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Petrobras sofre tempestade quase perfeita; Veja 3 temas que pressionam a ação

Investing.com - Queridinha dos analistas e investidores no final de 2019, a Petrobras decepcionou o mercado ao enfrentar a ‘pior crise’ do mercado de petróleo, segundo avaliação do seu CEO. A pressão do tombo da cotação do petróleo com a guerra de preços entre sauditas e russos e a queda da demanda provocada pelas restrições de movimentação para controle do Covid-19 se somam à forte desvalorização do real para derrubar as receitas da companhia e elevar sua dívida.
A petroleira vivia nos últimos meses nas graças do mercado financeiro e estava presente em quase todas as carteiras mensais de analistas no segundo semestre do ano passado e início de 2020. A oferta secundária das ações da Petrobras detidas pelo BNDES foi um sucesso em fevereiro, com a venda de R$ 22 bilhões de papéis a R$ 30, desconto de apenas 1,6%.
O mercado, contudo, virou. A companhia que era exaltada por gestores pelo seu programa de desinvestimento e redução do endividamento acumula perdas de mais de 40% em 2020, pressionando o Ibovespa. O índice recuou pouco mais de 30% no mesmo período.
Entenda em 3 pontos – e um risco extra – o que aconteceu com a companhia

1. Derrocada do petróleo

A Petrobras sofre na bolsa com a disputa deflagrada entre a Arábia Saudita, líder a Opep, e os maiores produtores da commodity, Rússia e os EUA, que detonou um acordo histórico de controle de produção para eliminar a sobreoferta global, com sauditas elevando a produção e cortando preços para retomar fatia de mercado.
A inundação de petróleo barato não podia encontrar um ambiente pior no mercado internacional. O avanço da pandemia do novo coronavírus levou a medidas de restrição de deslocamento, que destruiu a demanda por combustíveis e petróleo cru. 
Na avaliação de abril da Opep, a demanda de 2020 deverá cair, em média, 6,9 milhões de barris/dia. O pico da contração com pico deverá ocorrer neste mês de abril com demanda 20 milhões de barris/dia menor, cerca de 20% da produção global de petróleo.
O ambiente de uma gigantesca sobreoferta provocou um sell-off nos contratos de petróleo com entrega física em maio, que despencaram na segunda-feira (20), chegando às mínimas históricas de US$ 40,32 negativos. 
Sim, negativos.
Com excesso de produção, baixa demanda e sem armazenamento disponível, os traders se desfizeram do contrato e pagaram para não receber o produto, levando o preço para terreno negativo pela primeira vez na história.
O ambiente pessimista acabou pressionando o contrato de junho, que operava perto dos US$ 14 o barril nesta quarta-feira. O Brent, referência global e para a Petrobras, acompanhou as perdas, em menor proporção, negociado a pouco mais de US$ 20 o barril.
Com a intervenção direta de Trump, a aliança entre a Opep e a Rússia foi – ainda que fragilmente – restabelecida. Um acordo foi fechado para cortar 9,7 milhões de barris por dia, mas isso não deve fazer com que o excesso de oferta global seja reduzido rapidamente, já que as reduções deverão vir no médio prazo e os estoques estão cheios.

2. Combate ao Covid-19 derruba demanda por combustíveis

Os mecanismos de controle da contaminação do Covid-19 com a limitação de movimentação esmagaram a demanda de combustíveis no Brasil, principal mercado consumidor da Petrobras. Segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), essa queda na demanda causada pelo coronavírus será de aproximadamente 84% para o querosene de aviação, 35% para a gasolina e entre 22% e 25% para o diesel.
Para lidar com o mercado mais fraco, a estatal planeja cortar 200 mil barris por dia de sua produção. Com isso, a média de produção seria de 2,07 milhões de barris diários (bpd) em abril, ante média de 2,394 bpd no último trimestre de 2019. O diretor de Exploração e Produção da empresa, Carlos Alberto Oliveira, afirmou que esse corte está adequado para encarar a crise, mas que reavaliações são feitas constantemente.
Como parte da estratégia, a Petrobras anunciou hibernação - paralisação das atividades - em 62 plataformas em campos de águas rasas nas bacias de Campos, Sergipe, Potiguar e Ceará, que, segundo a companhia, não têm condições de operar com os baixos preços do petróleo. Com isso, a empresa irá reduzir a produção em 23 mil barris por dia.
De acordo com o presidente da empresa, Roberto Castello Branco, a empresa renegociou contratos e adiado pagamentos com fornecedores e confirmo que o plano de desinvestimentos deverá ser impactado pela crise atual. Apesar de tudo isso, a Petrobras tem afirmado que não precisará realizar demissões em massa. 
A Petrobras enfrenta um momento delicado, quase uma tempestade perfeita. A queda nos preços do petróleo lá fora foi repassada para o mercado interno, segundo a política de preços da estatal, que combina cotação do barril e do dólar. Em 2020, a companhia já cortou em cerca de 50% o preço da gasolina e 40% o do diesel nas vendas para as distribuidoras. 
Apesar dos cortes, o UBS calcula que o preço interno está 15% mais alto para a gasolina e 24% para o diesel na comparação com o exterior. Esse cenário abre espaço para que importadores capturem parte do mercado da Petrobras ao trazer cargas mais baratas do exterior, pressionando ainda mais as vendas.

3. Dólar sobe e dívida aumenta

A receita da companhia é pressionada pela queda dos preços, redução do volume de vendas e, para completar, a desvalorização do real. Com receitas em real e dívidas em dólar, a companhia sempre enfrenta um momento complicado quando a moeda local se desvaloriza, mas tende a compensar nos preços – o que não é possível no momento atual.
Em 2020, o real já perdeu mais de 30% do seu valor frente ao dólar e bateu recorde histórico nesta semana ao superar os R$ 5,40.
O câmbio coloca pressão sobre a Petrobras, que tem uma dívida líquida de cerca de US$ 78,9 bilhões apurada no final do quarto trimestre de 2019. Em financiamento, a companhia possui US$ 6,7 bilhões vencendo até 2021 – cerca de R$ 36 bilhões na cotação de hoje. 
Para ajudar no fluxo de caixa e liquidez, uma das prioridades da companhia, a Petrobras sacou US$ 9 bilhões em linhas de crédito, enquanto corta custos e se prepara para um cenário de até US$ 10 no preço do barril do petróleo.
O cenário pesado não refletiu no rating da empresa. Na última sexta-feira (17), a Standard & Poor’s manteve a classificação de BB- para a Petrobras, dizendo que fluxos de caixa e métricas de crédito devem ter uma retomada “considerável” em 2021 apesar de queda este ano, por acreditar “que a relação entre a dívida e o Ebitda se aproxime de 4,0 vezes em 2021, considerando uma melhora substancial nos preços do petróleo e nas condições econômicas”.
O UBS reiterou a sua recomendação de ‘compra’ ao apostar que a companhia conseguirá atravessar essa fase complicada com corte de gastos e investimentos e que retomará os desinvestimentos. O banco vê um upside de R$ 30%, com preço alvo de R$ 21,00 para ações PETR4 e R$ 23,00 para PETR3.

EXTRA: A contaminação de seus funcionários

A Petrobras confirmou ontem que 261 funcionário e terceirizados já testaram positivo para o Covid-19 e tem tentado bloquear a transmissão do coronavírus, o que é um desafio em um ambiente complexo como as plataformas de petróleo que abrigam dezenas a centenas de pessoas em uma vivência coletiva.
O impacto da redução da sua mão de obra nas atividades diárias não pode ser facilmente mensurado neste momento, mas ao menos quatro navios de apoio às atividades em plataformas estão com as atividades paralisadas por casos de contaminação.
A petroleira informou que realiza testes rápidos em todos os funcionários que embarcam para suas plataformas e que retira rapidamente qualquer um que apresentem sintomas.

Análises

No fim de março, a corretora do Banco Safra atualizou as projeções da empresa. Para o banco, “a relação entre oferta e demanda de petróleo continuará seguindo os fundamentos, já que o ambiente de preços baixos no curto prazo remove empresas ineficientes do mercado e atrasa novos investimentos, diminuindo o lado da oferta, por se tratar de um setor de investimentos pesados. Com a recuperação da demanda, os preços devem subir.”
Segundo os analistas, a projeção de longo prazo é de US$ 50 por barril para o petróleo de tipo Brent, contra US$ 60 anteriormente. Em relação às ações da Petrobras, o Safra ainda acredita em uma performance acima da média, apostando na recuperação da economia global. Até o final do ano, o preço-alvo para as ações PETR3 e PETR4 foram atualizados para R$ 24,40 e R$ 23,30 respectivamente.
O BB Investimentos vai na mesma linha, entendendo que a situação atual corresponde a uma anomalia, e não a uma mudança estrutural do mercado, e apostando em uma recuperação gradual de preços nos próximos meses “à medida que os produtores com custos elevados saiam do mercado, equilibrando a oferta, e que os lockdowns para contenção do Covid-19 forem reduzidos”. Assim, considerando que a Petrobras pratica uma política de preços vinculada ao mercado internacional, a expectativa para o papel é otimista à medida em que os mercados começarem a se recuperar.
Outro ponto levantado pelo banco é que “a Petrobras já endereçou boa parte de suas medidas preventivas, com o reforço de liquidez, diminuição nas despesas operacionais, adiamento de dividendos e redução da produção em campos de águas rasas, que possuem custos mais elevados”. Em resumo, o BB Investimentos mantém recomendação de outperform com preço alvo de R$ 23,50 para o ano, tanto para PETR4 quanto para PETR3.
Também a corretora Elite Investimentos mantém um posicionamento positivo em relação às ações da companhia, baseado em grande parte ao “compromisso do atual management na eficiência e no foco em seu core business (exploração e produção de óleo e gás)”, destacando a redução de gastos, a venda de ativos, a desalavancagem e a eficiência operacional, ações que ajudarão a empresa a lidar com a queda no preço do petróleo.
Outra corretora que se manteve otimista com a Petrobras foi a Mirae Asset, prevendo bons resultados para o segundo semestre deste ano após os cortes de produção da Opep e a recuperação dos preços. Os principais motivos para o posicionamento positivo da corretora é o aumento da participação da exploração do pré-sal, “o que oferece maior potencial de evolução e reduz radicalmente o seu custo de exploração”.

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