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Fabio Alves

 Fábio Alves: Thanks, but no thanks!


O que mais me venho perguntando nos últimos dias é o que teria acontecido com a curva de juros e com o balanço de riscos do Banco Central para a decisão do Copom de dezembro se o presidente Lula tivesse batido o martelo de imediato e não tivesse retardado o anúncio do pacote de cortes de gastos desde o fim do segundo turno das eleições municipais, no dia 27 de outubro, como inicialmente sugerido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como data para avançar com a agenda de contenção de despesas.


Caro leitor, se você achou que o parágrafo acima foi demasiado longo, acertou. Foi proposital. Apenas para reforçar o quanto a demora no anúncio das medidas de cortes de gastos obrigatórios se tornou uma novela arrastada e custosa para o País.


No fechamento do pregão da sexta-feira (dia 25 de outubro) que antecedeu o segundo turno da eleição municipal, o dólar era cotado a R$ 5,7051. Nesta terça-feira, a moeda americana encerrou a R$ 5,8081.


Ou seja, essa paralisia para agir e amenizar a piora na percepção do risco fiscal do Brasil fez o dólar ganhar 10 centavos em um mês, alta ao redor de 1,8%. Sem falar que, em vez de ter se valorizado, o dólar podia ter recuado ante o real brasileiro caso o pacote tivesse sido bem recebido pelo mercado e tivesse causado uma redução no prêmio de risco dos ativos.


Já as expectativas de inflação também pioraram muito em razão de o presidente Lula e o ministro Haddad terem cozinhado o mercado em banho-maria para fazer o anúncio das medidas.


A mediana das estimativas para o IPCA de 2024 passou de 4,55% para 4,63% em um período de quatro semanas até o mais recente boletim Focus. Todavia, a mediana para as projeções de inflação de 2025 teve um salto de 0,34 ponto porcentual no mesmo período, passando de 4% para 4,34%. E o consenso das previsões para o IPCA de 2026 pulou de 3,60% para 3,78% em quatro semanas.


E para agravar esse cenário, o mercado recebeu, pela terceira vez consecutiva, um índice da inflação ao consumidor que surpreendeu para cima, mostrando, ainda, uma leitura qualitativa desfavorável. Refiro-me ao IPCA-15 de novembro, que subiu 0,62%, enquanto a mediana das estimativas de analistas era de uma alta de 0,49%.


Ou seja, se o anúncio do pacote de cortes de gastos acontecer mesmo nesta semana, como, mais uma vez, vem prometendo a equipe econômica, o Copom poderá chegar para se reunir no encontro de dezembro com um câmbio menos pressionado. Isso caso as medidas sejam bem recebidas pelo mercado.


Mas isso talvez ainda não possa se refletir nas expectativas do IPCA para 2025 e 2026 na pesquisa Focus. E o Copom ainda terá de trabalhar, na sua reunião de dezembro, com números pressionados para os cálculos das suas projeções de inflação no horizonte relevante para o seu balanço de riscos.


Isso quer dizer que, mesmo se o pacote for bem recebido pelo mercado, a demora no seu anúncio piorou tanto as condições que agora ficou inevitável o Copom acelerar o ritmo de alta da taxa Selic de 0,50 ponto para 0,75 ponto porcentual em dezembro?


Ou o Copom vai fechar os olhos para a deterioração das expectativas inflacionárias e para os índices correntes de inflação e focar na esperança de que, no curto e médio prazo, haverá um alívio importante no risco fiscal com as medidas estruturais de cortes de gastos obrigatórios?


Nessa equação, será preciso levar em conta o quanto o Congresso irá ajudar o ministro Haddad, ou seja, quão rápido irá aprovar as medidas apresentadas, para que os efeitos já sejam sentidos nas contas do governo em 2025?


Tudo isso poderia já ter sido equacionado e muito bem absorvido pelo Copom e também pelo mercado se o anúncio do pacote de cortes de gastos tivesse sido anunciado logo após o segundo turno das eleições municipais.


Afinal, não é de hoje que Haddad e Lula sabiam da necessidade premente de fazer um ajuste fiscal pelo lado das despesas. Essa demora toda, além de reforçar a percepção da resistência enorme de Lula a cortar gastos,

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