pesam na dívida das empresas, por isso, não vai ter resultados tão bons, com a inadimplência crescente e o consumo em queda", diz Lopes.


Outro fator que deve pesar nas empresas é o inverno mais persistente neste ano em comparação a 2024.


Para Mazini, do Citi, o fator clima deve impactar os resultados do varejo de vestuário, como Azzas, Lojas Renner e C&A. "Além da atividade ter se desacelerado no trimestre. Os volumes foram mais baixos neste período em todo o setor."


Para o analista da Reach Capital Investimentos Khalil Lima, o que pode melhorar os resultados do setor é a alavancagem, mas por perda de receita e não por redução da dívida líquida das empresas.


"Quando a atividade desacelera, a desalavancagem operacional também cai, isso porque a conversão da dívida líquida com margem Ebitda fica menor", diz Lima. "As piores categorias devem ser o de vestuário, com Lojas Renner, Guararapes e C&A apresentando balanços piores, e alimentos, com volume menor de vendas."


Por outro lado, empresas com muitas dívidas, como Raízen, também devem ser prejudicadas pelos juros altos. Nas últimas semanas, o mercado tem questionado a saúde financeira dessas companhias, dado o alto grau de alavancagem.


"O mercado vai olhar com lupa essas empresas já com receio de que pode prejudicar os resultados futuros", diz Villegas, da Genial. "Com manutenção da Selic e taxa de juros longos nestes patamares, as companhias alavancadas devem sofrer neste trimestre."


Contato: ana.machado@estadao.com


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sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Fernando Gabeira

 Fernando Gabeira

Bolsonarista deve responder em liberdade

A maneira como se processa, julga e determina a prisão é, na verdade, um palco onde os holofotes estão nos vencedores

14/10/2025 00h06  

O prédio do STF em Brasília — Foto: Cristiano Mariz / O Globo

 

Há pouco mais de dois meses, falei dela numa entrevista ao canal MyNews. Falei de modo geral: uma presa política em condições precárias, em Três Corações, Minas Gerais. Fui criticado por me interessar por alguém de direita. Houve quem dissesse que inventei o caso. Hoje, serei um pouco mais específico.


Ela se chama Alexandra Aparecida da Silva, tem 43 anos, é ré primária, bons antecedentes. Usava uma tornozeleira eletrônica em sua pequena cidade de Fama, às margens do Lago de Furnas. De repente, foi levada para a prisão, onde sofre muito. Tem um nódulo na mama, esperando biópsia, um cisto no punho e sangramento retal. Não se trata de anistia, muito menos de dosagem de pena. Ainda não foi julgada.


É conhecida por Leca. Depois de presa pela primeira vez em Brasília, seu casamento foi para o espaço. Vivia precariamente, cuidando de nove cachorros. Estava na capital apenas no dia 9 de janeiro de 2023. Seu ônibus quebrou e se atrasou. Não participou de invasão aos prédios públicos. Mas suas redes sociais eram claras: adepta de Bolsonaro, bandeiras do Brasil, ilusão de estar salvando o país — essas coisas.


Quando deixou a prisão de Brasília e voltou para sua pequena cidade, Leca precisava trabalhar. Tinha de se apresentar todas as semanas à Justiça, na cidade vizinha Paraguaçu. Não havia muito como se mexer: seu dinheiro não dava para frequentar o restaurante da Rita, no máximo algumas idas à farmácia do Vantuil.


Leca teve a chance de se livrar do processo. Era um acordo em que tinha de admitir sua culpa. Preferiu não assinar nada, era mais verdadeiro. Nas suas saídas para o trabalho, alguém a fotografou. Denunciada, foi para a cadeia. A pequena cidade cuida dos seus cachorros e se cotiza para pagar o advogado.


Ninguém a vê como perigo à democracia. Pelo contrário, alguns começam a duvidar se a democracia não é o perigo. Nem todos sabem que o Brasil mudou muito com o fim da ditadura. Entramos em presídios, implodimos o da Ilha Grande, visitamos inúmeros hospícios. Era um movimento de esquerda, é verdade. Mas isso não se define por esquerda e direita. Transcende essa divisão. O escritor Henry David Thoreau costumava dizer que, para conhecer um país, é preciso visitar suas cadeias.


No meu entender, está em jogo em todo esse trabalho punitivo a própria imagem da democracia. A maneira como se processa, julga e determina a prisão é, na verdade, um palco onde os holofotes estão nos vencedores. Representam algo de fato distinto ou são apenas a continuidade de uma insensibilidade histórica?


Não acuso o Supremo, apenas tenho dito que assumir a responsabilidade de milhares de processos significa também ter algum controle sobre o dia a dia das prisões. O modesto pai de Leca foi visitá-la em Três Corações. A penitenciária impediu sua entrada, dizendo que não se vestia adequadamente. O homem saiu para comprar uma calça e camiseta, lançando mão de suas economias. Quando voltou ao presídio, disseram:


— Acabou o horário de visitas.


O mundo está cheio dessas micromaldades. Não consigo ignorá-las. Por isso peço a Alexandre de Moraes que considere processar Leca em liberdade. Ela precisa cuidar da saúde, dos seus nove cachorros, e a pequena cidade de Fama respirará aliviada com sua volta.

Riscos econômicos

 Artigo da folha de  16/10/2025, sobre riscos econômicos 


"Dois parágrafos, o primeiro e o último, da coluna do jornalista Vinicius Torres Freire, intitulada 'Maior banqueiro dos Estados Unidos lança teoria da barata para falar de perigo de bolha', lançam alerta sobre o crescente risco que a economia mundial vem demonstrando:


 'Há uma bolha de inteligência artificial? De crédito ruim? Zumbis existem?' O maior banqueiro dos Estados Unidos acredita em baratas: 'Quando se vê uma barata, tem mais por aí'. Se empresas financiadas por "bancos paralelos" ("shadow banks") quebram de modo estrambótico, em cantos menos visíveis pode haver mais financiamento irresponsável, à beira de estourar e, quem sabe, de afetar o sistema financeiro.' ...


 ... Há risco de choques por aí, cada vez mais. A China desafia os EUA. Donald Trump vai deixar barato ou vai amarelar, com medo de colapso de preço de ações? Trump agora ameaça levar guerra à Venezuela — como o Brasil negociaria com os americanos enquanto eles estivessem bombardeando Nicolás Maduro? Vai ocorrer acidente por causa das contas públicas da França, Japão ou Reino Unido? Um sucesso dos ataques de Trump ao Fed, ao BC dos EUA, pode causar fuga do dólar mais relevante no curto prazo?"

Guerra de geladeiras

*Na guerra das geladeiras, a LG prepara um contra-ataque aos chineses*


André Jankavski16 de outubro de 2025


Nos últimos anos, as geladeiras da LG tinham espaço apenas nas cozinhas da classe A.


Agora, a fabricante sul-coreana está querendo mudar esse posicionamento para fazer frente às marcas da Whirlpool e à Electrolux na casa de todos os brasileiros.


O principal movimento nessa direção é uma nova fábrica de geladeiras na região metropolitana de Curitiba, que deve começar a operar no segundo tri do ano que vem. 


A companhia está investindo R$ 1,5 bilhão na planta, com capacidade de produzir 350 mil refrigeradores por ano. A ideia é que praticamente todas as geladeiras vendidas pela fabricante sejam produzidas no Paraná – com exceção das linhas mais premium, que continuarão sendo importadas.


Daniel Song, o presidente da LG Electronics e CEO para a América Latina, disse que o investimento é uma das maiores apostas da gigante sul-coreana no Brasil. 


“Esse aporte não é apenas uma nova planta: é um movimento estratégico. Ao nacionalizar a produção, ganhamos escala, velocidade de resposta ao varejo e aderência superior às novas regras de eficiência energética,” Song disse ao Brazil Journal.


O mercado brasileiro de refrigeradores movimenta cerca de R$ 16 bilhões/ano, com cerca de 5 milhões de unidades vendidas. 


No ano passado, segundo a Eletros, o segmento de linha branca – que inclui refrigeradores, fogões e máquinas de lavar – cresceu 17%. 


Com a fábrica em funcionamento, a LG pretende chegar a um market share de 10% no fim do ano que vem – mais que o dobro da fatia atual, de cerca de 4,3%.


Para tentar alcançar essa meta, a companhia já está trazendo ao mercado modelos mais baratos. Se antes a LG era conhecida por geladeiras que começavam em R$ 10 mil, agora já é possível encontrar modelos por R$ 3,5 mil.


Mas como a produção na fábrica ainda não foi começou, os produtos ainda são importados. Ou seja, a empresa vem queimando caixa para conseguir conquistar o consumidor – e conseguir barrar a ofensiva de marcas chinesas como Hisense e Midea, que estão apostando em preços mais baixos.


Ao mesmo tempo, as líderes de mercado estão tendo um 2025 mais difícil. Em seus balanços, tanto Whirlpool e Electrolux falaram sobre uma desaceleração das vendas, mas sem dar números. Os motivos: juros altos e a ofensiva das asiáticas. 


A LG não se mostra preocupada com o atual momento. Roberto Barboza, o vice-presidente de vendas para a linha branca, disse que a marca sul-coreana pode ganhar espaço apostando na “democratização da inovação”. 


Uma dessas inovações é a redução do consumo da energia. A geladeira mais econômica da LG consome cerca de 30 kWh por mês, o que gera um custo médio mensal de R$ 30 em São Paulo. Segundo Barboza, é a geladeira com a maior eficiência energética do mercado. 


Além disso, a LG fez uma pesquisa de campo para entender os hábitos do brasileiro. As visitas incluíam questionários com os consumidores para entender onde os consumidores guardam suas bebidas e alimentos.


Resultado: a empresa criou modelos com painel externo (algo que não existe fora do Brasil) e layout interno otimizado para o gosto do brasileiro.


“O brasileiro abre a porta muitas vezes, então o freezer precisa ser maior. E há detalhes culturais: todo brasileiro quer bandeja de ovos – algo que não existe fora daqui,” disse Barboza.


Hoje a LG alterna a liderança em segmentos como TV e ar-condicionado, que são produzidos em Manaus. 


Segundo o CEO, a fábrica de refrigeradores vai permitir que a empresa consiga brigar pela liderança em um futuro não tão distante. 


“Hoje todas as geladeiras são importadas, o que reduz nossa rentabilidade. Com a produção local, ganhamos competitividade e podemos brigar de igual para igual com os concorrentes em preço – mas com um produto superior,” disse o executivo. 


A LG pretende usar micro e nanoinfluenciadores e fazer uma grande campanha na TV aberta para levar seu novo posicionamento a públicos regionais. “Queremos falar com quem está comprando sua primeira ou segunda geladeira com o mesmo tom aspiracional que usamos nas TVs OLED,” disse Barboza.


https://braziljournal.com/na-guerra-das-geladeiras-a-lg-prepara-um-contra-ataque-aos-chineses/

Fabio Alves