Pular para o conteúdo principal

Chega de paliativos fiscais

 https://www.estadao.com.br/opiniao/chega-de-paliativos-fiscais/


*Chega de paliativos fiscais*


_Bloqueios bilionários no Orçamento não resolvem problema estrutural do País, que deve promover um ajuste rigoroso dos gastos públicos, como fez a agora superavitária Argentina_


O crescimento das despesas obrigatórias da União acima do esperado, em especial os gastos com benefícios previdenciários, levou a mais um bloqueio no Orçamento, desta vez de R$ 6 bilhões – e não R$ 5 bilhões, como havia estimado o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Com isso, o total bloqueado para tentar conter o rombo das contas públicas em 2023 no limite de R$ 28,7 bilhões chega a R$ 19,3 bilhões, numa ginástica contábil que evidencia a cada dia a fragilidade do arcabouço sem uma reestruturação total das despesas que Lula da Silva reluta em promover.


Pelos sinais emitidos de forma recorrente pelo Planalto, o mercado aposta em um fôlego curto para o pacote de corte de gastos que o governo está prestes a anunciar, após mais de um mês de expectativas. Algo que trará, no máximo, alívio transitório a um problema que exige solução duradoura e não simples retoques na pintura para apresentar um quadro de déficits tolerados. Como disse em entrevista ao Estadão a professora do Insper Laura Muller Machado, o planejamento deveria envolver menos quais serão os alvos dos cortes e mais qual política pública funciona ou não.


O governo sabe disso e os modelos em discussão no Ministério do Planejamento comprovaram, ao abordar a indexação excessiva dos benefícios sociais, a conta previdenciária impagável e programas ineficientes. Mas, ciente da dificuldade de levar à frente o “corte estrutural” que defende, a ministra Simone Tebet – que, aliás, não participou da reunião ministerial com Lula para apresentar formalmente o pacote – adiantou, no mês passado, que a proposta virá parcelada, com um primeiro conjunto de medidas seguido por “pelo menos outros dois” que ainda serão elaborados.


Parece mais um eufemismo para descrever o acanhamento do governo Lula da Silva quando o assunto é reduzir gastos públicos. Também em entrevista a este jornal, o CEO da Verde Asset, Luis Stuhlberger, definiu com uma conta simples o ceticismo do mercado em relação à possibilidade de o governo limitar o crescimento das despesas a 2,5% ao ano: “O gasto com Previdência está perto de R$ 1 trilhão. Se ele cresce 4% ao ano, como vai caber nos 2,5%?”.


Nesse sentido, a pontaria de Javier Milei na Argentina tem se mostrado bem mais certeira, com um ajuste fiscal duríssimo, que inclui cortes de subsídios e enxugamento da máquina pública, para reduzir de imediato 35% dos gastos do Estado em relação a 2023. Nos primeiros dez meses do ano, as contas argentinas acumularam superávit primário de 10,3 trilhões de pesos (R$ 59,4 bilhões), um feito em relação ao déficit de 2,9 trilhões de pesos (R$ 16,7 bilhões) no mesmo período de 2023.


Em que pesem todas as ressalvas feitas a “El Loco” – e o também duro custo social do ajuste –, ele tem mostrado consistência na busca pelo cumprimento da meta de déficit zero, em contraste com a débil política fiscal do Brasil. Outras medidas que marcaram sua controversa campanha, como o fechamento do Banco Central argentino e a dolarização da economia, ficaram apenas como bravatas e nada indica que ainda têm chance de serem concretizadas.


Por aqui, Lula da Silva insiste no discurso que baseia o desenvolvimento econômico no Estado gastador, centrado em medidas contra a pobreza e a fome. Decerto políticas de combate à desigualdade social devem figurar entre as prioridades de qualquer governo, mas dentro do limite que a economia é capaz de suportar sem criar inflação, que reduz o poder de compra justamente dos mais pobres.


A pobreza não vai se reduzir pela vontade de Lula. Aliás, o PT de Lula esteve no poder em 15 dos últimos 21 anos e, malgrado alguma melhora superficial, os pobres continuam no mesmo lugar, sem perspectivas e dependentes do Estado em várias regiões do País. Ou seja, só o desejo de justiça social não é capaz de mudar a realidade. É preciso coragem para enfrentar as questões estruturais que emperram o desenvolvimento do País – e isso, já vimos, Lula não tem."

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

BDM 181024

 China e Netflix contratam otimismo Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato* [18/10/24] … Após a frustração com os estímulos chineses para o setor imobiliário, Pequim anunciou hoje uma expansão de 4,6% do PIB/3Tri, abaixo do trimestre anterior (4,7%), mas acima da estimativa de 4,5%. Vendas no varejo e produção industrial, divulgados também nesta 6ªF, bombaram, sinalizando para uma melhora do humor. Já nos EUA, os dados confirmam o soft landing, ampliando as incertezas sobre os juros, em meio à eleição presidencial indefinida. Na temporada de balanços, Netflix brilhou no after hours, enquanto a ação de Western Alliance levou um tombo. Antes da abertura, saem Amex e Procter & Gamble. Aqui, o cenário externo mais adverso influencia os ativos domésticos, tendo como pano de fundo os riscos fiscais que não saem do radar. … “O fiscal continua sentado no banco do motorista”, ilustrou o economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel, à jornalista Denise Abarca (Broadcast) para explicar o pa...

Falsificação chinesa

 ‘Luxo fake’: por dentro do mercado trilionário de roupas e bolsas de grife falsificadas na China No topo do ranking de Países que mais movimentam o mercado de produtos falsificados, metrópoles do país asiático são um polo de venda de réplicas ilegais de gigantes como Prada, Chanel, Hermès, Dior e outras Wesley Gonsalves XANGAI - Em um inglês quase ininteligível e com um sorriso no rosto, Li Qin, de 60 anos, aborda turistas que caminham pela avenida Sichuan, região central de Xangai, na costa leste da China. Quase sussurrando ela diz: “Bags? Louis Vuitton, Chanel, Prada?”, enquanto mostra um cartão com imagens de algumas bolsas falsificadas. No centro de compras da cidade, a vendedora trabalha há 20 anos tentando convencer o público - quase sempre ocidental - que caminha pela região a visitar sua loja de réplicas de bolsas de luxo, um mercado gigantesco na China. O Estadão visitou lojas de roupas, bolsas e sapatos falsificados na maior cidade do país asiático para entender como fun...

Call Matinal ConfianceTec 3110

 CALL MATINAL CONFIANCE TEC 31/10/2024  Julio Hegedus Netto,  economista. MERCADOS EM GERAL FECHAMENTO DE QUARTA-FEIRA (30) MERCADO BRASILEIRO O Ibovespa encerrou o pregão na quarta-feira (30) em queda de 0,07%, a 130.639 pontos. Em outubro, fechou em queda de 0,89%, no ano, recuando 2,64%. Já o dólar encerrou em alta marginal de 0,04%, próximo da estabilidade, a R$ 5,7619. Em outubro, valorização foi de 5,8%, no ano, 18,82%. Vértice da curva de juros segue pressionado, em função do "mal amarrado" pacote fiscal. Mercados hoje (30): Bolsas asiáticas fecharam, na sua maioria, em queda; bolsas europeias em queda e Índices Futuros de NY na mesma toada. RESUMO DOS MERCADOS (06h40) S&P 500 Futuro, +0,23% Nasdaq, -0,58% Londres (FTSE 100),-0,70% Paris (CAC 10), -0,86% Frankfurt (DAX), -0,58% Stoxx600, -0,86% Shangai, +0,43% Japão (Nikkei 225), -0,50%  Coreia do Sul (Kospi), -1,45% Hang Seng, -0,31% Austrália (ASX), -0,25% Petróleo Brent, +0,57%, a US$ 72,57 Petróleo WTI...