domingo, 15 de junho de 2025

Israel em defesa

 Israel exerce o direito de se defender


O programa nuclear iraniano é uma ameaça existencial a Israel e, por isso, é um alvo legítimo. Ademais, interromper a escalada nuclear do Irã será um alívio para o mundo


Em 1981, quando a Força Aérea de Israel destruiu o reator nuclear de Osirak, no Iraque de Saddam Hussein, houve muitas manifestações de indignação na comunidade internacional. Em 2007, o mesmo se repetiu após o bombardeio às instalações nucleares secretas do regime sírio. Mas o tempo se encarregou de mostrar quem estava certo. Por isso, o ataque israelense contra o Irã na madrugada de 13 de junho deve ser compreendido pelo que é: um ato preventivo de legítima defesa e um serviço à segurança regional e global.


A operação Leão em Ascensão, que envolveu cerca de 200 aeronaves e mais de uma centena de alvos, teve como objetivo impedir que a teocracia xiita que governa o Irã desde 1979 alcance a capacidade de fabricar armas nucleares. Realizada com precisão cirúrgica, a ofensiva atingiu centros de enriquecimento de urânio em Natanz, instalações de mísseis balísticos, depósitos militares, centros de comando e a cúpula do aparato militar iraniano, incluindo o chefe da Guarda Revolucionária, Hossein Salami, e o chefe do Estado-Maior, Mohammad Bagheri.


O momento foi calculado. Após quase 20 meses de confronto aberto com os braços armados de Teerã – Hamas, Hezbollah, Houthis –, Israel obteve superioridade tática. O Irã, isolado, exaurido, com sua defesa aérea degradada por ataques anteriores, vivia um raro momento de vulnerabilidade. Tel Aviv avaliou que a janela de oportunidade seria curta. E que esperar mais significaria correr o risco de uma bomba nuclear na mão de quem prometeu aniquilar Israel.


O histórico do regime iraniano justifica o ceticismo em relação às vias diplomáticas. Por décadas, Teerã violou suas obrigações no Tratado de Não Proliferação Nuclear. Há poucos dias, a Agência Internacional de Energia Atômica confirmou que o Irã está enriquecendo urânio em níveis próximos ao grau militar, operando instalações secretas e ocultando informações. Ao mesmo tempo, seguia promovendo negociações com os EUA enquanto acelerava seu programa. A confiança se esgotou.


A comunidade internacional pregava calma. Mas a história ensina que, diante de ameaças existenciais, a passividade cobra seu preço. A doutrina de sobrevivência israelense – expressa há décadas – é clara: não haverá um segundo Holocausto por omissão. A ofensiva atual, como as de 1981 e 2007, é guiada por esse princípio.


As consequências são imprevisíveis. O Irã já está retaliando com drones e mísseis, e pode promover atentados terroristas. Mas o custo da inação seria maior. O que está em jogo não é apenas a existência de Israel, mas a própria lógica da não proliferação nuclear. Um Irã armado com bombas nucleares não ameaçaria apenas Israel, mas desestabilizaria todo o Oriente Médio, empurrando outras potências regionais a buscarem seus próprios arsenais atômicos.


A aposta de Israel é arriscada, mas coerente com os sinais que o próprio Irã emitiu. A operação parece mirar não apenas as instalações nucleares, mas também desmantelar o “Eixo da Resistência” e enfraquecer estruturalmente o regime teocrático – eventualmente oferecendo à oposição oportunidades para uma mudança de regime. Se bem-sucedida, poderá abrir caminho para uma nova arquitetura de segurança regional – com maior aproximação entre Israel e os países árabes sunitas e, quem sabe, até mesmo condições futuras mais realistas para um Estado palestino estável.


Israel agiu sozinho, mas não agiu só por si. Agiu também por aqueles que, mesmo em silêncio ou em crítica pública, reconhecem a natureza predatória do regime iraniano. Os líderes ocidentais que hoje pedem “moderação” terão, como no passado, de admitir que foi Israel quem fez o que precisava ser feito.


O dia 13 de junho de 2025 pode marcar o início de uma nova era no Oriente Médio, menos marcada pela chantagem e mais próxima de uma estabilidade duramente conquistada. O tempo dirá. É cedo para prever os desdobramentos. Mas, se o ataque conseguiu de fato atrasar o programa nuclear iraniano e enfraquecer sua capacidade de agressão, o mundo terá um motivo concreto para agradecer – ainda que em silêncio.


https://www.estadao.com.br/opiniao/israel-exerce-o-direito-de-se-defender/

Operação do Mossad no Irã

 *A operação do Mossad dentro do Irã.* 


_Wall Street Journal_ revela novos detalhes: Israel vem trazendo centenas de drones e explosivos para dentro do Irã há meses — por meio de caminhões, malas e contêineres. Agentes do Mossad se posicionaram próximos a sistemas de defesa aérea iranianos e locais de lançamento de mísseis — e os atacaram. Isso contribuiu, entre outras coisas, para que nossos pilotos possam voar livremente nos céus do Irã e para dissuadir um ataque iraniano imediato contra Israel.


Grupo de Noticias Likud Brasil: https://bit.ly/walikudbr

Leitura de sábado 5

 Leitura de Sábado: Em primeira sessão pós-aumento de capital, Gol tem alta de 400%


Por Elisa Calmon e Amélia Alves*


São Paulo, 12/6/2025 - O primeiro pregão da Gol após o aumento de capital de R$ 12 bilhões promovido pela companhia gerou ruídos no mercado nesta quinta-feira, 12. Analistas relataram que investidores ainda buscam entender o novo formato de negociações diante da alta de 406,30%, cotada a R$ 52,01, sucessivos leilões e diluição de acionistas.


Na operação de aumento de capital, a Gol emitiu ações para atender os credores que colocaram dinheiro na companhia para saída do Chapter 11 nos EUA, anunciada na última sexta-feira, 6. O lote padrão de negociação, que é de 100 ações, passou hoje a ser de 1.000, o que dificultou a leitura do forte movimento altista pelos investidores nesta quinta-feira.


"Tem muita gente tendo de ajustar as suas posições no intraday quando se dá conta deste 'pequeno' detalhe", diz o sócio da Fatorial Investimentos, Fábio Lemos.


O especialista em investimentos do grupo Axia Investing, Felipe Sant'Anna, explica que o momento é de transição dos papéis, com a emissão de direitos de subscrição aos acionistas minoritários e bonificação.


"Essa alteração causou uma enorme confusão, mas as corretoras dizem que tudo vai se ajustar amanhã", diz, descrevendo o momento como "bastante bagunçado".


A Gol emitiu um número relevante de papéis na operação: 8.193.921.300.487 ações ordinárias e 968.821.806.468 preferenciais no aumento de capital. O preço estipulado foi de R$ 0,01 cada por preferencial e de R$ 0,0002857142 por cada ordinária. No fechamento de ontem, a PN, mais líquida, fechou em R$ 0,79.


Na época do anúncio do aumento de capital, o BTG Pactual avaliou, em relatório, que a operação marca "uma forte diluição dos acionistas anteriores". Enquanto isso, o Grupo Abra, holding de companhias aéreas, passou a deter direta ou indiretamente 80,21% do número total de ações ordinárias e 80,19% do número total de ações da Gol.


Diante da diluição, investidores precisam comprar mais papéis para atingir a mesma participação que tinham anteriormente. Esse é outro fator que pode ajudar a explicar a disparada vista hoje nos papéis.


Com o Chapter 11, que durou quase um ano e meio, a Gol conseguiu turbinar o caixa. No entanto, o cenário macroeconômico e dúvidas sobre o andamento da fusão com a Azul seguem no radar, gerando incertezas sobre o novo momento da empresa.


Contatos: elisa.ferreira@estadao.com ; amelia.alves@estadao.com


*Colaborou Isabela Mendes


Broadcast+

Leitura de sábado 4

 leitura de Sábado:Trump promete agir por cartas e escala guerra comercial após trégua com China


Por Aline Bronzati, correspondente


Nova York, 12/06/2025 - O renovado tom de desescalada da guerra comercial capitaneada por Washington durou menos do que Wall Street poderia prever. Em aparição inédita nas estreias musicais de Nova York desde que tomou posse, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prometeu impor novas tarifas unilaterais a parceiros comerciais nos próximos dias por meio de cartas, encerrando o breve tom de trégua após o acordo com a China.


"Em um determinado momento vamos simplesmente enviar cartas. E acho que vocês entendem isso, dizendo que este é o acordo, é pegar ou largar", afirmou o republicano, a repórteres, ao comparecer à estreia do musical Les Misérables no Kennedy Center, em Nova York, nesta quarta-feira.


Segundo o chefe da Casa Branca, isso pode ocorrer nas próximas uma ou duas semanas, antes do prazo de 9 de julho para reintroduzir as chamadas tarifas recíprocas, anunciadas no início de abril. A fala de Trump ocorre enquanto investidores globais começavam a se posicionar em torno de sinais de melhora na relação entre os EUA e a China.


O analista do BMO Capital, Ian Lyngen, diz que não está claro se a nova tacada de Trump é só mais uma de seu manual de negociações. Mas, de toda forma, o foco do mercado está no fim da pausa das tarifas recíprocas no início de julho, conforme ele. "Isso não é negociação. É escalada. E força o capital institucional a reprecificar o risco geopolítico em todos os níveis", diz o CEO do Devere Group, Nigel Green. Na visão do especialista, a janela de otimismo que se abriu a partir do acordo dos EUA com a China se fechou. E as implicações vão muito além do comércio, avalia. A nova mudança de tom por parte de Trump reintroduz a imprevisibilidade na política econômica americana em um momento em que a confiança global estava apenas começando a se estabilizar, alerta.


O alemão Danske Bank diz que as negociações entre os EUA e seus parceiros comerciais podem ganhar corpo nos próximos dias em meio à nova ofensiva americana. "As negociações comerciais devem avançar, já que Trump anunciou planos de enviar cartas aos parceiros comerciais delineando tarifas unilaterais específicas e informando os países sobre o acordo", afirma, em nota a clientes.


Questionado por jornalistas, Trump disse estar aberto a prorrogar o prazo para concluir negociações com parceiros comerciais antes do fim da pausa de 90 dias, em 9 de julho. "Mas não acho que teremos essa necessidade", acrescentou o republicano, que foi vaiado e aplaudido em espetáculo no Kennedy Center.


Faltando menos de um mês para o fim da pausa tarifária, os EUA selaram apenas um acordo com o Reino Unido, no mês passado, e caminham na direção de um tratado com Pequim. Ainda há ao menos 18 parceiros comerciais importantes na fila para negociar com os americanos, incluindo Índia, Coreia do Sul, Japão e União Europeia, calcula o Danske Bank. Um documento de trabalho com detalhes de um possível acordo com o Canadá foi revelado pela imprensa local nesta semana.


O secretário do Comércio dos EUA, Howard Lutnick, afirmou hoje que o acordo comercial com o Reino Unido entrará em vigor nos próximos dias. Em uma postagem no 'X', mencionou novas cotas comerciais para automóveis britânicos e carne bovina e etanol americanos.


Ainda do outro lado do Atlântico, a consultora de risco político Eurasia considera "provável" que Trump consiga selar um acordo com a União Europeia até o fim da pausa tarifária, em 9 de julho. Tais chances são de 55%, calcula. A consultoria vê ainda probabilidade de 35% de uma "escalada contida" que resulte em tarifas adicionais dos EUA "contra-ataque contido" do bloco europeu. "Um acordo com a UE provavelmente levará mais tempo para ser finalizado do que acordos com outros parceiros comerciais, tornando uma trégua fundamental para a estabilização das relações bilaterais", diz o time de analistas da Eurasia.


O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, espera mais acordos com parceiros comerciais "muito rapidamente" na esteira do acordo preliminar com a China. Segundo ele, o governo americano trabalha para reduzir as incertezas, mas não está disposto a perder a oportunidade de eliminar o déficit que os EUA mantêm no comércio exterior. "Estamos agindo o mais rapidamente que conseguimos para obter os melhores acordos que conseguirmos", afirmou Bessent, durante sessão no Senado americano.


Por sua vez, a China indicou hoje que está determinada a cumprir o acordo comercial firmado com os EUA esta semana. Os detalhes do acordo ainda não foram divulgados. Os principais pontos negociados foram a flexibilização temporária das restrições às terras raras por parte de Pequim em troca de os americanos aliviarem restrições em exportações de produtos químicos e tecnológicos, incluindo motores de aeronaves.


A Capital Economics atenta que questões comerciais e econômicas mais amplas, que deveriam ser o foco das negociações entre chineses e americanos após a reunião de Genebra, não foram abordadas. E vê pouco avanço entre Pequim e Washington. "Mas isso parece ser suficiente para o presidente Trump. Na sua presidência, enquanto ele estiver satisfeito, tudo estará bem, mesmo que ambos os lados tenham feito pouco progresso", diz o economista-chefe da Capital Economics para a Ásia, Mark Williams. Ainda que Trump tenha celebrado o acordo preliminar com a China, um novo rompimento no relacionamento está a apenas uma publicação no Truth Social de distância, alerta.


Contato: aline.bronzati@estadao.com


Broadcast+

Leitura de sábado 3

 Leitura de Sábado: estreia da JBS na Nyse é marco para internacionalização e plano de expansão


Por Leandro Silveira


São Paulo, 13/06/2025 - A JBS dá um passo decisivo em sua estratégia de internacionalização nesta sexta-feira, quando suas ações começam a ser negociadas na Bolsa de Nova York (Nyse), após anos de preparação e superação de obstáculos. A dupla listagem, que mantém a negociação de BDRs na B3, representa não apenas uma mudança de estrutura societária, mas uma aposta da companhia em atrair investidores globais e reduzir a distância que avalia ter em relação a concorrentes internacionais, como a Tyson Foods.


O mercado já precificava a listagem nos Estados Unidos, mas agora o foco se volta para os próximos passos, segundo disse ao Broadcast Agro o analista de Agro, Alimentos e Bebidas da XP Investimentos Leonardo Alencar. “A listagem só termina de fato em dezembro de 2026, quando teremos clareza sobre o free float e a liquidez. Até lá, o preço da ação ainda reflete mais o fluxo desse processo do que os fundamentos da empresa”, afirmou.


Os fundamentos, porém, são um dos principais trunfos da JBS na conquista do mercado global. Com diversificação geográfica e de proteínas, a companhia reduziu a volatilidade de seus resultados - um ponto-chave para investidores. “A JBS é uma commodity com recorrência. Em 2024, teve desempenho excelente, e 2025 segue positivo, mesmo com margens potencialmente menores”, destacou Alencar.


O desafio agora é convencer o mercado americano de que merece múltiplos mais altos. Enquanto a JBS opera hoje a cerca de 4,5 vezes EV (valor de mercado)/Ebitda, a Tyson Foods negocia a 6x e a Hormel, focada em processados, a 12x. A expectativa da empresa é que, ao se aproximar dos investidores internacionais, ocorra uma reavaliação gradual do seu valor de mercado. Projeções do Bradesco BBI apontam para um potencial de valorização de 50% a 149% caso a JBS se aproxime dos múltiplos de suas pares globais.


Do lado da JBS, o discurso é de otimismo. “A listagem aumentará nossa visibilidade internacional e fortalecerá nossa posição como líder global”, afirmou o CEO, Gilberto Tomazoni, em teleconferência com analistas e investidores. O CFO, Guilherme Cavalcanti, destacou que a base de acionistas estrangeiros já saltou de 65% para 80%, e que o spread da dívida caiu em antecipação à mudança. O acionista controlador e conselheiro da JBS, Wesley Batista, foi além: “O múltiplo lá [nos EUA] é infinitamente superior. É transformacional estar no maior centro financeiro do mundo”, comentou à CNN Money.


Com a listagem consolidada, a JBS mira agora a inclusão no S&P 500 - o que exigirá ajustes como aumento do free float (fração de ações de uma empresa que estão disponíveis para negociação livre no mercado de ações). A empresa espera entrar no índice Russell em junho de 2026 e no S&P 500 em um momento posterior. A possibilidade de a JBS se tornar a primeira empresa brasileira a integrar o S&P 500 é tratada como um marco. "Nós vamos perseguir isso", afirmou Batista. "Nós acreditamos que vamos estar lá e vamos celebrar muito."


A empresa também sinaliza que a maior liquidez pode abrir portas para aquisições. “Crescer faz parte do nosso DNA”, disse Batista, citando alimentos industrializados (como pizzas e margarinas) como eventual foco de expansão da atuação da JBS. "Estando listados na Nyse acessando um volume de recursos detido pelos maiores fundos de investimento dos Estados Unidos, logicamente isso vai abrir condições para a JBS", acrescentou.


Se já pensa nos próximos passos após a dupla listagem, a JBS completou caminho até a Nyse que não foi livre de controvérsias. A empresa enfrentou resistência de grupos ambientalistas, como o Greenpeace, e críticas de políticos americanos. A senadora democrata Elizabeth Warren questionou doações de US$ 5 milhões da subsidiária Pilgrim’s Pride a comitês ligados a Donald Trump, sugerindo possível influência na aprovação da listagem pela SEC, a comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos. Consultorias de governança como ISS e Glass Lewis também recomendaram que acionistas votassem contra a reestruturação, embora o fundo Mason Capital tenha defendido a operação como “oportunidade multibilionária”.


Alencar lembra que o processo foi longo e marcado por incertezas. “A expectativa da empresa já existia há muito tempo, mas faltava o aval da SEC. Havia ainda a dúvida sobre a posição do BNDES, que no passado foi contra, mas acabou se abstendo na votação decisiva", explicou o analista da XP.


Enquanto o mercado acompanha os primeiros pregões em Nova York, o desafio da JBS será equilibrar as promessas de valorização com a necessidade de provar que sua diversificação e governança estão à altura dos padrões globais. Como resume Alencar: "Ainda estamos no começo. O verdadeiro teste virá quando a poeira da listagem baixar, e os investidores passarem a olhar apenas para os fundamentos".


Contato: leandro.silveira@estadao.com


Broadcast+

Leitura de sábado 2

 Leitura de Sábado:Exportação da China ao Brasil é recorde, guerra tarifária é só um dos motivos


Por Daniel Tozzi Mendes


São Paulo, 11/6/2025 - As exportações da China ao Brasil atingiram US$ 29,5 bilhões no período de janeiro a maio, um recorde na série histórica iniciada em 1997, crescendo mais rápido que a de outros parceiros comerciais do País no mesmo período. No entanto, a expansão está relacionada a mais fatores do que à guerra tarifária lançada pelos Estados Unidos, segundo especialistas ouvidos pelo Broadcast.


Nos cinco primeiros meses de 2025, as importações brasileiras cresceram 9,22% em relação a igual período do ano passado, para US$ 112,5 bilhões, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). A compra de produtos da China, porém, foi a que mais cresceu, com alta de 26,5%. As importações vindas de outros parceiros comerciais, como Estados Unidos (9,9%) e União Europeia (4%) cresceram bem menos, enquanto as de produtos do Mercosul caíram 1,8% no mesmo intervalo.


O crescimento nas importações da China, à primeira vista, corrobora a expectativa de que o país asiático teria de inundar outros mercados com seus produtos para compensar a queda no volume exportado aos Estados Unidos, com quem trava uma guerra tarifária desde fevereiro.


Especialistas, porém, apontam que o efeito do redirecionamento da produção da China ainda vai ganhar força no decorrer do ano, e que por enquanto a expansão reflete fatores como a atividade econômica interna aquecida. Além disso, também houve a compra de uma plataforma de petróleo vinda da China no mês de fevereiro, que custou cerca de US$ 2,7 bilhões e ajudou a inflar o número das transações comerciais entre os dois países no período.


  


O economista da corretora CM Capital Matheus Pizzani, que acompanha os dados da balança comercial brasileira mensalmente, observa que no início do ano o crescimento das importações chinesas no Brasil foi impulsionado pelos chamados bens de capital - maquinários e equipamentos usados pelas empresas para produzir outros bens e serviços. Os bens finais, como automóveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos, só começaram uma tendência de aumento a partir de abril.


Esse movimento, segundo ele, pode refletir "em alguma medida" o efeito da guerra tarifária e o atrito entre China e Estados Unidos. Pizzani reforça que a continuidade do crescimento das importações dos bens finais dependerá do cenário da economia doméstica. "São bens que, no limite, não são essenciais. A demanda por eles depende diretamente no nível da atividade e da confiança das pessoas em adquiri-los", reforça.


  


Além da economia doméstica aquecida, a economista da Tendências Consultoria, Gabriela Faria, lembra que o crescimento das importações no ano até aqui foi beneficiado pelo bom momento do setor agropecuário, que demanda itens como adubos e fertilizantes. "A safra de soja foi muito boa e com boa remuneração aos produtores. Eles conseguiram se preparar para fazer novos investimentos", diz ela.


O presidente da Associação da Câmara de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro, destaca que a queda no preço de commodities nos últimos meses diminuiu o custo de muitos dos bens produzidos pela China, o que favoreceu a produção e, consequentemente, a exportação para o Brasil. "Era um cenário anterior ao tarifaço dos Estados Unidos. As medidas do Donald Trump vieram apenas consolidar uma tendência que já era imaginada", pontua.


Castro observa ainda que a China tem focado em produtos de alto valor agregado, o que ajuda a turbinar os valores envolvidos nas importações feitas pelo Brasil. "Invariavelmente, mais produtos que eles venderiam para os americanos vão chegar aqui. É claro que o Brasil não tem como substituir os Estados Unidos, afinal de contas nosso mercado é bem menor, mas devemos ficar com alguma coisa", avalia ele.


O presidente da Associação Brasileira de Importadores (Abimp), Michel Platini, considera que parte dos produtos chineses que agora chegam ao Brasil só entrou no País por causa do fechamento do mercado americano em meio à escalada tarifária.


Ele explica que os custos estavam em baixa na China no início do ano, o que incrementou a produção, ao mesmo tempo em que os EUA anunciaram tarifas acima de 100% ao país asiático. "O investimento nessa produção já havia sido feito, mas um mercado importante [os EUA] foi praticamente fechado, houve essa necessidade de redirecionamento", diz ele.


O cenário, acrescenta Platini, "deu fôlego" a um movimento já bastante consolidado dos consumidores brasileiros, de comprar itens do segmento têxtil, utensílios domésticos e de bazar vindos da China a partir de plataformas como Mercado Livre, Amazon e Temu. Ele acrescenta que o aumento da entrada desses itens por aqui só não foi mais forte por conta da greve de servidores da Receita Federal em terminais alfandegários, que perdura desde novembro do ano passado.




Contato: daniel.mendes@estadao.com


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Mercado em resposta

 Leitura de Sábado: Resgate em ativos de risco desacelera, mas não por apetite de investidores


Por Bruna Camargo


São Paulo, 13/06/2025 - O resgate de investimentos em ações e multimercados está desacelerando, mas o movimento ainda não é resultado de um forte retorno do apetite a risco dos investidores. Embora a recuperação da Bolsa brasileira neste primeiro semestre ofereça algum ânimo, a cautela ainda predomina e impede grandes apostas para além do conforto da renda fixa. Por outro lado, o momento traz oportunidades, tanto para o investidor que quer voltar a inserir risco nas carteiras quanto para o assessor que pode reforçar relacionamentos e o educacional sobre a importância da diversificação.


Dados divulgados pela Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que os fundos multimercados tiveram resgate líquido de R$ 16,2 bilhões em maio, valor inferior ao registrado em abril, de R$ 20,8 bilhões. Os fundos de ações também tiveram saídas líquidas em maio, de R$ 3,4 bilhões, menos que os R$ 7,7 bilhões em abril.


A avaliação de especialistas é que o principal motivo da desaceleração nos resgates de fundos é a diminuição dos estoques, não a volta do apetite a risco. “Como tivemos uma melhora no cenário de curto prazo, com a Bolsa ‘andando’ e o real com alguma valorização, o ímpeto de tirar dinheiro de posições de risco diminuiu e, como o estoque está baixo, ele incomoda menos nas carteiras”, observa Rodrigo Marcatti, economista e presidente executivo (CEO) da Veedha Investimentos.


“Temos duas formas de olhar os dados [da Anbima]. Quando olhamos o montante que tínhamos nos fundos de ações e nos multimercados há um ano, há 24 meses, vimos boa parte do estoque migrando para outras aplicações. Ficaram no estoque os investidores mais perenes, então o movimento de saída tende a ficar menor ao longo do tempo. De forma complementar, tem a dinâmica do histórico recente dessas classes ser um pouquinho melhor também. Então, a combinação dessas duas frentes acaba gerando esse efeito, com uma dinâmica marginalmente mais positiva”, avalia Pedro Vendramini, CEO da One Wealth. No entanto, na gestora de patrimônio, a alocação em risco segue em níveis historicamente baixos.


O apetite ainda não voltou, mas já voltou às conversas, segundo Marcatti, da Veedha. “A renda fixa ainda gera um prêmio que é difícil de abrir mão, com um carrego na casa de 14% ou 15%. Por que trocar isso por um ativo de mais incerteza em um cenário completamente nebuloso, sem saber se os juros de fato chegaram no teto, começo da discussão para as eleições do ano que vem, e vaivém de tributação? Analistas têm mil motivos para alocar em Bolsa neste momento, mas ao olhar os prêmios de risco, fica difícil tomar a decisão de mudança”, afirma o economista.


Na KAT Investimentos, o movimento é de maior estabilidade, uma vez que a valorização de quase 14% do Ibovespa neste ano ajuda a trazer o investidor brasileiro “de volta ao jogo”, segundo Carlos Gonçalves, líder de produtos da assessoria. “Muito do movimento de alta foi devido ao fluxo estrangeiro, com a rotação [de carteiras] que está acontecendo no mundo, com uma melhora do ambiente para trabalhar a classe de ativos”, diz Gonçalves, acrescentando ver com bons olhos risco em mercados emergentes e Europa neste momento.


Chance de aproximação


Em cenários como o atual, um dos pontos positivos para os assessores de investimentos é a chance de reforçar o vínculo com seus clientes. “Quando há um horizonte de mais diversificação e apetite a risco tem mais oportunidade de falar de cenário e construir raciocínio com o cliente do que quando só se está vendendo taxa de produto. Quando o cenário obriga a diversificar mais, o investidor separa ‘o joio do trigo’, pois verá se a conversa do profissional tem fundamento”, afirma Marcatti, da Veedha. “O educacional é o nosso dia a dia, e temos que trazer o cliente de volta para conversas mais maduras”, concorda Gonçalves, da KAT.


Como levar o risco de volta aos portfólios?


O dinheiro “novo” de clientes com perfil para tomada de risco tem para onde ir. Marcatti, da Veedha, considera um asset allocation completo, olhando para oportunidades em renda variável - via ações diretas ou fundos - e fundos de investimento imobiliário (FIIs). Mas a dificuldade ainda paira sobre a alocação em multimercados, que historicamente já representou de 20% a 30% de uma carteira moderada ou arrojada, hoje encolheu para um ou dois fundos, no máximo, de nomes “consagrados” que o cliente tope investir. “O investidor ‘médio’ vai procurar se expor a um pouco mais de risco de forma mais conservadora. Ele não vai ‘de peito aberto’”, observa Vendramini, da One Wealth.


Gonçalves, da KAT, prefere a exposição a risco via fundos de fundos (FoFs, na sigla em inglês), uma vez que dá acesso a produtos “de ótima gestão e que muitas vezes estão fechados na indústria”, diz. “É preciso um olhar para o futuro. O Brasil não consegue seguir com os juros nesse patamar, então entendemos que quem já se posicionar agora, fazer o ‘dever de casa’ e se beneficiar do ‘carrego’”, afirma.


Contato: bruna.camargo@estadao.com


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Fabio Alves