IPCA15 de outubro
QUALITATIVO PIORA NO IPCA-15, MAS VOLTA DAS CHUVAS PODE TRAZER ALÍVIO PARA O ÍNDICE CHEIO
Por Daniel Tozzi Mendes, Gabriela Jucá e Anna Scabello São Paulo, 24/10/2024 –
Houve piora em algumas das principais métricas qualitativas da inflação na leitura de outubro do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15), avaliam economistas consultados pelo Broadcast, o que tende a referendar a intensificação no ritmo do aperto monetário já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 5 e 6 de novembro. Os serviços subjacentes, métrica acompanhada de perto pelo BC, aceleraram de 0% em setembro para 0,59% em outubro, segundo cálculos do Banco BV. O resultado veio acima do teto das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, de 0,58%, enquanto a mediana apontava para uma alta bem mais modesta, de 0,39%. Com o resultado, a abertura acumula agora alta de 5,09% nos últimos 12 meses. O IPCA-15 como um todo passou de 0,13% em setembro para 0,54% em outubro - também acima da mediana do mercado, de 0,51% -, atingindo 4,47% nos últimos 12 meses. Na avaliação do Bradesco, essas surpresas altistas no mês aumentam a preocupação com a inflação no curto prazo. “Os choques recentes no câmbio, energia e alimentação já traziam um viés para cima, porém o comportamento mais pressionado dos núcleos e dos serviços subjacentes trazem riscos adicionais”, escreveu o banco em relatório. A avaliação é corroborada pelo economista da XP Investimentos Alexandre Maluf, que considera que a divulgação de hoje “reforça a tendência de deterioração” da inflação no País. “Não apenas porque as métricas mais relevantes para a condução da política monetária superaram as expectativas, mas também porque os fundamentos (expectativas, dados do mercado de trabalho, demanda doméstica e câmbio) indicam que a inflação não irá convergir sem uma resposta adequada da política monetária”, justifica. A XP estima hoje IPCA de 4,6%, mas a projeção tem viés de alta, segundo Maluf. A estimativa em tempo real (tracking) da corretora já aponta, por exemplo, para inflação de 4,7% ao final do ano. A piora nas métricas qualitativas no IPCA-15 de outubro também foi destacada pelo economista do Santander Brasil Adriano Valladão. Ele cita, além dos serviços subjacentes, a aceleração nos bens industriais (que passaram de 1,3% para 1,6% no acumulado em 12 meses, nos seus cálculos), movimento que pode ser um dos reflexos da recente desvalorização cambial. A estimativa em tempo real (tracking) do Santander Brasil para o IPCA ao final do ano segue em 4,7% - acima do teto da meta de inflação, de 4,5% - mas Valladão destaca que há muita incerteza quanto ao comportamento dos preços à frente, sobretudo pelas contas de energia elétrica. O banco trabalha hoje com um cenário-base de bandeira vermelha 1 na energia em dezembro - hoje está em vermelha 2. Contudo, o início do período de chuvas, que se intensificaram nesta semana, e a perspectiva de continuidade de clima menos seco em novembro podem trazer alívio para os reservatórios e retornar a bandeira da energia para amarela, o que, consequentemente, também moderaria a inflação do ano, segundo o economista. A estrategista de inflação da Warren Investimentos, Andréa Ângelo, concorda que as chuvas das últimas duas semanas são um sinal de alívio para as contas de energia elétrica, podendo moderar a inflação à frente. Isso, porém, não deve ser suficiente para um IPCA abaixo do teto da meta, de 4,5%, no final deste ano, segundo ela. “O IPCA agora tem mais chances de ficar acima do teto, por influência do câmbio, do aumento de repasse dos preços e da atividade aquecida”, afirma a economista, que projeta índice de 4,75% ao final do ano. Para ela, a divulgação de hoje reforçou o diagnóstico de atividade aquecida, com pressões altistas em itens muito ligados à demanda. “[Isso] acaba se traduzindo em reajustes mais rápidos de preços, e vimos isso em algumas partes, como alimentação, com a carne bovina”, frisa. Contato: daniel.mendes@estadao.com; gabriela.silva@estadao.com; anna.araia@estadao.com
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