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Novembro, mês do "cachorro louco"

Novembro foi mais um mês intenso para os mercados. 

De início, tivemos a definição das eleições norte-americanas, com a vitória do candidato Republicano Donald Trump, algo que poucos previam pela postura dele ao longo da campanha. Dúvidas surgem agora sobre como será o seu governo, já que na campanha ele se pautou por um discurso extremamente preconceituoso e populista. Será que ele realmente rasgará todos os tratados recentes de comércio, se alinhará com Putin e construirá um muro na fronteira com o México, impactando no fluxo migratório?


No Brasil, a Lava-Jato seguiu fazendo os seus estragos, com a prisão de vários personagens da República, como Sergio Cabral e Antonny Garotinho, este depois coloca em prisão domiciliar depois de apresentar um quadro de saúde mais frágil. A delação premiada da Odebrecht continuou a mobilizar parte do Congresso e votações importantes transcorreram, como o primeiro turno no Senado da PEC do teto, assim como se aprofundaram os debates em torno da necessidade de colocar na pauta uma agenda positiva para se pensar no retorno do crescimento da economia brasileira de forma imediata. 


Esta continuou não dando as caras, com o PIB recuando 0,8% no terceiro trimestre, contra o anterior e 4% no ano. A atividade industrial continua em queda, o varejo não reaje, o mesmo acontece com os serviços. Para piorar, os indicadores de confiança já começam a mostrar perda de dinamismo, talvez pelo cansaço com a lentidão deste processo de retomada, que nunca chega. Reflexo disso, o desemprego segue estourando todas as estatística, com a PNAD Contínua chegando a 11,8% da PEA de desocupação. São mais de 12 milhões de desempregados e chama atenção os mais de 5 milhões que já saíram do mercado de trabalho por desalento. 


Este, aliás, será um dos fatores a dificultar na retomada da economia, visto que as famílias seguem muito endividadas e com a renda caindo, pelo desemprego elevado e pouca perspectiva futura. Falando dos dois outros canais catalisadores de crescimento, os investimentos e as exportações, encontramos também dificuldades, já que os primeiros apresentam-se retraídos pelo lado do setor público, dado o ajuste fiscal necessário em curso e pelo setor privado estar retraído pelo clima político complicado e a baixa demanda. Uma alternativa pode vir pelo lado do pacote de Concessões anunciado em meados do ano, mas para este deslanchar o horizonte político precisa estar menos polarizado. 


Falando dos dados fiscais, em outubro uma melhoria considerável foi registrada dado o aproveitamento das receitas com as repatriações, elevando o superávit primário a R$ 31 bilhões, em 12 meses recuando de 3,08% a 2,25% do PIB, mas este deve ser visto como pontual, não sinalizando tendência. Sobre a inflação, dada a economia paralisada pela crise política, veio desacelerando, até fechar negativa, ou próxima à estabilidade, pelos IGPs, e bem baixa pelos IPCs, com o IPCA já próximo a 6,8% em 12 meses em outubro, não sendo surpresa se fechar o ano no teto do sistema de metas de inflação. Isso, no entanto, não foi suficiente para uma postura mais agressiva do BACEN, reduzindo a taxa Selic em apenas 0,25 ponto percentual, a 13,75%, na última reunião ao fim de novembro. Isso decorreu basicamente, do cenário externo, com as incertezas depois da eleição de Donald Trump. Entre outras indagações a dúvida agora é saber para quanto vai o dólar, sendo fato sua forte valorização. Em meados de outubro estava em torno de R$ 3,11, ao fim de novembro batia os R$ 3,45.


Isto posto, é necessário manter uma postura mais cautelosa neste período, agora equilibrando mais a demanda por títulos públicos, mais focado em prefixados, mas não deixando de abrir mão dos pós-fixados, dada a incerteza atual nos cenários doméstico e internacional. 











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