sábado, 17 de maio de 2025

JR Guzzo

 *A última coisa que o Brasil precisava era uma Janja*


Por J.R. Guzzo

15/05/2025 às 15:27


Já passou pela sua cabeça, ou pela cabeça de alguém que você conhece, ir a uma reunião de trabalho da empresa e levar a sua mulher junto? E, caso você mesma seja mulher, dá para levar o maridão? Pior ainda, nessa reunião a sua mulher toma a palavra, que ninguém ofereceu, e dispara a falar direto com o presidente da empresa, querendo que ele tome providências sobre coisas que estão acontecendo na sua própria casa. Parece uma dessas piadas de "marido banana". Mas é exatamente assim que anda o Brasil de Lula e Janja.


É uma humilhação, para o Brasil e para os brasileiros, que a mulher do presidente da República se meta como penetra numa reunião oficial. Fica mais constrangedor ainda quando o presidente concorda, em público, com o que a mulher fez – ou é obrigado a dizer que concorda. Mas foi isso o que aconteceu nessa última viagem de Lula à China, já a quinta que faz ali como presidente. Janja se intrometeu numa reunião com o presidente chinês e disse uma cretinice de "400 talheres" – mais uma do seu vasto repertório.


Janja, desta vez, pediu que o presidente Xi Jinping, um dos seres humanos mais ocupados deste mundo, fizesse “alguma coisa” para resolver uma situação que a incomoda – não na China, mas no Brasil. Anda irritada pessoalmente com o Tik Tok, que o seu marido não consegue censurar, e achou uma grande ideia pedir que Xi Jinping faça a censura em seu lugar, já que a plataforma é de origem chinesa. O Tik Tok, segundo ela é “de direita”. Não pode, portando, existir.


Janja não podia ir à reunião com o marido-presidente. Tendo se metido ali, deveria ficar de boca fechada. Tendo aberto a boca, não podia dizer uma coisa tão burra. Como ela vai pedir a intervenção de uma potência estrangeira em assuntos do Brasil? Como pode pedir censura, que é vetada pela Constituição do seu próprio país? Como pode achar que “a direita” é ilegal, e tem de ser reprimida como se fosse um crime – e pelo presidente da China? Pois então: ela conseguiu fazer isso tudo.


Janja, naturalmente, recebeu a resposta adequada: Xi Jinping lhe disse que se a plataforma estava fazendo algo de errado, cabe apenas ao governo do Brasil, e obviamente não ao governo da China, tomar as providências que julgar cabíveis. Lula e os ministros presentes não abriram o bico. De um lado da mesa, havia 5.000 anos de cultura. Do outro havia Janja. Só podia mesmo dar nisso.


O analfabetismo maciço de Lula, como o Brasil tem sentido nos quase vinte anos de seus governos, tem sido uma desgraça para este país. A última coisa que a população precisava, a essa altura, era uma Janja – que leva a ignorância de Lula a extremos nunca atingidos antes, com a interação intensa entre a sua vadiagem mental e a do marido. Já não bastava Lula? Pois agora, com Janja, temos Lula ao quadrado. Aí fica difícil.


Em vez de cuidar da crise no INSS, Lula foi se esconder em Moscou

O resto é o mesmo enredo de filme catástrofe. Janja, mecanicamente, se declarou vítima de “machismo”: todas as críticas, disse ela, foram feitas porque ela é “uma mulher” – e não porque cometeu uma estupidez em estado bruto. Lula, numa tentativa fútil de fugir à imagem de marido velho que vive fazendo o papel de palhaço por causa da mulher mais nova, veio com a fábula que foi “ele” quem pôs o Tik Tok no meio – e ficou resmungando contra os seus ministros, por terem vazado a história. Para rematar a performance, anunciou na frente de todo o mundo que pediu a Xi Jinping uma pessoa de “sua confiança” para vir ao Brasil e resolver o problema do Tik Tok – isso mesmo, o presidente brasileiro pediu a um governo estrangeiro que mande um dos seus funcionários para solucionar um problema do Brasil.

                     

Tudo isso aí fica terrivelmente mais ridículo quando Lula ainda finge uma intimidade que não tem com o presidente da China. Chama o homem de “companheiro Xi Jinping” – uma coisa feia, quando está na cara de todo mundo que Xi Jinping não é “companheiro” dele coisa nenhuma, e nunca vai ser. Só faltava, a essa altura, anunciar como uma grande vitória da sua viagem que o governo brasileiro vai mandar antecipadamente para a China os seus “projetos de infraestrutura” do PAC, caso os chineses queiram “investir” aqui. Ele fez exatamente isso, acredite!


Que PAC? Que projetos? Que obras? 

Mais ainda: imaginem a China enviando com antecipação ao Brasil os seus planos de infraestrutura, para as empresas brasileiras irem investir na China. Pode um negócio desses? É tudo uma comédia gigante, que as elites nacionais fingem levar a sério – e que os brasileiros têm de pagar.

Maria Cristina Fernandes

 A turnê de Lula e a bola de cristal de Bannon

Maria Cristina Fernandes 

Valor Econômico, terça-feira, 13 de maio de 2025 


O ideólogo do trumpismo colocou Lula, Putin e Xi no mesmo balaio num momento em que o presidente brasileiro faz turnê por Rússia e China

 

Steve Bannon foi taxativo ao “Financial Times”: “Donald Trump vai se recandidatar e vai ganhar”. A capacidade preditiva do ideólogo do trumpismo escalou quando ele apostou, duas semanas antes do conclave, na escolha de Robert Prevost para papa. O recuo na guerra comercial só viria dois dias depois, mas Bannon, mesmo sem tratar dela, também pareceu premonitório.

A guerra comercial foi, até aqui, um dos fatores mais determinantes para que Trump tenha chegado aos 100 dias com a mais baixa popularidade dos últimos 80 anos. Não tende a ser visto internamente como o provocador de muito barulho por nada, mas como um presidente que, frente às evidências, foi capaz de recuar e devolver otimismo aos agentes econômicos.

Bannon colocou Xi Jiping, Vladimir Putin e Luiz Inácio Lula da Silva no mesmo balaio: “Xi, Lula e Putin são uma aliança ruim. Eles não se cruzam com Trump. Eles não vão ajudar com a Ucrânia. Eles vão fazer o que estiver no interesse deles”. Não é uma visão exclusiva de Bannon. A ideia de que o Brasil seja visto como parte dessa aliança foi o que levou conselheiros deste governo a sugerir que o país voasse baixo para aproveitar oportunidades sem cutucar a onça com a vara curta.

A delegação que veio ao Brasil para discutir com o Ministério da Justiça o enquadramento de facções criminosas como o Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho como terroristas é rugido de onça. O carimbo encurtaria caminho para sanções americanas.

Da segunda parte da turnê de Lula entre aliados que desgostam o ideólogo trumpista ainda não se tem o resultado final, visto que a assinatura de acordos acontecerá depois de reunião de Lula com Xi nesta terça. O encontro está sendo acompanhado por toda a imprensa mundial, particularmente a americana.

O “The New York Times” trouxe a declaração de um integrante da chancelaria chinesa sobre as pretensões de Trump junto na região: “O que os povos da América Latina e do Caribe estão buscando é independência e auto-determinação, não a chamada ‘nova doutrina Monroe’”.

O diplomata chinês não se limitou a definir o interesse chinês no encontro mas avançou sobre o que venha a ser o interesse região. Trata-se, porém, de um porta-voz indesejado. Junta-se a declarações da delegação brasileira de que a China, com os acordos desta terça, “vão rasgar o Brasil com estradas”. Compõe o pacote “cutucar a onça”.

Daquilo que foi anunciado nesta segunda, ainda não se identificam investimentos que venham a justificar o risco de tamanha exposição. Depois que, no fim de 2024, 163 operários chineses da BYD na Bahia foram resgatados em condições análogas à escravidão, os novos investimentos automotivos ainda terão que provar que se darão em outras bases. Também terá que se aguardar se o investimento em energia renovável não é desova da superprodução de equipamentos da China. Há um investimento do qual não se pode duvidar que venha a gerar empregos, o da empresa que vai chegar para competir como Ifood, ainda que não seja esse tipo de emprego que vai redimir a juventude nacional.

É a primeira parte da turnê, porém, que abre mais espaço para o carimbo que Bannon quer impor sobre o Brasil. O Palácio do Planalto busca envelopar a ida de Lula a Moscou como parte dos esforços do país pela paz na Ucrânia, a despeito de o presidente brasileiro ter assistido a uma parada em que Vladimir Putin exibiu, juntamente com tropas chinesas, todo seu poderio bélico. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, lá estava, mas o Itamaraty não soltou uma única nota sobre o encontro.

Na mensagem pública dirigida à delegação brasileira durante encontro no Kremlin, Putin não falou de Ucrânia. Na reunião, com 12 de cada lado, Lula incluiu, entre diplomatas e parlamentares, o CEO da Minerva. Valeu-se de explicação tão inusitada quanto a presença de um único empresário: “Temos na nossa delegação um proeminente empresário que se aproximou de mim no Brasil e perguntou: Você vai à Rússia? Gostaria de acompanhá-lo porque sou o principal exportador de carne para a Rússia. Tive o prazer de convidar o sr. Fernando Queiroz para se juntar à nossa delegação e gostaria de aproveitar esta oportunidade para apresentá-lo, presidente”.

É possível que, daqui a um mês, quando Lula for à França para mais um encontro com Macron, possa resgatar o discurso de que o investimento da diplomacia presidencial, na verdade, é pelo multilateralismo. Em seguida, porém, o Brasil sediará o encontro dos Brics, outro caroço de angu para a diplomacia americana.

A paz na Ucrânia ainda desafia Trump, mas o presidente americano embarca nesta terça para o Oriente Médio, onde pode vir a fechar um acordo que leve o Irã a recuar de seu programa nuclear. A hipótese, ainda incerta, de que venha a ser bem-sucedido, abre a possibilidade de um êxito que ecoaria na política doméstica e no mundo, a minimizar a hostilidade que tem despertado.

Bannon define o que está em curso como “a era Trump”, que ainda está muito longe de se acabar e terá pinceladas marcadamente populistas com mais deportação e enfrentamento de corporações. É esta era que a turnê de Lula parece desafiar. Resta a expectativa de que a bola de cristal de Bannon tenha se quebrado depois de Prevost.

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Armadilha da renda média

 https://www.youtube.com/watch?v=HUU7vtgc9hA

Os economistas do Real

 https://www.youtube.com/watch?v=bA5ENK0_VrA&t=771s

Assistindo aos debates com os ex-presidentes do BCB. Não resta dúvida q foi aquela turma de excelência, todos da PUC, q conseguiu criar os alicerces do Real. Baixíssima contribuição da UNICAMP, da UFRJ, e tantas outras escolas heterodoxas. E estes caras se arvoram a tentar desconsiderar a preciosa contribuição destes brilhantes economistas e intelectuais. Faço questão de destacar todos, Pedro Malan, Persio Arida, Armínio Fraga, André Lara Resende, Edmar Bacha, Gustavo Franco, Francisco Lafayette Lopes, e vamos em frente. Isso sim eram economistas de verdade. A engenharia da URV, a partir do PLANO LARIDA, é algo sensacional, dada a sua simplicidade. E lembremos que foi o PT a se posicionar contra, ao acusar o Real, de estelionato eleitoral. PATÉTICOS.

BCB 60 anos. Bate papo entre Gabriel Galípolo e Gustavo Loyola

https://www.youtube.com/watch?v=VmAfxWO68do

Gustavo Loyola, muito bom também. “Três dos dez maiores bancos brasileiros quebraram. Liquidamos mais de cem instituições financeiras. Sofremos vários processos. Mas quando a gente vê a trajetória do Plano Real, esse saneamento foi decisivo. Se tivesse havido uma crise bancária aberta, teríamos uma grande ameaça à estabilidade monetária”. No segundo episódio da série Conversas Presidenciais, Gustavo Loyola, presidente do BC em 1992 e em 1995, conta a Gabriel Galípolo, atual presidente do Banco, os desafios que enfrentou, as boas e más lembranças, sua relação pessoal com o BC e a importância da instituição para sua carreira.

BCB 60 anos. Bate papo entre Gabriel Galípolo e Pedro Malan

 https://www.youtube.com/watch?v=0voVNXgSJwI 


Pedro Malan, sempre um lord, e extremamente preparado e equilibrado. “Lembro de uma conversa em março de 1994, a URV já lançada, em que o José Roberto Mendonça de Barros diz: ‘Vocês lançaram um foguete. Têm ideia de como e quando ele vai aterrissar?’ Foi uma aposta arriscada. O sucesso não estava garantido, qualquer que fosse o contexto”. No terceiro episódio da série Conversas Presidenciais, Pedro Malan, que assumiu a presidência do BC em agosto de 1993, fala a Gabriel Galípolo, atual presidente do Banco, sobre o BC à sua época, os desafios da implementação do Real e como o Banco Central deve estar atento a um “mundo mais incerto e mais perigoso”.

BCB 60 anos. Gabriel GALÍPOLO e Gustavo Franco

 https://www.youtube.com/watch?v=Tcb952qwzSk

Sou fã de carteirinha deste grande economista, Gustavo Franco. Sempre muito espirituoso, foi presidente numa época crucial, a transição do regime cambial, então em sistema de bandas , e alargando. Grande bate-papo.

“Sei pelo meu passado de historiador do tamanho do caos, da doença, que é a hiperinflação. Em matéria de doenças sociais, a hiperinflação é das piores que tem. E tivemos talvez a mais longa”. No 5º episódio da série Conversas Presidenciais, Gustavo Franco, presidente do BC em 1995 e entre 1997 e 1999, fala a Gabriel Galípolo, atual presidente do Banco, sobre os desafios econômicos que vivenciou e a experiência à frente do BC.

Fabio Alves