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 Abertura: Escalada da guerra na Ucrânia mina mercados em meio à espera de corte de gastos


São Paulo, 21/11/2024


Por Silvana Rocha e Luciana Xavier*


OVERVIEW.  O mercado local volta do feriado sob expectativa pelo anúncio do corte de gastos. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que tem reunião hoje com o presidente Lula às 15 horas para tratar do pacote de medidas. Os dados de arrecadação federal de outubro também são aguardados bem como a reunião do conselho de administração da Petrobras para analisar o Plano Estratégico 2025-2029. Ainda serão publicados nos EUA as vendas de imóveis usados, os pedidos de auxílio-desemprego e três dirigentes do Federal Reserve discursam.


NO EXTERIOR. A aversão ao risco pressiona as bolsas internacionais, os juros dos Treasuries e dos bônus europeus, enquanto o ouro e os preços do petróleo sobem com a escalada da guerra entre Rússia e Ucrânia. A Força Aérea ucraniana diz ter sido alvo de míssil balístico intercontinental disparado pela Rússia. Ontem, os EUA deram aval para que a Ucrânia use minas terrestres antipessoal, dias depois de ter permitido o emprego de mísseis de longo alcance. O Nasdaq futuro cai mais, refletindo as perdas superiores a 3% da Nvidia no pré-mercado, após balanço da gigante de chips. Esse quadro deixa em segundo plano o aumento na precificação por manutenção dos juros do Fed em dezembro, após declarações de dirigentes do Fed. A diretora da autoridade monetária Michelle Bowman alertou para uma estagnação no progresso na inflação, enquanto Lisa Cook admitiu que o núcleo de inflação segue elevado. Já a presidente do Fed de Boston, Susan Collins, disse ainda esperar um relaxamento adicional.


POR AQUI. A liquidez pode ser contida ainda pela expectativa do pacote de corte de gastos e o ambiente externo negativo é mau presságio para os ativos locais. O ETF brasileiro EWZ caía 0,37% no pré-mercado em NY às 6h40. O ADR da Vale perdia 0,20%, apesar da alta de 0,39% do minério de ferro na China, enquanto o da Petrobras cedia 0,49% ante queda de mais de 1% dos preços do petróleo. O anúncio de corte de gastos é esperado entre hoje e amanhã, mas há possibilidade de que fique para a semana que vem, o que pode pesar negativamente em dólar e juros futuros. A reunião de Haddad e o presidente Lula fica no foco. A área técnica do Ministério da Defesa fechou acordo com a equipe econômica para cortar gastos na previdência dos militares. O presidente da B3, Gilson Finkelsztain, prevê que se o governo anunciar um pacote robusto, de R$ 60 bilhões ou mais, o mercado poderia melhorar bastante, pois está preparado para algo perto dos R$ 40 bilhões.


NA POLÍTICA. A Polícia Federal teve acesso a registros de uso de computadores do Planalto pelo grupo que planejou matar o presidente Lula, Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em 2022. A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) pediu ao STF a prisão preventiva de Bolsonaro. Moraes determinou que o ex-ajudante de ordens da Presidência tenente-coronel Mauro Cid compareça à Corte nesta quinta-feira. O PT enviou ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um pedido de arquivamento do projeto de lei que anistia os condenados pela invasão das sedes dos três Poderes nos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023. O governo fechou acordo com o Ministério da Defesa para corte de gastos na previdência os militares.


AGENDA.


ARRECADAÇÃO E PETROBRAS NO RADAR LOCAL - A agenda traz o resultado da arrecadação federal em outubro às 10h30. O Tesouro faz leilão de LTN e de NTN-F às 11 horas. O diretor de Fiscalização do BC, Ailton De Aquino Santos, concede entrevista coletiva sobre o Relatório de Estabilidade Financeira (REF), às 11 horas. O conselho de administração da Petrobras analisa o Plano Estratégico 2025-2029 da companhia. O Conselho Monetário Nacional (CMN) reúne-se por meio eletrônico às 15 horas.


DADOS DOS EUA E DIRIGENTES DO FED EM DESTAQUE - Nos EUA, os pedidos de auxílio-desemprego serão publicados às 10h30, e as vendas de moradias usadas em outubro, às 12 horas. Os dirigentes do Fed que falam em eventos hoje são:   Beth Hammack, de Cleveland às 10h45 e às 14h30; Austan Golsbee, de Chicago às 14h25; e o vice-presidente de Supervisão, Michael Barr às 18h40.  Os bancos centrais da Turquia (8h)  e da África do Sul (10h) anunciam decisões de juros. Na Europa, sai o índice de confiança do consumidor da zona do euro de novembro, às 12 horas.


O QUE SABEMOS.


CARREFOUR - O grupo francês Carrefour anunciou que deixará de comercializar carnes provenientes do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), alegando apoiar agricultores franceses que protestam contra o acordo de livre comércio entre a União Europeia e o bloco sul-americano. A decisão reflete preocupações com padrões de produção de carne. Agricultores franceses pressionam o presidente Emmanuel Macron a vetar o acordo, que enfrenta críticas na França, mas é apoiado por países como Alemanha e Espanha.


EM TESE: Embora o Carrefour Brasil tenha afirmado que suas operações não serão afetadas, a decisão pode ter impactos significativos no setor agropecuário dos países do Mercosul e nas relações entre UE e Mercosul. O Brasil pode ser um dos mais atingidos, já que é um dos maiores exportadores mundiais de carne bovina e a França é um dos importantes mercados para exportação. Ações da JBS e Marfrig podem refletir reação negativa à decisão e essas empresas podem ter que buscar diversificar mercados ou reforçar certificações de qualidade. Há o risco também de outras empresas do setor de alimentos seguirem essa postura da França, o que teria impacto em larga escala.


ACORDOS BRASIL-CHINA Os dois países assinaram ontem 37 acordos e memorandos de entendimento em diversas áreas como agricultura, energia, cultura, turismo, tecnologia e saúde. Um dos principais destaques foi o Plano de Cooperação para sinergias entre os programas brasileiros e a iniciativa "Belt and Road", que seria uma Nova Rota da Seda, reforçando a parceria estratégica. A China é o principal parceiro comercial do Brasil. No entanto, o presidente Lula não aderiu oficialmente à Rota da Seda, para não perder autonomia geopolítica. Houve abertura para importação de sorgo, gergelim e uva fresca do Brasil e outros quatro mercados, incluindo a farinha de peixe, utilizada para ração animal, que representam US$ 7 bilhões. Desde 2023, o Brasil já conquistou 281 mercados agropecuários.


EM TESE: Os acordos entre os dois países significam uma aproximação estratégica e econômica importante em agricultura, indústria e energia, tecnologia (com colaborações em inteligência artificial), cultura e turismo, saúde e sustentabilidade e infraestrutura. Vários setores irão se favorecer no longo prazo, mas o fortalecimento da influência da China na América Latina tende a preocupar os EUA, em especial em setores estratégicos como inteligência artificial e 5G. Um dos memorandos de entendimento foi entre a Telebrás e Shanghai Spacesail Technologies, uma das concorrentes da Starlink, do bilionário Elon Musk. Além disso, a China importa US$ 1,5 bilhão por ano em sorgo dos EUA, segundo a CNN. Haverá também expansão de investimentos nas indústrias brasileiras, como a WEG, Suzano e Randon. A BRF GmbH, subsidiária integral da BRF, firmou contrato vinculante com a Henan Best Foods para adquirir uma fábrica de processados na província de Henan, na China.


OVERNIGHT.


BNDES E BANCO DA CHINA - A primeira operação de empréstimo em moeda chinesa do BNDES com o China Development Bank (CDB) será de 5 bilhões de renmimbis (o equivalente a R$ 4 bilhões) e tem prazo de até três anos, de acordo com a instituição brasileira. O acordo foi fechado hoje, durante visita de Estado do presidente da China, Xi Jinping, ao Brasil. No total, os dois países firmaram 37 atos nesta quarta-feira. A linha de crédito será usada pelo BNDES em diferentes setores da economia doméstica e, segundo o banco, representa a ampliação da cooperação em moeda local entre os países.


MERCADO DE CARBONO A Câmara dos Deputados aprovou, nesta terça-feira, 19, o projeto que regulamenta o mercado de carbono no Brasil, com a instituição do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE). O texto havia voltado para nova votação dos deputados após análise do Senado Federal e agora vai à sanção presidencial.


NATURA E AVON - A Natura&Co teve a oferta vencedora para permanecer com os ativos operacionais da Avon Produtcs Inc (API), levando ao cancelamento do leilão que ocorreria na terça-feira, 19. Segundo o Tribunal de Falências de Delaware, responsável pelo caso do Capítulo 11 da API, a empresa foi a única licitante com lance qualificado. Com isso, a reintegração dos ativos deve recuperar uma parte do caixa transferido para as subsidiárias da API no momento da abertura do Chapter 11.


XP - A empresa fechou o terceiro trimestre de 2024 novamente com lucro líquido e receitas recorde. Com um lucro líquido de R$ 1,187 bilhão, a companhia registrou um crescimento de 9% ano contra ano e 6% em relação ao segundo trimestre. A receita bruta somou R$ 4,546 bilhões, 4% acima do mesmo intervalo de 2023 e 1% acima do segundo trimestre. A receita líquida foi de R$ 4,3 bilhões, alta anual de 5% e trimestral de 2%.


AUREN - A Auren, terceira maior geradora de energia do Brasil, fará um novo Programa de Recompra de 5,4 milhões de ações ordinárias, correspondentes a 1,67% do total de papéis desta classe. O programa terá duração de 18 meses, encerrando em 19 de maio de 2026. Segundo a companhia, a recompra tem o objetivo de permitir o cumprimento das obrigações do Plano de Ações Restritas, sem redução do capital social. Além disso, as ações poderão ser mantidas em tesouraria, alienadas ou canceladas.


IMÓVEIS DE LEILÕES - O crescimento das vendas de imóveis nos últimos anos teve como efeito colateral um aumento na quantidade de bens retomados por falta de pagamento, o que passou a movimentar o mercado de leilões. Dentro desse contexto, a empresa mineira Smart Leilões decidiu criar uma espécie de imobiliária dedicada a agilizar a venda dos bens retomados. Batizada de Smart Link, a nova empresa, lançada neste semestre, tem cerca de 1 mil imóveis no portfólio, com a meta de atingir em torno de 2,5 mil a 3,0 mil ano que vem.


INFLAÇÃO DA ALEMANHA - O índice de preços ao produtor (PPI, pela sigla em inglês) da Alemanha caiu 1,1% em outubro ante igual mês do ano passado, em linha com a projeção de analistas consultados pela FactSet. Em setembro, o PPI havia registrado deflação de 1,4%. Na comparação mensal, o PPI da Alemanha subiu 0,2% em outubro ante setembro, após a queda de 0,5% no mês anterior.


INFLAÇÃO NO REINO UNIDO - O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) do Reino Unido subiu 2,3% em outubro ante igual mês do ano passado, superando a expectativa de analistas, de avanço de 2,2%. Também representa uma aceleração em relação ao aumento de 1,7% no confronto anual de setembro. Na leitura mensal, o CPI avançou 0,6% em outubro ante setembro, também acima das projeções dos analistas, de alta de 0,5%. Neste caso, o indicador havia ficado estagnado no mês anterior. O núcleo do CPI subiu 0,4% em outubro ante setembro e 3,3% na comparação anual. As projeções apontavam para alta anual de 3,1%.


JUROS NA CHINA - A China manteve as suas principais taxas de juro de referência estáveis, uma medida amplamente esperada após um corte acentuado nos custos de financiamento no mês passado. Os principais credores chineses mantiveram as taxas de referência dos empréstimos (LPR, na sigla em inglês) de 1 e 5 anos em 3,1% e 3,6%, respectivamente, de acordo com um comunicado do Banco do Povo da China. Em outubro, o PBoC reduziu as taxas como parte do pacote de estímulo de Pequim para melhorar dinamismo do crescimento.


E NOS MERCADOS.


PETRÓLEO - Os contratos futuros de petróleo acentuaram ganhos e renovaram sucessivas máximas intraday, após a Força Aérea da Ucrânia disparar um novo alerta de ataque de mísseis balísticos no país. Mais cedo, os militares ucranianos disseram ter sido alvos de um míssil balístico intercontinental lançado pela Rússia. Por volta das 7h30, o barril do WTI para janeiro subia 1,47%, a US$ 69,76, e o do Brent para igual mês ganhava 1,33%, a US$ 73,77.


FUTUROS DE NY E BOLSAS EUROPEIAS- Os índices futuros de Nova York e as bolsas da Europa pioraram, após relatos de que a Rússia teria disparado mísseis balísticos intercontinentais contra a Ucrânia. Mais cedo, os mercados acionários americanos exibiram sinais difusos com uma reação morna ao balanço da Nvidia. A empresa superou expectativas com lucro e receita, mas registrou desaceleração das vendas e uma margens menores. Às 7h32, o futuro do Dow Jones caía 0,11%, o do S&P 500 perdia 0,29% e o do Nasdaq cedia 0,40%. A Bolsa de Londres tinha ganho marginal de 0,06%, enquanto Paris cedia 0,50% e Frankfurt caía 0,19%.


TREASURIES - Os rendimentos dos Treasuries oscilam perto da estabilidade, com viés negativo, diante da retórica cautelosa de dirigentes do Federal Reserve (Fed) e da escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia. Para o Jefferies, o cenário apoia a expectativa pelas cotações da renda fixa trabalhando em uma faixa estreita. "Não vemos um catalisador para um movimento brusco em qualquer direção", afirma o banco. Às 7h33, o retorno da T-note de 2 anos caía a 4,289% (ante 4,318% no fim da tarde de ontem), o da T-note de 10 anos baixava a 4,382% (de 4,412% na véspera) e o do T-bond de 30 anos cedia a 4,576% (de 4,596%).


MOEDAS - O dólar recua ante pares rivais, em meio a sinais de exaustão do rali que impulsionou a moeda americana desde a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, há pouco mais de duas semanas. Segundo análise do Commerzbank, o índice DXY, que mede a moeda americana ante seis rivais fortes, agora está operando em nível acima do que se espera em um cenário de perspectivas de cortes de juros. "O dólar valorizou-se mais no índice do que se poderia esperar com base nos cortes nas taxas precificados", explica. Às 7h35, o DXY tinha viés de alta de 0,01%, a 106,69 pontos, com euro em baixa a US$ 1,0521 (ante US$ 1,0540 no fim da tarde anterior) e a libra, a US$ 1,2630 (ante US$ 1,2647). O dólar recuava a 154,25 ienes (de 155,50 ienes), após o presidente do Banco do Japão (BoJ), Kazuo Ueda, reiterar que as decisões serão tomadas a cada reunião.


BOLSAS DA ÁSIA - As bolsas da Ásia fecharam majoritariamente em baixa nesta quinta-feira, após a reação negativa ao balanço da Nvidia deflagrar um efeito dominó em ações do setor. Tensões geopolíticas também estiveram em foco, diante da escalada nas hostilidades na guerra da Ucrânia. No rastro das perdas da Nvidia, a rival TSMC recuou 1,46% em Taiwan, onde o índice Taiex caiu 0,58%. Em Seul, o índice Kospi cedeu 0,07%, sob o peso da SK Hynix (-1,06%). Em Tóquio, o Nikkei baixou 0,85%. Em Hong Kong, o Hang Seng cedeu 0,53%. Na China continental, por outro lado, o Xangai Composto subiu 0,07%, enquanto o menos abrangente Shenzhen Composto ganhou 0,07%. Na Oceania, o S&P/ASX 200, de Sydney, baixou 0,04%.


*Colaborou André Marinho


Contatos:  silvana.rocha@estadao.com; luciana.xavier@estadao.com



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