O RISCO TRUMP
Os mercados estremeceram na semana passada diante da
virada na disputa eleitoral dos EUA. Pesquisas mostrando Donald Trump
ultrapassando Hillary Clinton e boatos de que o FBI reabriu novas investigações
sobre o caso dos emails privados de Hillary acabaram detonando um movimento
generalizado de aversão ao risco pelo mundo. Até na reunião do Fomc isto ficou
bem claro, depois que a autoridade monetária resolveu aguardar “novas
evidências” para decidir sobre a taxa de juros. Acabou embolando a disputa e é
extremamente prematuro afirmar qualquer coisa sobre o desfecho das eleições
desta terça-feira, dia 8.
Vencendo Trump o que deve acontecer com os EUA, o mundo e,
em particular, os emergentes?
Tentemos responder a esta e a outras indagações nas
próximas linhas.
Como está a disputa? Está totalmente em aberto, mas com
leve vantagem para Hillary. No colégio eleitoral são 538 delegados. Hillary
ainda está na frente com 226 e Trump com 180, sendo 132 votos em disputa.
Analistas consideram que esta eleição será decidida na Florida, estado com 29
delegados e uma disputa muito acirrada. No placar Hillary teria 46,4% e Trump
46,6%. Outros estados também são considerados importantes nesta reta final,
como Pensilvânia, Ohio, Carolina do Norte, Virginia e Wisconsin. Será nestes
colégios eleitorais que as eleições serão decididas. Muitos consideram, também,
duvidosa a eficácia destas pesquisas divulgadas. Como o colégio eleitoral é bem
pequeno e concentrado, é difícil afirmar qual a capacidade destas de prever o
quadro final.
Sobre os candidatos. São dois candidatos à presidência
da maior potência do mundo considerados fracos. Talvez a escolha deva recair
mesmo sobre os “menos pior”. Enumerando os defeitos, Trump é considerado
“intolerante, protecionista e isolacionista”, enquanto que Hillary é
“vacilante, arrogante, com fraca oratória (ao contrário de Trump) e pouco
simpática”. Não tem carisma nenhum. Por outro lado, pela experiência pregressa,
como Secretária de Estado no governo Obama e já conhecedora dos atalhos no
Congresso, acaba em vantagem. Para a revista inglesa The Economist, Hillary “é melhor candidata que parece e está mais
capacitada para lidar com os desafios da política em Washington”. Já Trump é
considerado um outsider, um líder do
meio empresarial, e isto pode ser um ponto a favor. Trump caracteriza sua
campanha por uma “atitude de ruptura com o mundo político e o establishment”.
Desafios se eleito. São vários, mas um dos principais
será transitar pelo Congresso, também em disputa. O partido do presidente
eleito precisa controlar ao menos uma das casas do Congresso – Senado ou Câmara
dos Representantes – para que as suas reformas possam ser aprovadas. Na Câmara
dos Representantes todos os 435 lugares estão em disputa para dois anos, representando
os distritos locais. Atualmente, os republicanos controlam esta casa, com 246
cadeiras contra 186 dos democratas. Expectativas indicam que essa deve
continuar com os republicanos no dia 8. No Senado, um terço das cadeiras (34),
de um total de 100, será renovada. Todos os estados possuem dois senadores.
Atualmente, os republicanos controlam o Senado com 54 cadeiras, contra 44 dos
democratas e dois independentes.
O que pretendem? Este é um dos “nós da questão”.
Pouco sabemos como será o governo Trump, caso eleito. Muitos consideram até “um
salto no escuro”. Trump mantém um discurso beligerante, até para as plateias
mais conservadoras dos EUA, mas não acreditamos que suas propostas sejam
exequíveis. Alguém levaria a sério construir um muro na fronteira com o México?
Ou abrir uma guerra comercial com a China? Agora parece claro que ele deve
dificultar os fluxos migratórios, tão importantes para atender o mercado de
trabalho de baixa renda. No comércio exterior, Trump ameaça também abrir vários
contenciosos com a China e os países emergentes. Sua retórica é altamente
protecionista, isolacionista, além de beligerante. Ele deve se aproximar de
Wladimir Putin e abrir uma “guerra de nervos” com os países muçulmanos. Na
gestão da economia comenta-se sobre a proposta de redução de impostos para os
ricos e aumento de gastos, em especial, na indústria bélica.
Sobre Hillary, não observamos grandes mudanças em relação
às diretrizes do governo Obama, mais parcimonioso nas negociações com o Oriente
Médio, menos belicista e afeito a acordos de comércio. Discute-se, inclusive,
que o Acordo de Parceria Trans-Pacífico (TPP), antes previsto para fechar neste
final de ano, um dos projetos de Obama, deve ser adiado para o novo presidente.
O TPP estipula a eliminação de 18 mil taxas que outros países impõem aos EUA e
envolve 40% do que é produzido nos EUA. Com Trump, o TPP acabará enterrado,
visto que ele é muito mais afeito a chamada “guerra comercial” entre os países.
Uma onda protecionista acabará se espalhando pelo mundo. A abertura política
com Cuba, por exemplo, acabará afetada.
Impactos Econômicos. Com Trump eleito, um movimento
generalizado de venda de ativos pode ocorrer no mundo (sell-off), com a valorização do dólar num primeiro momento e a desvalorização
das moedas dos emergentes. O real, por exemplo, pode sofrer forte depreciação
em relação ao dólar no curto prazo. Acreditamos, no entanto, que este seria um
movimento temporário, voltando depois a um patamar menor. O Fed terá que aguardar
um pouco mais para saber quais seriam as políticas de Trump, o que significa a
elevação da taxa de juros de curto prazo, precificada para dezembro, mas sendo
adiada. Isto até seria bom para o Brasil.
Mesmo assim, a total incerteza política com Trump no
poder, jogará o mundo num período de intensa volatilidade. Muitos, por outro
lado, acham que a maturidade das instituições nos EUA servirá de contraponto
aos possíveis devaneios desastrados do presidente eleito. O próprio sistema
político, no chamado balanceamento de forças (checks and balances) trataria de enquadrar Trump. Esta é uma
esperança, mas com certeza, ingressaremos num período de muitas incertezas para
a economia e a geopolítica global.
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