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Uma certa ideia de Europa

 Uma certa ideia de Europa 


Vou buscar uma referência literária muito estimável: John Banville. Um mestre. Na sua versão de Kim Philby tenta explicar a uma jornalista as razões de trair o projecto atlantista. Diz ele: é uma certa ideia sobre a Europa.


E que Europa é esta?


É a Europa continental. Desligada do eixo Atlântico, que inclui o Reino Unido (Perfidious Albion), Canadá e Estados Unidos. É uma questão antiga que se revela na filosofia por exemplo: o cisma da filosofia analítica é todo ele uma fronteira geográfica. O que indica que o pensamento filosófico anda atrelado a uma ideia de cultura e valores geopolíticos. Esta ideia de Europa também se revela no cisma entre conservadores europeus. A CDU de Merkel e Ursula Von der Leyen detestam os tories britânicos, e isto explica a exuberância sarcástica de Boris Johnson no período que viveu em Bruxelas.


Esta ideia de Europa Continental versus uma Europa Atlântica também se manifestou no contrato da Austrália para comprar submarinos franceses. Os europeus continentais temem estes atlantistas. Merkel era mais vigiada pela NSA do que pelos russos. Julgo até que Merkel teme mais o poder dos americanos do que o urso russo, que apesar de tudo é muito mais fraco. A convicção sobre a Rússia e o regime de Moscovo era simples: dar mel (euros) aos russos e estes ficariam calados. Esta Europa acreditava que o poder do dinheiro é mais forte que poder cinético das armas. 


Confesso que pode haver muitas manobras para definir esferas de influência. Creio que não é possível esta ambiguidade. E creio que os novos falcões de Washington vão meter a Europa continental de joelhos. Kim Philby e os espiões que serviram os russos podiam embelezar a sua missão, mas julgo que também sabiam que Moscovo é gelado. Esta ideia de Europa não tem condições exemplares de singrar.

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