segunda-feira, 12 de maio de 2025

BDM Matinal Riscala

 *Rosa Riscala: Mercado espera detalhes do acordo EUA-China*


… Os mercados financeiros abrem hoje na expectativa pelos detalhes do acordo que teria sido fechado no fim de semana entre os EUA e a China, após apenas dois dias de negociações na Suíça. Já nos primeiros negócios, os futuros de NY e os pregões asiáticos festejavam a informação anunciada pelos dois países. A notícia prevalece sobre a agenda importante de indicadores nesta semana em NY, com inflação (CPI e PPI), vendas no varejo, produção industrial e confiança do consumidor, e no Brasil. A ata do Copom amanhã é esperada com grande interesse para sinalizar junho, além do volume de serviços e dados do comércio, que, se vierem fortes depois do IPCA, deverão reforçar as chances de um ajuste final da Selic, para 15%. O calendário de balanços também é extenso, com Petrobras hoje, após o fechamento.


… O aumento da produção de óleo e gás no 1Tri deve levar a Petrobras a registrar resultados melhores em relação ao 1Tri/24. Estimativas compiladas pelo Valor junto a bancos e corretoras apontam para um lucro líquido médio de R$ 34,9 bilhões (+47,25%).


… Para a receita líquida, a projeção é de R$ 130 bilhões (+10,47%) e para o Ebtida, de R$ 64,3 bilhões (+7,16%).


… Além de Petrobras, divulgam balanços nesta 2ªF o BTG Pactual, Itaúsa, Telefônica Brasil, Sabesp, Hapvida, Banco Inter, Natura, Brava, Direcional, YDUQS, IRB, Grupo SBF, Track & Field, Even, OceanPact, Technos, Terra Santa e Taurus.


… A temporada de resultados na B3 segue forte nos próximos dias, com destaque para JBS e Nubank amanhã (3ªF); Eletrobras, Equatorial, Eneva, Americanas e Cisco (4ªF); e BB, CPFL, BRF, Marfrig, Cyrela, Eztec, Gafisa, Lojas Marisa, Gol e Walmart (5ªF).


… A ata do Copom, nesta 3ªF, pode ajustar as apostas para a Selic terminal, depois que o comunicado deixou junho em aberto, sem definir se o ciclo está encerrado com a taxa básica em 14,75% ou se o Comitê verá a necessidade de mais uma alta residual de 25pbs.


… O IPCA de abril, divulgado na 6ªF, reforçou as posições mais conservadoras, já que, apesar da desaceleração na margem, trouxe elevado índice de difusão, somando-se às pressões da surpresa com a produção industrial de março, bem acima do esperado.


… Se a ata não resolver esse impasse, o volume do setor de serviços (4ªF) e as vendas no varejo de março (5ªF) podem ser decisivos.


… Já hoje, o mercado monitora a edição semanal da pesquisa Focus (8h25), com atualização das projeções de inflação, PIB, Selic e câmbio.


… Nos EUA, se confirmado o desfecho positivo das negociações com a China, uma onda de otimismo pode embalar os mercados e resgatar as apostas em corte antecipado do juro pelo Fed, com junho ressurgindo como uma possibilidade.


… Nesse contexto, os indicadores desta semana perderão o status, já que foram projetados no auge da guerra comercial de Trump com os chineses. Powell tem uma fala prevista para 5ªF e, já com mais clareza sobre o quadro, poderá validar o ponto de inflexão.


… Na noite deste domingo, os sites internacionais de notícias só tinham um destaque, o acordo anunciado pela Casa Branca com a China.


… O secretário do Tesouro, Scott Bessent, revelou que os dois dias de negociação em Genebra com autoridades chinesas foram “muito produtivos”, com “progresso substancial”, e que os detalhes serão fornecidos em um briefing na manhã desta 2ªF.


… O representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, que acompanhou Bessent à Suíça, confirmou que as discussões do fim de semana com a China foram “muito construtivas” e que se chegou a um “acordo”, sem antecipar mais informações.


… “A rapidez com que conseguimos chegar a um acordo significa que, talvez, as diferenças não eram tão grandes quanto se pensava. Nós estamos confiantes de que o acordo que fechamos com nossos parceiros chineses nos ajudará a resolver essa emergência nacional.”


… As autoridades chinesas que participaram das reuniões também falaram positivamente. O vice-primeiro-ministro da República Popular da China, He Lifeng, disse que a reunião “alcançou progressos substanciais”, chegando a um “consenso importante”.


… Já o representante de Comércio Internacional da China, Li Chenggang, sugeriu que uma declaração conjunta seria divulgada em breve. “Acredito que, independentemente de quando esta declaração for divulgada, será uma grande notícia. Boas notícias para o mundo.”


… “Este é um enorme ponto positivo na direção certa para os mercados”, disse Dan Ives (Wedbush Securities), em nota aos clientes. Para ele, “o fim de semana foi o melhor cenário possível, mostra que um acordo maior entre EUA e China já está em discussão”.


… Na Reuters, Michael Brown (Pepperstone) previu que investidores estarão agora mais confortáveis para retomar as posições de risco. “Parece que evitamos o pior cenário de fracasso das negociações e, de fato, alcançando algum progresso.”


… Brown apenas acrescentou que o mercado vai querer mais informações específicas para fortalecer essa convicção.


… Para Valentin Marinov (Crédit Agricole), “os últimos acontecimentos podem ser uma bênção para ativos e moedas correlacionados ao risco e um golpe para moedas consideradas refúgio, como o iene, o franco suíço e até mesmo o euro.”


… Os primeiros preços nos mercados de câmbio da Austrália e da Ásia nesta 2ªF mostraram que tanto o euro quanto o iene recuaram em relação ao dólar americano, enquanto o yuan offshore também apresentava uma leve valorização.


… Os ativos de risco também podem se beneficiar do cessar-fogo entre a Índia e o Paquistão, bem como dos sinais de que os líderes da Rússia e da Ucrânia devem se reunir esta semana. Putin propôs encontrar-se com Zelensky no dia 15 (5ªF), em Istambul (Turquia).


MAIS AGENDA – Trump anunciou no fim de semana que assinará hoje ordem executiva que pode reduzir os preços de medicamentos nos Estados Unidos entre 30% e 80%. Amanhã, o presidente parte para uma viagem oficial no Oriente Médio.


… Em visitas à Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes, a pauta engloba o cessar-fogo entre Israel e Gaza, petróleo, comércio, acordos de investimento e novos desenvolvimentos nas áreas de exportação de semicondutores avançados e programas nucleares.


… Entre indicadores fora dos EUA, são destaques nesta semana: o PIB/1Tri na Zona do Euro e no Japão, e dados de inflação na Alemanha.


PETRÓLEO – O Irã e os EUA realizaram neste domingo a quarta rodada de negociações sobre o programa nuclear.


… O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Esmail Baghaei, classificou as conversas como “difíceis, mas úteis”. Fonte americana disse que o resultado foi “encorajador” e que um próximo encontro ocorrerá em breve.


CHINA – Em linha com as expectativas, a inflação ao consumidor (CPI), divulgada na noite da última 6ªF, recuou 0,1% em abril, na comparação anual, repetindo o declínio de março e marcando o terceiro mês consecutivo de queda.


… Já o índice de preços ao produtor (PPI) chinês teve queda anualizada de 2,7% no período, após recuo de 2,5% em março. O dado veio levemente pior do que o esperado pelo consenso dos analistas de mercado, de -2,8%.


GALÍPOLO – O presidente do BC está fora do Brasil em viagens oficiais à Suíça, onde participou no fim de semana das reuniões bimestrais do BIS na Basileia, e agora segue para a China (amanhã, 13 de maio) e para a Espanha (15 e 16 de maio).


FAZ PARTE DO MEU SHOW – NY manteve a volatilidade à véspera da reunião entre os EUA-China em Genebra, diante dos novos sinais trocados de Trump, ao cogitar na 6ªF quedas das tarifas a Pequim de 145% para 80%.


… O comentário só serviu para a Casa Branca desmentir depois, quando a chefe de comunicação do governo de Washington esclareceu que os americanos cobrariam concessões e não cortariam as taxas unilateralmente.


… O mercado está cansado de saber que a retórica de Trump é muito pouco confiável, muitas vezes sem compromisso com a verdade. Assim, tão rápido quanto se arriscaram a subir, as bolsas em NY devolveram tudo.


… Também os Fed boys trataram de indicar que Powell está certo quando diz não ter pressa de relaxar os juros, porque, até que saiam avanços concretos para um desfecho da guerra comercial, a estratégia é arriscada.


… Raphael Bostic não acredita ser prudente ajustar a política monetária com “tão pouca visibilidade do caminho a seguir”. Adriana Kugler defendeu a posição do Fomc de manter os juros inalterados na próxima reunião (maio).


… Agora é ficar na torcida para que os americanos e os chineses tenham mesmo conseguido se entender nas últimas 48h em que estiveram na Suíça, porque é isso que pode fazer a total diferença para uma reviravolta otimista.  


… Em compasso de espera pelas negociações do fim de semana, o Dow Jones caiu 0,29% (41.249,38 pontos), enquanto o S&P 500 (-0,07%, aos 5.659,91 pontos) e o Nasdaq (17.928,92 pontos) se acomodaram na estabilidade.


… Entre os Treasuries, profissionais de mercado citaram o clima de esperar para ver, que derrubou de leve as taxas da Note de 2 anos (a 3,883%, contra 3,893% na véspera) e de 10 anos, para 4,381%, de 4,385% no dia anterior.


… Também o dólar caiu lá fora. Não quis confiar antecipadamente em um progresso com a China no fim de semana.


… A reputação da moeda americana foi tão abalada nos últimos tempos pelo protecionismo econômico kamikaze de Trump, que vem acontecendo o que parecia improvável, com migração de investimentos para outras divisas globais.


… Na 6ªF, o índice DXY caiu 0,3%, embora tenha conseguido defender a linha dos 100 pontos (100,339). O iene acelerou para 145,35/US$, o euro avançou 0,26%, cotado a US$ 1,1253, e a libra ganhou 0,44%, a US$ 1,3306.


… Em meio à busca recente por alternativas diferentes à moeda americana, estrategistas do BofA veem espaço para valorização adicional do real. Na 6ªF, o dólar estacionou na casa de R$ 5,65, à espera do desenrolar na Suíça.


… Limitou a baixa a 0,11%, negociado a R$ 5,6548, um dia depois de ter registrado queda intensa, de quase 1,5%. Diante do enfraquecimento global, a XP reduziu na 6ªF a projeção do dólar no fim do ano de R$ 6,00 para R$ 5,80.


PLATÔ – Uma continuidade do alívio no câmbio pode ajudar o Copom a parar de subir a Selic, apesar do recado do comunicado da semana passada de juro em patamar “significativamente contracionista por período prolongado”.


… Qualquer abordagem mais dovish do BC continua condicionada à política comercial de Trump e à política fiscal de Lula, neste momento em que a inflação ainda continua rodando alta e estourando o teto da meta, de 4,5%.


… Embora o IPCA de abril, divulgado na 6ªF, tenha desacelerado para 0,43%, contra 0,56% em março, subiu em 12 meses, de 5,48% para 5,53%. A inflação segue espalhada: o índice de difusão foi de 64,72% para 66,84%.


… Outra evidência ruim é que a alta acumulada pelos preços nos serviços subjacentes, de 6,7%, é a maior desde junho de 2023. Diante das pressões no resultado, o ASA elevou sua projeção para IPCA deste ano de 5,3% para 5,4%.


… Mas a XP reduziu de 6,0% para 5,7%, refletindo a melhora no câmbio e a queda do petróleo, embora no intervalo da última semana a commodity venha testando uma reação, apontando em progressos na negociação com a China.


… O barril do Brent para entrega em julho registrou valorização de 1,70% na 6ªF, para US$ 63,91.


… No geral, a expectativa é de que, se der tudo certo lá fora e a tensão comercial parar de escalar, o ambiente externo possa propiciar ao Copom um importante argumento para dar um fim ao ciclo de aperto monetário.


… Apesar do desconforto com o IPCA de abril, a ponta curta do DI operou estável na 6ªF, de olho nas novidades do fim de semana em Genebra. Os contratos mais longos fecharam com viés de queda, mas também perto dos ajustes.


… O contrato de juro para janeiro de 2026 marcou 14,795% (de 14,790% no fechamento anterior); Jan/27, 14,005% (contra 13,990%); Jan/29, 13,385% (de 13,415%); Jan/31, 13,520% (contra 13,590%); e Jan/33, 13,580% (13,640%).


… A esperança de que o momento mais crítico da guerra comercial tenha passado e que, por aqui, o BC comece a preparar os espíritos para aliviar o conservadorismo promete resgatar o apetite do investidor estrangeiro para a B3.


… Neste início de maio, o saldo em capital externo está positivo em R$ 1,3 bi, depois da fuga no começo de abril.


… O Ibovespa volta a sonhar com recordes inéditos de pontuação. O pregão da 6ªF, porém, foi morno, porque em todo o mundo os investidores operaram engessados pela expectativa com os desdobramentos entre os EUA-China.


… O índice à vista fechou em alta discreta de 0,21%, aos 136.511,88 pontos. A surpresa ficou com o giro de R$ 29,7 bilhões, inflado pela venda de participação relevante (16,5%) de coinvestidores do fundo Pátria na SmartFit (-4,75%).


… A rede de academias sozinha girou quase R$ 2,7 bilhões, mais que Itaú PN, que movimentou perto de R$ 2 bi após a divulgação de seu balanço trimestral muito elogiado e que garantiu rali aos papéis do banco (+5,41%, a R$ 37,23).


… Ainda Bradesco PN (+0,27%, a R$ 15,12), BB (+0,41%, a R$ 29,53) e Santander (+0,87%, a R$ 29,99) fecharam no azul. Petrobras ON (+0,51%; R$ 33,20) e PN (+0,65%; R$ 30,91) repercutiram nova descoberta de petróleo.


… A companhia identificou a presença de petróleo de “excelente qualidade e sem contaminantes” no pré-sal no campo de Aram, localizado na bacia de Santos. Esta é a segunda descoberta no campo anunciada em dois meses.


… Vale ON (+0,40%, a R$ 52,95) registrou ganho moderado, apesar de o minério ter fechado em queda de 0,57%.


EM TEMPO… BRASKEM reverteu prejuízo e teve lucro líquido de R$ 698 milhões no 1Tri25. O Ebitda recorrente foi de R$ 1,3 bilhão, com alta de 16% ante os primeiros três meses de 2024…


… A receita líquida, por sua vez, foi de R$ 19,5 bilhões, alta de 9% contra igual intervalo do ano passado.


PETROBRAS comunicou que, após seis anos, retomou as perfurações de poços na Bahia, do poço 7-TQ-240D-BA, localizado no campo de Taquipe, em São Sebastião do Passé, a cerda de 80 km de Salvador (BA)…


… A Petrobras também informou que a Proquigel, subsidiária da Unigel, aprovou acordo para encerramento das controvérsias contratuais e litígios existentes entre as empresas…


… Acordo prevê o retomada da posse e operação das unidades de fertilizantes (FAFENs), na Bahia e em Sergipe, pela Petrobras. Para produzir seus efeitos, o acordo ainda precisará ser homologado pelo Tribunal Arbitral.


BANCO MASTER. O Banco de Brasília (BRB) conseguiu derrubar uma decisão que o impedia de fechar a compra da instituição, anunciada no final de março.


BANCO ABC BRASIL teve lucro líquido de R$ 225,6 milhões no 1TRI25, alta de 1,1% na comparação anual. ROAE ficou em 14,1% no 1TRI25, de 15,1% no 1TRI24.


BANCO BV encerrou o 1Tri25 com lucro líquido recorrente de R$ 480 milhões, crescimento de 49,6% em relação ao mesmo intervalo do ano passado.


MINERVA firmou acordo de leniência de R$ 22 milhões com a CGU e a AGU relacionado a investigações iniciadas em 2017 sobre supostos pagamentos indevidos a auditores fiscais federais agropecuários em Araguaína (TO).


JHSF. O conselho de administração aprovou a proposta de venda de uma fração do imóvel onde funciona o Shopping Ponta Negra, em Manaus, de sua titularidade.


FERTILIZANTES HERINGER reverteu prejuízo e teve lucro líquido de R$ 59,577 milhões no 1Tri25. Apesar da melhora no resultado trimestral, a empresa contabilizou queda de 6,7% na receita líquida de vendas…


… O Ebitda ficou positivo em R$ 3,539 milhões, ante resultado negativo de R$ 52,116 milhões na comparação anual.


RAÍZEN informou que a BlackRock passou a deter 5,001% das ações preferenciais.


HIDROVIAS DO BRASIL fará a 4ª emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, da espécie quirografária, para distribuição pública, em até duas séries, no valor R$ 2,2 bilhões.


JALLES MACHADO. O conselho de administração aprovou a sexta emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, da espécie quirografária, em duas séries, no valor de R$ 400 milhões.


COPEL informou que a GQG Partners LLC aumentou sua participação acionária na companhia para 65.162.324 ações ordinárias, representando 5,01% do total desta classe de ação.


ISA ENERGIA. O STJ determinou convocação da empresa e da Fazenda de SP para audiência dia 22 sobre complementação de aposentaria e pensão a colaboradores da antiga Cesp até maio/1974.

domingo, 11 de maio de 2025

Maurício Meirelles

 Maurício Meireles


Nove de abril de 1964 foi um dia tumultuado, para dizer o mínimo. Os militares tinham acabado de tomar o poder e, naquela data, com o Ato Institucional Número 1, suspenderam inúmeras garantias democráticas. Na lista de cassados em seguida constavam nomes como João Goulart, Leonel Brizola e Rubens Paiva. Era o início de uma ditadura que duraria 21 anos.


No mesmo dia, o escritor Rubem Fonseca —executivo da Light, mas nos primeiros passos de sua carreira literária— redigiu uma carta ao presidente do Ipês (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais), organização empresarial que tinha participado da conspiração contra João Goulart.


"Meu caro [Haroldo] Poland", bateu o autor à máquina, "venho pela presente solicitar minha demissão da Comissão Executiva do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais. Levam-me a isso razões particulares a que não posso deixar de atender".

No documento, o autor também defende que o Ipês continue se dedicando a uma agenda de "reformas de base".


A missiva está entre as centenas de papéis no acervo do escritor, a que a Folha teve acesso. O material, hoje em cerca de 60 caixas, foi encontrado pela filha de Rubem Fonseca, Bia Corrêa do Lago, no apartamento do pai depois da morte dele, em 2020.

Ao que tudo indica, o documento só está preservado ali. A reportagem fez uma busca nos arquivos do Ipês, no Arquivo Nacional, mas não encontrou uma cópia da correspondência.


A carta acrescenta um novo elemento a uma controvérsia que marcou a biografia de Rubem Fonseca, uma das mais notórias vítimas da censura no regime militar. Nos anos 1980, pesquisas revelaram que ele havia integrado a cúpula do Ipês —o que, como consequência, poderia torná-lo cúmplice das articulações pelo golpe de 1964.

A participação no Ipês, aliás, foi um dos poucos assuntos sobre os quais Rubem Fonseca falou na imprensa. Em um texto de 1994 na Folha, por exemplo, ele dizia que havia dois grupos dentro do instituto: um golpista e outro reformista e democrático, ao qual ele pertencia. Também disse ter se afastado da organização depois do golpe.

A carta de demissão parece dar lastro à versão do escritor sobre seu afastamento. "A carta não me surpreendeu, mas fiquei feliz de a ter encontrado", diz Bia Corrêa do Lago, acrescentando que o documento reforça o que ouvia em conversas privadas com o pai.


Foi em 1981 que a participação de Rubem Fonseca no Ipês, então como diretor da Light, empresa de distribuição de energia que financiou o instituto, veio à tona pela primeira vez. Naquele ano, saiu o livro "1964 - A Conquista do Estado", do cientista político uruguaio René Armand Dreifuss, pioneiro ao revelar a atuação dos empresários para derrubar o governo João Goulart —sustentando que o Ipês teve papel crucial nesse processo.

Pela análise de Dreifuss, o instituto se apresentava em público como algo inofensivo, apenas um think tank disposto a auxiliar o país em reformas. No entanto, estava envolvido em ações secretas e produzia peças de propaganda para influenciar a opinião pública. 

 

O Ipês contou inclusive com a participação dos militares. O general Golbery do Couto e Silva, um dos militares mais influentes da ditadura, foi uma das lideranças da entidade. Golbery não só ajudou a traçar a estratégia da organização, mas também coordenou o levantamento de dados sobre brasileiros considerados subversivos.

Quando saiu o livro de Dreifuss, Zé Rubem, como os amigos o chamavam, já era um escritor famosíssimo. Não foi à toa que, de tantos nomes citados na obra, o seu tenha chamado a atenção.


Dreifuss descobriu que ele coordenara o núcleo editorial do Ipês, mas, como a pesquisa não é especificamente sobre o escritor, não chega a se estender em detalhes da trajetória dele —ou a mencionar um eventual afastamento da entidade.

Logo depois da publicação do livro, Rubem Fonseca publicou um artigo no Jornal do Brasil (uma cópia do texto está preservada em seu acervo). Nele, desenvolve pela primeira vez o argumento das alas reformista e conservadora do Ipês e minimiza o papel da organização no golpe.


O escritor lembra ainda que, quando os militares tomaram o poder, não foi ocupar um cargo no governo federal porque não quis. Diz que, quando o governo comprou a Light, foi um dos primeiros diretores a serem demitidos. E recorda o rumoroso caso de censura a seu livro "Feliz Ano Novo", em 1975 — o volume de contos só voltaria às livrarias com a reabertura.


A historiadora Heloísa Starling, que foi orientanda de Dreifuss e chegou a pesquisar o Ipês em Minas Gerais, diz ver com ceticismo a explicação do autor.


Em seu novo livro, ainda inédito, ela dedica um capítulo à entidade empresarial. Na obra, sustenta que a fase final do plano do instituto —aliado a uma facção das Forças Armadas— era ocupar o Estado.


"O Ipês é o braço empresarial do golpe, não há ala democrática lá. É como o que vemos hoje, usavam o discurso da democracia para subverter a democracia. Mas não acho que Rubem Fonseca estivesse interessado na ocupação do Estado", diz ela.

"Várias pessoas participam ativamente e depois se arrependem. Os efeitos dos atos institucionais podem ter funcionado de gatilho para uma compreensão maior. Podemos calçar os sapatos do morto nisso." 

 

Já nos anos 2000, outras pesquisas sugeriram que Rubem Fonseca fosse o autor dos roteiros dos filmes do Ipês, produzidos por Jean Manzon, lendário fotógrafo de revistas brasileiras. Mas esses estudos apoiam a acusação em evidências frágeis, enquanto trabalhos posteriores afirmam que os filmes do instituto eram iniciativa principalmente da unidade de São Paulo e que o papel do escritor neles foi superestimado.


Contudo, historiadores têm apontado documentos no acervo do Ipês, no Arquivo Nacional, que parecem contradizer a carta de demissão.


Por exemplo: em 27 de março de 1968, Haroldo Poland, presidente da entidade, comunica numa carta a Rubem Fonseca que o autor foi reconduzido, por unanimidade, para o Conselho Orientador do instituto; chama-o de "caro amigo dr. José". Além disso, a ata de dissolução da organização, em 1972, tem a assinatura do escritor.


Segundo Bia Corrêa do Lago, o pai continuou oficialmente no quadro do Ipês porque era executivo da Light, mas se afastou do dia a dia da entidade.


"Ele deixou de ir às reuniões do Ipês. Como a Light ainda estava ligada ao instituto, ele continuou ligado de alguma maneira, mas sem ações na prática", diz ela, acrescentando que o pai era contra a deposição de João Goulart e que está contratando uma pesquisadora para investigar os arquivos do instituto.


A filha do autor vem trabalhando no acervo do pai para uma fotobiografia em celebração do centenário dele. Ela afirma que os papéis permitem um olhar abrangente sobre as posições políticas do escritor — inclusive com uma atuação de juventude contra o Estado Novo de Getúlio Vargas. Segundo Bia, o homem que surge dos documentos tem credenciais democráticas.

Silêncio comprado

 *Silêncio comprado?*


Por Leonardo Corrêa


Foi com dureza e precisão que Estadão e a Folha de S.Paulo reagiram à visita de Lula à Rússia. Em editoriais contundentes, os dois maiores vespertinos paulistas não pouparam o presidente brasileiro pelo gesto de confraternização com Vladimir Putin, no coração de Moscou, durante as comemorações do chamado “Dia da Vitória”. A Folha classificou a viagem como um "erro diplomático patente", denunciando a deferência a um autocrata que promove guerra e violações massivas aos direitos humanos. Já o Estadão foi além: evocou o peso da História e carimbou a cena com palavras que não se esquecem — “o dia da infâmia da política externa brasileira”.


Ambos editoriais reconheceram o gesto como mais que simbólico: viram nele a falência de qualquer pretensão de neutralidade, e a submissão da diplomacia brasileira a uma lógica antiocidental. Lula, ladeado por ditadores latino-americanos, assistiu ao desfile de mísseis que hoje esmagam cidades ucranianas. Para os jornais de São Paulo, a presença não foi um deslize; foi um manifesto, uma escolha. Um país que diz prezar pela paz não se senta à mesa com quem abraça a guerra.


No entanto, entre as grandes redações nacionais, um nome destoou. O Globo, sempre pronto a assumir o centro do debate institucional, desta vez foi tímido. Publicou um editorial antes da visita, ainda no tom das advertências diplomáticas. Condenou a reinterpretação histórica feita por Putin sobre a Segunda Guerra Mundial, mas evitou criticar diretamente o presidente brasileiro. Nem a imagem de Lula na Praça Vermelha, diante de ogivas e tanques, foi suficiente para arrancar do jornal da família Marinho ao menos uma nota à altura do que se viu nos editoriais do Estadão e da Folha.


A razão talvez não esteja nas páginas de opinião, mas nas cifras da publicidade oficial. Segundo levantamento publicado pela VEJA, entre 2023 e 2024 a Rede Globo recebeu R$ 177,2 milhões da Secretaria de Comunicação do governo Lula — valor que supera o total repassado à emissora durante os quatro anos de Jair Bolsonaro. Em 2024, sozinha, a Globo ficou com 53% de toda a verba federal de publicidade destinada às principais TVs do país. Não se trata de conjectura: trata-se de números. Dados públicos que expõem um elo financeiro robusto entre o governo e a emissora que, por décadas, se autodenominou “independente”.


Mais do que isso: enquanto os demais grupos de mídia receberam valores menores e até decrescentes, a Globo viu seu lucro saltar 138% em 2024, chegando a impressionantes R$ 2 bilhões, conforme revelou reportagem publicada pelo portal Teletime em abril de 2025. A coincidência entre esse crescimento exponencial e o volume de repasses publicitários da Secom é eloquente demais para ser ignorada.


Diante disso, é legítimo perguntar: por que um jornal que sempre se destacou por seus editoriais vigorosos parece agora tão contido diante de um episódio tão grave? Por que a maior emissora do país, diante do constrangimento internacional causado por um presidente que se associa a ditadores e autocratas, responde com o silêncio? A resposta pode não estar apenas na redação, mas no caixa. Quando a crítica custa caro, a complacência vira investimento. A verdade, então, não se cala: se o Estadão e a Folha ainda cumprem o papel de imprensa livre, O Globo parece cada vez mais satisfeito em atuar como assessoria de imprensa do poder. Um poder que paga bem.


Mais do que omissão, o comportamento de O Globo expõe um vício sistêmico: quando o dinheiro do pagador de impostos é usado pelo governo de ocasião para financiar o discurso, a liberdade de expressão se desfaz. Não há neutralidade possível quando o Estado banca o microfone. A crítica se torna concessão, o silêncio vira contrato, e a imprensa deixa de servir ao público para servir ao poder. O jornalismo independente não sobrevive onde a publicidade oficial compra a pauta e entorpece a vigilância. Nesse cenário, não há pluralismo — há alinhamento. Não há voz — há eco.


Enquanto isso, os mísseis dos censores não desfilam apenas em Moscou — apontam, cada vez mais, para as redes sociais. Ali, onde não há verba da Secom, não há controle por contrato. São vozes soltas, sem pauta vendida, sem blindagem estatal. E é justamente por isso que incomodam tanto. As plataformas digitais expõem o que os editoriais calados escondem: a opinião dos indivíduos, não a conveniência dos grupos. Onde o dinheiro público não chega, a liberdade resiste.


No fim, o que se cala pesa mais do que o que se diz. A imprensa existe para ser contrapeso, não escudo. Quando falha em denunciar o poder, torna-se cúmplice dele. E quando o silêncio é comprado com dinheiro público, a verdade passa a ter preço — e o cidadão, a pagar com desinformação. Mas há ainda quem escreva sem patrocínio, quem fale sem filtro, quem resista sem medo. São essas vozes, dispersas e indomáveis, que mantêm viva a centelha da liberdade. Mesmo quando tudo parece dominado, elas lembram que o eco não é a única forma de som.

sábado, 10 de maio de 2025

Lula em Moscou

 https://www.estadao.com.br/opiniao/lula-em-moscou-o-dia-da-infamia/


*A imagem de Lula na Praça Vermelha, ladeado por facínoras para ver o desfile de mísseis que vão massacrar inocentes na Ucrânia, marcará o dia da infâmia da política externa brasileira*

Ao tomar parte nas celebrações do “Dia da Vitória” em Moscou – data em que a Rússia festeja a vitória na 2.ª Guerra contra o nazismo alemão e que o autocrata Vladimir Putin usa para fazer propaganda de seu regime tirano –, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva selou não um triunfo diplomático ou um gesto de realismo pragmático, mas um vexame moral e um fiasco geopolítico para o Brasil. Ao lado de autocratas de todos os cantos, Lula foi aquilo que os antigos agentes secretos soviéticos chamariam de “idiota útil”: um ocidental deslumbrado e voluntarioso – e descartável após servir às ambições do império russo.


Em teoria, a participação de um presidente brasileiro nas comemorações do fim da 2.ª Guerra poderia significar a celebração da liberdade contra a tirania, da coragem do povo russo, do papel civilizatório da Rússia nas artes, nas letras, nas ciências, ou mesmo uma oportunidade para um estadista astuto tecer alianças diplomáticas num mundo multipolar – e até explorar canais para promover uma paz justa entre Rússia e Ucrânia. Na prática, Lula foi o exato oposto.


O cortejo foi a peça de propaganda fabricada por um regime que encarna o que há de mais próximo ao fascismo hoje: uma autocracia que envilece sua nação e oprime seu povo, silenciando a oposição, perseguindo minorias, fraudando eleições para sustentar um líder vitalício adornado por uma iconografia imperial. É também um Estado predador, que desestabiliza governos, invade vizinhos e massacra civis sob a bandeira fraudulenta da “desnazificação”. A semelhança com as ambições irredentistas de Hitler, que invocava a germanidade para saquear territórios da Checoslováquia e da Polônia, é óbvia demais para ser ignorada.


Ironicamente, o gesto de Lula também o aproxima do presidente dos EUA, Donald Trump. Ambos têm apreço por autocratas, disputam um lugar no coração de Putin e culpam a Ucrânia por uma guerra de agressão que a Rússia começou.


Como em todos os governos petistas, Lula conduz uma política externa pautada não por interesses de Estado, mas por taras ideológicas e por sua ambição de ser festejado como vedete terceiro-mundista. Foi assim na aloprada mediação nuclear com o Irã, em 2010. É assim na contemporização sistemática de ditaduras como Cuba, Venezuela e Nicarágua. E é assim também, à custa da credibilidade internacional do Brasil, na relação amistosa com Vladimir Putin, um déspota que reintroduziu a guerra na Europa e exumou a guerra fria, flertando com um conflito mundial nuclear.


Ao celebrar o imperialismo de Putin, Lula, numa só tacada, surrou os princípios constitucionais que regem a política externa brasileira – autodeterminação dos povos, prevalência dos direitos humanos e solução pacífica dos conflitos. Também conspurcou a memória dos combatentes da Força Expedicionária Brasileira que tombaram ombro a ombro com os aliados europeus em nome da liberdade na 2.ª Guerra. E jogou mais uma pá de cal na tal “frente ampla democrática” que o elegeu em 2022, sequestrando aquele pacto cívico para usá-lo como instrumento de autopromoção ideológica.


O resultado é que o Brasil se afasta dos polos democráticos e reformistas do mundo e se aproxima da constelação sombria de regimes autoritários do novo eixo de caos. Em vez de se mover com pragmatismo e independência num mundo multipolar, Lula opta por um multilateralismo de fachada, que relativiza regras, desrespeita tratados e consagra a lei do mais forte – justamente a lógica que mais prejudica um país como o Brasil, que não dispõe do poder das armas ou do dinheiro, só da diplomacia, da persuasão e da adesão às normas internacionais para proteger seus interesses.


A imagem de Lula na Praça Vermelha, ladeado por facínoras, assistindo ao desfile de tanques e mísseis que vão massacrar inocentes na Ucrânia e outros povos, marcará na História o dia da infâmia da política externa brasileira, um dia em que o Brasil, sem ganhar rigorosamente nada em troca, arruinou seus princípios republicanos e democráticos, bajulando criminosos de guerra e adulando ditadores por puro capricho do demiurgo petista.


O chanceler paralelo Celso Amorim disse que Lula iria a Moscou como um “mensageiro da paz”. Foi apenas um mensageiro da torpeza.

Luis Stuhlberger

 https://valor.globo.com/financas/noticia/2025/05/09/processo-estrutural-de-realocao-de-capital-est-s-comeando-diz-verde.ghtml


*Processo estrutural de realocação de capital está só começando, diz Verde*


_Para o fundo liderado por Luis Stuhlberger, o choque de tarifas imposto pelos EUA foi mais um passo que marca o início da redução da hegemonia do dólar sobre os mercados globais_


O multimercados Verde, liderado por Luis Stuhlberger, encerrou abril com valorização de 1,90% e no ano acumula 4,75%, acima dos 4,07% do CDI. Conforme explica em carta mensal aos investidores, o fundo capturou ganhos com moedas, ações locais, enquanto as perdas marginais vieram de prefixados, petróleo e crédito.


O “Dia da Libertação”, com o choque de tarifas imposto pelo governo do presidente dos EUA, Donald Trump, foi mais um passo que marca o início da redução da hegemonia do dólar sobre os mercados globais, segundo escreve a equipe de gestão da Verde.


“Os investidores de fora dos EUA passaram os últimos dez anos aumentando sistematicamente sua exposição aos ativos americanos (não sem razão, dada excelente performance) e agora vivemos os estágios iniciais de um processo estrutural de realocação de capital. Essa tendência de rearranjo de fluxos tende a se refletir de maneira importante sobre moedas e mercados acionários, e em menor medida sobre taxas de juro”, afirma a Verde.


Isso levou o fundo a aumentar posições em criptoativos, iniciar posição no ouro, e zerar posição no dólar contra o renminbi.


A equipe da Verde ainda descreve que os ativos de risco tiveram uma recuperação surpreendentemente rápida nas últimas semanas, conforme os recuos na questão das tarifas iam sendo vazados e confirmados. “Ainda assim, nos parece um otimismo exagerado, visto que os efeitos micro e macro do choque (mesmo que este choque seja de magnitude menor) ainda estão por afetar a vida da maioria das empresas e consumidores na economia americana”, afirma.


“Os próximos meses devem trazer à tona mais detalhes, mas continuamos a esperar um aumento importante da inflação americana e uma desaceleração do crescimento. A grande incógnita é qual a magnitude desta desaceleração, se suficiente para colocar a economia em recessão ou não.”


O mercado brasileiro, por sua vez, se mantém “passageiro em meio às turbulências globais”, com o noticiário local representando baixo impacto na precificação dos ativos, “especialmente a deterioração importante no fiscal, com receitas do governo vindo abaixo do esperado e pouco apetite do governo por qualquer austeridade, ainda mais à mercê do novo escândalo relacionado ao INSS”.


A maioria das ações seguiu comprimindo prêmio de risco, e na visão da Verde, a melhor alocação hoje é nas Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B) de vencimento intermediário.

Lourival Santana

 LULA AO LADO DE PUTIN E LIDERES AUTORITÁRIOS 


Ida ao Dia da Vitória em Moscou coloca Lula ao lado de líderes autoritários


Único governante eleito democraticamente é o primeiro-ministro da Eslováquia, ultraconservador aliado de Putin


Lourival Santana - CNN Brasil - 

06/05/2025 


A presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Moscou nessa sexta-feira (9), para a celebração dos 80 anos da vitória dos Aliados sobre a Alemanha nazista, coloca o Brasil ao lado de ditaduras e de governos ultraconservadores alinhados com o autocrata russo Vladimir Putin.


As democracias da Europa, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Japão e Coreia do Sul, entre outras, ignoraram o convite, como têm feito desde a primeira invasão da Ucrânia ordenada por Putin, em 2014.


Da América Latina, além de Lula, confirmaram presença até agora apenas os ditadores de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e da Venezuela, Nicolás Maduro. Da Europa, só o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, ultranacionalista e conservador, aliado de Putin, contrário à imigração e às minorias.


Aleksander Vucic, presidente da Sérvia, havia anunciado sua ida também, mas está doente. Os sérvios são tradicionais parceiros da Rússia na disputa por influência dos cristãos ortodoxos contra católicos croatas e muçulmanos bósnios e kosovares.


Em contrapartida, Lula estará ao lado do ditador chinês, Xi Jinping, que aliás visitará na sequência, em Pequim; de Belarus, Aleksander Lukashenko, aliado de Putin na agressão contra a Ucrânia; das cinco ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central, Armênia e Azerbaijão, além da Mongólia, todos satélites da Rússia.


A lista de confirmados até agora inclui também o capitão Ibrahim Traoré, homem-forte de Burkina Faso, que depende do grupo mercenário russo Afrika Corps, ligado a Putin, para permanecer no poder contra a ameaça de células jihadistas. E o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas.


Antes da invasão da Ucrânia em 2014, Moscou recebia os mais importantes líderes ocidentais nas comemorações do Dia da Vitória, celebrado na Rússia um dia depois dos países europeus, por causa do fuso horário.


Em 2006, por exemplo, no 60º aniversário da derrota nazista, quanto Putin já estava no poder, estiveram presentes em Moscou o presidente americano George W. Bush, o francês Jacques Chirac, o chanceler alemão Gerhard Schröder e o primeiro-ministro japonês Junichiro Koizumi.


Depois da invasão, no entanto, deixou de ter sentido, para americanos, europeus e japoneses, celebrar a data junto com Putin. Afinal, a celebração é sobre a paz e o respeito à soberania, que o ditador russo atropelou. 


Hoje ele representa a ameaça, além de ser réu em um processo do Tribunal Penal Internacional, do qual o Brasil é integrante, por ter ordenado a sequestro de milhares de crianças ucranianas.


O governo brasileiro pretende justificar a ida como um esforço para mediar a paz entre Rússia e Ucrânia. As inúmeras declarações a favor de Putin e contra o presidente ucraniano, Volodymir Zelensky, privam Lula de credenciais perante a Ucrânia e a Europa, além da própria irrelevância do Brasil no contexto do Leste Europeu. A ida a Moscou nessa data simbólica não ajudará a reforçar essas credenciais.


Curiosamente, em seu apreço por Putin, Lula se aproxima do ex-presidente Jair Bolsonaro, que visitou o ditador russo uma semana antes da segunda invasão, em fevereiro de 2022, e disse: “Somos solidários à Rússia”.


Bolsonaro explicou que o ponto de convergência eram a religiosidade e a crença de que a família devia ser formada por um homem e uma mulher. Putin patrocinou a aprovação de leis na Rússia que impedem os homossexuais de se casar e adotar filhos.


Os motivos da afinidade de Lula por Putin são de outra natureza: ele tenta restaurar o antigo império soviético e representa, na visão da esquerda, um contraponto ao poder dos Estados Unidos. 


Sob o governo de Donald Trump, no entanto, esses alinhamentos se embaralharam: o presidente americano também é um admirador da forma como Putin concentra o poder político e econômico em suas mãos e se perpetua no Kremlin.

sexta-feira, 9 de maio de 2025

Josue Leonel

 IPCA testa apostas pós-Copom; reação ao Itaú: Mercado Hoje

2025-05-09 10:33:34 GMT



Por Josue Leonel

(Bloomberg) -- Juros futuros reagem ao IPCA, que deve ter

leve desaceleração na comparação mensal, um dia depois das

apostas otimistas impulsionadas pela “porta aberta” do Copom,

tanto para estender quanto pausar o aperto monetário. Visão de

carry favorável ao fluxo derrubou o dólar e queda dos juros mais

longos impulsionou a bolsa, também favorecida por balanços e

alívio externo. Após resultado forte do Bradesco, lucro do Itaú

também supera estimativa. Banco Master faz pedido formal ao FGC

e Gleisi Hoffmann discute spread bancário com bancos, segundo

jornais. 

No exterior, mercados monitoram negociações entre EUA e

China no fim de semana. Balança comercial chinesa supera

expectativas, apesar das tarifas. Bolsas europeias estendem

ganhos com alívio na guerra comercial e sinal de corte de juros

por integrante do BCE. Petróleo e minério de ferro avançam.

Agenda nos EUA destaca falas de dirigentes do Fed. 

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*T

Às 7:32, este era o desempenho dos principais índices:

S&P 500 Futuro +0,3%

STOXX 600 +0,5%

FTSE 100 +0,5%

Nikkei 225 +1,6%

Shanghai SE Comp. -0,3%

MSCI EM +0,5%

Dollar Index -0,2%

Yield 10 anos estável a 4,3804%

Petróleo WTI +2% a US$ 61,11 barril

Futuro do minério em Singapura +0,8% a US$ 97,25

Bitcoin +0,4% a US$ 102998,75

*T

 

 

Internacional

Bolsas europeias sobem com tarifas e visão sobre juros;

EUA-China em foco

* Bolsas europeias sobem, com o índice de ações da Alemanha em

nível recorde, diante da redução das tensões tarifárias e fala

de Olli Rehn, membro do Conselho do BCE, de que o banco deve

cortar sua taxa em junho

* Futuros de ações de Nova York operam de lado


“Para manter a alta, precisamos ver algum movimento real na

China em termos de negociações tarifárias”, disse Daniel

Loughney, chefe de renda fixa da Mediolanum Investments

* Rendimentos dos treasuries estão de lado após liquidação de

quinta-feira e índice dólar recua ligeiramente

** Mercado monitora falas de dirigentes do Fed como John

Williams, Tom Barkin e Austan Goolsbee nesta sexta-feira

* Petróleo e minério de ferro avançam antes das negociações

entre EUA e China neste fim de semana, após o acordo com o Reino

Unido ter despertado otimismo ontem em relação a mais alívio nas

tensões

* Equipe de Trump busca cortes de tarifas americanas para menos

de 60% e alívio nas restrições chinesas à exportação de terras

raras, segundo pessoas familiarizadas com os preparativos para

as negociações, que devem começar em Genebra no sábado

* Na China, exportações crescem mais que o previsto e

importações caem menos que o estimado em abril, primeiro mês

após anúncio de tarifas; exportações despencaram para os EUA,

mas dispararam para Ásia e Europa


Para acompanhar

IPCA testa apostas no mercado de juros com porta aberta do

BC

* IPCA, que IBGE divulga às 9:00, deve mostrar aumento de 0,42%

em abril na comparação mensal, ante 0,56% em março, e alta de

5,52% na comparação anual, contra 5,48% anterior

** Alimentos e medicamentos devem continuar pressionando o IPCA,

segundo a Bloomberg Economics

* BC oferta 25.000 contratos de swap para rolagem

* Balanços hoje: ABC Brasil, Banco Pan, Porto Seguro, Braskem

* Galípolo tem reunião com Agustin Carstens, diretor-geral do

BIS


Outros destaques

Haddad sobre fiscal; Gleisi com bancos; conta de luz; Leite

no PSD

* Não vai haver alteração da rota fiscal, diz ministro da

Fazenda, Fernando Haddad, à Moody’s

** Haddad disse que apresentou cenário com cumprimento da meta

no segundo ano consecutivo e agência se surpreendeu com

resultado do Brasil

* Haddad participa às 9:30 do lançamento da calculadora de Renda

Variável e às 14:00 tem reunião com Isaac Sidney, presidente da

Febraban

* Brasília em Off: O vazio da agenda econômica de Lula

* Ministra Gleisi Hoffmann se reuniu nesta quinta-feira com os

presidentes dos grandes bancos brasileiros: André Esteves (BTG),

Marcelo Noronha (Bradesco), Milton Maluhy (Itaú), Mario Leão

(Santander) e José Berenguer (XP): O Globo

** Na pauta, o spread bancário; Febraban fez estudo com

sugestões para tentar baixá-lo

* Planalto tenta manter veto de Lula em projeto das eólicas e

evitar alta de até 9% nas contas de luz: O Globo

* Lula segue na Rússia, onde participa de almoço com presidente

Vladimir Putin e tem encontro com o Primeiro-Ministro da

Eslováquia, Robert Fico

* CCJ fará na próxima terça-feira a primeira audiência pública

para debater o Projeto de Lei Complementar que dá continuidade à

Reforma tributária: Agência Senado

* PSD filia Eduardo Leite e iguala PT e União Brasil em número

de governadores: O Globo

* Kassab diz que Leite ‘chega ao PSD como um pré-candidato’ ao

Planalto: Veja

* Ciro se reúne com bolsonaristas no Ceará e sinaliza aliança

contra o PT em 2026: Estado

* Aumento de deputados deve estimular antipolítica e ajudar

direita, dizem especialistas: Folha

* Governo Lula conclui proposta para regular big techs: Estado


Empresas

Itaú, Master, Azul, Gol, Suzano

* Itaú Lucro recorrente 1T R$ 11,13 bi, +14% a/a, estimativa R$

10,99 bi

* Bradesco, BB e Caixa mudam regra da Elo e terão fatias iguais

na empresa: Estado

* Master faz pedido por linha de liquidez ao FGC e evita vender

ativos antes da resposta do fundo: Estado

* Presidente do Master deixa BC sem falar com a imprensa: Estado

* Comitê aprova seguro lastreado em FGE pa combustível de

aviação

** Medida pode ajudar companhias aéreas como Azul e Gol

* Suzano: Receita líquida 1T frustra estimativas

* CSN: Receita líquida 1T em linha com estimativas

* CBA: Ebitda ajustado 1T supera estimativas

*

Fabio Alves