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 NEWS - 01.07 - 2


Bancos veem corte da Selic este ano com juro real perto de 10% / Patamar tem alimentado percepção de que política monetária já atingiu grau de restrição suficiente para trazer inflação à meta de 3% ao longo do tempo- Valor 1/7


Por Gabriel Caldeira — De São Paulo


O ciclo de aperto monetário do Banco Central (BC), que elevou a taxa Selic para 15% em menos de um ano, e alguma moderação nas expectativas de inflação do mercado para o curto prazo têm provocado um crescimento constante do juro real do país, que já se aproxima de 10%, em seus maiores níveis desde janeiro.


Esse patamar tem alimentado a percepção de que a política monetária já atingiu um grau de restrição suficiente para trazer a inflação à meta de 3% ao longo do tempo, e importantes bancos locais e estrangeiros preveem o início de um ciclo de cortes da Selic ainda em 2025, apesar da sinalização do Comitê de Política Monetária (Copom) de que manterá os juros elevados por um “período bastante prolongado”.


Recentemente, o chamado “juro real ex-ante” passou a oscilar em torno de 9,6%, patamar que não era registrado desde o início de janeiro, de acordo com levantamento do Valor Data. O dado é obtido por meio da diferença entre o swap de juro de 360 dias e a inflação projetada para o período de um ano no relatório Focus, compilado pelo BC, e serve para medir o grau de aperto monetário ao qual a atividade econômica está submetida.


Entre os bancos que acreditam em um corte da Selic já em 2025, o Bradesco tem em seu cenário-base uma Selic de 14,50% no fim deste ano, após um corte de 0,5 ponto percentual em dezembro. De acordo com relatório assinado pelo economista-chefe Fernando Honorato, a forte apreciação do real e sinais “incipientes” de desaceleração da economia devem abrir caminho para o BC flexibilizar a política monetária antes do que a maioria dos economistas estima.


“Na nossa visão, caso os cenários de atividade e inflação evoluam como antecipamos, haverá espaço para início de cortes em dezembro, começando com 0,5 ponto percentual. Essa conclusão deriva da nossa réplica do modelo do Banco Central: ao manter a Selic estável, até lá, acreditamos que o modelo do BC apontará inflação ao redor ou abaixo da meta [de 3%] no horizonte relevante daquele período, tudo o mais constante”, diz Honorato, que projeta a taxa básica de juros em 11,75% no fim de 2026.


O superintendente de macroeconomia do Banco Safra, Eduardo Yuki, tem visão similar e também acredita em uma redução de 0,5 ponto da Selic em dezembro, à medida que o horizonte relevante do Copom avançar para o segundo trimestre de 2027.


“Acreditamos que uma moderada retração da atividade e o arrefecimento da inflação no próximo semestre permitirão iniciar um ciclo gradual de redução da restrição monetária em dezembro deste ano”, dizem Yuki e a equipe de economistas do Safra em relatório publicado pouco depois da última alta de juros do Copom.


Para o J. P. Morgan, os ruídos fiscais ampliados após o Congresso derrubar o decreto do governo que aumentou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) devem levar a um fim de ano mais volátil, e o BC fará um corte tímido de 0,25 ponto da Selic em dezembro, para 14,75%. No entanto, a partir de 2026, o ritmo da redução irá acelerar para 0,5 ponto e a Selic deve encerrar o ano que vem na casa de 10,75%, de acordo com a projeção dos economistas Cassiana Fernandez, Vinicius Moreira e Mirella Sampaio.


“Embora os diretores do BC estejam transmitindo a mensagem de que as taxas devem permanecer altas por algum tempo, acreditamos que um crescimento mais lento do PIB e um IPCA mais baixo até o final deste ano permitirão que o Banco Central reduza os juros mais rapidamente e mais do que o mercado está precificando atualmente”, projetam os economistas do J. P. Morgan.


Embora também reconheça o risco de que uma deterioração do quadro fiscal iniba um começo de ciclo de cortes mais agressivo, o Bank of America (BofA) crê em uma primeira redução de 0,5 ponto em dezembro. O chefe de economia para Brasil e de estratégia para América Latina do banco, David Beker, justifica a expectativa com base em uma inflação que deve continuar em trajetória descendente no segundo semestre.


“Nossa percepção é que os juros permanecerão no nível alto atual por mais tempo. A principal questão é: quanto tempo é suficiente? Em nossa opinião, o BC deve começar a cortar com 0,5 ponto percentual na reunião de dezembro”, diz relatório do BofA, assinado também pelos economistas Natacha Perez e Gustavo Mendes.


Entre os riscos listados para o cenário-base do banco, o relatório cita a evolução das medidas subjacentes de inflação, em particular do setor de serviços. “Se o mercado não migrar para a nossa visão e as expectativas de inflação para 2026 e 2027 seguirem acima da meta, o BC ficará sob muita pressão para manter os juros estáveis”, avaliam os economistas do BofA.


Honorato, do Bradesco, aponta também a comunicação conservadora do Copom como algo que pode frear o começo do ciclo de afrouxamento. “Se o corte ocorrer apenas quando as expectativas do Focus estiverem no centro da meta, então o tempo e o espaço para ajustes podem demorar mais e ser bastante menor. Nossa avaliação é que o modelo [do BC] terá um peso maior do que as expectativas, uma vez que ele já considera essa desancoragem em sua formulação”, pondera.


Bolsa é destaque no 1º semestre mesmo com Selic a 15% / Ibovespa sobe 15,4% no ano e índice de ações do setor imobiliário avança 46%; dólar cai e abre espaço para recuo de juros futuros- Valor 1/7


Por Adriana Cotias — De São Paulo


O primeiro semestre termina com forte alta da bolsa brasileira, com valorização de 15,4% para o Ibovespa. O índice de ações do setor imobiliário foi além, com ganhos de 46,4%, na liderança das aplicações financeiras até aqui. Nem parece que a Selic está em 15% ao ano, na maior taxa nominal desde 2006.


Quem segue no CDI já acumula valorização de 6,4% no ano. Mas o investidor que foi paciente para aguentar os trancos dos títulos prefixados e dos atrelados à inflação ganha 10,8% e 10,7%, respectivamente, considerando-se os índices de renda fixa IRF-M e IMA-B 5+, da Anbima, cestas que representam uma média desses ativos.


O dólar, nas idas e vindas das tarifas comerciais do presidente americano Donald Trump, questionamentos sobre o fim do crescimento excepcional e com a sucessão de conflitos geopolíticos acumula queda de 12,1% em relação ao real - em linha com outras moedas da América Latina e de outros mercados desenvolvidos.


O investidor chega à segunda metade do ano sob o dilema de aumentar suas fichas em classes de maior risco ou seguir na renda fixa brasileira, que assegura liquidez, retorno e segurança.


Com o pano de fundo da cena internacional, todas as classes de ativos de risco de mercado - prefixados, Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B), multimercados e bolsa - performaram bem no Brasil, um comportamento diferente do observado nos últimos 3,5 anos, quando todas as estratégias ficaram abaixo do CDI, afirma Dennis Kac, sócio e executivo-chefe de investimentos (CIO) da gestora de fortunas Brainvest no Brasil.


Uma das explicações vem da rotação de carteiras globais, com o investidor buscando geografias fora dos EUA. “Embora o Brasil esteja fora do radar do gringo, qualquer coisa de fluxo para o país acaba fazendo preço.”


Outra questão que o mercado começa a discutir é uma eventual troca no Planalto a partir da eleição presidencial de 2026. Com o quadro fiscal bagunçado, a virada do timão para alguma disciplina nas contas públicas permitiria ao Banco Central (BC) inverter o ciclo monetário e traria um novo rali para os ativos.


“Falta muito tempo, parece meio conversa de botequim, com muita coisa para acontecer, mas a gente começa a ver o governo [Lula] extremamente enfraquecido. De certa forma, nos dois primeiros anos, o ‘playbook’ foi de expansão fiscal significativa, desemprego baixo e uma inflação pressionada, mas que não se perdeu o controle”, diz Kac.


Embora a projeção para o IPCA esteja ainda fora da meta do BC, um índice entre 5% e 6% para o histórico do país não significa que essa batalha esteja perdida, continua o executivo da Brainvest. “Pode se questionar a qualidade, mas a economia segue com crescimento robusto. Em condições normais de temperatura e pressão, o governo deveria estar com uma popularidade superior. Se com todo ferramental utilizado a popularidade não se reverte - pelo contrário continua perdendo pontos -, cada vez é mais difícil acreditar que 2026 não venha a ter uma alternância de poder.”


Kac avalia que pouco disso está nos preços. O fluxo ainda não pende para o jogo pró-risco em cima da hipótese de um governo de centro-direita em Brasília. Com investidores machucados por anos consecutivos de desempenho frustrante e colocando na conta o CDI a 15% ao ano não há razão para apimentar as carteiras de antemão. “Tem oportunidade na renda fixa que faz com que o investidor não tenha que obrigatoriamente ir para a bolsa”, diz. “A NTN-B próxima de 7,5% é uma baita assimetria de risco/retorno.”


Diferentemente da renda variável, em que o CDI pesa contra e o objetivo tem que ser o ganho de capital, na NTN-B é possível estar exposto a uma eventual melhora de Brasil “sem sangrar tanto mês a mês quando não há performance positiva”, diz Kac. O executivo lembra que os prêmios se equiparam ao da crise financeira de 2008, na quebra do banco americano Lehman Brothers, e ao segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, mas que o quadro atual não é equivalente.


“Do ponto de vista das finanças comportamentais, o investidor precisa ter um ano positivo em outras classes para ganhar confiança e efetivamente ir para as alternativas de risco como a bolsa, superdescontada por todas as métricas de valuation”, diz Kac. “Mais para frente vai estar mais caro, mas com um pouco mais de margem de segurança em termos informacionais.” O cenário é binário, reconhece, e se realmente houver uma alternância de poder, ele diz que o Brasil pode vivenciar um dos maiores ralis desde 2002.


O fluxo estrangeiro que tem alimentado a bolsa brasileira esbarra nas taxas de juros altíssimas, mas tem sido essa capacidade de atrair um pedaço da realocação de recursos que saiu dos EUA que fez as ações brasileiras se valorizarem, diz Ruy Alves, sócio e gestor macro da Kinea Investimentos. Mais do que uma aposta em crescimento de lucros ou da economia, o movimento provocou a queda do dólar e, por consequência, das taxas futuras de juros. “O país é da renda fixa até para a bolsa que sobe quando a ‘B’ [NTN-B] fecha [a taxa cai]”, diz. “Tem muito diferencial de juros para ir contra, mas para a bolsa andar é preciso que a percepção de risco mude.”


Se o Brasil não esboçar um ajuste nas contas públicas até a travessia de 2026, ano eleitoral, dificilmente vai evitar o “precipício fiscal” em 2027, diz Alves. Por enquanto, a bolsa avança pelo efeito de valorização do real, mas em dólar está parada desde 2006.


Para o brasileiro, Alves vê o risco da NTN-B e da bolsa como equivalente. Cabe ao investidor decidir se vale estar exposto a uma concessionária de serviços públicos na B3, que paga bons dividendos, ou ficar na renda fixa.


O gestor não acha que a eleição esteja sendo incorporada ao preço dos ativos locais. O Brasil se valeu da realocação dos EUA para outros emergentes, incluindo América Latina e Brasil, e para desenvolvidos como Europa e Japão. Só que nessas economias há uma série de empresas sem crescimento de lucros, o dinamismo continua vindo do mercado acionário americano, em especial das empresas de tecnologia e da inteligência artificial. E, diferentemente das americanas, nas companhias europeias e japonesas, uma queda do dólar se reflete também nos resultados.


“Vender Google, Microsoft, Nvidia para comprar Brasil, Vale, Petrobras e Ambev é vender o futuro para comprar empresas do passado. Pode funcionar, mas é mais difícil. Tem espaço para subir? Tem porque está barato.” A eleição, conforme avance 2026 vai começar a ser um fator e 2027 vai ser um ano fundamental para o Brasil porque o espaço fiscal é nulo.


O investidor global passou a buscar não só mercados descontados, mas também outros estilos de investimentos, diz Lucas Carvalho, chefe do departamento de análise da Toro Investimentos, do Santander. Com múltiplos esticados, “alguns papéis de tecnologia perderam um pouco da atratividade para um viés mais ‘value investing’', da velha economia, setores considerados estáveis como o bancário, commodities e energia e saneamento, não só no Brasil, mas lá fora também”, diz ele.


O especialista destaca o ouro como um ativo vencedor, com os investidores colhendo excelentes resultados pela visão clássica de reserva de valor e de proteção contra a inflação num ambiente global cheio de incertezas. “Vários BCs diminuíram a exposição em dólar e têm buscado o ouro, não à toa o dólar vem se enfraquecendo”, diz Carvalho.


Ele acrescenta que o metal tem correlação negativa (anda na direção oposta) das taxas de juros do Tesouro americano. Depois da divulgação do índice de preços ao consumidor nos EUA na semana passada, o mercado passou a incorporar três cortes de juros pelo Fed, cita. “A renda pessoal veio abaixo do esperado, os gastos dos consumidores bem abaixo, pode haver no segundo semestre quedas de juros, no plural, o que seria benéfico para o ouro e para ativos de risco.”


No Brasil, o analista da Toro diz que 2026 pode trazer ventos favoráveis para corte de juros. É o que vem beneficiando companhias mais alavancadas como as do setor de construção civil e de varejo. Se as taxas futuras seguirem caindo, são papéis que podem ter desempenho acima da média de mercado. A corretora revisou a projeção para o Ibovespa de 145 mil pontos para 160 mil pontos. No curto prazo, o investidor pode colocar o lucro no bolso e acompanhar o andamento da pautas fiscal, após a derrubada do decreto de aumento do IOF pelo Congresso.


 


MÚLTIPLOS E ROTAÇÃO MANTÊM ATRATIVIDADE DE AÇÕES BRASILEIRAS, ENQUANTO ELEIÇÃO ENTRA NO RADAR-Broadcast 30/6


Por Ana Paula Machado, Beth Moreira e Vinicius Novais


São Paulo, 30/6/2025 - Analistas consultados pela Broadcast veem potencial de valorização ainda maior para o Ibovespa nos próximos meses. Além da perspectiva de queda de juros, a Bolsa brasileira tem como fatores-chave para o segundo semestre a presença de múltiplos atrativos e ainda algum fôlego na rotação global de carteiras. Gradualmente, outros fatores locais podem entrar no radar do investidor, como o processo eleitoral de 2026.


A gestora de renda variável do Fator Gestão, Isabel Lemos, pontua que, comparada a pares emergentes, a Bolsa brasileira tem o múltiplo mais atrativo.


O indicador preço sobre lucro (P/L) do Brasil neste ano está em torno de 8 vezes. Na prática, é como se o investidor demorasse oito anos para ver o retorno do seu investimento. No México, esse indicador é de 13 vezes; no Chile, 14 vezes; e na Índia, 22 vezes.


Mesmo em relação à série histórica brasileira este índice está baixo, o que indica que a Bolsa brasileira está muito barata. A média dos últimos 20 anos é de 11,5 vezes o P/L.


"Olhamos múltiplos atrativos no Brasil e temos uma perspectiva no longo prazo de se iniciar a queda dos juros. Isso impulsiona um pouco mais a Bolsa. Além da desvalorização do dólar frente às outras moedas", afirma Lemos.


Há também aqui uma tendência de diversificação dos grandes portfólios globais. O head de Equity Research do Citi para a América Latina, André Mazini, lembra que a gestão "irrequieta" do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, favorece o fluxo para outros países.


"Ele é muito imprevisível e o investidor odeia isso. Há até no mercado a expressão TACO, o acrônimo de 'Trump Always Chickens Out' [Trump sempre volta atrás, em tradução livre], para se referir a ele, que nunca segue nas promessas. Isso faz com que as pessoas comecem a tirar o dinheiro dos Estados Unidos que teve 'boom market' por 15 anos. Agora, está um pouco mais volátil", diz Mazini.


Ao longo do primeiro semestre, como a Broadcast mostrou, a chegada de recursos ao Brasil decorreu de um processo global de diversificação de carteiras, principalmente em meio à queda do dólar mundialmente.


Segundo Mazini, qualquer fluxo, por menor que seja, que saia dos Estados Unidos para outras praças representa um volume importante de alocação no mercado mundial.


"Os índices americanos respondem por 75% dos índices globais; o Brasil, apenas 4%. Qualquer mínima alteração para fora dos EUA, principalmente para o mercado brasileiro representa um volume importante por aqui", ressalta o profissional do Citi.


O head do Citi ressalta que o mercado já vai precificar as eleições gerais de 2026 ao longo do segundo semestre de 2025.


"Há um viés positivo para a Bolsa, temos a questão da eleição no ano que vem ainda em aberto. Imagino que, se vier um governo mais fiscalista, mais preocupado com a questão fiscal, os juros poderão cair."


Diversificação


Em relatório publicado nesta segunda-feira, 30, o Bradesco BBI observa que, com os fortes ganhos já registrados e as taxas de juros ainda elevadas, investidores estão mais seletivos, buscando oportunidades que não apenas oferecem exposição doméstica, mas também proporcionem maior potencial de valorização.


Das 160 ações acompanhadas pelo banco, 132 tiveram alta. Os destaques foram os setores de Educação (+93%) e Imobiliário (+62%), enquanto ficaram para trás commodities (+3%) e Petróleo e Gás (-1%).


"Nesse contexto, revisamos nossa cobertura para identificar ações com desempenho abaixo do esperado", dizem os analistas Pedro Grimaldi e Ben Laidler.


Na lista final de oportunidades, segundo o banco, aparecem, entre outras, Nubank, Ambev, Weg, BRF, Rumo, RD Saúde, Klabin, Hapvida, Raízen, Natura, Cosan, CSN, São Martinho, Vamos e Petz. Essa cesta, segundo o Bradesco BBI, caiu 6% no acumulado do ano e está sendo negociada com múltiplos de 24 vezes o P/L, acima do múltiplo de 20 vezes do início do ano.


 


Mistura de dados e previsões no IBGE acende sinal de alerta / Ex-presidentes do instituto de pesquisas alertam que proposta vai contra recomendações de boas práticas internacionais- Valor 1/7


Lucianne Carneiro


Os ex-presidentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Wasmália Bivar e Roberto Olinto veem riscos para a credibilidade do instituto ao se misturar estatísticas com previsões em um instituto oficial e afirmam que o caminho vai contra as boas práticas internacionais.


O alerta veio após o lançamento pelo IBGE do Programa Nacional de Inteligência e Governança Estatística e Geocientífica, com objetivo de “subsidiar políticas públicas preditivas”. O plano é parceria com o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e teve a adesão de oito órgãos públicos.


No evento de divulgação, o presidente do IBGE, Marcio Pochmann, defendeu que a iniciativa permitirá a união de diferentes bancos de dados, o que ajuda a reduzir custos e oferece melhores subsídios para políticas públicas.


A construção de um sistema nacional de estatísticas é uma das bandeiras da gestão de Pochmann. A ideia é que esse sistema, sob a coordenação do instituto, integre as informações de diferentes produtores de dados. O debate é antigo dentro do próprio IBGE, e a legislação prevê que o instituto coordene o sistema estatístico nacional, função que nunca foi exercida.


Agora, no entanto, Pochmann incluiu nessa discussão o papel das predições, termo que é sinônimo de previsões e tem sido usado no contexto das soluções de inteligência artificial. A IA preditiva identifica padrões para ajudar a prever o que ocorrerá no futuro.


No lançamento, o presidente do IBGE disse que políticas públicas têm sido realizadas com base em realidades do passado. Diante das mudanças atuais, no entanto, defendeu, é “fundamental trabalhar com a ideia de predições”: “Queremos dar um passo, e é um passo experimental, são pesquisas experimentais que vamos levar à frente a partir do IBGE”.


Procurada pelo Valor , a assessoria de imprensa do IBGE encaminhou link (ibge.gov.br/singed-programa-nacional) de nova área do site com explicações sobre o Programa Nacional de Inteligência e Governança Estatística e Geocientífica.


O texto cita o “Projeto Projeções de Força de Trabalho e Ocupações para Brasil 2040”, que “atua comprometido com a finalidade do desenvolvimento e aplicação, experimental, da metodologia de projeção de força de trabalho e de grupos ocupacionais no país para os próximos 15 anos”.


“Como o futuro é incerto, previsões estão sujeitas a falhas. Isso cria uma crise de credibilidade, fundamental para um instituto oficial de estatísticas. É uma ameaça enorme à credibilidade institucional e vai contra as boas práticas internacionais”, afirma Wasmália Bivar, que foi presidente da Comissão de Estatística da ONU.


Na sua avaliação, as acusações de manipulação das informações podem ocorrer de diferentes formas, tanto em caso de erros ou de acertos nas projeções.


Os planos da atual direção do IBGE contrastam com os “Princípios Fundamentais das Estatísticas Oficiais: orientações para divulgações de resultados pelo IBGE”. O documento determina que não se deve “especular sobre resultados futuros dos dados divulgados ou de fatores que irão influenciá-los”, com exceção das projeções da população e da produção agrícola.


A preocupação de Bivar é compartilhada pelo também ex-presidente Roberto Olinto. Um instituto oficial de estatísticas, diz, produz dados que descrevem a realidade geográfica, social, econômica de um país, enquanto previsões são sujeitas a erros.


“O risco de ter uma mistura das coisas, entre estatísticas e projeções, é muito grande. Sou radicalmente contra”, afirma.


Pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), Francisco Pessoa Faria celebra as ações do IBGE para coordenar e organizar diferentes bases de dados, como registros administrativos e estatísticas de diferentes fontes, mas condena projetos que envolvam produção de estimativas: “Trabalhar com previsões não faz parte do escopo de um instituto oficial de estatísticas. E eventuais benefícios não superam os riscos”.

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