REVIRAVOLTA ELEITORAL

O trágico falecimento de Eduardo Campos gerou uma reviravolta no mercado e no cenário eleitoral. Marina Silva surge agora como alternativa forte, dado o histórico da campanha de 2010 quando conseguiu 19,3% de votos, quase 20 milhões, e a comoção gerada com a tragédia. Façamos então uma análise sobre os próximos passos desta eleição, destacando o possível embate em primeiro turno entre Aécio Neves e Marina Silva. Analisemos também os programas econômicos de ambos os candidatos (com forte semelhança). Aqui não está o eleitor, mas sim o analista que tentar desnudar tão complicado cenário eleitoral deste ano. Importante salientar que Dilma Rousseff estará de camarote esperando o adversário de segundo turno, mas precisa estar atenta, pois as pesquisas recentes já colocam Marina em vantagem num eventual segundo turno. Fatores importantes para a eleição. Esta eleição tem como fatores decisivos o (1) desempenho da economia, (2) a exposição nas várias mídias e (3) a agenda de reformas ou mudanças, assim como enfrentamento ao desafiante ano de 2015. O fraco desempenho da economia, a inflação “esticada”, o juro e câmbio desalinhados e os outros fundamentos em deterioração devem trazer algum impacto na candidatura Dilma; (2) Outro fator importante será a exposição maior dos candidatos à mídia televisiva diária. Dilma parte com quase 12 minutos, Aécio com quatro e Marina um minuto e meio. Importante salientar que esta vantagem de tempo de TV pode não representar muito se o candidato não tiver um discurso de mudanças. (3) Este, aliás, é o outro fato importante. Pela última pesquisa Ibope, 70% do eleitorado queria uma gestão diferenciada no próximo mandato, não importa quem seja eleito. Neste contexto, sai mais rápido do fatídico período de ajustes em 2015, quem melhor incorporar este discurso e melhor adotar as medidas necessárias para sairmos do atoleiro em que nos encontramos. Dilma na espera do adversário em segundo turno. Com esta nova configuração, pela entrada de Marina na disputa, já partindo de 20%, seu principal oponente acabará sendo Aécio Neves na disputa pelo segundo turno. Marina Silva tem grande potencial por estar “herdando” (na sua maior parte) 19,3% dos votos obtidos nas eleições de 2010, além do capital político e emocional do candidato Eduardo Campos. Aécio, por outro lado, tem experiência de gestão, boa capacidade de articulação, mas encontra dificuldades para sair dos 20%. Outros diferenciais a favor dele são o maior tempo de TV, estrutura partidária mais organizada e unida (ao contrário das eleições anteriores) e mais palanques regionais. Marina, ao contrário, não possui experiência como gestora, subirá apenas em palanques onde houver afinidade programática e já enfrenta algumas crises localizadas. Sua postura dogmática em alguns temas pode colocá-la em rota de colisão com vários políticos do PSB e de outros partidos da sua coalizão. Propostas econômicas de ambos os candidatos. Há convergências entre as propostas econômicas dos candidatos, Aécio Neves e Marina Silva. Os principais formuladores econômicos da Marina e do Aécio são, respectivamente, Giannetti da Fonseca e Armínio Fraga, market friendly, defendendo o tripé de política econômica, com câmbio flutuante, sistema de metas de inflação e gestão fiscal responsável; apoiam o realinhamento forte de tarifas no início de 2015; caso adotem ajustes, como cortes de gastos e reformas na pauta, além do realinhamento, poderão gerar resposta mais imediata dos agentes, depois de um breve período de queda na atividade e emprego. Quanto mais forte e eficiente for o ajuste, melhor será a resposta da economia. Giannetti acredita que ao fim de 2015 a economia voltará a crescer. Além destes pontos, ambos defendem a autonomia operacional do BACEN, para que a condução da política monetária do BACEN seja livre de ruídos ou interferências políticas. Armínio Fraga acha que pelos estragos feitos pelo governo Dilma na esfera fiscal, cheia de “contabilidade criativa”, minando a confiança nas contas públicas, o processo de reconstrução será lento e gradual. Ambos concordam que as reformas estruturais precisam entrar na agenda, com destaque para a tributária. Concordam também que o sistema de metas de inflação precisa ser mais ambicioso, abaixo de 4,5%, mas esta redução não é para agora. Interessante nesta discussão é que alguns analistas defendem uma meta maior neste período de transição com a inflação sofrendo o inevitável “tarifaço” (falou-se em 6,5% de centro). Para Giannetti, “o governo, confortável com esta leniência fiscal e o centro da meta no teto (6,5%), perdeu totalmente a batalha das expectativas.” Quem tem mais chance para o segundo turno, Marina Silva ou Aécio Neves? Se Marina agrada no front econômico, preocupa sua teimosia e pouca capacidade de articulação política. Como dito acima, Marina deve enfrentar alguma dissidência no PSB, mas é importante salientar que se sua chance de ir para o segundo turno aumentar, esta suposta desunião tende a reduzir. Muitos críticos de Marina a acham uma pessoa mais ligada a princípios do que a resultados práticos. Vide sua gestão no Ministério de Meio Ambiente, em que poucas propostas foram aprovadas ou levadas adiante. Aécio é mais pragmático e tem sido elogiado pela sua capacidade de articulação, herança do avô Tancredo Neves. Ambos candidatos agradam as classes médias das grandes cidades, têm um eleitorado de nível intelectual mais elevado e renda mais alta. Marina tem maior identidade com os jovens, pela sua retórica idealista e purista. É considerada uma outsider, ou terceira via, mas foi governo em Lula.

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