Leitura de Sábado: Peso do juro aumenta e deve prejudicar balanços de varejistas e alavancadas
Por Ana Paula Machado
São Paulo, 17/10/2025 - A desaceleração da economia brasileira deve se refletir nos resultados financeiros das empresas listadas na Bolsa no terceiro trimestre. Analistas e estrategistas ouvidos pela Broadcast afirmam que a taxa elevada de juros penalizará as companhias mais ligadas à atividade doméstica, especialmente as do setor varejista, mas com efeitos também sobre aquelas com endividamento alto. A temporada de balanços ganha fôlego a partir da próxima semana.
A percepção dos profissionais é a de que os resultados do período de julho a setembro evidenciarão a Selic a 15% "fazendo o trabalho dela", ou seja, desacelerando a economia em ritmo de pouso suave para diminuir a inflação. Segundo o Projeções Broadcast, o terceiro trimestre deve mostrar crescimento de 0,2% no Produto Interno Bruto (PIB), ante 0,4% nos três meses anteriores.
"As empresas que são mais sensíveis a este cenário podem apresentar um resultado pior, mas dentro do esperado, não deve ter nada fora da curva", afirma o analista de investimentos da Daycoval Corretora, Gabriel Mollo. "O que mais preocupa é a inadimplência, e isso afeta mais os bancos e varejo, o que acaba contaminando a economia como um todo."
O peso dos juros elevados nos resultados das empresas brasileiras deve permanecer, pelo menos, até o primeiro trimestre do próximo ano, de acordo com os analistas. A expectativa, segundo eles, para o início do ciclo de corte da Selic é a partir de março de 2027.
"O corte está demorando mais do que o mercado imaginava em função do discurso muito conservador do Banco Central", avalia o diretor de Equity Research Latin America do Citi, André Mazini.
O estrategista de ações da Genial Investimentos, Filipe Villegas, é mais pessimista e acredita que o ciclo de afrouxamento monetário deve se iniciar somente em maio ou junho, estendendo os efeitos da restrição monetária por mais tempo que o previsto.
"Em dezembro deve haver uma desaceleração forte da economia, mas hoje o que temos de precificação da curva de juros é um corte da Selic e a partir de janeiro e olhe lá."
Exposição
Expostas imediatamente ao ciclo monetário, as empresas varejistas devem ver a sua receita cair no terceiro trimestre deste ano. "O setor vai performar mal, pois o País está desacelerando e acredito que vai apresentar resultados consistentes quando Selic começar a cair, isso em março do ano que vem", projeta Mollo, da Daycoval Corretora.
O economista da Valor Investimentos Ian Lopes também acredita que o setor segue em um momento delicado, em função das altas taxas de juros. "Apesar de resilientes, os juros altos pesam na dívida das empresas, por isso, não vai ter resultados tão bons, com a inadimplência crescente e o consumo em queda", diz Lopes.
Outro fator que deve pesar nas empresas é o inverno mais persistente neste ano em comparação a 2024.
Para Mazini, do Citi, o fator clima deve impactar os resultados do varejo de vestuário, como Azzas, Lojas Renner e C&A. "Além da atividade ter se desacelerado no trimestre. Os volumes foram mais baixos neste período em todo o setor."
Para o analista da Reach Capital Investimentos Khalil Lima, o que pode melhorar os resultados do setor é a alavancagem, mas por perda de receita e não por redução da dívida líquida das empresas.
"Quando a atividade desacelera, a desalavancagem operacional também cai, isso porque a conversão da dívida líquida com margem Ebitda fica menor", diz Lima. "As piores categorias devem ser o de vestuário, com Lojas Renner, Guararapes e C&A apresentando balanços piores, e alimentos, com volume menor de vendas."
Por outro lado, empresas com muitas dívidas, como Raízen, também devem ser prejudicadas pelos juros altos. Nas últimas semanas, o mercado tem questionado a saúde financeira dessas companhias, dado o alto grau de alavancagem.
"O mercado vai olhar com lupa essas empresas já com receio de que pode prejudicar os resultados futuros", diz Villegas, da Genial. "Com manutenção da Selic e taxa de juros longos nestes patamares, as companhias alavancadas devem sofrer neste trimestre."
Contato: ana.machado@estadao.com
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