sexta-feira, 23 de maio de 2025

Relatório Prisma Fiscal

 📊 *Resumo do Relatório Bimestral de Finanças Públicas (BTG Pactual, 22/05/2025)* 📈


O governo anunciou no 2º Relatório Bimestral de 2025 um ajuste fiscal mais rigoroso que o esperado:  

🔒 R$31,3 bi em ajustes: R$10,6 bi em bloqueios + R$20,7 bi em contingenciamento (bem acima dos R$5 bi previstos por BTG e R$10 bi do mercado).  

📈 Limite de gastos: Subiu R$12,4 bi com base na inflação (jun-dez/24), mas despesa total ainda cresceu R$5 bi em relação à LOA.  

✅ Meta fiscal: Ajustes garantem cumprimento da meta e limite de gastos em 2025. Contingenciamento pode ser revertido se arrecadação melhorar.  

📉 Receitas: Projeções de fontes incertas caíram de R$137 bi para R$46 bi (BTG previa R$53 bi). CARF, outorgas e desoneração zerados.  

💸 IOF: Aumento nas alíquotas de VGBL, crédito PJ e câmbio (arrecadação estimada: R$20 bi). Reação negativa no mercado, com chance de reversão na taxação de fundos no exterior.  

📊 Projeções macro: PIB real (2,38%), IPCA (5,04%), câmbio (R$5,81). Despesa com previdência (+R$16,6 bi) e BPC (+R$2,7 bi) ajustadas.  

⚖️ Resultado primário: Déficit projetado em -R$31 bi (meta), com margem apertada. Ajustes conservadores ampliam segurança contra choques.

🗣️  bit.ly/3zV4kL2

Abertura 2305

 *Abertura: Mercado reage a IOF e comunicado de Haddad em meio à cautela em NY antes de feriado*


São Paulo, 23/05/2025


Por Silvana Rocha e Maria Regina Silva*


OVERVIEW. Um comunicado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o aumento do IOF fica no foco local. Palestras do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e do diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos, Paulo Picchetti, no XI Seminário Anual de Política Monetária, promovido pela FGV IBRE, no Rio de Janeiro, também são destaques da agenda local nesta sexta-feira. Nos EUA, três dirigentes do Federal Reserve discursam e o mercado de Treasuries fecha mais cedo, às vésperas do feriado americano de Memorial Day, na segunda-feira,


NO EXTERIOR. Os índices futuros de Nova York amenizam as perdas diante de sinais de retomada das negociações tarifárias entre os EUA e seus parceiros comerciais. No entanto, a cautela fiscal persiste, pressionando os juros dos Treasuries e o dólar, em meio à expectativa por declarações de dirigentes do Fed antes do feriado e pela votação no Senado do projeto de orçamento de Donald Trump, um dos motivos para a recente perda do rating “triplo A” dos EUA pela Moody’s. Em meio às movimentações nos mercados, os EUA e a China tiveram o primeiro contato telefônico oficial desde a suspensão das tarifas e Trump conversou hoje com o primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, sobre a ida do ministro japonês da Revitalização Econômica, Akazawa Ryosei, a Washington para uma nova rodada de negociações comerciais. A União Europeia e os EUA planejam conversa hoje sobre tarifas em meio a divergências.  A presidente do BCE, Christine  Lagarde, afirmou que as  ameaças comerciais dos EUA podem ser oportunidade para as relações entre Canadá e UE. As bolsas europeias sobem majoritariamente, impulsionadas por dados positivos da Alemanha, cujo PIB foi revisado para cima, e do Reino Unido, onde o varejo superou expectativas.


POR AQUI. Os mercados locais seguem reagindo ao aumento do IOF anunciado pelo governo, que abrange seguros, crédito para empresas e câmbio, e o recuo do Ministério da Fazenda na alta do IOF para fundos nacionais no exterior (leia mais abaixo em O Que Sabemos). O ETF EWZ, principal fundo de índice brasileiro em Nova York, caía 1,31% no pré-mercado por volta das 6h46, indicando uma abertura negativa para o Ibovespa. O ADR do Itaú também recuava 0,91%; o da Petrobras cedia 0,76%, pressionado também pelo petróleo fraco, e o da Vale subia 0,52%, apesar da perda de 1,31% do minério de ferro na China. Pesquisa da XP com 60 investidores institucionais indica expectativa de forte desvalorização do real, com o dólar podendo chegar a R$ 5,85 na abertura. No entanto, a exclusão do IOF sobre operações de comércio exterior e fluxos de investimento estrangeiro pode moderar a reação no câmbio e juros, assim como a queda do dólar e dos retornos dos Treasuries no exterior. Galípolo fica em evidência, após o ministro Fernando Haddad afirmar que as medidas fiscais não foram negociadas com o Banco Central, contrariando declaração do secretário-executivo Dario Durigan. Haddad fará comunicado à imprensa às 8h15, em São Paulo.


NA POLÍTICA. Ambientalistas dizem que o Marco do Licenciamento Ambiental é o maior retrocesso legal em 40 anos. Para eles, é certo que o texto aprovado pelo Senado  - que voltou para análise da Câmara dos Deputados - será judicializado nos próximos meses. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que  o pedido de urgência para a votação do texto preocupa e que, se o Congresso não reparar o PL do Licenciamento, sua pasta trabalhará mecanismos no Executivo.  O ministro Alexandre de Moraes, do STF, manteve a prisão preventiva do general Walter Braga Netto no processo do golpe e a defesa do general disse que vai recorrer.


AGENDA.


GALÍPOLO E DIRIGENTES DO FED EM DESTAQUE -  Nos EUA, os dirigentes do Fed de St. Louis, Alberto Musalem, e de Kansas City, Jeffrey Schmid, participam de bate-papo às 9h30; e a diretora do Fed, Lisa Cook discursa em Conferência Anual de Mulheres em Macroeconomia às 13h.  O resultado das vendas de moradias novas no país em abril será publicado às 11h.  O mercado de Treasuries fecha às 15h. Na Alemanha, a dirigente do BCE, Isabel Schnabel, também  discursa às 13h.  No Brasil, a terceira previa do IPC-S de maio sai às 8h. O presidente do BC, Gabriel Galípolo, profere palestra às 14h; e o  diretor de Assuntos Internacionais, Paulo Picchetti, às 16h30. O presidente Lula recebe o presidente de Angola, João Lourenço, que faz viagem de Estado ao Brasil, às 10h. Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reúne-se em São Paulo com a presidente do Conselho de Administração da Magalu Cloud, Luiza Helena Trajano, às 10h. Às 18h, a montadora chinesa GAC faz o lançamento da marca no Brasil, com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin.


O QUE SABEMOS.


IMPACTO DO IOF -  O governo federal publicou no início da noite de ontem edição extraordinária do Diário Oficial da União (DOU) com mudanças no decreto do IOF. As mudanças abrangem três eixos: seguro, crédito para empresa e câmbio. De acordo com o Ministério da Fazenda, os ajustes no IOF podem gerar impacto na arrecadação de R$ 20,5 bilhões em 2025 e de R$ 41 bilhões em 2026. Dentre as mudanças, o tributo passará a incidir sobre entidades abertas de previdência complementar e outras entidades equiparadas a instituições financeiras.


EM TESE: EM TESE: O aumento inesperado do IOF para uma série de operações feita ontem pelo governo deve ofuscar o também surpreendente anúncio de contenção de R$ 31,3 bilhões em despesas do Orçamento para tentar cumprir a meta de déficit fiscal zero prevista para o ano. A expectativa é que a arrecadação com as novas alíquotas do tributo alcance R$ 20,5 bilhões este ano e a R$ 41 bilhões em 2026. Os valores dão a dimensão do impacto da proposta, que vai atingir não só empresas, como disse a Fazenda, mas também as pessoas físicas, principalmente por meio do mercado de câmbio. A medida poderia ajudar o Banco Central a conter o crédito e a combater a inflação, mas como foi algo grandiosos e inesperado, assustou e seu efeito ser negativo. Para o presidente da ABBC, entidade que representa os bancos médios e de nicho, Leandro Vilain, o aumento do IOF elevará o custo do crédito e terá impacto negativo na atividade econômica. A Warren avalia que o decreto tem dimensões amplas e o fato de o efeito fiscal estimado pelo governo ter pouco detalhamento representa um novo risco no cenário. A economista-chefe da Galapagos Capital, Tatiana Pinheiro, diz que o anúncio da alteração nas alíquotas do IOF não visou a harmonização das políticas fiscal e monetária, como afirmaram o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, e o secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas. Já o economista da XP Investimentos Tiago Sbardelotto, a elevação do IOF tem a vantagem de reforçar o trabalho da política monetária.  O economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, por sua vez, avalia que as mudanças no IOF trazem uma receita adicional que terá impacto "bastante relevante" para o fiscal em 2026, pois trará um impacto de encarecimento do crédito - potencialmente tendo efeito na concessão dos empréstimos.


REBAIXAMENTO DA SABESP - O UBS BB elevou o preço-alvo da Sabesp de R$ 118 para R$ 136, 17,3% acima do fechamento de ontem na B3. As perspectivas positivas, entretanto, não são suficientes para manter a recomendação, que passou de compra para neutra.


EM TESE:  As ações da Sabesp podem reagir positivamente à elevação, ainda que acumule ganhos fortes em 2025, de quase 35%. Mesmo após a privatização, o UBS BB avalia que o papel da empresa ainda tem espaço para subir. A Sabesp  era negociada ontem na faixa de R$ 118 ante R$ 67 antes da oferta. Mas, com iniciativas de redução de custos, oportunidades de crescimento, otimização da estrutura de capital e crescimento orgânico, há ainda um potencial de valorização de cerca de 15% em relação ao preço atual das ações, segundo o banco. As perspectivas positivas, entretanto, não são suficientes para manter a recomendação, que passou de compra para neutra.


OVERNIGHT.


CONSULTA SOBRE IOF - O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, foi consultado pelo Palácio do Planalto sobre sua avaliação a respeito das medidas anunciadas ontem pelo Ministério da Fazenda relacionadas ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A "consultoria" foi feita antes de a pasta recuar das novas alíquotas sobre transferências de recursos destinadas à aplicação em fundos de investimento no exterior e de manter em 1,1% a alíquota sobre remessas destinadas a investimentos por pessoas físicas. Sua avaliação teria sido "decisiva", segundo fontes. Porém, no X, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que nenhuma medida fiscal anunciada pela nesta quinta-feira pasta foi negociada com o Banco Central.


EMISSÃO - O conselho de administração da Vale aprovou ontem, por unanimidade, a 11ª emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, da espécie quirografária, no valor de R$ 6 bilhões. A emissão será realizada em três séries, com prazos de sete anos, dez anos e 12 anos, respectivamente. Os títulos terão valor nominal unitário de R$ 1.000.


BANCO PAN - O Banco Pan informou que Leonardo Ricci Scutti renunciou ao cargo de diretor de Relações com Investidores nesta quinta-feira. André Luiz Calabro, que ocupa também o posto de diretor presidente da companhia, foi indicado para substituí-lo.


GRIPE AVIÁRIA - O Ministério da Agricultura descartou a ocorrência de influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) em um aviário comercial de Ipumirim, no oeste de Santa Catarina. Ao mesmo tempo, há 12 investigações de suspeita de gripe aviária em andamento no País, conforme atualização mais recente da plataforma de Síndrome Respiratória e Nervosa das Aves. Os dados foram atualizados às 19h de ontem e indicam que as coletas de amostras já foram realizadas, mas ainda não há resultado laboratorial conclusivo.


LCIS E LCAS - O Conselho Monetário Nacional reduziu o prazo mínimo de vencimento das Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e das Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) emitidas sem a previsão de atualização por índice de preços de nove meses para seis meses. As mudanças foram deliberadas em reunião ordinária do CMN ontem. O CMN também elevou os porcentuais de recursos de diferentes fontes que devem ser aplicados obrigatoriamente ao crédito rural, o que é conhecido como exigibilidade.


ACORDO FECHADO - A Unigel Participações celebrou acordo com a Petrobras em audiência no Tribunal Arbitral da Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional (CCI), que prevê o encerramento de todos os contratos entre as partes, inclusive os contratos de arrendamento das plantas de fertilizantes (FAFENs), localizadas na Bahia e em Sergipe. Com isso, será restabelecida a posse dessas unidades pela estatal em data a ser definida pelas partes.


ALINHAMENTO COMERCIAL - O vice-secretário de Estado dos Estados Unidos, Christopher Landau, e o vice-ministro executivo das Relações Exteriores da China, Ma Zhaoxu, conversaram por telefone. Durante a ligação, as autoridades reconheceram a importância do relacionamento bilateral para os povos de ambos os países e do mundo, discutiram uma ampla gama de questões de interesse mútuo e concordaram sobre a importância de manter as linhas de comunicação abertas.


RETROCESSO NOS EUA - O setor de energia solar em telhados, que já enfrentava dificuldades, sofreu um golpe potencialmente fatal depois que a Câmara dos Representantes aprovou uma versão mais rígida do amplo pacote de impostos e gastos do presidente Trump. O projeto de lei elimina importantes créditos de energia renovável, como esperado, mas inclui disposições mais rigorosas e prazos mais breves para as mudanças, o que foi considerado sombrio para energia solar em telhados. E segundo a Reuters, Trump assinará ordens executivas na sexta-feira com o objetivo de impulsionar o setor de energia nuclear.


PENNY - O governo dos EUA está eliminando gradualmente o centavo, o penny, cujo uso já dura mais de dois séculos. O Departamento do Tesouro deixará de colocar novas moedas de um centavo em circulação no início do ano que vem. Depois disso, não haverá centavos suficientes para usar em transações corriqueiras em dinheiro, e as empresas precisarão começar a arredondar para cima ou para baixo os valores.


AMEAÇAS COMERCIAIS - A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse que "em toda ameaça há uma oportunidade" e que as tarifas dos Estados Unidos podem servir para melhorar as relações entre o Canadá e a União Europeia. Aliás, hoje a União Europeia e os EUA pretendem fazer um balanço das negociações tarifárias bilaterais, informa a Bloomberg.


E NOS MERCADOS.


TREASURIES - Os rendimentos dos Treasuries operam em baixa, estendendo perdas de ontem, enquanto investidores nos EUA aguardam dados sobre vendas de moradias novas e comentários de autoridades do Federal Reserve (Fed). Por causa do feriado de Memorial Day, que os EUA comemoram na segunda-feira, os negócios no mercado de Treasuries serão encerrados mais cedo hoje. Às 7h33, o juro da T-note de 2 anos caía a 3,984%, ante 3,992% no fim da tarde de ontem em Nova York. O rendimento da T-note de 10 anos recuava a 4,526%, após 4,540%, e o do T-bond de 30 anos diminuía a 5,033% (de 5,052%).


FUTUROS DE NY - Os índices futuros das bolsas de Nova York operam em queda modesta, após o fechamento divergente e de variações contidas de ontem, em dia de agenda fraca antes do feriado de Memorial Day. Às 7h34, no mercado futuro, o Dow Jones cedia 0,12%, o S&P 500 caía 0,05% e o Nasdaq tinha recio de 0,06%.


EUROPA - As bolsas europeias operam sem direção única na manhã desta sexta-feira, tentando se recuperar parcialmente de perdas de ontem, na esteira de dados locais positivos e enquanto investidores aguardam novidades de negociações tarifárias dos EUA. O PIB da Alemanha cresceu mais do que inicialmente estimado no primeiro trimestre. O setor varejista do Reino Unido, por sua vez, garantiu aumento mensal de 1,2% nas vendas de abril, surpreendendo analistas que previam queda no período. Às 7h36, a Bolsa de Londres subia 0,02%, a de Paris caía 0,47% e a de Frankfurt avançava 0,20%.


PETRÓLEO -  Os contratos futuros do petróleo operam com indefinição após perdas recentes, quando foram pressionados por temores de que a Opep+ implemente um novo grande aumento em sua produção em julho, em um momento em que o mercado já enfrenta excesso de oferta. Às 7h38, o barril do petróleo WTI para julho subia 0,05% na Nymex, a US$ 63,95, enquanto o do Brent para agosto tinha alta de 0,10% na ICE, a US$ 61,26.


MOEDAS - O dólar opera em baixa significativa antes moedas de outras economias desenvolvidas, revertendo ganhos de ontem, após a revisão para cima no PIB alemão e o desempenho melhor do que o esperado do varejo do Reino Unido. Às 7h39, o euro subia US$ 1,135, ante US$ 1,128 no fim da tarde de ontem em Nova York. A libra avançava a US$ 1,349, de US$ 1,3428, e o dólar caía a 143,31 ienes, ante 144,00 ienes na véspera. Já o índice DXY do dólar - que acompanha as flutuações da moeda americana em relação a outras seis divisas relevantes - tinha queda de 0,62%, a 99,34 pontos, após alta de 0,40%, a 99,96 pontos ontem.


ÁSIA - As bolsas asiáticas fecharam sem direção única nesta sexta-feira, enquanto investidores seguiram avaliando os efeitos das políticas dos EUA nas áreas fiscal e comercial. O índice japonês Nikkei subiu 0,47% em Tóquio e o Hang Seng avançou 0,24% em Hong Kong, enquanto os mercados de Seul e de Taiwan registraram perdas apenas modestas, com baixa de 0,06% do sul-coreano Kospi e declínio de 0,09% do Taiex. Na China, o Xangai Composto recuou 0,94% e o menos abrangente Shenzhen Composto caiu 0,89%. Na Oceania, o S&P/ASX 200 da bolsa australiana subiu 0,15% em Sydney.


*colaborou Sergio Caldas

BDM Matinal Riscala 2305

 *Rosa Riscala: Fazenda recua do aumento do IOF*


… Na véspera do feriado de Memorial Day nos Estados Unidos, o mercado de títulos fecha mais cedo hoje, às 15h, em mais um pregão de agenda esvaziada no exterior, com as atenções voltadas para a quinta rodada de negociações nucleares entre americanos e iranianos. Em NY, vendas de moradias novas são o único destaque, além das falas de Fed boys repercutindo a aprovação do projeto tributário de Trump nas expectativas dos juros. No noticiário corporativo, assembleia de acionistas da JBS decide a dupla listagem das ações e Galípolo faz palestra às 14h, enquanto repercute o recuo da Fazenda sobre o aumento do IOF para remessas de fundos de investimentos ao exterior, anunciado poucas horas antes, na tarde dessa 5ªF, e que repercutiu muito mal no mercado e prometia estragos no câmbio.


… Pelas novas regras, que foram revogadas segundo nota da Fazenda no X (antigo Twitter), a medida uniformizava as alíquotas incidentes nessas operações em 3,5%, incluindo sobre remessas para fundos, que atualmente é zero.


… Na nota, o Ministério da Fazenda disse que a revogação ocorreu após “diálogo e avaliação técnica”.


… A medida foi mal-recebida pelo mercado porque diversos fundos diversificaram suas aplicações ao enviar recursos para o exterior. É um dinheiro de pessoas residentes no Brasil. É estratégia de vários fundos de investimento multimercado aplicar fora do País.


… Um aumento de imposto de zero para 3,5% em cada remessa seria um desincentivo para qualquer aplicação.


… De acordo com um técnico do governo ouvido pelo Globo, o decreto foi reavaliado “item a item”.


… O Palácio do Planalto chamou uma reunião às pressas na noite de ontem com os ministros Rui Costa, Gleisi Hoffmann, Sidônio Palmeira, além de técnicos jurídicos e da equipe econômica. O ministro Fernando Haddad já tinha viajado para São Paulo.


… Quanto ao item relacionado ao IOF sobre remessas ao exterior por parte de pessoas físicas, será incluído no decreto o esclarecimento que, remessas destinadas a investimentos continuarão sujeitas à alíquota atualmente vigente de 1,1%, sem alterações.


… “É um ajuste na medida, feito com equilíbrio, ouvindo o País e corrigindo rumos sempre que necessário”, diz a nota postada às 23h31.


… No after hours em NY, os ADRs das ações brasileiras operaram com quedas expressivas, refletindo a decepção com o aumento do IOF.


… No fechamento, Itaú caía 3,33%; Bradesco, -2,71% (PN) e -2,83% (ON); Nu Holdings, -2,12%; XP, -2,73%; além de Petrobras, -1,10% (ON) e -0,63% (PN). O EWZ, principal fundo de índice (ETF) do País negociado nos EUA, perdeu 3,71% no pós-mercado.


… Levantamento feito pela equipe de estratégia da XP com 60 investidores institucionais indicou que o real teria forte desvalorização na abertura do mercado nesta 6ªF. A expectativa dos investidores institucionais é de que o dólar chegasse a R$ 5,85.


… A tributação de investimentos no exterior, revogada pelo governo, era a principal preocupação.


… O corte de R$ 31,3 bilhões, entre bloqueios (R$ 10,6 bi) e congelamentos (R$ 20,7 bi), anunciado pelo Relatório de Receitas e Despesas veio bem acima do esperado (R$ 10,0 bilhões na mediana).


… Quando a notícia vazou, antes do anúncio, colocou os juros e o dólar em rota firme de queda.


… Os ativos, no entanto, zeraram os ganhos e os negócios viraram de humor após a publicação da MP no DOU, que confirmou o aumento do IOF. O governo esperava arrecadar R$ 20,5 bilhões com as mudanças no IOF neste ano e R$ 41 bilhões em 2026.


… Dentre outras mudanças, o IOF passará a incidir sobre entidades abertas de previdência privada (VGBL) e entidades equiparadas a instituições financeiras, além de aumentar a base de cálculo e a alíquota reduzida do IOF nas operações de empréstimo.


… No câmbio, os ajustes no IOF ainda alcançam várias operações, como as ligadas a cartões de crédito e de débito internacional.


… Na entrevista no final da tarde, Haddad não entrou em detalhes sobre o IOF: “Não é nada de outro mundo. A verdade virá à tona”.


… À noite, o ministro foi ao X e, em outra declaração que surpreendeu, Haddad contradisse declarações de seus secretários, escrevendo que: “Sobre as medidas fiscais anunciadas, esclareço que nenhuma delas foi negociada com o Banco Central.”


O BC NÃO GOSTOU – Na entrevista mais cedo, todos os seus secretários sinalizaram um entendimento com o BC.


… Dario Durigan afirmou que o ajuste no IOF será importante para atingir o equilíbrio fiscal. “A gente adotou esse ajuste no IOF em coordenação e em harmonia com o que a gente tem visto na política monetária.”


… Também o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, sugeriu uma coordenação com o BC para as mudanças no IOF, dizendo que as medidas vão apoiar o fim das altas da Selic e colaborar para a redução dos juros em um horizonte “não tão distante”.


… Na opinião dele, as mudanças no IOF vão ajudar a harmonizar as políticas monetária e fiscal em duas frentes: pelo seu impacto positivo na arrecadação, e pela desaceleração do crédito, “colaborando com o trabalho do Banco Central”.


… Ainda o secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, disse que as medidas garantem a harmonização da política fiscal com a política monetária, colaborando com os esforços do BC na convergência da inflação às metas estabelecidas pelo CMN.


… Se a intenção foi agradar o BC, o tiro saiu pela culatra. Segundo a Folha, Galípolo foi pego de surpresa pelas alterações no IOF. No Valor, Haddad apresentou a Galípolo a proposta de aumento do IOF em reunião tensa na 3ªF, já que Galípolo não concordava com o plano.


… No Globo, nota do jornalista Lauro Jardim já antecipava à noite que os técnicos da equipe econômica avaliavam a péssima repercussão das mudanças do IOF, podendo revogar algumas das medidas anunciadas nesta 5ªF à tarde, e que entram em vigor hoje, 23/5.


RECEITAS SUPERESTIMADAS – Em uma boa limpeza do Orçamento, a equipe econômica anunciou redução de R$ 81,5 bilhões de receitas extraordinárias previstas e que não se confirmaram. Esses cortes fazem parte do pacote de R$ 168,5 bilhões no PLOA de 2025.


… Voto de qualidade do CARF: Governo previa arrecadação de R$ 28 bilhões com essa proposta e zerou a previsão.


… Transações tributárias da Receita: O governo previa arrecadação de R$ 31 bilhões e reduziu a previsão para R$ 5 bilhões.


… Controle de benefícios tributários: Governo previa arrecadação de R$ 20 bilhões com a Declaração de Incentivos, Renúncias, Benefícios e Imunidades de Natureza Tributária (DIRB) e zerou a previsão.


… Aumento da CSLL: O governo previa um aumento da CSLL como compensação relacionada à desoneração, que geraria R$ 7,5 bilhões, e zerou a proposta, que não foi aprovada pelo Congresso.


… Outorga das ferrovias: O governo previa uma arrecadação de cerca de R$ 8 bilhões em outorgas das ferrovias e zerou a previsão.


… A meta de resultado primário do Governo Central de 2025 é de resultado neutro, de 0% do PIB, conforme definido no arcabouço fiscal, que prevê uma banda de tolerância de 0,25pp. O Orçamento foi aprovado pelo Congresso com um déficit de R$ 15 bilhões.


AS NOVAS PROJEÇÕES – A projeção da equipe econômica para as receitas primárias totais da União neste ano oscilou de R$ 2,930 trilhões para R$ 2,899 trilhões. Já a estimativa para a receita líquida passou de R$ 2,360 trilhões para R$ 2,318 trilhões.


… Do lado das despesas primárias, a previsão de gasto total em 2025 subiu de R$ 2,390 trilhões para R$ 2,415 trilhões. Com as revisões do Relatório, o volume de gastos obrigatórios passou de R$ 2,169 trilhões para R$ 2,205 trilhões.


… As despesas discricionárias variaram de R$ 221,1 bilhões para R$ 210,6 bilhões neste ano.


… O governo decidiu pela abertura do crédito adicional de R$ 12,4 bilhões que foi incorporado no limite de gastos do Orçamento/2025. Essa possibilidade existe por causa da variação da inflação estimada ao enviar a peça e a realizada em 2024.


… Os ministérios da Fazenda e do Planejamento atualizaram mais indicadores da grade de parâmetros macroeconômicos utilizados nos cálculos da execução orçamentária de 2025 no primeiro Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do ano.


… A equipe econômica aumentou a estimativa para a Selic do ano de 11,67% para 14,28%, uma alta de 2,62pp frente à LOA, e a projeção para o câmbio médio deste ano, que passou de R$ 5,70 para R$ 5,81.


… A previsão para a alta da massa salarial nominal passou de 9,49% para 12,05%.


…. Já a estimativa para o preço médio do barril de petróleo no mercado internacional caiu de US$ 72,87 para US$ 65,09.


… Nesta semana, a equipe econômica divulgou a nova projeção para o crescimento da economia neste ano, que foi de 2,45% para 2,38%, ajustando em alta a projeção oficial para a inflação medida pelo IPCA, que passou de 4,9% para 5,0% – acima do teto da meta.


… Já a estimativa para o INPC – utilizado para a correção do salário-mínimo – passou de 4,80% para 4,90%.


GRIPE AVIÁRIA – Há 12 investigações de suspeita, conforme atualização mais recente da pasta da Agricultura. Duas delas envolvem plantas comerciais, localizadas nos municípios de Aguiarnópolis (TO) e Ipumirim (SC).


… Porém, laudo oficial divulgado pelo governo do Estado de Santa Catarina descartou o caso de Ipumirim.


MAIS AGENDA – A prévia do IPC-S de maio abre o dia (8h). O diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do BC, Paulo Picchetti, faz palestra depois de Galípolo, às 16h30, em seminário da FGV IBRE.


… Nos EUA, as vendas de moradias novas em abril saem às 11h. Os dados de petróleo da Baker Hughes vêm às 14h. Entre os Fed boys, falam Alberto Musalem e Jeffrey Schmid (9h30), além de Lisa Cook (13h).


NA FORÇA DO ÓDIO – Anunciadas após o fechamento, as mudanças do IOF provocaram picos de estresse nos negócios futuros. Os investidores negociaram loucamente no pregão estendido, temendo pelos impactos.


… A percepção foi de que o aumento do IOF poderia antecipar a fuga de capital do País, justo quando a bolsa doméstica vinha faturando alto com o fluxo da rotação de portfólios depois da guerra comercial de Trump.


… O câmbio futuro acusou a pressão. O dólar/jun acelerou o fôlego de alta, chegou a operar na faixa de R$ 5,78 nas máximas e fechou com ganho firme de 1,87%, a R$ 5,7635. Hoje promete devolver com o recuo da Fazenda.


… Mergulhando às mínimas, o Ibovespa futuro tocou na região dos 135 mil pontos, derretendo quase 3%, antes de reduzir parte do pessimismo. No fechamento, porém, ainda afundava 1,93%, para os 136.375 pontos.


… Os contratos futuros dos juros, que ainda estavam nos últimos minutos do pregão regular no momento da entrevista coletiva do IOF, também registraram instabilidade e terminaram o dia embutindo prêmios de risco.


… Mais cedo, a curva aliviou 20pb com a melhora dos Treasuries e quando vazou a notícia de que o governo apresentaria contenção de R$ 31 bi nos gastos, mais que o triplo do estimado pelos economistas (R$ 10 bi).


… Porém, durante a entrevista coletiva sobre o relatório bimestral, ficou claro que o valor visa atender o piso da meta, que não mira no centro, e que o governo federal subestimou as despesas e superestimou as receitas.


… Logo na sequência, a informação do ministro Renan Filho (Transportes) de que o presidente Lula assinaria o aumento do IOF elevou o desconforto no DI, que como se viu, voltou a piorar perto do fechamento.


… O DI para janeiro de 2026 terminou subindo para 14,770% (de 14,750% no fechamento anterior); Jan/27, a 14,05% (de 14,02%); e Jan/29, a 13,720% (de 13,665%). Jan/31 (13,890%) e Jan/33 (13,960%) ficaram estáveis.


… No câmbio, o dólar passou o dia na gangorra, em meio ao noticiário fiscal. Operou abaixo dos R$ 5,60 na mínima do dia (R$ 5,5961), quando circularam as informações em off de como viria o relatório bimestral.


… Ao longo do pregão, o entusiasmo com o bloqueio elevado de despesas se dispersou e o mercado passou a olhar o copo “meio vazio”. O suspense com o que o IOF reservaria mais tarde ajudou na virada do humor.


… O dólar à vista fechou em +0,33%, a R$ 5,6610, para mais tarde saltar nas negociações do câmbio futuro.


#TMJ – Também o Ibov não foi poupado de uma piora automática com a surpresa do IOF, combinada às dúvidas  sobre o compromisso do governo com o equilíbrio fiscal. O índice à vista inverteu o sinal para queda à tarde.


… Fechou em baixa de 0,44%, aos 137.272,59 pontos, com volume de R$ 24,7 bilhões. Entre as blue chips das commodities, Petrobras ON (-1,33%, a R$ 33,43) e PN (-1,32%, a R$ 31,33) acompanharam a queda do petróleo.


… Mesmo com o mercado da commodity já saturado de oferta, como revelam os estoques, corre o rumor de que a Opep+ planeja um terceiro aumento consecutivo da produção, desta vez de 411 mil bpd, em julho.


… O barril do Brent para vencimento em julho registrou recuo de 0,72%, a US$ 64,44 por barril, na ICE londrina.


… Em relatório, o Goldman Sachs observa que o petróleo caiu US$ 20 desde meados de janeiro, refletindo a oferta maior da Opep e as expectativas de demanda mais fraca com o risco de desaquecimento econômico.


… Vale ON (-0,75%, a R$ 54,23) terminou no vermelho, apesar da leve alta de 0,14% do minério de ferro.


… Entre os grandes bancos, apenas Bradesco PN (+0,26%, a R$ 15,45) marcou ganho discreto, enquanto seus pares caíram: Itaú PN (-0,69%, a R$ 37,27); BB ON (-0,83%, a R$ 25,05); e Santander Unit (-0,80%, a R$ 29,68).


FED É VIDA – Comentário do dirigente do BC americano Christopher Waller de que o juro nos EUA pode cair no 2º semestre, se as tarifas estabilizarem perto 10%, salvaram NY do estresse com o projeto tributário de Trump.


… Na reviravolta positiva do sentimento do investidor provocada pelo Fed, os juros dos Treasuries saíram das máximas registradas antes com a aprovação pela Câmara do plano de corte de impostos, que vai ao Senado.


… O rendimento do T-Bond de 30 anos fechou em queda, a 5,052%, contra 5,083% na véspera, depois de ter cravado 5,15% mais cedo, no auge da tensão com os déficits fiscais e a sustentabilidade da dívida pública.


… O juro da Note de 2 anos voltou para baixo de 4%, caindo a 3,992%, de 4,007% no dia anterior. A taxa do papel de 10 anos recuou para 4,540%, depois de ter fechado em 4,586% no pregão de 4ªF.


… Apesar da guinada dos yields dos Treasuries, as bolsas em NY vacilaram na reta final dos negócios. A esperança de relaxamento monetário divide a cena com o risco fiscal, agravado pelo downgrade da Moody´s.


… O Dow Jones fechou estável, aos 41.859,09 pontos; o S&P 500 também anulou os ganhos registrados durante o pregão e voltou ao zero a zero (-0,04%), a 5.842,01 pontos; e o Nasdaq limitou a alta a 0,28% (18.925,73).


… Em teoria, uma potencial queda seria esperada para o dólar ontem, seja por causa da aposta no Fed dovish ou porque o orçamento de Trump venceu as resistências e passou (raspando) na Câmara, elevando o risco fiscal.


… Mas a moeda americana parou de cair após três quedas seguidas e testou uma reação, com o índice DXY subindo 0,40%, a 99,96 pontos. O euro recuou 0,43%, a US$ 1,1287, e a libra avançou de leve, a US$ 1,3428.


EM TEMPO… VALE fará oferta pública de R$ 6 bilhões em debêntures simples, divididas em 3 séries, com prazos de 7, 10 e 12 anos.


PETROBRAS recebeu autorização da ANP para iniciar operação de nova plataforma no Campo de Mero…


… A estatal e a UNIGEL celebraram um acordo no Tribunal de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional para dar fim à disputa sobre fábricas de fertilizantes. Plantas na Bahia e em Sergipe voltam a ser da Petrobras.


SABESP. O UBS BB rebaixou a recomendação, de compra para neutra, mas elevou o preço-alvo de R$ 118 para R$ 136, o que representa um potencial de alta de 17,3% contra o valor de fechamento das ações nesta 5ªF.


RAÍZEN informou que o Norges Bank passou a administrar 67.957.785 ações preferenciais de emissão da companhia. O montante corresponde a 5,001% do total.


MOTIVA. A ANTT determinou a manutenção da companhia no controle da concessionária de rodovias MSVia, que “tem um impacto mínimo” na alavancagem da ex-CCR, segundo o CEO da companhia, Miguel Setas.


BANCO PAN. Leonardo Ricci Scutti renunciou ao cargo de diretor de RI; diretor-presidente, André Luiz Calabro, acumulará função.


PATRIA adquiriu cerca de R$ 2,5 bilhões em fundos imobiliários da Genial.

IOF x BCB

 https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2025/05/presidente-do-bc-galipolo-foi-pego-de-surpresa-e-e-contra-aumento-no-iof.shtml


*Presidente do BC, Galípolo foi pego de surpresa e é contra aumento no IOF*


_Haddad contraria auxiliares e afirma que medidas anunciadas nesta quinta não foram negociadas com o Banco Central_


Adriana Fernandes

Nathalia Garcia

Idiana Tomazelli


O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, foi pego de surpresa pelas alterações na tributação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Ele não foi informado da medida e é contrário às alterações na tributação anunciadas nesta quinta-feira (22) pelo Ministério da Fazenda, de acordo com três pessoas a par do tema ouvidas pela reportagem.


Durante a entrevista, a Folha perguntou ao secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, se o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tinha conversado sobre a edição do decreto do IOF com Galípolo. Durigan respondeu que os dois conversaram em encontro que tiveram na última terça-feira (20).


O secretário do Tesouro, Rogério Ceron, chegou a dizer que as alterações no IOF iriam colaborar com o trabalho do BC de "acomodação da dinâmica do crédito" e apoiar no processo de encerramento do ciclo de altas dos juros e convergência da inflação para o centro da meta de 3%. Dessa forma, também contribuiria para a redução da taxa de juros.


Quase duas horas após o fim da entrevista coletiva, Haddad publicou em seu perfil no X (ex-Twitter) uma breve mensagem que contradiz as declarações de seus auxiliares. "Sobre as medidas fiscais anunciadas, esclareço que nenhuma delas foi negociada com o BC", escreveu.


O ministro da Fazenda participou do anúncio do congelamento de R$ 31,3 bilhões no Orçamento, mas não permaneceu na parte da entrevista que tratou do aumento do IOF.


Em discussões realizadas no passado pela área econômica sobre o IOF, Galípolo já tinha se manifestado veementemente contra qualquer mudança no imposto, que é regulatório e de competência do Poder Executivo, podendo ser alterado dentro dos limites da legislação por meio de decreto, sem precisar passar pelo Congresso Nacional.


O dólar subiu 0,35% nesta quinta-feira (22), cotado a R$ 5,660. Os últimos momentos do pregão repercutiram a divulgação do relatório de receitas e despesas do governo federal, que anunciou congelamento de R$ 31,3 bilhões e aumento no IOF.


Após o anúncio, os ativos locais chegaram a registrar melhora, mas pioraram logo depois. O dólar reverteu as perdas, e a Bolsa, que antes subia, fechou em queda de 0,44%, a 137.272 pontos.


A piora acontece após uma fala do presidente do BC, na última segunda-feira (19), ter contribuído para a redução das taxas de juros longas, movimento que não acontecia há muito tempo. Na ocasião, Galípolo afirmou que a autoridade monetária vê sentido em manter a taxa básica de juros, a Selic, hoje em 14,75% ao ano, mais alta por mais tempo.


O chefe da autoridade monetária declarou ainda que o BC dependerá de novos dados sobre a atividade econômica e a inflação para decidir o que fará com os juros nas próximas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC.

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Bankinter Portugal Matinal

 Análise Bankinter Portugal 


SESSÃO: Sell-off de ativos americanos devido a um fraco leilão de obrigações americanas a 20 anos. Foi o segundo sinal de alerta ontem. O outro foi a péssima inflação no Reino Unido, publicada à primeira hora: +3,5% vs. +3,3% esperado vs. +2,6% março, com Subjacente +3,8% nada menos vs. +3,6% vs. +3,4%. Em pouco tempo, já não será possível continuar a ignorar o aumento da inflação que estimamos que irá acontecer no 2.º semestre devido aos impostos alfandegários. Schnabel e Knot, conselheiros ultra-séniores do BCE, advertiram ontem sobre isso. O fraco leilão de obrigações americanas é simplesmente consequência direta da redução de impostos que Trump tenta que o Congresso aprove. Insistimos que, segundo os nossos cálculos, as poupanças de despesas de Trump apenas supõem 0,06Bn $/ano ou 0,6Bn $ em 10 anos, que poderão somar-se ao ganho dos impostos alfandegários (0,07/0,10Bn $/ano ou 0,7/1,0Bn $ em 10 anos, no melhor dos casos), sendo essa soma muito inferior aos 3Bn $/5Bn $ de menores receitas fiscais também em 10 anos devido às descidas de impostos que propõe. Isso levará os EUA ao terreno de irresponsabilidade fiscal (Dívida/PIB desde 120% para 130%/135%), debilitando o USD e dificultando a emissão de dívida soberana. E uma prova disto foi o leilão de ontem. 


Nada disso será neutral para a bolsa americana, visto que as yields das suas obrigações irão subir (ontem +7 p.b. no T-Note, até 4,58%) e isso fará com que, para os mesmos lucros/cash flows livres, as empresas valham menos porque a taxa de avaliação exigida será mais elevada. A Europa pode ficar à margem disto durante um tempo, mas, no final, as obrigações europeias também irão elevar as suas yields, tanto por contágio (ontem: Bund +5,7 p.b., até 2,605%; Espanha +6,9 p.b., até 3,211%), como por reconhecimento do aumento da inflação. Mas, além disso, os lucros serão inferiores, porque numa guerra alfandegária, todas as partes perdem e os PIBs abrandam. As revisões em baixa dos EPSs já começaram. Isto é, avaliações inferiores. E isso é incompatível com subida de bolsas. Não é nenhum desastre, nem tampouco uma recessão, mas um contexto mais fraco que deveria resultar num ajuste das bolsas, não na sua subida contínua.


HOJE é o dia dos PMIs em todo o mundo e amanhã da inflação japonesa, que provavelmente se manterá perto dos +3,6% atuais, o que é excessivo para o Japão. Os PMIs na Índia saíram bons esta madrugada (Composto 61,2 vs. 59,7), mas já se esperava, na medida em que a índia vai substituindo progressiva e parcialmente a China. Os PMIs europeus saem ao longo do dia de amanhã e poderão melhorar um pouco, mas o Industrial irá manter-se em zona de contração económica. O IFO, às 9 h, também irá melhorar um pouco. E às 14:45 h, o PMI Industrial americano, com risco de retroceder um pouco até abaixo de 50, nível que separa a expansão da contração económica. 


CONCLUSÃO: Os PMIs não serão maus, mas a Europa deve digerir o golpe de ontem e Wall St. devido ao mau leilão de obrigações americanas. Isso significa bolsas europeias ca.-0,5%/-0,7% e depois Nova Iorque melhor, talvez a subir um pouco como contrarreação inercial às quedas de ontem. O USD irá esperar um pouco em 1,135/€ antes de se dirigir para 1,140/€. As bolsas começarão a interiorizar os avisos que lhes chegam.


S&P500 -1,6% Nq-100 -1,4% SOX -1,8% ES50 0% IBEX -0,1% VIX 20,9% Bund 2,66% T-Note 4,58 Spread 2A-10A USA=+58pb B10A: ESP 3,28% PT 3,15% FRA 3,32% ITA 3,65% Euribor 12m 2,084% (fut.2,098%) USD 1,133 JPY 162,3 Ouro 3.331$ Brent 64,6$ WTI 61,3$ Bitcoin +3,1% (110.823$) Ether +1,3% (2.617$). 


FIM

BDM Matinal Riscala

Haddad anuncia medidas para cumprir meta fiscal

 Resumir

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*



[22/05/25]


… A Câmara dos EUA varou a madrugada negociando o projeto de Trump que corta impostos e aumenta gastos para tentar votar ainda nas próximas horas. Índices PMI de atividade industrial e de serviços abrem o dia na Alemanha, Zona do Euro, Reino Unido e nos EUA, onde sairão também pedidos de auxílio-desemprego e vendas de casas usadas. O Fed boy do dia é John Williams (15h). Não há balanços relevantes previstos em NY – que monitora os riscos do elevado déficit fiscal. Aqui, em mais um pregão de agenda sem indicadores, será realizada reunião do CMN, mas a expectativa é para o Relatório Bimestral de Receitas e Despesas, que deverá vir com as medidas preparadas pela equipe econômica para permitir o cumprimento da meta do ano. Haddad e Tebet concedem entrevista às 15h.


… Meia hora antes, às 14h30, o primeiro Relatório de 2025, referente ao segundo bimestre, será divulgado.


… Além dos ministros Fernando Haddad e Simone Tebet, participam da coletiva os secretários-executivos da Fazenda, Dario Durigan, e do Planejamento, Gustavo Guimarães, Clayton Montes (Orçamento), Rogério Ceron (Tesouro Nacional) e Robinson Barreirinhas (Receita).


… De acordo com pesquisa do Broadcast, a estimativa do mercado aponta para um congelamento de R$ 10,0 bilhões no Orçamento/2025, segundo a mediana. As projeções de 17 casas consultadas variam de R$ 5,0 bilhões a R$ 28,0 bilhões.


… Já levando em conta os efeitos desse congelamento, a estimativa intermediária para o resultado primário do governo central em 2025 é de déficit de 0,26% do PIB, descontados os créditos extraordinários para pagamentos de precatórios da União.


… A pesquisa também questionou o mercado sobre qual seria o ajuste total necessário ao longo do ano para que o governo atinja o déficit zero em 2025. A mediana indica uma necessidade bem maior entre bloqueios e contingenciamentos, de R$ 40,0 bilhões.


… Se o alvo for a banda inferior do arcabouço, déficit de até 0,25% do PIB, a necessidade seria de um congelamento de R$ 15,0 bilhões.


… Embora Haddad tenha descartado novos gastos, as medidas a serem anunciadas hoje não contemplam todas as iniciativas do pacote do Planalto para tentar reverter a queda de popularidade do presidente Lula. Nem tudo está no Orçamento.


… A MP do setor elétrico, assinada nesta 4ªF e apresentada por Lula a David Alcolumbre, corre por fora, já que a ideia é que os custos da gratuidade das contas de luz para 60 milhões de pessoas sejam compensados com o aumento da energia para quem pode pagar.


… Em reunião com líderes do Congresso e ministros, o presidente disse que a reforma do setor elétrico busca fazer justiça tarifária no País e “garantir liberdade para o consumidor escolher de onde contratar”. O áudio do encontro foi divulgado pelo Planalto.


… “Todo mundo sabe que o povo mais pobre, que a classe média brasileira, que utiliza energia elétrica pelo mercado regulador, paga mais do que as pessoas que utilizam energia pelo mercado livre, que geralmente são os empresários”, disse Lula.


… O presidente afirmou que o governo quer criar concorrência para que a energia elétrica chegue mais barata para a população.


… A proposta prevê a abertura total do mercado livre de energia a partir de março de 2028, mas desde já a Nova Tarifa Social de Energia beneficiará pessoas com faixa de consumo até 80 kWh, que não vão pagar conta de luz.


… Hoje, quem gasta até 30 kWh tem desconto de 65%; de 31 a 100 kWh, de 40%; e de 101 a 200 kWh, desconto de 10%.


… Para viabilizar a Nova Tarifa Social, o MME aumentará em 1,5% as contas dos demais consumidores e cortará benefícios dos consumidores de energia eólica e solar. Além da isenção da conta de luz, o governo prepara outras medidas de apelo popular.


… Está em estudo uma nova modalidade de crédito aos microempreendedores, que terá o Pix recorrente como garantia dos empréstimos tomados junto aos bancos, e uma linha de crédito da Caixa e do BB para a compra de motocicletas a entregadores de aplicativos.


… Na Saúde, o presidente Lula quer trocar a dívida federal dos hospitais particulares pelo uso de sua estrutura para cirurgias do SUS.


… Hoje, uma das medidas que deve constar do Relatório Bimestral é o novo Vale Gás, que prevê a distribuição de botijões com vouchers de R$ 110 a serem entregues pela Caixa. Mas o programa respeitará o limite de R$ 3,5 bilhões previsto no Orçamento deste ano.


… Outra questão é o Pé-de-Meia, que ganhou um prazo do Tribunal de Contas da União para ser incluído no PLOA.


… Nos desmentidos do pacote, na semana passada, Haddad disse que o Orçamento de 2026 não começou a ser discutido e que não havia nenhuma demanda do Ministério do Desenvolvimento Social para um reajuste do Bolsa Família de R$ 600 para R$ 700.


… O ministro ainda garantiu que a meta de déficit zero deste ano será atingida, como foi atingida no ano passado.


… Mas na véspera do Relatório Bimestral, as incertezas fiscais no Brasil se somaram aos receios com o déficit nos EUA para puxar as taxas de juros na B3 e em NY, enquanto o enfraquecimento global do dólar permitiu a apreciação do real e o Ibov realizou (leia abaixo).


INSS – Outro fator de preocupação fiscal: a AGU calcula que os pedidos de reembolso de aposentados que tiveram descontos indevidos já somam R$ 1 bilhão, envolvendo cerca de 1,7 milhão de beneficiários que informaram, até o momento, que foram lesados.


… Se todas as associações tivessem fraudado os beneficiários, o custo chegaria a R$ 5,9 bilhões, mas essa não é a expectativa do governo.


AS INCERTEZAS CONTINUAM NO AR? – Em seminário da FGV, no início da noite, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, afirmou que a ata do Copom de junho segue “absolutamente válida em direção, sentido e módulo”.


… Apesar de uma certa pausa no armistício tarifário entre EUA e China, ele acha muito cedo ainda para reduzir qualquer incerteza com o cenário global. Por isso, diz que a ata não pode ser considerada “velha”. “As incertezas continuam no ar.”


… Já os economistas que participaram do evento apostam em um recuo completo de Trump na guerra das tarifas, registrou o Broadcast.


… Para Roberto Padovani (Banco BV), é divertido observar a “grande bagunça” provocada por Trump, que já percebeu que, nesta briga, os EUA têm mais a perder do que a China, que “pensa 100 anos à frente e tem um regime político que suporta turbulência”.


… Caio Megale (XP Investimentos) avalia que o objetivo de Trump é afetar a China, que tem relações comerciais com o mundo todo. “A ideia era sufocar as exportações chinesas, mas a China exporta para todos os países.”


… Já Tatiana Pinheiro (Galapagos) considera que a estratégia mercantilista de Trump não funciona no cenário atual, em uma estrutura econômica diferente. “Agora é uma revisão de PIB para baixo e de inflação para cima [nos EUA].”


… Os economistas estão mais preocupados com a inflação no Brasil, que deve forçar o BC a manter os juros elevados por bastante tempo.


LICENCIAMENTO AMBIENTAL – O Senado aprovou, por 54 votos a 13, o novo marco legal do licenciamento ambiental. Segundo Valor, o avanço do texto representa uma vitória direta de Alcolumbre sobre Marina Silva.


… Em meio ao impasse em torno da prospecção de petróleo na Margem Equatorial, o presidente do Senado emplacou emenda que, na prática, pode afrouxar as regras e facilitar a autorização para a exploração na região.


… Como o texto sofreu mudanças pelos senadores, terá que retornar para a Câmara dos Deputados.


GRIPE AVIÁRIA -A Rússia flexibilizou as suspensões sobre a importação de frango brasileiro, proibindo apenas a importação de carne de aves e derivados do Rio Grande do Sul, segundo o Ministério da Agricultura.


… A pasta autorizou nesta 4ªF a solicitação da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) para guardar carne de frango em contêiner frigorificado nas cargas já inspecionadas e prontas para exportação.


… Até a atualização mais recente, de ontem à noite, havia nove investigações de suspeita da doença no País.


PETRÓLEO – Integrantes da Opep+ estão considerando a possibilidade de aumentar a produção pelo terceiro mês seguido em julho, segundo fontes da Bloomberg. A elevação prevista na oferta é consistente: 411 mil bpd.


… A decisão final deverá ser tomada em reunião marcada para 1 de junho.


MAIS AGENDA – Nos EUA, o auxílio-desemprego (9h30) tem previsão de alta de mil pedidos, para 230 mil. No mesmo horário, sai a atividade nacional de abril do Fed/Chicago. Às 11h, as vendas de moradias usadas em abril.


… O PMI composto de maio sai nos EUA (10h45). O BCE divulga às 8h30 a ata da última decisão monetária.


JAPÃO HOJE – A leitura preliminar do PMI/S&P Global composto caiu de 51,2 em abril para 49,8 em maio. O indicador ficou abaixo patamar neutro de 50, ou seja, indicando contração da atividade econômica.


… O PMI industrial cedeu de 48,9 para 48,0 no mesmo período, também em território de contração. O PMI de serviços teve queda de 52,4 para 50,8 na mesma comparação, mas continua a apontar expansão da atividade.


FECHOU O TEMPO – Como o populismo fiscal não é exclusividade dos emergentes, as bolsas em Wall St afundaram e os juros dos Treasuries saltaram, assustados pelos planos de corte de impostos de Trump.


… Sem compensação do lado da redução das despesas para equilibrar as contas públicas, relatório do Deutsche Bank aponta que o déficit orçamentário do país pode ficar acima de 6,5% do PIB por um período prolongado.


… Com os nervos à flor da pele, a taxa da Note de 10 anos cruzou 4,5% e a do T-Bond-30 anos rompeu a barreira dos 5%. A pressão externa estressou a curva do DI, já de guarda elevada com o relatório bimestral de hoje.


… Em meio à aversão ao risco fiscal americano, o dólar caiu globalmente, com o índice DXY voltando a furar a linha dos 100 pontos. Aqui, o Ibovespa interrompeu os recordes e queimou mais de 2 mil pontos, na cola de NY.


… Caíram o Dow Jones (-1,91%; 41.860,44 pontos), S&P 500 (-1,61%; 5.844,61 pontos) e Nasdaq (-1,41%;  18.872,64 pts). As varejistas foram mal em dia de balanços: Target (-5,21%), Best Buy (-1,41%) e Lowe´s (-1,68%).


… Além das dúvidas sobre a saúde fiscal dos EUA, para piorar, a demanda pelo leilão de Treasuries de 20 anos veio abaixo do esperado, com o mercado pedindo prêmios elevados para absorver os bônus do Tesouro.


… O retorno da Note de 2 anos subiu à faixa dos 4% (4,007%), contra 3,973% na véspera, o da Note de 10 anos acelerou para 4,586%, de 4,484% no pregão anterior, e o yield do T-Bond-30 anos avançou a 5,083%, de 4,966%.


… O clima pesado em NY veio a calhar para uma realização de lucro do Ibov. Um dia depois de ter conquistado a marca inédita dos 140 mil pontos, o índice à vista caiu 1,59%, aos 137.881,27 pontos, com giro de R$ 22,7 bi.


… Apesar da correção detonada pela cautela coletiva, a bolsa ainda acumula alta de 2% este mês. A onda de vendas ontem foi generalizada: só 13 das 87 ações que compõem a carteira teórica escaparam no positivo.


… Os bancos caíram pesado: Itaú PN (-2,01%, a R$ 37,53); Bradesco PN (-1,78%, a R$ 15,41); BB ON (-0,94%, a R$ 25,26); e Santander Unit (-2,00%, a R$ 29,92). Vale ON (-1,28%, a R$ 54,64) contrariou o minério (+0,76%).


… Petrobras ON (-0,85%, a R$ 33,88) e PN (-1,12%, a R$ 31,75) operaram em linha com a queda de 0,71% do petróleo Brent/jul, a US$ 64,91 por barril, depois do aumento inesperado nos estoques da commodity nos EUA.


… Mais cedo, a cotação do petróleo chegou a subir mais de 1%, em meio a rumores de que Israel estaria se preparando para atacar instalações nucleares do Irã, o que não se confirmou até o fechamento do negócios.  


… As piores perdas do Ibov ficaram com ações sensíveis à alta do DI: Marcopolo (-6,94%), Vamos (-6,60%), Cyrela (-5,61%) e MRV (-5,56%). Gol PN (+35,29%) voltou a bombar com a aprovação da recuperação judicial em NY.


… Já Azul PN (-5,56%) amargou a sexta queda consecutiva, com o rating rebaixado pela S&P e rumores de que busca empréstimo de US$ 600 milhões com credores como primeiro passo para eventual plano de recuperação.


A CONTA QUE NÃO FECHA – Sem saída, os juros futuros embutiram prêmio de risco, de olho no fiscal aqui e nos EUA. A MP do setor elétrico, que faz parte do pacotão para salvar a popularidade de Lula, adiciona riscos.


… Além disso, a informação do Broadcast de que já chegam a R$ 1 bilhão os pedidos de reembolso de aposentados do INSS pela escândalo da fraude também coloca uma faca no pescoço das contas públicas.


… O mercado não esconde o medo de que o contingenciamento programado no relatório bimestral seja insuficiente para o equilíbrio fiscal e que o documento possa se transformar em uma peça de ficção.


… O DI para Jan/26 subiu a 14,750% (contra 14,735% no dia anterior); Jan/27 superou 14%, a 14,055% (de 13,965%); Jan/29 avançou a 13,665% (de 13,505%); Jan/31, 13,890% (13,740%); e Jan/33, 13,960% (13,810%).


… Apesar da empinada na curva, o dólar fechou em baixa de 0,48%, a R$ 5,6422, porque falou mais alto enfraquecimento da moeda americana no exterior, em meio à dinâmica fiscal preocupante nos EUA.


… Com Trump obstinado em levar adiando a promessa de campanha de cortes de impostos e aumento de gastos em áreas estratégicas, os investidores têm reduzido (ainda mais) a presença do dólar em suas carteiras.


… Nem bem a moeda americana teve tempo de desfrutar a trégua na guerra comercial e já surgem os novos desafios do déficit do orçamento americano para continuar pondo em xeque a dominância global do dólar.


… O índice DXY caiu 0,55%, a 99,559 pontos. O euro subiu 0,35%, a US$ 1,1331, apesar de o dirigente do BCE Mário Centeno ter defendido juros abaixo do nível neutro para evitar que a inflação fique inferior à meta.


… A libra ganhou 0,25%, a US$ 1,3419, depois de o índice de preços ao consumidor (CPI) ter saltado de 2,6% em março para 3,5% em abril, na taxa mais alta desde janeiro do ano passado e acima das previsões de 3,3%.


… O iene avançou para 143,63/US$. Washington e Pequim devem iniciar negociações tarifárias amanhã.


EM TEMPO… PETROBRAS prevê chegada de sonda à Foz do Amazonas até o fim de junho. Cronograma foi informado pela estatal após Ibama aprovar o conceito do Plano de Proteção e Atendimento à Fauna…


… O TCU apontou nesta 4ªF a identificação de “déficit de governança” após uma denúncia de suposta irregularidade no processo seletivo na indicação de Henrique Jäger para o cargo de presidente da Petros.


BB distribuirá JCP de R$ 516,3 milhões, ou R$ 0,0904 brutos por ação; ex em 03/6; pagamento em 12/6.


V.TAL realizou o pré-pagamento da segunda emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, da espécie com garantia real, com garantia adicional fidejussória, com esforços restritos, de R$ 5,7 bilhões.


COMPASS GÁS E ENERGIA anunciou a quarta emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, da espécie quirografária, em até duas séries, no valor de R$ 2,3 bilhões.


IOCHPE-MAXION. Conselho aprovou 16ª emissão de debêntures simples, no montante de R$ 300 milhões, com prazo de 5 anos.


MERCADO LIVRE. A partir do ano que vem, Ariel Szarfsztejn, atual presidente de comércio do grupo, assumirá o cargo de CEO global. Vai suceder o fundador Marcos Galperin, que atuará como presidente-executivo.


WALMART planeja cortar cerca de 1.500 postos de trabalho em uma reestruturação com o objetivo de reduzir suas despesas e acelerar a tomada de decisões, segundo fontes da agência Dow Jones.


AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

[22/05, 06:07] Riquelme: Vai rolar: Relatório bimestral é destaque

 Resumir

[22/05/25] A Câmara dos EUA varou a madrugada negociando o projeto de Trump que corta impostos e aumenta gastos para tentar votar ainda nas próximas horas. Índices PMI de atividade industrial e de serviços abrem o dia na Alemanha, Zona do Euro, Reino Unido e nos EUA, onde sairão também pedidos de auxílio-desemprego e vendas de casas usadas. O Fed boy do dia é John Williams (15h). Não há balanços relevantes previstos em NY – que monitora os riscos do elevado déficit fiscal. Aqui, em mais um pregão de agenda sem indicadores, será realizada reunião do CMN, mas a expectativa é para o Relatório Bimestral de Receitas e Despesas, que deverá vir com as medidas preparadas pela equipe econômica para permitir o cumprimento da meta do ano. Haddad e Tebet concedem entrevista às 15h. (Rosa Riscala)


👉 Confira abaixo a agenda de hoje


Indicadores


▪️ 04h30 – Alemanha: PMI/S&P Global composto de maio (preliminar)

▪️ 05h00 – Zona do euro: PMI/S&P Global composto de maio (preliminar)

▪️ 05h00 – Alemanha: Índice Ifo de sentimento das empresas em maio

▪️ 05h30 – Reino Unido: PMI/S&P Global composto de maio (preliminar)

▪️ 08h30 – Zona do euro: BCE divulga ata da última reunião

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quarta-feira, 21 de maio de 2025

Bco Master

 Como o Banco Master transformou precatórios em CDBs — e pôs em xeque o sistema financeiro


Modelo agressivo de captação escancara brechas regulatórias, mobiliza figurões nos bastidores e testa BC e FGC


No final de março, quando o Banco de Brasília (BRB) anunciou que havia firmado um memorando de entendimentos para a aquisição do controle acionário do Banco Master, os sussurros que rondavam a Faria Lima se tornaram mais altos. O motivo: o Master acumulava um passivo implícito de bilhões de reais em ativos com liquidez duvidosa, usados como base para a captação de depósitos garantidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), como os Certificados de Depósito Bancário (CBD). “Todo mundo sabia que a estratégia do Master era irresponsável”, disse um analista do mercado financeiro ao JOTA sob condição de anonimato. “Quando saiu a operação com o BRB, ficou difícil de varrer isso para debaixo do tapete.”


A poeira então se espalhou. O acordo, divulgado em fato relevante ao mercado em 28 de março, prevê a aquisição de 58% do capital total do Master. Um mês depois, o Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) ajuizou uma ação civil pública solicitando a suspensão da compra. Obteve liminar favorável alguns dias depois, mas foi revertida pelo desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) João Egmont. Os promotores argumentam que a operação descumpre exigências legais, como a necessidade de deliberação da assembleia de acionistas do BRB e autorização legislativa específica da Câmara Legislativa do Distrito Federal para que estatais participem de empresas privadas. Além disso, o Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público de Contas do Distrito Federal também instauraram investigações para apurar possíveis irregularidades na negociação, alegando possíveis riscos ao patrimônio público.


Isso porque a engenharia financeira do Master, comandado pelo empresário Daniel Vorcaro, converteu títulos judiciais da União, que têm risco de postergação no pagamento, em produtos bancários considerados de baixo risco, como CDBs e letras financeiras, cobertos pelo FGC. Segundo os dados do balanço patrimonial de 2024, o Banco Master mantinha cerca de R$ 17,9 bilhões em depósitos a prazo (dinheiro captado pelo banco, geralmente com promessa de devolução com juros). O valor é compatível com a estimativa dada ao JOTA por fontes do mercado de que aproximadamente R$ 18 bilhões tenham sido captados junto ao varejo via CDBs com garantia do FGC. Se esses ativos não forem liquidados no prazo esperado, a conta pode recair diretamente sobre o FGC, colocando em risco cerca de metade do seu montante.


Procurados, Master, BRB, FGC e Banco Central não retornaram aos contatos da reportagem. 


Da máxima ao master


O Master chegou a ter uma sede em um endereço cobiçado no coração do mercado financeiro, dividindo o prédio com empresas como o Google, com estruturas comparáveis a de instituições de maior porte. Foi uma transformação em relação ao passado: o Banco Master tem origem no Banco Máxima, fundado em 1970 e que, por décadas, manteve perfil discreto e atuação modesta no mercado. Com foco no mercado imobiliário, o então Máxima estava em situação complicada em 2016, quando Daniel Vorcaro, um empresário também do ramo imobiliário, virou sócio minoritário. 


Vorcaro e outros novos sócios fizeram aportes de R$ 400 milhões para recuperar o Máxima, segundo números divulgados pelos próprios à época. “Adquirimos um banco tradicional e promovemos uma verdadeira virada”, disse Vorcaro em uma entrevista à CNN em 2021, quando anunciou a mudança de nome para Master. Dos negócios focados em crédito imobiliário, o banco passou a operar também em crédito pessoal e consignado, serviços financeiros, seguradora e banco de investimentos. “Hoje, somos um banco digital, novo, ágil, inovador e capaz de atender nossos clientes em todos os segmentos”, afirmou Vorcaro ao Valor Econômico naquele ano.


Segundo reportagem da revista piauí, havia rumores sobre a presença de um “acionista oculto” no banco — especulava-se que Nelson Tanure, investidor conhecido por atuação em reestruturações de empresas, estaria por trás de Daniel Vorcaro. Na última terça-feira (20/5), o Estadão revelou que, no ano passado, a Polícia Federal abriu um inquérito para investigar o suposto papel de Tanure no Master, a pedido da gestora de investimentos Esh Capital. Para a piauí, Vorcaro afirmou que Tanure é “parceiro de negócios”. 


A falta de clareza sobre aspectos como quem estava de fato no comando traziam desconfiança ao mercado. “Quando eventualmente tentávamos sair com alguma operação que envolvia o Master, sempre tinha a negativa do mercado”, disse um advogado do setor ao JOTA. “Um banco pode até estar tecnicamente solvente. Mas, se o mercado começa a duvidar, ninguém mais senta com ele. E aí, acabou", explica Jefferson Alvares, procurador do Banco Central.


Mas houve quem sentasse. Por exemplo, em maio de 2024, o Banco Master foi o principal injetor de recursos em um aumento de capital de R$ 1,5 bilhão na Oncoclínicas, empresa do setor de saúde voltada para tratamentos de câncer. Com isso, o Master passou a deter uma fatia de 12% do negócio, que despontou como queridinha durante sua listagem na B3 em 2021. Hoje, no entanto, a Oncoclínicas perdeu quase 90% do seu valor de mercado, com investidores desconfiados de seu crescimento acelerado a partir de parcerias com perfil de crédito mais arriscado. 


À revista piauí, Vorcaro afirmou que os movimentos do Master faziam sentido à época, já que o mercado parecia receptivo à pulverização com novas fintechs, que desafiavam a concentração no setor bancário no país. Mas as coisas mudaram e, para Vorcaro, aí vieram os problemas para o Master. “A partir de dois ou três anos atrás, no entanto, começou um movimento de concentração e essas corretoras começaram a ser compradas, como a Órama pelo BTG, a Guide pelo Safra”, disse ele à publicação. “Nós pressentimos, no final do ano passado, que novas regras poderiam dificultar ainda mais o nosso negócio e fomos em busca de alternativas.” E a compra pelo BRB seria uma dessas opções levantadas, segundo ele. 


A transformação de Máxima em Master também contou com um novo Comitê Consultivo, que incluiu ex-ministros como Guido Mantega, Henrique Meirelles e, por um breve período, entre sua saída do Supremo Tribunal Federal (STF) e seu posto como ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. Segundo o jornal O Globo, Mantega esteve no Palácio do Planalto e pediu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ajuda para evitar a bancarrota do Master.


Precatórios como ativos 


À primeira vista, as operações do braço bancário do Master são semelhantes às de todos os bancos – médios como ele, ou maiores. Eles captam via depósitos a prazo (como CDBs), e usam esses recursos para comprar créditos de terceiros ou conceder financiamentos. No entanto, o que distingue o caso Master é a concentração de risco em ativos com baixa liquidez e a transformação de papéis com dependência de pagamento do Tesouro em parte relevante da sua operação, com empacotamento passível de cobertura pelo FGC, algo que não é feito por outras instituições financeiras.


Bancos maiores, por exemplo, geralmente mantêm carteiras de crédito lastreadas em operações mais tradicionais e pagamentos mais previsíveis — como financiamento a empresas, crédito pessoal e imobiliário. Por exemplo, ao fim de 2024, o Itaú tinha, segundo seu balanço, mais de R$ 1 trilhão em crédito expandido, com pequena exposição a ativos estruturados ou judiciais, mais arriscados. O Bradesco seguia padrão semelhante. Ambos usam como funding uma combinação entre depósitos, letras financeiras e instrumentos de mercado, com diversificação e risco mais baixo.


Mesmo entre os bancos médios, comparáveis com o Master, o padrão se mantém mais conservador. O BMG, por exemplo, declarou patrimônio de mais de R$ 25 bilhões em depósitos, mas apenas R$ 5 bilhões em securitizações, e focadas em crédito consignado, que representa risco mais baixo. O Digimais, em seus relatórios de 2024, aponta como principal atividade a concessão de crédito para pessoas físicas com foco em portabilidade e veículos. 


Já o Master, segundo o balanço de dezembro de 2024, mantinha R$ 22,4 bilhões em carteira de crédito (dinheiro emprestado pelo banco, com expectativa de recebimento futuro com juros). Desse total, R$ 8,7 bilhões eram compostos por "direitos creditórios com expectativa de recebimento de recursos públicos", isto é, precatórios e créditos tributários adquiridos pela instituição junto a terceiros.


Precatórios são dívidas que o poder público reconhece, por decisão judicial definitiva, e que devem ser pagas conforme cronograma orçamentário, o que pode levar anos. O banco Master também aposta em créditos tributários federais, valores que empresas ou pessoas têm a receber da União, geralmente por tributos pagos indevidamente ou reconhecidos judicialmente, e podem ser usados para compensar débitos fiscais ou vendidos a terceiros. Ambos são considerados de difícil liquidez e dependem de decisões administrativas ou políticas para serem pagos. Os precatórios estão sujeitos a filas constitucionais de pagamento, enquanto os créditos tributários exigem homologação da Receita Federal. Na prática, não há uma data determinada para que o pagamento ocorra: o banco pode apenas esperar receber do Tesouro Nacional. 


No entanto, nos balanços do Master, os precatórios são registrados a valor de custo amortizado, com base em laudos de avaliação. Isso significa que o banco registra, nos documentos, que conta com o recebimento integral desses precatórios, apesar da incerteza orçamentária da União intrínseca a esse tipo de título. A aposta, dessa forma, é que o governo federal irá pagar dentro do prazo. Mas isso está longe de ser regra. 


Um exemplo dessa incerteza é recente. A PEC dos Precatórios, promulgada como Emenda Constitucional 113 em 2021, permitiu ao governo adiar o pagamento de bilhões de reais em precatórios federais entre 2022 e 2026, criando um teto para esse tipo de despesa, em detrimento de outros gastos. À época, a medida foi criticada por criar insegurança jurídica e por transformar dívidas judiciais definitivas da União em passivos a serem pagos segundo conveniência fiscal. Já neste ano, o STF julgou inconstitucionais trechos da PEC que postergaram os pagamentos, obrigando o Tesouro Nacional a quitar os débitos. Em resposta, o Ministério da Fazenda anunciou que em 2025 seriam pagos R$ 70 bilhões em precatórios (parte deles, inclusive, fora da meta estabelecida na nova âncora do arcabouço fiscal).


Mesmo com esse cenário mais nebuloso, investir em precatórios não é incomum: há espaço em carteiras balanceadas para fatias menores de ativos mais arriscados. Mas essa não é uma estratégia típica dos bancos ao emitir CBDs. Esse tipo de operação é mais comum no mercado de escritórios de advocacia e fundos especializados. Nesses casos, os investidores adquirem os créditos com deságio, assumindo o risco e o tempo de espera até o pagamento pelo governo, em troca da possibilidade de lucro futuro. Escritórios estruturam essas operações para clientes, enquanto fundos formam carteiras com vários processos, buscando retornos mais elevados a prazos longos. A diferença é que esses fundos de direitos creditórios, ao contrário de um CBD, não contam com proteção do FGC, como o Master. 


Riscos


Para Jefferson Alvares, procurador do Banco Central, o uso de precatórios como ativos bancários não é, por si só, um problema, mas exige interpretação dos laudos de avaliação e forte governança sobre os critérios contábeis. “Você pode ter um ativo que, juridicamente, existe. Mas a pergunta prudencial é: quando esse ativo vai se tornar caixa? Qual é a probabilidade real disso?”.


Quando se fala em regulação prudencial, isto é, as regras que buscam garantir a solidez e a estabilidade das instituições financeiras, o Brasil segue um conjunto de normas internacionais conhecidas como Acordos da Basileia. Esses acordos são elaborados pelo Comitê de Supervisão Bancária da Basileia, órgão ligado ao Banco de Compensações Internacionais (BIS), na Suíça. Os Acordos de Basileia são atualizados periodicamente, e o Basileia III, em 2010, pós-crise de 2008, introduziu exigências mais rigorosas de capital mínimo, liquidez e alavancagem, que devem ser seguidas por todas as instituições bancárias.


Segundo relatórios do Master de 2024, o índice de Basileia do conglomerado ficou em 11,51% em 2024, acima do mínimo regulatório de 10,5%. O piso regulatório é o  nível absoluto mínimo de capital que um banco precisa manter em relação ao seu risco total. Os documentos também mostram que o Master mantinha conformidade com os requerimentos mínimos, isto é, cumpria as exigências prudenciais mais amplas requeridas na Basileia III.


Estar em conformidade com esses padrões, no entanto, não garante que a operação do banco seja saudável. O índice de Basileia mede quanto capital o banco tem em relação aos seus ativos ponderados pelo risco (RWA). Mas esses riscos são calculados com base em modelos padronizados, e isso depende de como os ativos foram registrados: no caso do Master, os precatórios e créditos tributários foram registrados com expectativa de recebimento integral, o que diminui artificialmente sua ponderação de risco. Além disso, o índice de Basileia é um indicador de solvência contábil -- não de liquidez real, isto é, a capacidade do banco de responder a saques imediatos.


Outras regulações são capazes de fazer isso -- e o Brasil chegou a usá-las, como no caso do conglomerado econômico-financeiro, o CONEF, como explica Sérgio Werlang, ex-diretor de Política Econômica do Banco Central e professor da Fundação Getulio Vargas. "Em sua essência, o CONEF fazia com que, para fins prudenciais, qualquer empresa controlada por um banco teria que ser integralmente consolidada como se fosse uma instituição financeira. Aliado a isso, qualquer participação acionária não controladora era tratada como se fosse um ativo permanente, portanto sem liquidez. Por fim, os fundos eram sempre tratados pela composição de seus ativos. Por exemplo, um fundo com 50% em ações e 50% em títulos públicos líquidos era tratado como 50% liquidez e 50% ativo permanente". Para o professor, o CONEF poderia ser usado, em adição ao conglomerado prudencial. "Eventualmente as instituições financeiras levariam tempo para adaptar-se a isto, podendo ser feito de modo gradual", diz. 


Ao capitalizar os precatórios como crédito performado e a emitir CDBs lastreados nele, o Master ofereceu os títulos a investidores de varejo com taxas acima do mercado e garantidos até R$ 250 mil pelo FGC. Criado em 1995, o Fundo Garantidor de Créditos é uma entidade privada mantida por contribuições das próprias instituições financeiras. Ele assegura até R$ 250 mil por CPF por banco, por modalidade de produto, em caso de quebra da instituição. Essa estrutura permite que bancos médios e digitais captem com maior segurança no varejo, já que ajuda investidores a confiarem nas novas instituições, que ainda não têm reputação consolidada.


No entanto, a ausência de arcabouço legal em torno do FGC também faz com que o organismo atue em zonas cinzentas, muitas vezes assumindo responsabilidades aquém de sua capacidade. "Nos Estados Unidos, o fundo garantidor também cobre 250 mil dólares, só que a renda per capita de um americano é umas 10 vezes maior do que a renda brasileira", diz Jefferson Alvares, do BC. "Isso dá a dimensão de quão generosa é o nosso sistema". Há também um descompasso entre quem mais contribui e mais é protegido: os bancos maiores pagam mais, e acabam financiando a proteção de operações de bancos menores.


Nos primeiros meses de 2025, por exemplo, o Banco Master oferecia CDBs com rentabilidade de até 120% do CDI — uma taxa significativamente superior à de outros bancos. Apesar dessa rentabilidade ser um chamariz, o risco do empacotamento via CBD, ao estarem atrelados a precatórios e créditos tributários federais, era pouco transparente aos investidores do varejo. Enquanto isso, outras instituições médias como BTG Pactual e Banco XP praticavam remunerações entre 101,5% e 104,5% do CDI, e grandes bancos como Itaú, Bradesco e Banco do Brasil pagavam entre 97,5% e 101%. 


Na prática, isso significa que a instituição pôde captar e crescer rapidamente. Os ativos do Master saltaram de R$ 13,3 bilhões em 2022 para R$ 23,6 bilhões em 2024, mas ele não elevou proporcionalmente seu capital de base. Após o anúncio da possível aquisição pelo BRB, o banco passou a reduzir as taxas, com cortes de até 3 pontos percentuais nos pós-fixados e de ao menos 0,3 ponto nos prefixados. Além disso, no mercado secundário, onde investidores negociam títulos entre si, os CDBs do Banco Master chegaram a ser oferecidos com retornos de até 160% do CDI, reflexo da busca por liquidez por parte dos investidores diante das incertezas sobre a saúde financeira do banco.


'Janela' regulatória


A explosão dos CBDs do Master não passou despercebida pelo mercado, nem por reguladores, que ajustaram seus arcabouços para, aparentemente, conter operações como as que foram empreendidas pelo banco. Entre os ajustes regulatórios mais recentes adotados pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a Resolução 5.114, de dezembro de 2023, limita o grau de alavancagem de instituições financeiras de menor porte por meio da emissão de CDBs. Antes da norma, que entrou em vigor em março de 2024, não havia um teto claro que restringisse quanto um banco podia crescer com base exclusivamente na captação por CDBs, o que favorecia estratégias de crescimento acelerado. Com a nova regra, o CMN passou a estabelecer que o saldo de CDBs emitidos por uma instituição financeira não pode ultrapassar seis vezes o seu Patrimônio Líquido de Referência (PLR). Assim, a nova regra cria um limitador estrutural: quanto menor o capital próprio do banco, menor a sua capacidade de captar via CDBs.


Outra medida, a Resolução BCB 346/23, publicada em março de 2023, passou a determinar maior exigência de capital para ativos como precatórios, alterando a ponderação de risco deles dentro do RWA do Índice de Basileia -- o que impediria o registro feito pelo Master nos balanços, que contabilizava o pagamento dos títulos como certo. No entanto, sua aplicação efetiva foi postergada até janeiro de 2025, por meio da Resolução BCB 448/24. Até lá, os bancos puderam continuar registrando esses créditos com menor peso de risco, reduzindo, assim, a necessidade de capital próprio.


Foi desta forma que o Master conseguiu aproveitar uma “janela” regulatória: nos documentos entregues ao Banco Central, o Master reconhece que os efeitos da norma só começarão a impactar seus índices de capital em 2025. Em 2024, ele ainda operou sob o regime anterior. Segundo Alvares, procurador do Banco Central, o caso Master evidenciou uma prática comum: o uso de brechas temporárias para crescer mais rápido do que o sistema comporta. “Isso é algo que já vimos em outros ciclos: a norma existe, mas a corrida para aproveitar a janela vem antes da sua entrada em vigor.”


Mesmo assim, no ano passado, o Master já preocupava as autoridades monetárias. Segundo reportagem da revista piauí, o Banco Central convocou os dirigentes do Banco Master para uma reunião urgente, exigindo a interrupção das operações arriscadas e um aumento de capital de R$ 2 bilhões. Segundo a matéria, o banco foi alertado de que, caso não cumprisse essas exigências, poderia ser liquidado, com os donos tendo seu patrimônio congelado e sendo proibidos de operar no mercado.


No mês passado, o jornal O Globo revelou que a Polícia Federal já investigava o Master desde 2024 por suposta fraude na precificação de precatórios. Um fundo vinculado ao banco teria comprado precatórios por valor inferior e os vendido de volta ao próprio Master por até 235% do valor de face, inflando artificialmente os ativos registrados no balanço. Esse tipo de operação supostamente indicaria tentativa de mascarar a real qualidade do crédito da instituição.


'Ninguém solta a mão de ninguém'


A possível quebra do Master não é motivo de preocupação apenas para o FGC. Outros casos mostram como crises como essa podem deixar um rastilho de pólvora e incendiar a confiança em todo o sistema financeiro. Um exemplo é o caso do Banco Santos, que em novembro de 2004 sofreu intervenção do Banco Central após a constatação de irregularidades: a liberação de crédito estava condicionada à aplicação em papéis de empresas do próprio grupo econômico, controlado por Edemar Cid Ferreira. Assim, os balanços eram maquiados e o banco ocultava prejuízos bilionários. A falência foi decretada em setembro de 2005, mas, quase duas décadas depois, o processo ainda não foi concluído. A dívida total da massa falida do Banco Santos ultrapassa R$ 16 bilhões, e os credores enfrentam um labirinto jurídico para recuperar valores. É esse tipo de efeito dominó que o mercado teme com o caso Master.


O receio também pode atingir especialmente plataformas que distribuíram CDBs do Master, corretoras como BTG e XP. Embora não sejam responsáveis pela emissão, as distribuidoras se beneficiam da intermediação e da confiança dos clientes na curadoria dos produtos ofertados. Investidores impactados poderiam buscar resgates imediatos, o que geraria uma corrida por liquidez e pressão sobre o sistema. Além disso, poderiam surgir ações judiciais e queixas aos reguladores, alegando omissões ou falta de transparência. Para fontes ouvidas pelo JOTA, "faltou diligência também de quem distribuiu” os papéis do Master.


Não seria a primeira vez. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) analisou um recurso de um investidor que alegou ter sofrido prejuízo de R$ 110 mil devido a uma operação estruturada recomendada por um preposto da plataforma XP. O investidor afirmou não ter sido adequadamente informado sobre os riscos envolvidos e que a operação era incompatível com seu perfil conservador. A CVM decidiu pelo ressarcimento -- mas a decisão foi posteriormente anulada no Judiciário.


Fintechs e bancos digitais, que operam com lógicas de captação garantida, também podem ser afetados. No início do mês, a Associação Brasileira de Internet (Abranet), que representa fintechs como Mercado Pago e PicPay, publicou uma nota afirmando que o Fundo Garantidor de Crédito é um instrumento “fundamental” para a “democratização do acesso a produtos financeiros” a brasileiros, e que qualquer alteração nele “exige discussões amplas com a sociedade, de forma a não ameaçar a pluralidade do sistema financeiro”. 


Assim, ao adquirir ativos judiciais de liquidez incerta do Banco Master, o BRB não estaria apenas incorporando um banco — mas sendo uma espécie de "tábua de salvação" para o sistema, costurada politicamente. Vorcaro, no entanto, disse, à piauí, que essa interpretação é um “absurdo” e “ataques dos concorrentes que não se conformam com o crescimento do Master”. 


E agora, quem irá nos defender?


O movimento ecoa, em escala menor, o modelo de resgate de instituições financeiras usado nos anos 1990 com o Proer, programa federal de estímulo à reestruturação do sistema bancário, duramente criticado porque o governo, com dinheiro de contribuintes, acaba injetando capital para reestruturar operações -- indiretamente "recompensando" banqueiros e administradores, que não sofrem perdas. Na época, bancos em risco foram socorridos com recursos públicos em troca de reorganização e venda de ativos problemáticos – a divisão conhecida entre “good bank” e “bad bank” internacionalmente, e prevista na lei brasileira com o Regime de Administração Especial Temporária (RAET).


Segundo reportagens da Folha de S.Paulo revelaram que o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual (um dos grupos que distribuiu CDBs do Master em sua plataforma) e o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil, estariam atuando nos bastidores para viabilizar a venda do Master ao BRB. Segundo a Bloomberg, os irmãos Joesley e Wesley Batista, pela holding J&F, chegaram a negociar alguns ativos do Master, mas desistiram. Segundo fontes do mercado, o BTG poderia assumir os ativos mais problemáticos, "bad bank". “Não temos interesse particular em nenhum negócio ou ativo do Banco Master, mas, dependendo do que acontecer, se houver ativos disponíveis no mercado e de acordo com os objetivos dos reguladores, podemos ajudar nesse processo. Ajudando tanto reguladores quanto sistema financeiro”, disse o CFO do BTG, Renato Cohen, em uma call com jornalistas. Também segundo a Folha, o banco Itaú, no entanto, seria mais resistente ao acordo, defendendo uma saída mais “pedagógica” para evitar problemas semelhantes no futuro. 


Se o Banco Master realmente quebrar, o Banco Central hoje pode atuar em outros dois regimes, além do RAET, para lidar com bancos em dificuldades. Uma delas é a intervenção, considerada mais drástica. Nela, o Banco Central afasta os dirigentes da instituição e nomeia interventores para assumir a administração. Em tese, o objetivo seria reestruturar o banco e tentar recuperar sua operação. Mas, na prática, isso nunca aconteceu no Brasil. Com a intervenção, os depósitos dos clientes são congelados -- o que afeta profundamente a confiança, e, na prática, representa a morte da instituição.


Assim, a maioria dos bancos entrou, após a intervenção, no segundo regime, o de liquidação, isto é, falência. Nessa etapa, o Banco Central fecha o banco e inicia um processo para vender seus ativos e pagar os passivos (dívidas com credores e clientes). O objetivo é encerrar a instituição da forma menos danosa possível, mas não há tentativa de salvar a operação.


Daqui pra frente


Também no front político, a senadora Leila Barros (PDT-DF) solicitou que a compra pelo BRB fosse debatida na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. O pedido foi aceito, e a audiência havia sido marcada para esta quarta-feira (21/5), mas foi cancelada. A operação ainda depende de aprovação do Banco Central, do Conselho Monetário Nacional e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para ser concluída. As instituições têm 360 dias para analisar o negócio.


BRB e Banco Master solicitaram ao Cade que a operação fosse analisada sob rito sumário, argumentando que a transação não implicaria eliminação da concorrência nem criação de posição dominante no mercado.


Já no Banco Central, uma série de critérios como capacidade financeira do comprador e plano de negócios é analisada. Um dos requisitos é também a conformidade prudencial: é preciso demonstrar que o novo grupo manterá os índices de capital e liquidez exigidos, como a Basileia. O presidente do BC, Gabriel Galípolo, afirmou que a autarquia está avaliando a viabilidade econômica da operação.


O BRB já reestruturou a primeira proposta enviada ao BC, revisando o escopo da aquisição para incluir apenas os ativos mais estratégicos e financeiramente sólidos do Banco Master. Os ativos de maior risco e menor liquidez, estimados em cerca de R$ 33 bilhões, permanecerão fora do negócio, à la RAET. Paralelamente, o Fundo Garantidor de Créditos estaria se preparando para aprovar uma linha de assistência de liquidez ao Master, a pedido do próprio banco.


Além disso, segundo notícia publicada pelo Valor Econômico, o BRB foi questionado pela CVM sobre a suposta contratação de um serviço de "fairness opinion" para avaliar a aquisição da fatia do Master. É um dos passos do processo de transação de fusão e aquisição. Na resposta à CVM, o banco afirmou que “está conduzindo um processo preliminar de levantamento de cotações com empresas especializadas nesse tipo de avaliação, mas que até o momento não recebeu propostas nos valores mencionados, tampouco concluiu o processo de seleção ou firmou qualquer contrato”.


Reformas 


Com as fragilidades expostas pelo caso, os reguladores podem enfrentar maior pressão por reformas. Segundo reportagem do Valor Econômico, os grandes bancos estão pressionando as autoridades para alterar as regras do FGC. Em 2023, o Banco Central determinou que a instituição financeira que ultrapassar 75% da captação garantida pelo fundo deveria pagar uma contribuição adicional, de 0,01% sobre o valor dos depósitos garantidos. Com o caso Master, há a pressão de instituições maiores para que esse teto caia para 50% e que a alíquota da contribuição adicional suba para 0,10%.


O BC também já anunciou que fará uma revisão do tamanho e das regras do FGC em 2026, apesar de não citar explicitamente o caso Master como propulsor das mudanças. "Minha impressão é que o FGC deveria avaliar o risco de cada instituição participante do sistema e limitar o tamanho do seguro oferecido, por exemplo em função do patrimônio líquido da instituição", diz Werlang, da FGV. 


Outra possibilidade de reformar o fundo seria limitar a garantia oferecida em casos de "super CDBs", como os ofertados pelo Master, em que a diferença acima do CDI ultrapassar determinado valor, diz o professor. Nesse caso, destaca Werlang, seria importante considerar que o rendimento acima do CDI (o chamado “spread”) não é composto apenas pelo que o banco está efetivamente oferecendo. Parte desse valor costuma ser destinado às corretoras e plataformas de investimento, como forma de comissão pela venda dos produtos. Por isso, para avaliar se um banco está, de fato, pagando uma taxa elevada para captar dinheiro, o que pode indicar maior risco, seria preciso descontar esse custo de distribuição.


O Tribunal de Contas da União (TCU) também determinou uma auditoria sobre a atuação do BC na supervisão de CDBs garantidos. No legislativo, o governo deve dar prioridade, segundo reportagem do Broadcast, ao Projeto de Lei 281/2019, apresentado ainda na administração anterior, de Jair Bolsonaro. O texto prevê a criação de mecanismos para aumentar as ferramentas em caso de instituições em dificuldade, como outros fundos garantidores de crédito e um fundo de resolução.


A necessidade de alterações da regulamentação e endurecimento da fiscalização, no entanto, não é unanimidade – e talvez o problema não esteja nessas frentes. “O que aconteceu com o Master não é representativo do sistema como um todo”, afirmou ao JOTA um advogado experiente em operações bancárias. Para Jefferson Alvares, procurador do Banco Central, o caso do Banco Master não revela uma falha normativa, mas um dilema sobre como e quando intervir. “As regras existem. A supervisão existe. Mas, às vezes, você está vendo o problema, tem todos os dados na sua frente, e precisa decidir se age agora ou monitora mais um pouco.”


A autarquia envia projeções e alertas periódicos às instituições financeiras, inclusive com cenários adversos, e essas ferramentas são usadas preventivamente para mapear riscos crescentes — um sistema que funciona bem, segundo vários operadores jurídicos da área bancária ouvidos pelo JOTA. Para Sergio Werlang, "é preciso que o BC possa (e faça isto na prática) intervir em uma instituição assim que observado que o capital caiu abaixo do mínimo de Basileia III", diz. "Não há nenhuma razão para esperar que o patrimônio líquido fique negativo." 


Isso não significa que o caso não deixa de jogar luz sobre possíveis aperfeiçoamentos, principalmente na modernização das opções para crises, como o RAET, a liquidação e a intervenção. A falta de arcabouço para esses momentos do lado do BC fez com que o FGC ficasse sobrecarregado nesses casos -- como está hoje com o caso Master, diz Jefferson Alvares, e o primeiro passo para mudar esse cenário pode ser o Projeto de Lei 281/2019.


Atualmente, o espaço para atuação do BC nesses casos é limitado pela Lei de Responsabilidade Fiscal, que o estabelece como prestamista de última instância, isto é, como uma instituição que pode emprestar dinheiro a bancos em apuros para evitar o colapso. Isso significa que o BC pode emprestar dinheiro emergencial por somente até um ano, com garantias reais e para instituições solventes.


Depois da crise financeira de 2008, que mostrou como o colapso de grandes bancos podia arrastar economias, vários países reformaram suas legislações para criar instrumentos de intervenção bancária, conhecidos como "resolution tools". O Brasil não adotou plenamente essas ferramentas. "A gente precisa de um arcabouço legal alinhado com os princípios internacionais de resolução bancária", diz Jefferson Alvares.


O país não conta, por exemplo, com mecanismo de bail-in, também conhecido como recapitalização interna. Com esse processo, existente em países como EUA e na Europa, se um banco quebra, a autoridade pode obrigar os próprios credores e acionistas a arcar com parte das perdas, convertendo dívidas em capital. Isso evita o uso de dinheiro público e preserva o funcionamento do banco. "A principal lição da crise financeira global foi que essas pessoas têm que sofrer perdas", diz Alvares. "Do contrário, vai se perpetuar no sistema uma cultura de tomada de risco excessiva, uma vez que os controladores, os administradores não sofrem consequências pelos seus atos de má gestão."


Enquanto isso, o futuro do Banco Master permanece nebuloso. Paralelamente à aquisição por parte do BRB, pendente de aprovações regulatórias, as investigações do Ministério Público e da Polícia Federal continuam em curso. Paralelamente, a pressão de players maiores por mudanças no arcabouço prudencial pode se intensificar. Agora, o futuro do Master -- e do sistema bancário -- dependerá de decisões políticas, regulatórias e de mercado que vão muito além de balanços contábeis.logo-jota


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Fabio Alves