Abertura Matinal Broadcast 2611

 Abertura: Tarifas de Trump e atraso em aperto fiscal impõem cautela em dia de IPCA-15 e ata do Fed


São Paulo, 26/11/2024


Por Luciana Xavier e Silvana Rocha*


OVERVIEW. A agenda desta terça-feira tem como destaques o IPCA-15 de novembro e a ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed). O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, se reúne com líderes do governo no Congresso para tratar sobre o pacote de corte de gastos. A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) discute Reciprocidade Ambiental em almoço com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), depois do anúncio de boicote do Carrefour à carne do Mercosul.


NO EXTERIOR. A promessa do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de elevar o protecionismo e aumentar tarifas comerciais a outros países em seu segundo mandato pesa nos mercados internacionais nesta manhã (leia mais abaixo em O que Sabemos). O cenário geopolítico também inspira cautela. Se por um lado um potencial cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah pode ajudar a reduzir as tensões no Oriente Médio, preocupa a escalada na guerra entre Rússia e Ucrânia. Diante desse temor, o rublo caía há pouco ante o dólar ao menor nível desde março de 2022. Nos EUA, as incertezas são com os próximos passos do Fed em dia de divulgação da ata. O distrital de Minneapolis, Neel Kashkari, disse ser apropriado considerar outro corte de juros de 25 pontos-base em dezembro. Já Austan Goolsbee, do Fed de Chicago, disse que os juros ainda têm um bom caminho a percorrer até chegarem à neutralidade.


POR AQUI. O apetite a risco pode ser limitado diante do tom mais negativo no exterior e após a ministra do Planejamento, Simone Tebet, ter dito ontem que a decisão sobre o pacote de cortes de gastos públicos "dificilmente" será divulgado hoje. O novo adiamento deve pressionar mais o dólar, que fechou ontem a R$ 5,80, em meio também aos temores com o protecionismo de Trump. O momento é delicado também diante do imbróglio gerado pelo boicote do Carrefour às carnes do Mercosul. O CEO do Carrefour Global, Alexandre Bompard, fará uma retratação formal ao ministro da Agricultura do Brasil, Carlos Favaro, após as suas declarações levarem à interrupção de fornecimento de carnes por parte de frigoríficos brasileiros ao Grupo Carrefour Brasil. Nos juros, as taxas ficam sensíveis ao IPCA-15, que deve desacelerar em novembro, assim como a média dos núcleos, o que pode aliviar as taxas curtas, embora o dólar e os rendimentos dos Treasuries mais fortes sejam contraponto.


NA POLÍTICA. A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) discute, às 11 horas, com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) propostas de lei sobre Reciprocidade Ambiental, que tramitam na Câmara e no Senado. O Tribunal Superior do Trabalho (TST) decidiu que a reforma trabalhista tem aplicação imediata aos contratos que estavam em curso quando a lei entrou em vigor, em 2017. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que em nenhum momento discutiu a possibilidade de golpe de Estado, mas que estudou "todas as medidas possíveis dentro das quatro linhas". O PL estuda recorrer a cortes internacionais caso Bolsonaro seja condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).


AGENDA.


IPCA-15 - A agenda desta terça-feira traz a divulgação do IPCA-15 de novembro (9h). O Tesouro faz leilões de NTN-B e LFT (11h). O presidente Lula participa da abertura do Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic), em Brasília (11h). O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e os diretores participam da 59ª reunião do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef), às 10h e 14h. A Comissão Mista de Orçamento (CMO) da Câmara se reúne para discutir a tramitação do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2025 (LDO - PLN 3/24) e do projeto do Orçamento de 2025 (LOA - PLN 26/24).


ATA DO FED - No exterior, foco na ata do Federal Reserve, publicada excepcionalmente em uma terça-feira, às 16 horas, devido ao feriado do Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos no final da semana. Destaque também nos EUA ao dados de confiança do consumidor e das vendas de moradias novas, ambos às 12 horas. O economista-chefe do Banco da Inglaterra (BoE), Huw Pill, testemunha em sessão da Câmara dos Lordes no parlamento (12h).


O QUE SABEMOS.


TRUMP - O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, disse ontem que a imposição de uma tarifa de 25% a importações provenientes do México e do Canadá estará entre as "muitas ordens executivas" que pretende emitir em 20 de janeiro de 2025, dia de sua posse. Trump afirmou também que os EUA irão impor "uma tarifa adicional de 10%" sobre produtos da China.


EM TESE:  As medidas devem dar fôlego à alta do dólar no mercado local. As tarifas de Trump impactam o cenário prospectivo de inflação global e já reverbera negativamente sobre outras divisas desenvolvidas e emergentes ligadas a commodities. O peso mexicano, dólar canadense e yuan chinês exibem as piores perdas frente o dólar americano nesta terça-feira, enquanto os juros longos dos Treasuries sobem e as bolsas europeias recuam. Para a Moody's Analytics, o anúncio de Trump serve de lembrete de quão volátil sua presidência poderá ser para os mercados. Quando se impõem tarifas, é preciso estar preparado para a retaliação do outro lado, o que pode iniciar um círculo vicioso e, eventualmente, isto poderia transformar-se numa guerra comercial, o que seria extremamente prejudicial para a economia mundial, diz o vice-presidente do Banco Central Europeu, Luis de Guindos.


COPEL - A Copel comunicou que sua subsidiária integral Copel Geração e Transmissão (Copel GeT) firmou contrato com a Electra Hydra / Intrepid para a venda de 13 ativos de geração de pequeno porte, totalizando 118,7 MW de capacidade instalada, por R$ 450,5 milhões. Compõe a transação ainda uma dívida de R$ 21,4 milhões com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A Copel realizará o seu primeiro programa de recompra de ações ordinárias (ON) e preferenciais classe B (PNB), de emissão própria. O conselho de administração da Copel aprovou a distribuição de R$ 600 milhões em Juros sobre Capital Próprio (JCP). O pagamento será realizado no dia 23 de dezembro de 2024.


EM TESE:  Deve ser bem recebida a movimentação da empresa  para otimizar seus recursos e melhorar a rentabilidade para seus acionistas, com a venda de ativos, a recompra de ações e a distribuição de JCP. Essas ações podem indicar a busca de aumentar sua eficiência operacional e gerar mais valor para os investidores. O papel ordinário (CPLE3) acumula perdas de 1,84% no mês e de 8,06% desde janeiro, enquanto o PNB (CPLE6) perde 1,43% e 4,73%, respectivamente. Na semana passada, a Copel renovou por 30 anos contrato das concessões das usinas Foz do Areia, Segredo e Salto Caxias, o que foi bem recebido no mercado.


OVERNIGHT.


IPC-FIPE ACELERA A 1,15% NA 3ª QUADRISSEMANA DE NOVEMBRO - O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que mede a inflação na cidade de São Paulo, subiu 1,15% na terceira quadrissemana de novembro, ganhando leve força ante a variação de 1,08% observada na segunda quadrissemana deste mês, segundo dados publicados pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) nesta terça-feira.


ESTATAIS - O Ministério da Gestão e Inovação (MGI) afirmou que o governo está discutindo um conjunto de medidas que tem como objetivo modernizar e ampliar a eficiência das empresas estatais federais. As ações, no entanto, não alteram a Lei das Estatais nem sua regulamentação. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu ontem com representantes de 12 ministérios para discutir o assunto. Recentemente, o governo enviou um projeto encabeçado pelo MGI que muda regras orçamentárias de estatais que são dependentes do Tesouro.


EMENDAS PARLAMENTARES - O secretário de Orçamento Federal substituto, Clayton Montes, afirmou que o governo defende que as dotações de emendas parlamentares estejam aptas para serem bloqueadas para cumprimento dos limites fiscais estabelecidos pelo arcabouço.


SAQUE-ANIVERSÁRIO DO FGTS - O saque-aniversário do FGTS tem impacto similar na economia ao do programa Bolsa Família, segundo um estudo da consultoria Ecoa contratado pela Zetta, entidade que representa fintechs, e Associação Brasileira de Bancos (ABBC), que congrega pequenos e médios bancos. Apenas em 2023, a modalidade adicionou R$ 26,6 bilhões ao Produto Interno Bruto (PIB), segundo a pesquisa. O levantamento indica que, a cada R$ 1 liberado pelo saque-aniversário e direcionado ao consumo, R$ 1,80 são adicionados ao PIB. Esse multiplicador é similar ao do Bolsa Família, de R$ 1,78 para cada R$ 1.


UNIPAR - A Unipar recebeu aprovação para financiamento de R$ 672,9 milhões junto ao BNDES, por meio do Fundo Clima e do FINEM Meio Ambiente, para um projeto de modernização tecnológica e unificação de métodos produtivos de sua fábrica em Cubatão, São Paulo. O investimento é voltado para eficiência energética e transição para tecnologias de baixo carbono.


MILLS LOCAÇÃO - O conselho de administração da Mills Locação, Serviços e Logística aprovou a realização da décima emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, da espécie quirografária, em até duas séries, no valor de R$ 500 milhões. Os recursos líquidos captados com a emissão serão destinados para o resgate antecipado das debêntures da 6ª Emissão e o valor remanescente irá para reforço de caixa, incluindo o pagamento de dívidas.


ELETROMÍDIA - O conselho de administração da Eletromidia aprovou a sexta emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, em série única, no valor de R$ 500 milhões. Os recursos líquidos obtidos serão integralmente utilizados para o pagamento de 50% da parcela fixa de outorga referente aos Lotes 1 e 2 da concorrência pública CO SMCG nº 3/2024, realizada pelo Rio de Janeiro para concessão de mobiliário urbano, no valor de R$ 443.299.444,36. O saldo remanescente será destinado ao curso normal dos negócios da companhia.


ATAQUE CIBERNÉTICO - A Starbucks, a rede britânica de supermercados Sainsbury's e outras varejistas foram afetadas por um ataque cibernético contra um grande provedor de tecnologia de cadeia de suprimentos. As empresas estão enfrentando dificuldades para gerenciar operações, como escalas de trabalho e controle de estoques.  A Blue Yonder, uma das maiores fornecedoras de software de cadeia de suprimentos do mundo, informou nesta segunda-feira que está trabalhando para restaurar os serviços após o ataque ocorrido na semana passada, que causou interrupções nos sistemas usados por seus clientes.


E NOS MERCADOS.


FUTUROS DE NY E BOLSAS DA EUROPA  - Os futuros atrelados aos três principais índices acionários de Nova York rondam a estabilidade após Trump prometer impor tarifas para bens da China, México e Canadá no dia 20 de janeiro, quando tomará posse, ficam no radar. Bolsas americanas não operam na quinta-feira e fecham mais cedo na sexta-feira por causa do feriado de Ação de Graças. Na Europa, as bolsas estão em queda firme num dia de agenda esvaziada na região. Às 7h11, o futuro do Dow Jones subia 0,03%, o do S&P 500 ganhava 0,02% e o do Nasdaq avançava 0,08%. A Bolsa de Londres cedia 0,40%, Frankfurt recuava 0,55% e Paris perdia 0,65%.


TREASURIES - Os juros projetados nos Treasuries sobem em toda a curva nesta manhã, retomando o movimento associado à apreensão sobre o impacto de potenciais tarifas prometidas pelo presidente eleito Donald Trump sobre o cenário prospectivo de inflação. Sessão traz alta do dólar ante principais pares, leilão de US$ 70 bilhões de títulos de 5 anos do Tesouro americano e ata do Fed. Às 7h12, o juro da T-note de 2 anos subia a 4,270%, de  4,266% no fim da tarde de ontem.  O de T-Note de 10 anos avançava 4,297%, de 4,264%, e o do T-Bond de 30 anos tinha alta a 4,480%, de 4,450%


MOEDAS - O dólar sobe ante o yuan chinês, dólar canadense e peso mexicano, também refletindo o receio com as tarifas comerciais prometidas por Trump. Sobre os bens da China, a promessa é de imposição de tarifa adicional de 10%. “A resposta instintiva às ameaças tarifárias foram as vendas de renminbi”, disse Ken Cheung, da Mizuho Securities Ásia. Às 7h13, o dólar subia a 7,2526 yuans, ante 7,2480 yuans no fim da tarde de ontem. O dólar avançava a 20,526 pesos mexicanos, ante 20,321, e a 1,409 dólares canadenses, ante 1,398. O Índice DXY, que mede a variação da moeda ante principais pares subia 0,03%, aos 106,847 pontos. O euro estava em US$ 1,0509 (de US$ 1,0500) e a libra esterlina a US$ 1,257 (de US$ 1,2571). O dólar tinha leve alta frente ao iene, a 153,88 ienes (de 154,13 ienes).


PETRÓLEO - Os contratos futuros do petróleo subiam nesta manhã de terça-feira, com as atenções divididas entre um potencial cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah e as tensões entre a Rússia e a Ucrânia. “Um acordo no Oriente Médio também poderia ajudar a reduzir as tensões entre Israel e o Irã e diminuir significativamente os riscos de abastecimento regional para o mercado petrolífero em termos imediatos”, afirmam os analistas do ING em nota. Entretanto, os investidores também estão atentos aos riscos para a oferta russa e aguardam o próximo movimento da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+) neste próximo fim de semana, com a maioria dos analistas esperando que o grupo adie ainda mais o aumento de produção planejado. Às 7h16, o barril do WTI para janeiro subia 0,99%, a US$ 69,62, e o do Brent para igual mês avançava 0,99%, a US$ 73,73.


ÁSIA - As bolsas da Ásia fecharam majoritariamente em queda, com desempenhos distintos dos índices referenciais do mercados continental da China. O Xangai Composto caiu 0,1%, mas o índice amplo Shenzhen, que reflete o movimento de 500 ações, cedeu 0,95% após o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçar impor tarifas aos bens importados chineses. Em Hong Kong, o Hang Seng fechou estável. O UBS vê um ambiente difícil para as ações de Hong Kong em 2025 devido à potencial crise com a imposição de tarifas pelos EUA e recrudescimento das tensões na relação China-EUA. Em Tóquio, o índice Nikkei caiu 0,87%. O Kospi, de Seul, retrocedeu 0,6%. Em Taiwan, o Taiex marcou baixa de 1,17%. Na Oceania, o S&P/ASX 200, de Sydney, teve baixa de 0,69%.


*Colaborou Patricia Lara


Contato: luciana.xavier@estadao.com e silvana.rocha@estadao.com




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