Pular para o conteúdo principal

Seis medidas de autocontenção

 https://www.estadao.com.br/opiniao/luiz-felipe-davila/seis-medidas-de-autocontencao/


*Seis medidas de autocontenção*


_Existem vários projetos tramitando no Congresso para frear o ativismo judicial, mas a melhor solução seria a autocontenção do próprio Supremo_


A degeneração da democracia no Brasil é fruto de dois fenômenos: a sequência desastrosa de governos populistas e o crescente ativismo judicial do Supremo Tribunal Federal (STF). O primeiro se resolve com o voto consciente e com os partidos políticos fazendo uma seleção mais criteriosa dos seus candidatos. O segundo, com a adoção de freios e contrapesos para restabelecer o equilíbrio entre os Poderes e conter o ativismo judicial – a ânsia de juízes do STF de legislar e implementar políticas públicas; duas atividades que competem exclusivamente aos Poderes Legislativo e Executivo.


Existem vários projetos tramitando no Congresso para frear o ativismo judicial, mas a melhor solução seria a autocontenção do próprio Supremo. Há pelo menos seis medidas imprescindíveis para restabelecer a credibilidade do STF.


1) Encerrar imediatamente inquéritos por tempo indeterminado e sigilosos e decisões arbitrárias que desrespeitam os fundamentos do direito à ampla defesa e o respeito ao devido processo legal. É inconcebível um STF que censura a liberdade de expressão; determina prisão de cidadãos sem o devido processo legal e ampla defesa; e desrespeita o direito pleno de parlamentares de usar a tribuna da Câmara para denunciar abuso de poder de membros do magistrado. Tais medidas não colaboram para “salvar a democracia”; ao contrário, contribuem para a degeneração da democracia e a corrosão da credibilidade das leis e da Constituição.


2) Combater a impunidade e a corrupção. O plenário do STF precisa urgentemente corrigir as decisões monocráticas descabidas e imorais de juízes que invalidaram o trabalho cuidadoso do Poder Judiciário que condenou empresas corruptas e corruptores confessos de participaram do maior escândalo de corrupção da história do País. Se as decisões monocráticas de Dias Toffoli e Gilmar Mendes não forem revertidas no plenário, podemos encomendar o sepultamento do Estado Democrático de Direito e proclamar a república da impunidade.


3) Fim de decisões monocráticas. O STF, como guardião da Constituição, deve se manifestar como colegiado. Não pode haver um mecanismo arbitrário que permite ao entendimento de um único juiz se sobrepor à decisão do Congresso Nacional e do Poder Executivo. A decisões monocráticas geram insegurança jurídica, como foi o caso do entendimento do ministro Ricardo Lewandowski sobre a Lei das Estatais. A decisão monocrática permitiu o aparelhamento político das estatais até o plenário do STF reverter a decisão. Mas o estrago já havia sido feito e pode-se debitar à decisão de Lewandowski o desarranjo da governança nas estatais que contribuiu para o gigantesco rombo financeiro das empresas públicas em 2024.


4) Saber dizer “não”. O STF não precisa se manifestar sobre todos os casos que chegam ao Supremo. Aliás, deveria criar critérios objetivos para selecionar apenas os casos que necessitam de melhor compreensão sobre o cumprimento dos preceitos constitucionais. O restante é respeitar as decisões soberanas do Congresso Nacional, do governo e das instâncias inferiores do Poder Judiciário. Ao arquivar a maioria das ações, o Supremo daria um bom exemplo para desestimular partidos nanicos que provocam a Corte com um número exagerado de ações diretas de inconstitucionalidade (Adin), cujo único intuito é buscar reverter suas derrotas no Congresso Nacional.


5) Voto de silêncio: ministro digno do STF deve se manifestar apenas nos autos. Não participa de convescote empresarial, entrevista na mídia e jantares animados com pessoas que têm interesse em causas que estão em discussão no STF. O silêncio dos ministros e a ausência de sua participação em eventos corporativos e midiáticos colaborariam para diminuir a tensão entre os Poderes, dirimir impressões de parcialidade nas decisões do tribunal e cicatrizar feridas reputacionais que abalaram a credibilidade do STF no seio da sociedade. Ao aderir ao voto de silêncio, o Supremo poderia prestar um favor à Nação e fechar a TV Justiça. Nenhuma Suprema Corte do mundo tem sessão transmitida ao vivo. A discrição é um atributo importante de uma corte constitucional.


6) Dar exemplo e acabar com privilégios. É inaceitável que os guardiães da lei são os primeiros a violar a própria Constituição ao receber salários e benefícios que ultrapassam o teto constitucional. A fonte de recursos para financiar esses privilégios é uma só: o Orçamento da Nação. O pior é que os magistrados acham “normal” gozar de tais privilégios quando são moralmente repugnantes e eticamente injustificáveis. Assim como é inadmissível que parentes de juízes do STF sejam sócios de escritórios de advocacia que defendem clientes no Supremo.


Não há democracia plena, liberdade individual, respeito à propriedade privada e Estado Democrático de Direito sem a existência de um Poder Judiciário forte e independente. É urgente frear o ativismo judicial e adotar medidas de autocontenção para resgatar a confiança e a reputação do Poder Judiciário e sepultar a impressão de um STF parcial, arbitrário e imoral."

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

BDM 181024

 China e Netflix contratam otimismo Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato* [18/10/24] … Após a frustração com os estímulos chineses para o setor imobiliário, Pequim anunciou hoje uma expansão de 4,6% do PIB/3Tri, abaixo do trimestre anterior (4,7%), mas acima da estimativa de 4,5%. Vendas no varejo e produção industrial, divulgados também nesta 6ªF, bombaram, sinalizando para uma melhora do humor. Já nos EUA, os dados confirmam o soft landing, ampliando as incertezas sobre os juros, em meio à eleição presidencial indefinida. Na temporada de balanços, Netflix brilhou no after hours, enquanto a ação de Western Alliance levou um tombo. Antes da abertura, saem Amex e Procter & Gamble. Aqui, o cenário externo mais adverso influencia os ativos domésticos, tendo como pano de fundo os riscos fiscais que não saem do radar. … “O fiscal continua sentado no banco do motorista”, ilustrou o economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel, à jornalista Denise Abarca (Broadcast) para explicar o pa...

Falsificação chinesa

 ‘Luxo fake’: por dentro do mercado trilionário de roupas e bolsas de grife falsificadas na China No topo do ranking de Países que mais movimentam o mercado de produtos falsificados, metrópoles do país asiático são um polo de venda de réplicas ilegais de gigantes como Prada, Chanel, Hermès, Dior e outras Wesley Gonsalves XANGAI - Em um inglês quase ininteligível e com um sorriso no rosto, Li Qin, de 60 anos, aborda turistas que caminham pela avenida Sichuan, região central de Xangai, na costa leste da China. Quase sussurrando ela diz: “Bags? Louis Vuitton, Chanel, Prada?”, enquanto mostra um cartão com imagens de algumas bolsas falsificadas. No centro de compras da cidade, a vendedora trabalha há 20 anos tentando convencer o público - quase sempre ocidental - que caminha pela região a visitar sua loja de réplicas de bolsas de luxo, um mercado gigantesco na China. O Estadão visitou lojas de roupas, bolsas e sapatos falsificados na maior cidade do país asiático para entender como fun...

Call Matinal ConfianceTec 3110

 CALL MATINAL CONFIANCE TEC 31/10/2024  Julio Hegedus Netto,  economista. MERCADOS EM GERAL FECHAMENTO DE QUARTA-FEIRA (30) MERCADO BRASILEIRO O Ibovespa encerrou o pregão na quarta-feira (30) em queda de 0,07%, a 130.639 pontos. Em outubro, fechou em queda de 0,89%, no ano, recuando 2,64%. Já o dólar encerrou em alta marginal de 0,04%, próximo da estabilidade, a R$ 5,7619. Em outubro, valorização foi de 5,8%, no ano, 18,82%. Vértice da curva de juros segue pressionado, em função do "mal amarrado" pacote fiscal. Mercados hoje (30): Bolsas asiáticas fecharam, na sua maioria, em queda; bolsas europeias em queda e Índices Futuros de NY na mesma toada. RESUMO DOS MERCADOS (06h40) S&P 500 Futuro, +0,23% Nasdaq, -0,58% Londres (FTSE 100),-0,70% Paris (CAC 10), -0,86% Frankfurt (DAX), -0,58% Stoxx600, -0,86% Shangai, +0,43% Japão (Nikkei 225), -0,50%  Coreia do Sul (Kospi), -1,45% Hang Seng, -0,31% Austrália (ASX), -0,25% Petróleo Brent, +0,57%, a US$ 72,57 Petróleo WTI...