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Leitura de Sábado: BC vê queda rápida da inflação de preços livres, apesar de câmbio e hiato
Por Cícero Cotrim
Brasília, 04/02/2025 - As projeções do Banco Central indicam uma queda rápida da inflação de preços livres, mais sensível à política monetária, apesar das preocupações com o hiato do produto positivo e o repasse cambial para os preços. Economistas divergem sobre as explicações para a diferença entre as estimativas da autarquia e do mercado. Mas concordam que os números ajudam a dar conta do gap entre projeções e expectativas de IPCA.
No seu cenário de referência, o BC estima um IPCA total de 5,2% este ano - com 5,2% tanto para os preços livres, quanto para os administrados. A projeção para os livres está 0,49 ponto porcentual abaixo da mediana do Focus, de 5,69%. A diferença é ainda maior nos 12 meses até o terceiro trimestre de 2026, horizonte relevante da política monetária, com uma alta de 3,8% para os preços livres nas projeções do BC, e de 4,68% nas estimativas do mercado.
Os preços livres, mais sensíveis à política, representam 75% do IPCA, contra 25% dos preços administrados, controlados pelo governo. Levando em conta esses pesos, a projeção de inflação total do BC em 2025 subiria de 5,2% para 5,57% usando a premissa de preços livres do mercado. A projeção para o horizonte relevante passaria de 4,0% para 4,66%.
O economista da Terra Investimentos Homero Guizzo avalia que a diferença entre as projeções do BC e do mercado para a evolução dos preços livres reside, provavelmente, em premissas distintas para o hiato do produto. Em dezembro, a autoridade monetária estimava um hiato positivo em 0,7% no fim de 2024, caindo a -0,6% apenas no segundo trimestre de 2026.
"O mercado trabalha com uma avaliação de que a ociosidade é menor do que a que o BC enxerga, e entende que o hiato é mais aberto do que aquilo que o BC tem dito", afirma Guizzo. "Essa diferença existe há vários trimestres, e pode ter a ver com uma explicação técnica, sobre a forma como o BC avalia o PIB potencial brasileiro."
Nas contas do economista, o hiato do produto estava positivo em cerca de 1,5% no fim do ano passado - mais do que o dobro estimado pela autoridade monetária. Mesmo com uma desaceleração razoável do crescimento econômico entre 2024 e 2025, de mais de 3,5% para cerca de 1,7%, Guizzo avalia que o hiato deve continuar em terreno positivo este ano e no próximo, com impactos sobre a inflação.
"Na nossa avaliação, o PIB vai ter de passar 2025 e 2026 crescendo abaixo do seu potencial para encontrarmos um esgotamento desse hiato positivo e observarmos alguma ociosidade na economia", diz o analista, que espera IPCA de 5,60% este ano, com altas de 6,1% para os preços livres e de 4,3% para os administrados, considerando elevação da taxa Selic a 15,50% no fim do ciclo.
O economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano, pondera que é difícil cravar a razão da diferença entre as estimativas do mercado e do BC para os preços livres. Como a autarquia não decompõe as suas projeções - apresentando números para os serviços, bens industriais e alimentação, por exemplo -, torna-se difícil estimar se o gap vem de uma atividade mais forte, de premissas diferentes para o câmbio ou de choques, ele explica.
"As projeções de preços livres do BC tendem a ficar um pouco abaixo das estimativas do mercado, esse é um processo normal", diz Serrano. "Nós não temos essa decomposição, mas já vimos o BC soltar estudos em que acertava mais do que o mercado. Ele tem a avaliação de riscos, tem o modelo, e tem a questão das hipóteses que são usadas."
Com premissas de desaceleração pouco mais forte da economia e de um dólar abaixo do Focus - em R$ 5,70, contra R$ 6,0 na mediana do mercado -, Serrano espera um IPCA de 5,20% este ano, desacelerando a 4,20% no terceiro trimestre de 2026. A projeção considera elevação da taxa Selic a um nível entre 14,75% e 15,25% no fim do ciclo, em meados deste ano.
Contato: cicero.cotrim@broadcast.com.br
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