segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Carolina Azevedo

 Itamar, Ernaux e Ferrante são interessantes, mas não literatura, diz Aurora Bernardini


CAROLINA AZEVEDO


[RESUMO] Em entrevista, Aurora Fornoni Bernardini, professora aposentada da USP e tradutora renomada de italiano, inglês e russo, comenta a vinda de sua família da Itália, onde nasceu, para o Brasil, descreve o início de sua paixão pelo estudos de línguas e os atritos com a ditadura e afirma que a literatura contemporânea ficou mais pobre ao privilegiar o conteúdo e esquecer a forma.


Aos 84 anos, Aurora Fornoni Bernardini ainda traduz livros inteiros à mão. Nos cadernos de espiral sem pauta, em letra cursiva clara, adapta verso e prosa do italiano, do inglês e do russo. Sua empreitada mais recente foi a da autobiografia da escritora russa Nina Berberova, mais de 900 páginas divididas com o jornalista e tradutor Irineu Franco Perpétuo, que a editora Kalinka lança em breve


Na hora de escolher o título, Aurora insistiu na tradução direta: "O cursivo é meu". Ao que a editora rebateu: "Os itálicos são meus", porque hoje ninguém sabe o que é cursivo.


Nascida em Domodossola, no norte da Itália, a professora sênior de língua e literatura russa da USP conta à reportagem que trabalha muito mais desde que se aposentou, ocupando-se sobretudo de resenhas de lançamentos.


Enquanto fala sobre as "várias solicitações" das editoras, ela organiza algumas das obras que acaba de receber em sua casa, cujas estantes já estão abarrotadas de livros. Onde sobra algum espaço entre as paredes, quadros pintados ao longo de sua vida formam uma galeria de retratos de amigos e familiares, muitos dos quais já não povoam seu dia a dia.


Em busca constante por uma ocupação intelectual —"é uma espécie de vício: se não tenho uma ocupação, me sinto vazia"—, Aurora coleciona opiniões categóricas sobre o mercado editorial contemporâneo. "Um fenômeno muito curioso acomete o mundo, mas o Brasil em particular: a literatura se baseia no conteúdo e esquece a forma", afirma.


Lembrando-se de um artigo que a ensaísta Walnice Nogueira Galvão publicou na Folha, a professora defende que escritos que trocam significante por significado "podem até ser interessantes, mas não são literatura".


Seu primeiro exemplo é "Torto Arado", de Itamar Vieira Junior, que ficou em segundo lugar na lista de melhores livros brasileiros de literatura do século 21, organizada pela Folha. Sua avaliação não é totalmente negativa, afinal, caracteriza o livro como "apaixonante, insólito e original" em seu conteúdo. Mas não hesita em dizer que "o autor não tem estilo particular".


Ela o compara a Umberto Eco, cujo "O Nome da Rosa" traduziu. O romance de sucesso global é, para Aurora, uma "obra-prima da arquitetura do conteúdo". No entanto, a professora se junta à parte mais rigorosa da crítica italiana para dizer que o estilo de Eco é "pesado, irregular e não suscita interesse". Sua conclusão é a de que "é muito raro, mas mesmo um autor que tem estilo discutível pode escrever um grande livro se relatar um conteúdo interessante o bastante".


No plano internacional, repete as críticas a Vieira Junior para falar da Nobel de Literatura Annie Ernaux e de Elena Ferrante, duas das mais conhecidas escritoras contemporâneas. Se cativam o público ao falarem de experiências acabrunhantes, como o aborto de Ernaux em "O Acontecimento", ou assuntos de interesse comum, como os anos formativos de Ferrante em "A Amiga Genial", para Aurora, não passam de best-sellers.


Se nenhuma das duas têm estilo o bastante para atrair a professora, a virtude aparece na medida certa na prosa da espanhola Rosa Montero. As apreciações da autora de "O Perigo de Estar Lúcida" movimentam algo de curioso que "dá vida ao seu estilo", mesmo quando escreve sobre o corriqueiro, defende Aurora.


O porquê da tendência conteudista acometer o Brasil, Aurora não sabe pontuar, mas cautelosamente a relaciona ao que classifica como "um exagero" por parte da crítica. "O passado não pode repercutir no presente como estão querendo. Esse fenômeno terrível do passado, a escravidão, não implica merecimentos no presente. É preciso partir da igualdade de condições de conhecimento. Não se pode dar o mérito antes das condições."


Para a professora, muita coisa melhorou no país nos últimos anos, mas a injustiça continua sendo a principal marca do cotidiano brasileiro. "O povo europeu é mais amadurecido, pois passou por guerras e revoluções, então reclama mais. Aqui, o povo é muito passivo."


Ela conta uma anedota de seu pai para ilustrar o ponto de vista. Enquanto diretor de uma fábrica na região de Carrara, ao norte da Itália, ele era constantemente intimidado por operários, que "diziam que sua cova estava pronta" e "ameaçavam dar com o sapato na cabeça dele".


Aurora lembra a história da região, por onde passava a linha gótica, uma das últimas linhas de defesa nazi-fascistas, cujo intuito era bloquear os avanços aliados durante a Segunda Guerra Mundial.


"Esse operariado, muitos deles antigos guerrilheiros, era muito sofrido", por isso combativo, diz. Tão logo foi convidado para dirigir a fábrica de cloro e soda cáustica das indústrias Matarazzo em São Paulo, quando Aurora tinha 13 anos, seu pai foi surpreendido por um operariado que "fazia fila para o abraçar no dia de seu aniversário".


Estabelecida com a família na região do rio Tamanduateí, entre São Paulo e São Caetano do Sul, Aurora logo aprendeu o português e saiu atrás de outro desafio, que encontrou na casa de uma vizinha russa disposta a ensinar-lhe sua língua. Em uma casa na rua Ibitirama, Aurora passou anos da adolescência tomando chá e estudando o livro de gramática russa escrito por Marina Dolenga ao lado da vizinha, com quem passeava pelos bairros de emigrados eslavos para treinar a língua.


Quando foi escolher a faculdade, seu pai logo a proibiu de cursar medicina. "Você vai ser professora, porque tem três meses de férias por ano", dizia. Aurora seguiu para o curso de letras na USP, onde se especializou em literatura anglófona com tese sobre "Ulisses", de James Joyce.


Quase cem livros traduzidos depois, a professora encontrou-se com a prosa de Joyce mais uma vez em 2022, quando participou do Coletivo Finnegans, grupo que, liderado por Dirce Waltrick do Amarante, traduziu "Finnegans Wake" para a editora Iluminuras.


Com o título "Finnegans Rivolta", o livro recebeu o prêmio de melhor tradução no Jabuti de 2023. Em 2004, Aurora já havia ganhado uma menção honrosa no mesmo prêmio, ao lado de Haroldo de Campos, pela tradução da coletânea "Ungaretti: Daquela Estrela à Outra". Também ficou em terceiro lugar em 2007, pela tradução de "Indícios Flutuantes", da poeta russa Marina Tsvetáieva.


Logo que Aurora concluiu o curso de letras, em 1963, o professor ucraniano Boris Schnaiderman inaugurou o bacharelado em russo na USP, para o qual ela seguiu. Foi colega de Augusto de Campos e logo se tornou professora assistente de Schnaiderman. Lecionando literatura russa na universidade pública no meio da ditadura militar, Aurora conta que os colegas foram frequentemente visados pelos militares.


Ela rememora o episódio em que Schnaiderman, tradutor de Dostoiévski, Tolstói e Maiakóvski, estava lecionando quando três militares entraram armados e anunciaram a procura por um aluno.


"Boris, com aquele jeito vagaroso que tinha, disse a eles: 'Os senhores vêm aqui armados de metralhadoras enquanto nós só temos o apagador e o giz." Schnaiderman foi imediatamente levado para o Departamento de Ordem Política e Social, o Dops, o que causou alvoroço na Faculdade de Letras.


Foi Aurora quem teve a coragem de questionar aos militares o que aconteceria com o colega. Ela se aproximou do oficial com ar de ingênua, perguntando a que horas poderia ir apanhar Schnaiderman, ao que indicaram "por volta da meia-noite".


Apesar do desespero da esposa do colega, Aurora consentiu e aguardou: "À meia-noite eu fui buscá-lo no Dops. Cheguei e lá estava ele, vestido de avental branco, na frente do recinto. Nós sofremos muito, mas a juventude nos dava força para continuar", conta.


Por sua contribuição ao estudo da literatura e à tradução, Aurora recebeu em junho o prêmio Ciccillo Matarazzo per Italiani nel Mondo, ao lado do poeta, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi.


Entre os vários projetos aos quais se dedica no momento, ela destaca dois. Para a versão em italiano da biografia do empresário Francesco Matarazzo, escrita por Ronaldo Costa Couto, já comprou quatro cadernos de espiral. Mas a novidade que mais lhe interessa é a publicação da coletânea de ensaios "Em Busca do Quem das Coisas", do escritor, tradutor e ecologista Per Johns.


Os manuscritos herdados por Aurora partem de uma série de palestras realizadas pelo escritor de origem dinamarquesa a convite da ABL e da PUC-Rio. O livro póstumo, editado por ela, reúne pensamentos sobre a literatura — com destaque para Guimarães Rosa, cujo "Grande Sertão: Veredas" Johns cotraduziu, durante cinco anos, para o dinamarquês — e a natureza.


Apontando para o retrato que pintou de Johns, Aurora destaca a importância do livro, que deve sair em breve pela editora Iluminuras. Ela situa o amigo, morto em 2017, "entre os mais dotados escritores de nossa época".


Carolina Azevedo

Jornalista


Foto: Aurora Bernardini, professora aposentada da USP e tradutora, em sua casa, no bairro do Brooklin, na zona oeste de São Paulo - Adriano Vizoni / Folhapress.


FSP 30.08.2025

Amilton Aquino

 Da mesma forma que aconteceu com a bandeira do patriotismo (tradicionalmente associada à direita, mas que acabou caindo no colo do PT diante da patacoada Bolsonaro/Trump), nesta semana o governo Lula marca mais um gol mirando a disputa de 2026 em um tema que sempre relegou: o combate ao crime organizado.


O tempo dirá o quão efetiva será a operação deflagrada e até que ponto o governo está realmente disposto a contrariar sua fama de conivência com a impunidade e com o crime. Mas é preciso admitir: foi um gol de placa na corrida para 2026.


Ora, até a última eleição o PT recebeu quase 100% dos votos vindos dos presídios do país. Do “diálogo cabuloso” ao “diálogo” mais recente que viabilizou um comício de Lula na favela do Moinho em SP (repetindo episódios anteriores envolvendo ministros com livre trânsito em territórios dominados pelo tráfico), passando pelo intocável “bolsa-presidiário”, não faltam motivos para os criminosos preferirem o PT no poder.


Mas eis que, de repente, o mesmo governo que na semana passada rejeitou um projeto para enquadrar o PCC e o Comando Vermelho como organizações terroristas, e cuja principal proposta na área de segurança é o projeto Pena Justa — voltado sobretudo a melhorar as condições carcerárias e combater supostas “violações de direitos humanos” (as mesmas bandeiras de ONGs com boas relações com o crime organizado e que fazem lobby descarado em Brasília) — aparece nas manchetes como o grande desarticulador do PCC! Melhor ainda: associando-o à Faria Lima e, de quebra, ao deputado Nikolas Ferreira!


Pois é. Hoje existem cerca de R$ 10 trilhões distribuídos em milhares de fundos imobiliários no Brasil. Mas o envolvimento de alguns fundos em operações criminosas, somando R$ 30 bilhões, já basta para o governo colar a pecha em todo o setor, reforçando seu velho discurso de rico contra pobre.


Como o próprio Lula já admitiu em mais de uma ocasião, tudo é uma questão de narrativa. E, nesse campo, o demiurgo petista reina absoluto. É sintomático que o atual ministro da Justiça, o ex-ministro do STF Ricardo Lewandowski — patrono das famigeradas audiências de custódia, símbolo maior da impunidade brasileira — venha a público capitalizar politicamente uma operação conjunta da PF com os órgãos de segurança de São Paulo. Detalhe: seu filho é advogado de uma das empresas pegas na operação, a Terra Nova Trading! Aliás, também de um dos sindicatos fraudadores do INSS.


O que dirá o ministro sobre tais conexões? Coincidência? Que foi “surpreendido” pela descoberta? Ou será que ele próprio foi pego de surpresa pela evolução das investigações e resolveu, de última hora, surfar a onda, como aponta o governador Tarcísio de Freitas, que também reivindica os louros da operação?


Certeza mesmo só que o governo vai tentar caçar o mandato do deputado Nikolas por “fake news”. Até lá, aguardemos os arranjos garantistas para assegurar todos os direitos possíveis aos chefões do PCC, se possível com a devolução do dinheiro roubado — como já aconteceu com corruptos confessos da Lava Jato e até com o tráfico, caso do célebre André do Rap.


Enquanto isso, os filhos dos chefes do PCC e do Comando Vermelho continuarão posando de artistas, sendo ovacionados e normalizados pela mídia de viés esquerdista e até por ministros do STF, como Barroso, que chegou a participar do documentário O Grito ao lado do “rapper” Oruam, defendendo o desencarceramento e a liberdade de seu pai assassino.


Enfim, nada mais adequado para simbolizar o momento atual do que o mapa-múndi invertido apresentado no ano passado pelo tresloucado presidente do IBGE. E, de narrativa em narrativa, seguimos rumo a mais um circo eleitoral.

Julgamento de Bolsonaro

 *JULGAMENTO DE BOLSONARO DOMINAM A SEMANA – MC 01/09/25*

*Por Anderson Nunes – Analista Político*


Os holofotes se voltam para Brasília, onde o início do julgamento de Jair Bolsonaro no STF define o tom de uma semana decisiva para a política e a economia.


*MERCADOS EM MODO DE ESPERA*


Mercados internacionais operam em ritmo lento com o feriado do Dia do Trabalho nos EUA e Canadá. No Brasil, as atenções se voltam para a divulgação do PIB do segundo trimestre amanhã e novos preços de combustíveis que entram em vigor hoje. 


*O FOCO NO EMPREGO AMERICANO*


Com os mercados em compasso de espera pelo feriado nos EUA, a agenda da semana é dominada por dados de emprego, como o payroll. Os números serão decisivos para calibrar as apostas sobre os próximos cortes de juros pelo Federal Reserve.


*O JULGAMENTO NO SUPREMO*


A Primeira Turma do STF inicia amanhã o julgamento do ex-presidente pela acusação de tentativa de golpe. A primeira fase se concentrará na leitura da denúncia e das defesas, sem previsão de votos dos ministros. O veredito é visto como um gatilho para novas sanções dos EUA contra o Brasil.


*TENSÃO DIPLOMÁTICA*


O governo Lula intensifica o confronto com Trump ao acionar a Lei da Reciprocidade contra as tarifas americanas. A medida eleva a apreensão do mercado, que teme uma retaliação ainda mais dura de Washington, especialmente com o início do julgamento de Bolsonaro.


*ORÇAMENTO SOB CRÍTICA*


O Projeto de Orçamento de 2026, enviado ao Congresso, é recebido com ceticismo por economistas. As projeções de receita são consideradas superestimadas, colocando em dúvida o cumprimento da meta fiscal para o próximo ano.


*HADDAD DEFENDE AGENDA ECONÔMICA*


O ministro da Fazenda, Fernando Haddad defende a isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil. A aprovação da medida, contudo, depende de uma articulação política complexa no Congresso em meio ao clima tenso.


*CPI MIRA EX-MINISTROS*


A CPI do INSS avança sobre ex-ministros do governo e promete uma semana de pressão política. A comissão define hoje os próximos depoentes, com Carlos Lupi sendo o mais cotado para iniciar os trabalhos. 


*CONGRESSO AVANÇA CONTRA FRAUDES*


O Congresso reage a operações contra fraudes em combustíveis e deve votar o projeto que tipifica o “devedor contumaz”. A medida visa a combater esquemas de sonegação fiscal usados como modelo de negócio. 


*RADAR CORPORATIVO*


1. GPA: A família Coelho Diniz, agora com 24,6% das ações, irá propor uma nova chapa para o conselho de administração, buscando consenso com os demais acionistas, incluindo o grupo francês Casino.

2. PETROBRAS: O Conselho de Administração aprovou Cristina Bueno Camatta para a ouvidoria-geral da companhia, segundo informações do mercado.

3. SABESP: O nível dos reservatórios que abastecem São Paulo atingiu o menor volume para o período desde a crise hídrica de 2015, registrando 37,2%.

4. EMBRAER: A decisão da empresa de retomar o trabalho presencial por três dias na semana é alvo de uma ação coletiva movida pelo Sindicato dos Metalúrgicos.

5. NATURA: A gestora BlackRock reduziu sua participação na empresa de 5,09% para 2,51%, vendendo uma fatia significativa de suas ações.

6. IGUATEMI: A empresa vendeu sua participação no Shopping Pátio Higienópolis para um fundo imobiliário por R$ 169,9 milhões.

7. LOJAS MARISA: O conselho aprovou novas emissões de notas comerciais no valor total de R$ 152,9 milhões para reforçar seu caixa.

8. SINQIA: A companhia sofreu um ataque hacker em seu ambiente de transações PIX, com relatos não confirmados de desvios milionários.

9. ENERGISA: A empresa anunciou a aquisição facultativa de debêntures de diversas séries, com prazo para manifestação de interesse até 15 de setembro.

10. Túnel Santos-Guarujá: Concorrentes entregam hoje as propostas para o leilão do túnel de R$ 6,8 bilhões. A disputa final ocorre na sexta-feira na B3. 

11. iFood e Mottu: As empresas se unem para oferecer aluguel de motos para entregadores. O programa visa a facilitar o acesso ao veículo de trabalho com descontos e planos diários. 

12. Stellantis: A montadora inicia um regime de jornadas reduzidas para 1.800 funcionários na Itália. A medida reflete a fraqueza do mercado e o impacto de tarifas norte-americanas. 


O Canal Auxiliando usa as seguintes fontes de notícias: ‘Monitor do Mercado, BDM, Broadcast, Valor Econômico, Folha de São Paulo, Estadão, O Globo, BM&C, B3, Revista Oeste, Poder 360, Money Times, Agência CMA, Agência Brasil, Bloomberg, Infomoney, CNN, The Washington Post, The Wall Street Journal, Fox Business, Reuters, Oil Price, Investing e Yahoo Finance’.

O último refúgio dos canalhas

 https://www.estadao.com.br/opiniao/o-ultimo-refugio-dos-canalhas-esta-cheio/?recomendacao=home_0&pos=1&readed=1


*O último refúgio dos canalhas está cheio*


_Na guerra dos patriotas de fancaria, perdemos todos. Enquanto lulopetismo e bolsonarismo se engalfinham para definir quem é mais brasileiro, os patriotas de verdade só querem um governo decente_


Se o patriotismo “é o último refúgio dos canalhas”, como diz o escritor inglês Samuel Johnson (1709-1784), então esse refúgio está lotado no Brasil. Lulopetistas e bolsonaristas andam se esmerando em transformar esse sentimento de pertencimento a uma comunidade nacional em arma política para fins eleitorais.


Em reunião anteontem, o presidente Lula da Silva e seus ministros apareceram com um boné azul em que se lia “O Brasil é dos brasileiros”, um constrangedor contraponto governista aos bonés vermelhos Make America Great Again (“Torne a América grande novamente”), o movimento político nacionalista liderado pelo presidente dos EUA, Donald Trump. Ainda estamos a mais de um ano da eleição presidencial, mas já é possível antever que essa patacoada será o grande mote do lulopetismo na campanha.


O patriotismo fajuto que Lula abraçou não tem qualquer relação com os reais interesses e necessidades da Pátria. Ao presidente e seus marqueteiros só interessa explorar eleitoralmente o elo afetivo dos brasileiros entre si e deles com o lugar em que nasceram ou escolheram viver, no momento em que o Brasil é agredido pelos EUA de Trump. No limite, Lula quer se confundir com a própria ideia de pátria, e não à toa, na reunião ministerial, a título de reafirmar sua disposição para defender o Brasil contra os EUA, leu um discurso de Getúlio Vargas, o autocrata que quis inventar uma identidade brasileira moldada conforme seus propósitos autoritários. Nesse discurso, Vargas denunciava “forças internacionais” que se uniram aos “eternos inimigos do povo humilde”, que “procurarão, atingindo minha pessoa e o meu governo, evitar a libertação nacional e prejudicar a organização do nosso povo”.


Como se percebe, Lula se vê como Vargas, isto é, como a própria personificação do Brasil e de seu povo – donde se conclui, conforme essa retórica, que qualquer ataque a Lula equivale a crime de lesa-pátria cometido por traidores do Brasil. Não é à toa que o slogan do governo, apresentado na reunião, passará a ser “Do lado do povo brasileiro”, que substituirá o “União e reconstrução”. Em vez de união, o lulopetismo agora quer que se escolha um lado – o do “povo brasileiro”, obviamente encarnado em Lula.


Enquanto isso, “patriotas” bolsonaristas, que há anos prejudicam o País, esmeram-se em criar uma crise sem precedentes no Brasil a título de livrar Jair Bolsonaro da cadeia. Nesse sentido, Bolsonaro, como Lula, também se considera a própria encarnação do Brasil, e mobilizar uma força estrangeira – o governo americano – para pressionar magistrados tidos como inimigos do ex-presidente seria, na verdade, um gesto para salvar o País e a democracia brasileira. O Leitmotiv golpista é, portanto, evidente.


Nenhuma surpresa. O brado retumbante de Jair Bolsonaro – “Brasil acima de tudo” – é tão verdadeiro quanto uma nota de três reais. Dono de um próspero empreendimento familiar, dedicado a fazer dinheiro com rachadinhas e afins sob a proteção de mandatos políticos, Bolsonaro nunca se importou com partidos, com o decoro parlamentar, com a Constituição ou com o Brasil. Seu propósito sempre foi e continua a ser a exploração do ressentimento de eleitores insatisfeitos com a política para acumular patrimônio pessoal. Bolsonaro, que jamais respeitou a farda militar que um dia vestiu e que foi capaz de conspurcar seguidamente o 7 de Setembro, invoca o patriotismo não no sentido de inspirar união e orgulho, e sim com o objetivo de semear o antagonismo, do qual extrai votos e poder.


Nessa guerra entre patriotas de fancaria, perdemos todos. De um lado, temos um entreguista que, com a expectativa de safar-se da cadeia, pôs-se a serviço de um governante estrangeiro que humilha o Brasil como quem dá um peteleco numa mosca. De outro, temos um contumaz oportunista, convencido de ter encontrado a fórmula para ganhar mais um mandato presidencial sem a necessidade de apresentar programas de governo e soluções efetivas para os reais problemas brasileiros. No meio dos dois estão os brasileiros que amam seu país e só querem um governo decente."

Carlos Pereira

 A democracia brasileira não sobreviveu por sorte ou incompetência de Bolsonaro.

Ela resistiu porque nossas instituições funcionaram como barreiras contra o autoritarismo.

Esse é o tema da minha nova coluna no Estadão:


Título: Democracia brasileira não sobreviveu por sorte ou incompetência


Olho: O fracasso do projeto autoritário de Bolsonaro não se explica por seus erros pessoais, mas por barreiras institucionais.


Carlos Pereira, Professor Titular FGV EBAPE e Sênior Fellow do CEBRI


A revista The Economist publicou nesta semana um editorial provocativo: “Brazil offers America a lesson in democratic maturity”. A lição, segundo a revista, seria que a democracia brasileira sobreviveu à tentativa de golpe de Jair Bolsonaro porque ele foi inábil, incompetente e incapaz de sustentar seu projeto autoritário. Trata-se de uma tese que ecoa a interpretação de Kurt Weyland, no livro “Democracy’s Resilience to Polulism Threat”, para quem populistas, por sua natureza errática e personalista, são propensos a fracassos que terminam beneficiando a democracia.


Esse diagnóstico tem sua dose de verdade, mas erra no essencial. Reduzir a resistência democrática à incompetência de Bolsonaro é comprar uma narrativa de acaso, como se a democracia brasileira tivesse sobrevivido apenas por sorte. Não foi isso que aconteceu.


No livro “Por que a democracia brasileira não morreu? escrito em parceria com Marcus André Melo, argumentamos que o populismo autocrático de Bolsonaro encontrou no Brasil um conjunto de barreiras institucionais que limitaram suas investidas autoritárias. O multipartidarismo fragmentado impôs custos de coordenação que o presidente não conseguiu superar; o federalismo deu voz e poder a governadores em momentos cruciais, como durante a pandemia; e a independência do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal garantiu a continuidade de investigações e julgamentos que afetaram diretamente aliados e familiares do presidente.


O Congresso, dominado por interesses fundamentalmente pragmáticos e não ideológicos, funcionou como barreira eficaz, impondo uma série de derrotas às iniciativas iliberais de Bolsonaro.


Além disso, a combinação de checks and balances – do Supremo Tribunal Federal ao Tribunal Superior Eleitoral – impediu que o projeto de captura institucional avançasse. Não se trata de negar os riscos que corremos, mas de reconhecer que instituições amadurecidas e interdependentes criaram contrapesos eficazes.


Atribuir a sobrevivência democrática à incompetência de Bolsonaro é, portanto, um equívoco em dois sentidos: primeiro, porque diminui o papel da arquitetura institucional de 1988 e das escolhas de atores que souberam resistir; segundo, porque transmite a perigosa mensagem de que bastaria contar com a sorte de enfrentar populistas ineptos. Democracias não podem depender do acaso. Precisam de instituições robustas, capazes de limitar mesmo líderes hábeis e carismáticos.


Essa é a verdadeira lição que o Brasil pode oferecer ao mundo: não se trata de confiar na falibilidade do populista, mas na resiliência das instituições.

Fundos com cotistas únicos

 Mercado volta atenção para fundos com cotista único sem identidade revelada

 

Fundo sem identidade de cotista gera preocupação A megaoperação que desmantelou o esquema do crime organizado para lavar dinheiro acendeu um alerta para a compra de participações de empresas listadas por fundos nos quais não há visibilidade sobre seus beneficiários finais — ou seja, não se sabe o nome do investidor. No geral, esses investimentos são realizados por “fundos de prateleira”, como são conhecidos aqueles constituídos pelas administradoras, com seu CNPJ, antes de terem sua função designada. Antes da operação, o início do processo de venda de ativos detidos pelo controlador do banco Master, Daniel Vorcaro, já havia chamado a atenção do mercado por ele usar esse tipo de estrutura. Página Cl Fernanda Guimarães De São Paulo Mercado volta atenção para fundos com cotista único sem identidade revelada Regulação Operação Carbono Oculto e casos ligados ao banco Master revelam brechas em normas Um fio condutor faz uma conexão entre a administradora de fundos Reag, a maior independente do país, a Trustee, ambas alvos da Operação Carbono Oculto, e o banco Master, de Daniel Vorcaro, com fundos de investimento em que não se conhece o beneficiário final, mesmo quando têm apenas um cotista. A compra de participações em empresas por meio dessas estruturas, conhecidas como “fundos de prateleira”, ou “baniga de aluguel”, está no centro dos holofotes, com o mercado — e agora os próprios reguladores e governo — pressionando por novas normas que fechem as brechas para o uso indevido desse tipo de fundo. Antes mesmo da eclosão da operação que expôs essas administradoras no fim da semana passada, evento que jogou luz nessas estruturas, o mercado já olhava com atenção fundos que escondiam o real investidor por trás de cada um, algo que ficou mais em evidência com o início do processo de venda de ativos detidos por Vorcaro. No geral, esses investimentos são realizados por fundos de prateleira, como são conhecidos no mercado aqueles que são constituídos pelas administradoras, com seu CNPJ, antes de terem sua função designada e ainda sem nenhum investimento sob seu guarda-chuva. O assunto ganhou relevância com os laços apontados na Carbono Oculto, já que a acusação é que fundos com esse formato vinham sendo utilizados para lavagem de dinheiro. Essa estrutura de fundos é vista em participações em empresas de capital aberto, onde chamam mais a atenção. Mas também pode ser uma forma de esconder participação em empresas de capital fechado, algo que pode ser ainda mais obscuro, como observado na Carbono Oculto. No mercado, a Reag, que multiplicou seu patrimônio nos últimos anos e hoje é uma das maiores gestoras independentes do país, é conhecida por oferecer esse tipo de estrutura. Se nas empresas fechadas não existe uma regulação própria sobre abertura de dados de um investidor, nas abertas, quando um acionista atinge uma posição relevante na companhia, a partir de uma fatia de 5%, ele precisa reportar à empresa, que transmite a informação ao mercado. Ainda assim, em alguns casos não se conhece o beneficiário final desses fundos que têm apenas um cotista. A mesma regra de abertura de dados vale para o administrador, quando seus fundos, mesmo que em conjunto, atinjam essa fatia. No entanto, sob a lei do sigilo bancário, o beneficiário final não é conhecido quando está dentro da estrutura desses fundos. O Valor conversou com especialistas, advogados e fontes que acompanham alguns dos casos citados, que optaram em falar em condição de anonimato. Também consultou na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) informações sobre diversos fundos, especialmente os citados na operação da semana passada, e na grande maioria não há qualquer informação ou, em muitos casos, os dados têm anos de defasagem. Poucas semanas antes da Carbono Oculto, questionamentos sobre o uso dessas estruturas entraram em evidência depois que Vorcaro vendeu sua participação na empresa de varejo de moda Veste, dona das marcas Dudalina e Le Lis Blanc, ao BTG Pactuai, que já protocolou pedido de autorização ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para concluir o negócio. A questão é que, conforme o formulário de referência da Veste, constavam como acionistas veículos ligados ao Master, como as gestoras WNT (49,55%) e Trustee (13,78%) — ou seja, a posição não estava consolidada. A Trustee , inclusive, pertence a Maurício Quadrado, ex-sócio de Vorcaro no Master. A companhia, em fato relevante divulgado na ocasião do negócio, se disse surpresa. Vorcaro, se utilizando de dois fundos distintos, era, assim, controlador da empresa, algo que não era conhecido publicamente. Procurada para comentar o caso, a companhia não se manifestou. Segundo fontes, caberá ao regulador analisar o caso e eventualmente abrir processo sancionador. Nesse exemplo específico, a posição de controle foi atingida por meio de dois fundos que tinham o mesmo beneficiário final. Assim, conforme especialistas consultados pelo Valor, se houver má-fé, a estrutura pode, em tese, ser utilizada para driblar obrigações como a realização de oferta pública de aquisição (OPA) por mudança de controle, ou até mesmo não ficar claro potencial conflito de interesses. Pela regulação vigente, o investidor precisa tornar pública a informação sobre sua participação a partir de 5%, sendo necessário ainda reportar quando a posição aumenta em mais 5%, ou seja, quando atinge 10%, 15%, 20% em diante. E precisa, ainda, esclarecer seu objetivo nesse aumento de participação. Nos casos dos desinvestimentos de Vorcaro, sob pressão para colocar mais capital no Master em meio ao processo de venda ao BRB, ele tem se desfeito de ativos que detém como pessoa física. Como consequência, ao longo das últimas semanas, algumas participações antes desconhecidas foram reveladas. Foi o caso de Metalfrio, Light e Méliuz, todas compradas em um pacote fechado com o BTG. Nas três empresas as posições eram detidas por meio da gestora WNT. Master, Vorcaro e WNT preferiram não se pronunciar. Fontes de mercado e advogados consultados pelo Valor afirmam que a prática está amparada sob a lei do sigilo bancário. No entanto, uma outra vertente aponta que, quando existe um investimento feito por um fundo de um único cotista, a regra que deveria prevalecer seria a obrigação de transparência ao se investir em uma empresa de capital aberto, especialmente quando são atingidas participações relevantes. Um dos problemas apontados também é quando um único investidor compra posição acionária em uma companhia por meio de mais de um fundo e não consolida a participação total, como ocorreu na Veste. Os demais investidores, em casos assim, ficam no escuro e não sabem quem controla a empresa. Uma fonte que acompanha o assunto de perto diz que o problema é que a estrutura tem sido utilizada em alguns casos com má-fé. Ele afirma que a preocupação também se dá em razão dos poderes políticos que esse investidor passa a ter na companhia quando ultrapassado um determinado nível de participação, como a possibilidade de indicar conselheiros ou chamar assembléia de acionistas. No geral, essas participações aparecem no capital social das investidas com o nome da administradora do fundo. “O caso Master trouxe holofote em uma questão que a CVM terá que endereçar, que é dar participação para participações acionárias”, disse uma fonte que tem acompanhado alguns dos casos. Em tese, a obrigação da administradora, como a Reag, é apenas em torno da diligência sobre a origem do dinheiro do fundo e se o cotista possui recursos compatíveis com o investimento. A Justiça tem poder para exigir a abertura do nome do cotista. A depender do caso, a própria CVM pode pedir a abertura do beneficiário final de determinado fundo, mas essa medida não teria poder para fundos “offshore”, que são aqueles estabelecidos fora do Brasil, disse uma fonte. Uma eventual mudança de norma podería, para fechar essa brecha, fazer uma diferenciação ente os fundos pulverizados e os monocotistas. Isso porque, nos fundos com muitos cotistas, o poder decisório fica de fato na mão do gestor do fundo, o que não é uma realidade de um fundo de um único investidor. Como Vorcaro segue vendendo participações para fazer frente aos compromissos do banco por ele controlado, nos bastidores se questiona se novas participações serão conhecidas — ou se outros investidores estão utilizando estruturas semelhantes para omitirem o beneficiário final de uma participação em uma determinada empresa. Por outro lado, uma fonte que falou com o Valor na condição de anonimato disse que compras de participações por meio dessas estruturas viabilizam o sucesso de operações especialmente em empresas que precisam passar por reestruturação. “Amparado na lei, o sigilo e a discrição são muito importantes para o sucesso do negócio”, afirma. Os casos envolvendo Vorcaro não são os únicos. Ainda recentemente, outro episódio chamou atenção. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), do empresário Benjamin Steinbruch, vendeu 4,99% de ações detidas na Usiminas para um fundo da Reag, constituído em julho e com um único cotista. Com essa operação, a CSN conseguiu, no limite do prazo, cumprir decisão do Cade, que tinha estipulado que a siderúrgica só podería manter 4,99% de participação em sua concorrente. O órgão antitruste solicitou à área técnica que verifique o efetivo cumprimento da venda das ações da Usiminas pela CSN, ou seja, é preciso saber quem é o beneficiário final do fundo para se descartar qualquer relação com a siderúrgica de Volta Redonda. Procurada, CSN não respondeu ao pedido de comentário. Outro caso envolveu a rede de supermercados Dia no Brasil, que foi vendida para um fundo de investimento da MAM Asset Management, gestora que faz parte do banco Master. A instituição financeira negou-se inicialmente a revelar o nome dos cotistas do fundo. Após embate, o administrador abriu que o beneficiário final do fundo se tratava do empresário Nelson Tanure. Em outra companhia do varejo, o GPA, o avanço de Tanure, feito por meio da Reag, só se tornou conhecido após chegar próximo de uma fatia de 10%. O empresário também não comentou. Outra fonte consultada pelo Valor, que também falou na condição de não ter sua identidade revelada, disse que em processos de recuperação judicial existe uma maior diligência para se identificar quem está por trás de fundos envolvidos no processo, sendo que uma das razões é para se distanciar de eventuais tentativas de fraude a credores. No passado, fundos de prateleira se tornaram uma estrutura comum em algumas administradoras apenas por conta dos prazos para abertura de fundos. Assim, elas abriam esses fundos para ficarem disponíveis. No entanto, por conta de mudanças regulatórias, explicou uma fonte, o prazo de abertura de fundos foi muito reduzido, não sendo mais necessário o uso do formato de prateleira. Por isso, hoje, quando esse tipo de estrutura acaba sendo utilizado, o comentário nos bastidores é que a intenção é omitir seu beneficiário final. Uma fonte disse que a CVM deverá ser severa ao punir o uso dessas estruturas quando ficar provado haver má-fé. A CVM disse que não comenta casos específicos, mas frisou que “os fundos de investimento devem observar o disposto na Resolução CVM 175, que estabelece as regras aplicáveis à constituição, funcionamento e divulgação de informações dos fundos de investimento". Destacou, ainda, que no que tange a identificação do beneficiário final de fundo de investimento, “cabe esclarecer que intermediários e/ou administradores têm a obrigação de realizar tal identificação, conforme a regulamentação vigente. Entretanto, essas informações são protegidas pelo sigilo previsto na Lei Complementar 105 e, portanto, não podem ser divulgadas publicamente”. De acordo com o regulador, “tais informações devem ser devidamente resguardadas por todos os integrantes do sistema de distribuição, pelas infraestruturas de mercado e pelas entidades administradoras de mercado, em observância ao marco regulatório aplicável”. Procurada, a Reag não quis se pronunciar. Leia mais na página C3 Expectativa é que brechas sejam fechadas com regulação mais firme sobre fundos monocotistas Decisão judicial tem poderde determinar abertura de nome de beneficiário final de fundo

Bankinter Portugal Matinal

 Análise Bankinter Portugal 


SESSÃO: O retrocesso de sexta-feira tem caráter técnico, após uma semana e um agosto bons, sem realizações de lucros nem sobressaltos. O Deflator do Consumo PCE americano repetiu em +2,6%, a Subjacente aumentou até +2,9% vs. +2,8%, e isso era o esperado. Hoje começamos o trimestre com Nova Iorque fechado e a única parte relevante do dia será o Desemprego na UE, repetindo em 6,2%, às 10 h. Com o início de setembro, os volumes irão aumentar em bolsas cujo fundo melhorou progressivamente durante o verão e que beneficiarão inercialmente do tom benigno da semana passada… e de todo o agosto. Enfrentamos 2 referências-chave semanas: resultados de Broadcom na quinta-feira à noite, que consideramos pouco provável que dececione, e o emprego americano na sexta-feira, que será muito difícil de interpretar devido à recente correção em baixa dos dados publicados. Localmente, temos a boa notícia da subida do rating de PORT (S&P) desde A até A+, e deixa a Perspetiva em Estável vs. Positiva.


Sem nenhuma correção em agosto, ao contrário de 2023 e 2024, e com as principais variáveis diretoras do mercado a proporcionarem um fundo mais firme durante o verão, subimos substancialmente os nossos níveis de exposição recomendados. São 6 as razões que nos apoiam: (1) sem correção em agosto, esse risco ficou para trás. (2) Lucros empresariais intactos apesar dos impostos alfandegários. (3) Depois de Jackson Hole (21/23 agosto), consolida-se a expetativa de que a Fed continue a baixar taxas de juros. (4) Desaparecimento do prémio de risco por geoestratégia (por agora). (5) O gigantismo dos balanços dos bancos centrais aponta para um suporte de liquidez fundamental para os ativos avaliados, particularmente para obrigações e bolsas. (6) As nossas avaliações atualizadas das bolsas para a nossa Estratégia de Investimento 4T 2025 irão incorporar EPSs 2026 em substituição dos EPSs 2025, portanto os potenciais de reavaliação resultantes serão superiores, porque a expansão de lucros mantém-se intacta. Em Wall St. espera-se: EPS 25/’26 ca.+10%/+13%.


Portanto, recuperamos os níveis de exposição ao risco que mantivemos até à invasão da Ucrânia (fevereiro de 2022), quando considerávamos que a situação do mercado era “padrão ou normalizada”: Perfil Defensivo 25% / Conservador 35% / Moderado 50% / Dinâmico 65% / Agressivo 80% vs. 5%/15%/30%/40%/50% até agora. E se setembro for fraco, como costuma ser, é melhor para aproveitar os atuais níveis de entrada.


CONCLUSÃO: Setembro e o 4T arrancam hoje com Nova Iorque fechada, portanto a atividade irá recuperar mais lentamente ao longo da semana. Depois da realização de lucros de sexta-feira, principalmente em Wall St., mas também na Europa, o mais provável é que esta última suba um pouco hoje, tratando de antecipar a reação de Nova Iorque amanhã. O fecho do Tribunal Supremo dos EUA decidir sobre os impostos alfandegários irá introduzir alguma esperança de otimismo, embora Trump tenha a maioria ideológica a seu favor no tribunal, e provavelmente irão ser aprovados sob alguma fórmula. Quando regressar hoje a atividade, tudo o que aconteceu em agosto será observado e irá impor-se o FOMO (Fear Of Missing Out) portanto, embora setembro seja tradicionalmente fraco, o sentimento será bastante pró-mercado. Iremos vê-lo progressivamente, porque hoje será um pouco aborrecido.


NY -0,6% US tech -1,2% Semis -3,2% UEM -0,8% España -0,9% VIX 15,4% Bund 2,70% T-Note 4,23% Spread 2A-10A USA=+61pb B10A: ESP 3,32% PT 3,17% FRA 3,50% ITA 3,60% Euribor 12m 2,119% (fut.2,158%) USD 1,173 JPY 172,1 Ouro 3.476$ Brent 67,2$ WTI 63,8$ Bitcoin -3% (107.966$) Ether -1,6% (4.406$). 


FIM

Suicidio dos farialimers

 *O SUICÍDIO RITUAL DOS FARINHALIMERS* ​Os farinhalimers brasileiros não cansam de surpreender pela sua vocação para o abismo. Não é difícil...