quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Wilson Gomes

 O ótimo Wilson Gomes e um alerta importante:


"Livro clássico mostrou que o fascismo pode brotar na democracia, por Wilson Gomes


Folha de S. Paulo

'A Personalidade Autoritária', de 1950, inaugurou uma agenda de pesquisa sobre as bases psicológicas do autoritarismo  


Este ano completa-se o 75º aniversário de "A Personalidade Autoritária", obra monumental publicada em 1950 por Adorno, Frenkel-Brunswik, Levinson e Sanford, que inaugurou uma agenda de pesquisa ainda atual sobre intolerância política e as bases psicológicas do autoritarismo.


Pela primeira vez, psicanálise, psicologia e sociologia foram mobilizadas de modo integrado para enfrentar uma questão que, tanto no pós-guerra quanto hoje, se impõe com urgência: como sociedades democráticas podem gerar cidadãos predispostos a aderir a ideologias autoritárias.


A primeira grande inovação foi a virada copernicana que deslocou o centro da análise. Em vez de estudar a ideologia fascista —seus movimentos sociais, discursos, partidos e programas—, os autores voltaram-se aos indivíduos e às suas atitudes, isto é, às disposições subjetivas que estruturam o modo como as pessoas percebem o mundo social.


As atitudes autoritárias, sustentam, correlacionam-se de forma estável em um conjunto recorrente de sintomas psicológicos e sociais: conformismo, submissão à autoridade, intolerância à ambiguidade, agressividade contra grupos minoritários, rigidez moral e preconceito. Não é preciso militância aberta: basta que essas disposições, formadas desde a infância, estejam latentes.


Para compreender por que alguém tende a manter posições coerentes, é necessária uma estrutura subjetiva que garanta essa permanência relativa —a personalidade. Ela organiza predisposições e dá unidade ao comportamento, filtra os apelos da propaganda e reage às circunstâncias. Daí a diferença pessoal na suscetibilidade ao autoritarismo. Por outro lado, certas condições sociais e apelos externos podem ativar as disposições autoritárias, com risco real de uma tempestade perfeita.


A segunda inovação foi conceber o fascismo não como uma anomalia histórica confinada à Europa de Benito Mussolini ou Adolf Hitler, mas como uma expressão extrema de algo inscrito na vida social ordinária, inclusive em democracias estáveis. A pesquisa mostrou que determinados traços apareciam juntos de forma consistente, mesmo em indivíduos sem engajamento político explícito, como etnocentrismo, convencionalismo, superstição, submissão à autoridade do grupo de pertencimento e agressividade moralizada.


O valor da descoberta não estava em diagnosticar fascistas concretos, mas em revelar que existia um padrão de personalidade que podia ser mobilizado em condições políticas propícias. A ameaça não desapareceu com a derrota militar de 1945, mas permanecia viva em disposições latentes capazes de se atualizar a qualquer momento.


A terceira inovação consistiu no desenvolvimento de instrumentos metodológicos inéditos para captar esse padrão. O mais famoso foi um questionário para pesquisas de opinião, a "Escala F" (de fascismo), elaborada em sucessivas versões e combinado a entrevistas clínicas e testes projetivos. O questionário não detectava "fascistas" em sentido estrito, porque não havia grupo de controle de fascistas reais. O que oferecia era algo mais sutil e mais perturbador: a demonstração de que atitudes autoritárias aparentemente dispersas estavam, na verdade, fortemente correlacionadas e formavam uma constelação.


A escala mostrava como elas não se distribuíam ao acaso, mas se reuniam em torno de uma estrutura de personalidade que predispunha ao autoritarismo. A inovação decisiva foi transformar diagnósticos sociopolíticos em instrumentos replicáveis para medir a suscetibilidade de pessoas e grupos ao extremismo autoritário.


A escolha dos termos também foi significativa. Chamá-la de "Escala F" preservava a referência normativa ao fascismo como ameaça concreta, mas intitular o livro "A Personalidade Autoritária" ampliava o horizonte, indicando que não se tratava apenas de estudar o já derrotado fascismo europeu. O conceito de autoritarismo permitia generalizar a investigação e sugeria que regimes semelhantes poderiam emergir em qualquer sociedade.


Setenta e cinco anos depois, o alerta desses autores segue atual. Em todo o mundo, democracias enfrentam a ascensão da extrema direita e de novas formas de intolerância, como o avanço do autoritarismo progressista em nome da defesa de identidades. O livro de 1950 continua a lembrar que as democracias precisam se defender não só de inimigos externos, mas também dos impulsos autoritários que brotam de dentro da vida social e da própria personalidade dos cidadãos. Essa é a sua força duradoura: mostrar que o autoritarismo não é acidente histórico, mas risco permanente."


Folha de SP 20/08/25

BDM Matinal Riscala

 *Rosa Riscala: Dois pesos, dois riscos*


Atingido pela Lei Magnitsky, Moraes já teve um cartão de crédito de bandeira americana bloqueado


… O Fed abre esta noite o Simpósio de Jackson Hole, mas o dia D é amanhã, com o discurso de Powell. Na agenda lá fora, índices PMI medem a atividade global na Europa e nos Estados Unidos. Em Wall St, Walmart divulga balanço antes da abertura, enquanto, aqui, investidores esperam pelo recorte da pesquisa Quaest sobre as eleições presidenciais/2026 e pela arrecadação da Receita em julho. O noticiário continua dominado pelo imbróglio envolvendo a Lei Magnitsky, que coloca aos bancos o desafio de cumprir o que determina sua aplicação pelos Estados Unidos e a legislação brasileira. Atingido pela medida, Moraes já teve um cartão de crédito de bandeira americana bloqueado.


DUPLA SANÇÃO – A informação, confirmada por diversas fontes, foi noticiada à noite pelos jornalistas Cézar Feitoza e Adriana Fernandes (Folha), que apuraram também que a instituição ofereceu ao ministro o cartão de bandeira brasileira Elo, sem as restrições da Magnitsky.


… O bloqueio aconteceu antes de Flávio Dino decidir que ordens executivas de governos estrangeiros não têm eficácia no Brasil.


… A assessoria do STF disse que Moraes não iria se manifestar, mas ainda ontem ele deu entrevista à agência Reuters, quando afirmou que a Justiça brasileira pode punir instituições locais que bloquearem ou confiscarem ativos em consonância com ordens dos Estados Unidos.


… Alexandre de Moraes reconheceu que a atuação da Justiça americana em relação aos bancos brasileiros com operações nos EUA é da aplicação da lei norte-americana. “Agora, da mesma forma, se os bancos resolverem aplicar a lei, eles podem ser penalizados internamente.”


… Na mesma entrevista, o magistrado se diz confiante de que Washington vai recuar em relação às sanções impostas a ele, que não são consenso dentro do governo americano, seja por meio de canais diplomáticos ou através de desafio judicial nos tribunais dos Estados Unidos.


… Nesta quarta-feira, repercutiu uma dura carta do coautor da Lei Magnitsky, o deputado democrata Jim McGovern, enviada ao secretário do Tesouro, Scott Bessent, e ao secretário do Departamento de Estado, Marco Rubio, considerando “vergonhosa” a sanção a Moraes.


… “A sanção GloMag ao ministro do STF contraria e enfraquece o propósito da lei, que foi concebida para punir indivíduos que cometem graves violações de direitos humanos e atos de corrupção. É, portanto, vergonhoso o que fez a administração Trump.”


… Além de Moraes, também o ministro Flávio Dino se manifestou nesta quarta-feira, ironizando a queda das ações de bancos na bolsa. “Dizem que a decisão que proferi derrubou os mercados. Eu não sabia que era tão poderoso, R$ 42 bilhões de especulação financeira.”


SEM COMENTÁRIOS – Sempre avessos a ocuparem as manchetes, os bancos mantêm a discrição, como fizeram ontem no evento do Santander seus representantes, que não abordaram o tema no palco e evitaram a imprensa. Mas, nos bastidores, a preocupação é evidente.


… Como publicaram os jornalistas Altamiro Silva Junior e Cynthia Decloedt (Broadcast), os bancos discutem formas de cumprir leis brasileiras e ao mesmo tempo não desrespeitar leis norte-americanas e já consideram encerrar contas, segregar saldos e bloquear cartões.


… O temor é que o abalo na confiança de investidores estrangeiros no ambiente regulatório brasileiro aumente o risco jurídico para bancos com operações internacionais – e quase todas as instituições brasileiras operam nos Estados Unidos.


… A clientes, analista do BTG afirmou que “é preciso mitigar o risco de sanções secundárias nos Estados Unidos”, observando que “encerrar ou segregar contas quando houver o perigo de enquadramento do banco é um ato privado por decisão de compliance”.


… Já Roberto Simioni (Blue3) diz que a decisão de Dino reduz a confiança do investidor estrangeiro no ambiente regulatório brasileiro, aumenta o risco jurídico para bancos com operações internacionais e pode impactar a liquidez e o custo de capital de empresas brasileiras.


… “A tensão entre o direito internacional e interno revela um dilema na conciliação da integração global e a preservação da soberania jurídica.”


ZANIN – No Valor, os ministros do STF voltaram a receber representantes de bancos após a decisão de Flávio Dino contra a aplicação imediata no Brasil de leis, decisões judiciais, atos administrativos e ordens executivas estrangeiras.


… O ministro Cristiano Zanin, relator da ação que pede para a Corte barrar o bloqueio das contas do ministro Alexandre de Moraes, voltou a se reunir com Rodrigo Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras, nesta semana.


… Zanin aguarda o parecer da PGR para dar andamento ao recurso que trata diretamente sobre a Lei Magnitsky.


… Segundo o Estadão, a intenção do ministro é buscar uma saída negociada com o sistema financeiro. O temor é que se os bancos seguirem Trump, aplicando as sanções previstas na lei, o STF poderia ficar desmoralizado.


EMPRESÁRIOS NOS EUA –Um grupo liderado pela CNI viajará a Washington nos dias 3 e 4 de setembro para discutir o tarifaço com membros do governo Trump e escritórios de lobby. O embaixador Roberto Azevêdo deve comandar a missão.


… A ideia é incluir mais produtos na lista de exceções e apresentar propostas como instalação de data centers no Brasil, exploração de terras raras e parcerias em combustíveis sustentáveis.


… Nesta quarta-feira, Alckmin anunciou que os Estados Unidos aliviaram tarifas sobre manufaturados brasileiros feitos com aço e alumínio. Os itens passam a pagar as mesmas alíquotas aplicadas ao resto do mundo, incluindo máquinas agrícolas.


BIG TECHS PRESSIONAM – Associação americana ITI, que reúne gigantes de tecnologia como Visa, Google, Amazon, Meta e Microsoft, levou ao governo Trump dossiê com críticas ao STF, à Anatel e ao governo Lula, além de alertas sobre tributação de big techs e regulação de IA.


… O grupo afirma que as medidas aumentam a insegurança jurídica, elevam custos e podem desestimular investimentos no país.


… O documento acusa o BC de promover “competição desigual” ao operar o Pix, concorrente de empresas de pagamento. Para a ITI, o modelo brasileiro viola normas de neutralidade competitiva e prejudica multinacionais do setor, incluindo Visa e Mastercard.


DERROTA DO GOVERNO – O governo sofreu revés inesperado na formação da CPMI do INSS.


… O senador Carlos Viana (Podemos) foi eleito presidente e indicou o deputado Alfredo Gaspar (União), ligado ao bolsonarismo, como relator, desmontando o acordo articulado pelo Planalto.


… Governistas admitiram erro grave ao não garantir a presença de três titulares da base, substituídos por suplentes do PL. A ausência abriu espaço para a oposição dominar a comissão. Senadores reconhecem que o desafio da articulação cresceu.


… O líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT), disse que o governo entrou “de salto alto” e assumiu a responsabilidade pela derrota. Ele colocou o cargo à disposição e anunciou que o deputado Paulo Pimenta (PT) coordenará a base na CPMI.


… A ministra Gleisi Hoffmann convocou reunião emergencial para entender a falha e evitar convocações que atinjam o irmão do presidente Lula, conhecido como Frei Chico, citado em investigações. O Planalto tenta blindar o chefe do Executivo de novos ataques.


… O presidente Carlos Viana informou que a CPMI se reunirá às segundas e quintas-feiras, e já na próxima terça-feira votará os primeiros requerimentos. A expectativa é que ministros da Previdência e presidentes do INSS desde a gestão Dilma sejam chamados a depor.


PRECATÓRIOS – O governo Lula enfrenta também resistências no Congresso para aprovar manobras fiscais. A PEC dos precatórios foi retirada de pauta por Davi Alcolumbre, diante do risco de derrota em destaques que poderiam derrubar espaço extra de R$ 12 bilhões.


… O Planalto também tenta excluir R$ 9,5 bilhões do pacote de socorro ao tarifaço da meta fiscal. Alckmin buscou apoio no Congresso, mas não conseguiu se reunir com Alcolumbre. Parlamentares pedem contrapartidas e resistem a dar aval a novos gastos.


BOLSONARO –A Polícia Federal indiciou o ex-presidente e seu filho Eduardo Bolsonaro por tentativa de obstrução de Justiça nas investigações sobre a trama golpista. O relatório entregue ao STF aponta áudios e mensagens recuperadas de celulares.


… O material mostra articulações para intimidar autoridades e até conversas sobre eventual asilo político de Bolsonaro na Argentina.


… O pastor Silas Malafaia também foi incluído no inquérito. Ele teve o passaporte retido e celulares apreendidos no aeroporto do Galeão, ao desembarcar de Lisboa. Por ordem do ministro Alexandre de Moraes, Malafaia não pode manter contato com Jair e Eduardo Bolsonaro.


… Moraes já enviou o relatório da PF para a PGR e determinou que a defesa do ex-presidente Bolsonaro preste esclarecimentos, no prazo de 48 horas, sobre o descumprimento de medidas cautelares, reiteração de condutas ilícitas e existência de risco de fuga.


… Nas redes sociais, Eduardo classificou o indiciamento pela PF de “absolutamente delirante” e afirmou que sua atuação nos Estados Unidos jamais teve como objetivo interferir em qualquer processo em curso no Brasil, mas restabelecer as liberdades individuais no País.


AGENDA –A quinta-feira será marcada pelo início do Simpósio de Jackson Hole e divulgação de indicadores importantes no Brasil e no exterior.


… Lá fora, saem os PMIs preliminares de agosto na Alemanha (4h30), na Zona do Euro (5h) e no Reino Unido (5h30).


… Nos Estados Unidos, o PMI sai às 10h45. Às 9h30 tem auxílio-desemprego e, às 11h, vendas de moradias usadas em julho.


… Mais cedo (8h30), o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, participa de evento.


JAPÃO HOJE – A leitura preliminar do PMI composto subiu de 51,6 em julho para 51,9 em agosto. Acima do patamar neutro de 50, o dado continua indicando expansão da atividade. Já o PMI de serviços cedeu de 53,6 para 52,7.


… O PMI industrial teve alta de 48,9 para 49,9. Apesar do avanço, o indicador ainda aponta contração da atividade.


NO BRASIL – A pesquisa Genial/Quaest sobre a corrida presidencial de 2026 será divulgada às 7h.


… Às 10h30, a Receita Federal apresenta a arrecadação de julho, com mediana (Broadcast) projetada em R$ 252,5 bilhões, alta de 3,8% em relação ao ano anterior. Às 17h30, o secretário de Política Econômica da Fazenda, Guilherme Mello, participa de evento da FEA/USP.


PETROBRAS NO AFTER HOURS – Os estrangeiros reagiram sem sobressalto ao pedido de renúncia de Pietro Mendes da presidência do conselho de administração da estatal para assumir uma cadeira na diretoria da ANP.


… O ADR da estatal relativo à ação ordinária subiu 0,25% e o equivalente à ação preferencial ganhou 0,18%.


… Um nome provisório deve assumir a presidência do Conselho, com Renato Galuppo como o mais cotado. Ele já preside o Comitê de Pessoas da empresa, o que facilita a transição. A vaga definitiva pode ficar com Bruno Moretti.


… No Broadcast, o secretário especial de Análise Governamental da Presidência da República desponta como favorito, porque é próximo de Alexandre Silveira e Rui Costa, e tem atuado firme em pautas do interesse da União.


UCRÂNIA –Fontes do Politico afirmam que os Estados Unidos devem ter papel mínimo nas garantias de segurança à Ucrânia.


… É improvável que Washington envie tropas ou meios aéreos relevantes, e cresce a preocupação de aliados de que Trump transfira à Europa o ônus de sustentar uma paz duradoura em Kiev.


… Em Moscou, o chanceler Sergei Lavrov afirmou que qualquer discussão sobre segurança da Ucrânia sem a Rússia “não levará a lugar algum”. Para ele, é “utopia” acreditar que o Ocidente possa tratar seriamente do tema sem a participação russa.


ALÍVIO FRÁGIL – Dos quase R$ 42 bilhões perdidos em valor de mercado pelas ações dos bancos brasileiros dois dias atrás, menos de R$ 2 bilhões foram recuperados ontem, em sinal de que o setor ainda navega em mar de incerteza.


… O Broadcast apurou que o mercado financeiro tem visto com bons olhos a interlocução direta dos bancos com os ministros do STF para expor as preocupações sobre a aplicação da Lei Magnitsky pelas instituições financeiras.


… Mas os receios de punição, se aplicarem sanções dos Estados Unidos a ativos brasileiros, continuam afetando o fôlego dos papéis do setor, que ontem não convenceram na reação parcial, depois do tombo observado na véspera.


… No day after da queda livre de 6%, tudo o que BB ON subiu foi 0,30%, a R$ 19,86. Itaú teve alta marginal de 0,06%, a R$ 36,33, e Bradesco também exibiu ganhos modestos: ON avançou 0,44%, a R$ 13,60%, e PN, +0,32%, a R$ 15,84.


… Apenas Santander ostentou maior força, em +2,08%, valendo R$ 26,48, enquanto BTG Pactual recuou 1,10%.


… O giro muito baixo de negócios na bolsa, limitado a R$ 16 bilhões, denunciou a cautela do investidor com a crise do momento. Em sessão bastante volátil, o Ibovespa terminou com alta tímida de 0,17%, aos 134.666,46 pontos.


… Junto com a recuperação pouco expressiva dos bancos, também a Petrobras ajudou o índice à vista da bolsa a se salvar no positivo. De carona no petróleo, o papel ON subiu 0,83%, a R$ 32,68, e o PN ganhou 0,60%, a R$ 30,22.


… O barril foi pressionado pela queda quatro vez maior do que a esperada nos estoques da commodity nos Estados Unidos (recuo semanal de 6,014 milhões), que levou o tipo Brent para outubro a escalar 1,59%, cotado a US$ 66,84.


… Já o minério de ferro caiu de leve (-0,19%) e contribuiu para a queda moderada de 0,45% da Vale, a R$ 53,00.


… Melhor desempenho do dia, GPA saltou 8,62%, para R$ 3,15, depois de a companhia ter esclarecido as recentes movimentações de executivos, afirmando se manter em conformidade com os padrões de governança.


… Nesta semana, dois integrantes do conselho fiscal renunciaram, alegando discordâncias internas.


… Marfrig, em queda de 3,16%, na mínima de R$ 22,66, destacou-se entre as piores baixas do pregão desta quarta-feira, com a notícia de que o Cade suspendeu o julgamento da fusão com a BRF, depois de um pedido de vista.


RASGUE A ATA DO FED – Ligeiramente hawkish, com ênfase na preocupação com o impacto inflacionário do tarifaço de Trump no curto prazo, o documento do Fed não abalou ontem a ampla expectativa de corte do juro em setembro.


… A precificação de relaxamento monetário de 25 pontos no mês que vem continua rodando muito alta, em quase 83% na ferramenta do CME, e para o ciclo no ano, a aposta principal (46,3%) é de corte acumulado de 50 pontos.


… Ou seja, a maioria do mercado continua esperando que o juro só caia duas vezes, ao invés de três (36,7%).  


… Olhar para a ata do Fed, disseram os analistas, foi como olhar pelo retrovisor, já que o documento não teve tempo de capturar a surpresa com o payroll de julho muito mais fraco do que as expectativas do mercado financeiro.


… Também Powell, desde a última vez em que falou, no final do mês passado, durante a entrevista coletiva da reunião do FOMC, ainda não teve a oportunidade de abordar o esfriamento observado no relatório de emprego.


… Amanhã, em sua participação em Jackson Hole, o que se diz é que ele estará dividido sobre os desafios do duplo mandato do Fed: estabilidade dos preços (com a inflação ainda fora da meta de 2%) e máximo emprego.


… O que Powell disser lá, poderá não ser definitivo, porque antes da próxima reunião de política monetária ainda tem mais um payroll (o de agosto) para sair, além de uma nova rodada de indicadores da inflação americana.


… Às vésperas de Jackson Hole, as bolsas em NY têm andado mais devagar, depois de tantos recordes. Ontem, o S&P 500 perdeu 0,24%, aos 6.395,78 pontos, e o Dow Jones fechou no zero a zero (+0,04%), aos 44.938,31 pontos.


… Só o Nasdaq é que exibiu perda mais expressiva, de 0,67%, aos 21.172,86 pontos, desestabilizado por questionamentos de integrantes do mercado sobre a sustentabilidade dos investimentos em Inteligência Artificial.


A NOVA FRITURA – Bola da vez dos ataques de Trump contra o Fed, a diretora Lisa Cook disse que não se intimidará a renunciar ao cargo, depois de um aliado do presidente acusá-la de fraude hipotecária em postagem no X.


… O diretor da Agência Federal de Financiamento da Habitação, Bill Pulte, publicou carta na rede social pedindo investigação sobre dois financiamentos imobiliários, enquanto Trump exigia que ela deixasse o cargo “agora!”.


… Segundo o WSJ, o presidente estaria considerando demitir Cook por justa causa. As ameaças coincidem com o contexto em que Trump tenta emplacar no Fed mais um nome de sua confiança para forçar cortes nos juros.


… Recentemente, o chefe da Casa Branca indicou o atual presidente do Conselho de Assessores Econômicos (CEA), Stephen Miran, para cumprir o posto deixado pela diretora Adriana Kugler, que renunciou ao cargo no início do mês.


… Como diretora do Fed, Cook possui direito a voto permanente nas decisões de política monetária e, na reunião do fim de julho, defendeu a manutenção dos juros, contrariando a campanha agressiva de Trump pela redução de taxas.


… A pressão dovish sobre o Fed derrubou as taxas dos Treasuries, mas o movimento foi limitado pela expectativa com Jackson Hole. O yield da Note-2 anos caiu a 3,744%, de 3,750% na véspera, e o de 10 anos, a 4,287%, de 4,303%.


… Em compasso de espera por Powell, o índice DXY do dólar fechou praticamente estável (-0,05%), a 98,218 pontos. O euro também pouco oscilou (+0,02%), a US$ 1,1657, mas o Rabobank projeta US$ 1,20 no ano que vem com o Fed.


… A libra esterlina recuou 0,30%, para US$ 1,3455, enquanto o iene ganhou terreno, cotado a 147,32 por dólar.


… Aqui, a moeda americana entrou em bom ponto de venda, depois de ter subido quase 2% nos dois últimos pregões, e voltou para baixo do patamar de R$ 5,50, negociada em queda de 0,51% e cotada a R$ 5,4729.


… Mas as dúvidas dos bancos sobre se devem ou não reconhecer a legitimidade da aplicação da Lei Magnitsky no Brasil continuarão agitando os negócios, sob ondas de estresse e alívio, ao sabor das interpretações.


… Alinhado aos demais ativos domésticos, o DI também devolveu prêmio ontem, corrigindo o salto do dia anterior.


… No fechamento, o contrato de juro para Jan/27 caiu a 14,035% (de 14,111%); Jan/29, a 13,340% (de 13,444%); Jan/31, a 13,650% (de 13,705%); e Jan/33, a 13,790% (de 13,832%). O Jan/26 ficou estável em 14,905%.


… Durante evento do Santander nesta quarta-feira, economistas apontaram que o BC ainda precisa ver indicadores de atividade econômica mais fracos antes de se animar a iniciar o ciclo de cortes da taxa básica dos juros.


… O Bradesco ajustou a sua projeção de início da redução da Selic de dezembro deste ano para janeiro do próximo.


… O economista-chefe do banco, Fernando Honorato Barbosa, disse no evento em São Paulo que a política monetária mais apertada neste ciclo eleitoral vai se sobrepor ao aumento dos gastos públicos.


… [Sem licença da pandemia para gastar mais] “agora as mãos do governo estão mais ou menos amarradas.”


CIAS ABERTAS – BANCO DO BRASIL comunicou que remuneração dos acionistas referente ao terceiro trimestre será paga integralmente em 11 de dezembro, ou seja, não haverá pagamento antecipado referente ao período…


… Segundo o banco, isso ocorre em virtude da necessidade de convergência para o payout de 30% aprovado em 13 de agosto.


PETROBRAS reafirmou à CVM que plano de negócios 2025/29 prevê investimentos no segmento de etanol por meio de parcerias estratégicas minoritárias ou com controle compartilhado com “players relevantes” do setor…


… No entanto, “companhia esclarece que não há definição quanto à matéria-prima a ser utilizada nos projetos de produção de etanol”.


ELETROBRAS. Ministério Público de Mato Grosso pediu para que empresa apresente em 5 dias, contados a partir da última terça-feira, plano emergencial após falhas em barragem da usina hidrelétrica de Colíder.


SUZANO. O Citi elevou em 3% a sua projeção de Ebitda ajustado para a companhia em 2025, totalizando R$ 22,7 bilhões, considerando os resultados levemente melhores no segundo trimestre.

Assessoria XP AAI

 *🔍 XP Relatórios | Pesquisa com assessores XP: Apetite por risco diminui após correção recente*


XP: "Nesta edição da nossa pesquisa com assessores filiados à XP, observamos uma queda na intenção de aumentar exposição em renda variável, apesar de um aumento nos níveis de alocação. Os principais pontos da pesquisa foram: (i) a intenção de aumentar exposição em renda variável caiu, com 21% (-13 p.p. M/M) indicando que seus clientes planejam aumentar a exposição, enquanto 16% (+9 p.p. M/M) planejam diminuí-la; (ii) o sentimento dos assessores se deteriorou para 6,2 em relação a 6,8 em julho (numa escala de 0 a 10); (iii) Renda Fixa permanece como a classe de ativo preferida entre os clientes, enquanto o interesse por ações diminuiu e o por Investimentos Internacionais aumentou; (iv) preocupações com riscos fiscais diminuíram, mas permanecem na liderança, seguido de instabilidade política, riscos geopolíticos e juros domésticos mais altos; (v) a maioria dos assessores indicou um aumento no posicionamento defensivo após as mudanças nas relações comerciais entre Brasil e EUA."


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Bankinter Portugal Matinal

 Análise Bankinter Portugal 


SESSÃO: ONTEM, sessão fraca, como esperávamos, com uma queda drástica de -10% da Target, embora tenha fechado a -6,3%, e tomadas de lucro em semicondutores, particularmente na Intel (-7%), que tinha subido com força previamente devido aos anúncios da Softbank e do governo dos EUA de adquirir participações relevantes. HOJE é um dia de transição, com foco no que possa chegar da reunião anual dos banqueiros centrais em Jackson Hole, embora apenas lá cheguem à tarde e seja improvável que alguém queira precipitar-se com comentários informais improvisados. Powell (Fed) falará amanhã às 15h, e isso é o mais importante. No entanto, hoje saem os PMIs em todo o mundo, que são relevantes para entender o tom do ciclo global.


GEOESTRATÉGIA: Tom mais frio. A Rússia diz agora que talvez Putin não mantenha nenhuma reunião com Zelenskiy e que quer ter direito de veto sobre qualquer garantia de segurança (leia-se: ação defensiva) concedida à Ucrânia, veto que deverá ser garantido pela China, EUA, França e Reino Unido. Está a usar a tática mais clássica e cordial para bloquear uma negociação: pedir o impossível, mas estar disposto a continuar a negociar. Em Israel a situação também se complica: convocou 60.000 reservistas para completar a tomada de Gaza.


MACRO: As atas da última reunião do Fed (29/30 de julho) não trazem novidades, com Bowman e Waller (indicado por Trump) a votarem contra manter as taxas em 4,25%/4,50%. Estimamos que o Fed irá cortar -25 pontos base a 17 de setembro. Trump acusou uma conselheira do Fed (Lisa Cook) de má conduta relacionada com as suas hipotecas e pediu a sua demissão.

Hoje saem PMIs em quase todas as economias. Até agora, os do Japão e da Índia são bons: manufatura a 51,9 vs 51,6 e 59,8 vs 59,1, respetivamente. Espera-se uma leitura lateral ou fraca para a Zona Euro (às 9h; 49,5 vs 49,8). França sai às 8:15h (48,0 vs 48,2) e Alemanha às 8:30h (48,8 vs 49,1). O Indicador Antecipado às 15h deverá mostrar -0,1% vs -0,3%, o que não representa grande coisa para nenhum dos lados.


EMPRESAS: A queda da Target não se deve a resultados fracos ou a uma revisão em baixa das orientações, mas porque o novo CEO vem da própria empresa e só assumirá o cargo em fevereiro de 2026. Uma dupla má ideia: uma alternativa interna dificilmente poderá virar a empresa que tanto precisa de mudança e começar dentro de 6 meses parece um período de pré-aquecimento desnecessariamente longo, impossível de interpretar positivamente. As descidas no setor tecnológico/semicondutores não parecem fundamentadas em novidades concretas, mas no já conhecido mantra de que a IA poderia estar sobrevalorizada, além do facto (principal) de terem subido com bastante força nas duas primeiras semanas de agosto, parecendo portanto uma correção natural e não motivada por nenhum acontecimento particular.


Hoje, pelas 12h, saem os resultados da Walmart, com um EPS esperado de 0,74$ (+10%). Esta é a chave corporativa do dia. A Walmart não tem os problemas internos e de gestão que a Target enfrenta, por isso é improvável que desaponte.


CONCLUSÃO: Fraqueza com tendência natural para algum repique após duas sessões fracas. Mas muito pouco (cerca de +0,1% a +0,3%) e só se os PMIs forem razoáveis e nenhum banqueiro central disser algo estranho ao chegar a Jackson Hole. É provável que as expectativas em torno de mais cortes de taxas se arrefeçam um pouco, o que deverá fazer comprar alguns títulos de dívida (rendimento em queda), mas nada significativo.


S&P500 -0,2% Nq-100 -0,6% SOX -0,7% ES50 -0,2% IBEX -0,1% VIX 15,7% Bund 2,71% T-Note 4,29% Spread 2A-10A EUA = +54pb B10A: ESP 3,29% PT 3,13% FRA 3,42% ITA 3,56% Euribor 12m 2,084% (fut. 2,171%) USD 1,165 JPY 171,7 Ouro 3.339$ Brent 67,2$ WTI 63,1$ Bitcoin +0,2% (113.895$) Ether +3,3% (4.306$).


FIM

Bibliotecas Economia

 Livros relevantes para entender a economia brasileira e mundial - Renato Baumann 


Vários destes livros do economista Renato Baumann, técnico do IPEA e representante da CEPAL no Brasil durante muitos anos, se encontram disponíveis nas instituições que patrocinaram suas respectivas publicações, como o IPEA, por exemplo: 


- O Brasil e a Economia Global (organizador), SOBEET e Editora Campus, Rio de Janeiro, 1996 


- A Nova Economia Internacional - Uma Perspectiva Brasileira, em co- autoria com Reinaldo Gonçalves, Luis Carlos Prado e Otaviano Canuto, Editora Campus, Rio de Janeiro, 1998 


- Brasil: Uma Década em Transição, organizador, Editora Campus, Rio de Janeiro, 2000, também publicado como Brazil in the 1990s: An Economy in Transition, Palgrave Publishers, 2002 


- Mercosul – Avanços e Desafios da Integração, organizador, CEPAL/IPEA, Brasilia, 2001 


- A ALCA e o Brasil: Uma Contribuição ao Debate, organizador, CEPAL/IPEA, Brasília, 2003 


- Economia Internacional – Teoria e Experiência Brasileira, em co-autoria com Otaviano Canuto e Reinaldo Gonçalves, Editora Campus, Rio de Janeiro, 2004 


- O Brasil e os demais BRICs – Comércio e Política, organizador, CEPAL/IPEA, Brasilia, 2010 


- Integração Regional: Teoria e Experiência Latino-americana, Editora LTC, 2013 


- Os BRICS e seus vizinhos – comércio e acordos regionais, organizador, com Ivan Tiago Oliveira, IPEA, Brasília, 2014 


- Economia Internacional – Teoria e Experiência Brasileira, 2a. Edição, em co-autoria com Reinaldo Gonçalves, Editora Campus, Rio de Janeiro, 2014 


- VI BRICS Academic Forum, organizador, com Tamara Farias, IPEA, Brasília, 2014 


- Manual do Candidato – Economia, em co-autoria com Samo Gonçalves, FUNAG/MRE, Brasília, 2016, para os candidatos ao Instituto Rio Branco 


- Percurso incompleto: a política econômica externa do Brasil. Rio de Janeiro: Ipea, 2023. il. color. ISBN: 978-65-5635-059-2. DOI: http://dx.doi.org/10.38116/9786556350592


- Instrumentos de avaliação de investimentos externos no mundo e seus debates no Brasil, em co-autoria com Michelle Ratton Baidin (orgs), Rio de Janeiro: Ipea, 2025. v. 1. ISBN: 978-65-01-30543. DOI: http://dx.doi.org/10.38116/9786501305431

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Faria Lima

 *Faria Lima: briga expõe uso de dinheiro de investidores em papel encalhado*


19/08/2025 14h14


O principal assunto da Faria Lima nas últimas horas é o litígio em torno de uma das maiores securitizadoras do país acusada por um seus principais ex-executivos de usar irregularmente dinheiro de investidores para bancar um investimento de alto risco.


Em documento enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o ex-executivo da Virgo Companhia de Securitização Eduardo Levy acusa o controlador da empresa, Ivo Kos, de alocar irregularmente R$ 240 milhões de outros clientes em um fundo destinado a bancar a operação de CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários) que não encontrou demanda no mercado.


Segundo a denúncia de Levy à qual a coluna teve acesso, a operação em questão envolvia a emissão de um CRI, cuja primeira emissão seria de R$ 130 milhões, para financiar a construção de um hospital para a Oncoclínicas em Belo Horizonte, estruturado pela Cedro Participações.


Diante da falta de interesse dos investidores, segundo Levy, Kos teria garantido pessoalmente a colocação do papel e, não conseguindo cumprir a promessa, optou por utilizar recursos de outros CRIs sob gestão da Virgo.


A securitização do CRI da Oncoclínicas garantiria uma comissão para a Virgo; os recursos usados pertencem ao patrimônio de reserva de outros CRIs.


No contra-ataque, a defesa da Virgo nega qualquer irregularidade na operação. Ivo Kos acusa o ex-executivo Levy de ter decidido a realização da operação que agora denuncia e, em uma ação civil que a empresa ingressou contra ele, a ex-empregadora diz que o rompimento se deu por insatisfação do profissional com a sua remuneração.


Antes, uma tecla SAP:


Securitização: Transformação de direitos creditórios (como dívidas ou recebíveis) em títulos negociáveis no mercado de capitais. Empresas securitizadoras cobram um "fee" (comissão) sobre o valor total do negócio.

CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários): Título de renda fixa lastreado em créditos originários do setor imobiliário.

Patrimônio Separado: Recursos de titularidade exclusiva dos investidores, segregados do patrimônio da emissora/securitizadora para garantir segurança contra imprevistos. Conforme Resolução 60 da CVM, esses recursos precisam estar alocados em ativos de baixo risco e alta liquidez, caso precisem ser sacados numa emergência.

De acordo com a denúncia do ex-executivo, Kos deu uma garantia firme para a Cedro para o lançamento do CRI, mesmo com o mercado em condições desfavoráveis no momento.


Sem ter conseguido recursos de investidores, a Virgo teria criado um fundo chamado Allocation, para onde recursos do patrimônio separado dos outros CRIs foram transferidos, e este instrumento comprou o CRI da Oncoclínicas, considerado de risco mais alto.


Entenda os números:


R$ 240 milhões: Levy afirma que, no mínimo, R$ 240 milhões de recursos de patrimônios separados de outros CRIs/CRAs foram alocados no fundo "Allocation" para viabilizar a compra do CRI da Oncoclínicas.

R$ 130 milhões: segundo a denúncia de Levy, a Virgo decidiu lançar a primeira série do CRI da Oncoclínicas no valor de R$ 130 milhões para financiar a construção de um hospital em Belo Horizonte. Em português simples, esses R$ 130 milhões são o principal que o título buscaria captar no mercado.

O ponto da denúncia: diante da falta de demanda, a Virgo teria garantido a liquidação dessa série e, não conseguindo vender o papel, usou recursos de patrimônios separados de outros CRIs para viabilizar a liquidação no vencimento da oferta. Ou seja, a controvérsia é como ele teria sido honrado com dinheiro do patrimônio separado.

Segundo Levy, o negócio provocou a renúncia de outros três diretores estatutários em maio. Levy, que diz ter permanecido inicialmente na companhia com o intuito de regularizar a situação, também pediu demissão em julho. Em seguida, notificou extrajudicialmente Kos e o diretor Alexandre Rocha, que segue na empresa.


Responsável pela defesa de Kos e da Virgo, o advogado Rodrigo Tannuri sustenta que não houve nenhuma ilegalidade na conduta da securitizadora porque a Resolução 60 da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) não veda o uso do fundo de reserva naquela classe de investimento.


A defesa técnica sustenta que a operação não provocou prejuízo a qualquer investidor e o CRI onde os recursos foram alocados vem sendo honrado pela Oncoclínicas. Tannuri não quis dar declarações sobre o caso.


Ação civil


No dia 6 de agosto, a Virgo também entrou com uma ação pedindo uma ordem judicial de urgência para proibir o ex-executivo Eduardo Levy de entrar em contato com seus funcionários. A empresa alega que, após sua demissão em 8 de julho, Levy passou a telefonar e enviar mensagens de forma insistente — inclusive de madrugada — para a chefe de RH, o CEO e outros colaboradores, com ofensas e ameaças.


Segundo a inicial, Levy saiu da empresa porque, insatisfeito com a remuneração, passou a cobrar do controlador, Kos, uma participação societária na empresa e uma fatia da receita; a recusa teria levado ao seu desligamento. Conforme a Virgo, em seis meses o Levy recebeu cerca de R$ 1,35 milhão, o que dá uma média de R$ 225 mil por mês.


No pedido, a Virgo requeria uma "obrigação de não fazer" (em termos simples: uma ordem para que alguém pare de fazer algo), especificamente que Levy seja proibido de ligar, mandar mensagens ou abordar pessoalmente qualquer colaborador, sob pena de multa diária.


No dia 7, ao analisar a petição inicial, o juiz Claudio Salvetti D'Angelo, da Unidade de Processamento Judicial do Foro Regional de Santo Amaro, na zona sul da capital paulista, extinguiu a ação sem julgar o mérito por considerar que, como se tratava de pedido de medida protetiva, a matéria estava fora da competência cível.


Na semana passada, a defesa da Virgo interpôs apelação ao Tribunal de Justiça de São Paulo para que o caso seja analisado. O caso foi direcionado à 3ª Câmara de Direito Privado do TJ.


A coluna não conseguiu localizar Levy para ouvi-lo sobre as alegações da Virgo na ação civil. Como a ação foi extinta sem julgamento de mérito, ele não chegou a se manifestar nos autos.


Reportagem



Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.


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Agricultores dizem a Trump que China trocou soja dos EUA por brasileira



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Mudanças em Portugal

 *Sem explicar, Portugal para de conceder a brasileiros direitos previstos em tratado*


Há mais de dois meses o governo português parou de publicar a concessão de igualdade de direitos e deveres, que permite a brasileiros obterem os mesmos direitos que os portugueses, como votar e ocupar cargos públicos


O governo português interrompeu a publicação da concessão de igualdade de direitos e deveres a brasileiros de residentes legalmente no país europeu. A medida não é publicada desde o dia 16 de junho, conforme confirmado pelo Itamaraty. O governo brasileiro não soube dizer o motivo. O Estadão entrou em contato com a Embaixada do país, que não se manifestou.


Fruto de um acordo bilateral entre Brasil e Portugal, o Estatuto de Igualdade de Direitos e Deveres concede a brasileiros que o solicitam um conjunto de direitos trabalhistas, políticos e econômicos. A interrupção acontece em meio à discussão sobre a “lei anti-imigração” aprovada pelo parlamento português, mas declarada inconstitucional pela Justiça do país.


Dezenas de publicações de concessão do estatuto eram feitas mensalmente de forma regular desde março de 2024 no Diário da República português.


*O que muda?*


Com a concessão do estatuto, que pode ser solicitado pelo correio ou presencialmente por meio da Agência para a Integração Migrações e Asilo (AIMA), brasileiros maiores de idade com permissão para morar em Portugal podem concorrer a cargos públicos, fazer parte de sociedades em empresas e votar e se candidatar em eleições. As publicações mais recentes das concessões estavam levando cerca de um ano desde o momento da solicitação, que não tem impacto na permissão para residência no país (a qual o solicitante já deve possuir antes de solicitar o Estatuto).


A legislação que prevê a concessão de igualdade de direitos e deveres é proveniente do Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta entre a República Portuguesa e a República Federativa do Brasil, assinado em 2000. O advogado Magalhães Neto, que trabalha atendendo brasileiros em Portugal, afirma que acordos internacionais não podem ser revogados unilateralmente.


“Envolve relações diplomáticas então não acredito que Portugal vai parar de fazer a concessão do Estatuto de Igualdade de Direitos e Deveres. Se revogar, é muito perigoso porque fere o direito de diversos cidadãos que já deram entrada”, afirma. “Tendo a acreditar que seja uma desorganização interna (de Portugal) da política, estratégia e administração, levando em consideração que recentemente o governo português teve uma mudança nos cargos”, avalia.


*Portugal fecha o cerco para brasileiros*


A suspensão dessas emissões acontece em um contexto em que Portugal tem endurecido as regras para imigrantes no país, sendo a maioria deles brasileiros. Em julho, um projeto de lei (PL) que ficou conhecido como “lei anti-imigração” foi aprovado pelo parlamento português com medidas que endurecem significativamente a política migratória do país.


Antes de sancionar ou vetar a lei, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa fez uma consulta ao Tribunal Constitucional, o órgão máximo da Justiça portuguesa, que declarou que o PL contém trechos inconstitucionais. O presidente, então, devolveu o documento ao parlamento, para que esses trechos sejam reformulados.


A lei anti-imigração se soma a um movimento de fechamento do país a estrangeiros já adotado pelo governo português, que anunciou, em junho, que 34 mil imigrantes seriam notificados a sair do país, entre eles 5 mil brasileiros que tiveram o pedido de residência por manifestação de interesse negado. A partir desta quinta-feira, os imigrantes que não deixaram o país dentro do prazo estabelecido após a notificação poderão ser expulsos.


https://www.infomoney.com.br/mundo/sem-explicar-portugal-para-de-conceder-a-brasileiros-direitos-previstos-em-tratado/

Fabio Alves