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 NEWS - 01.07


Haddad prevê corte de R$ 15 bi em gasto tributário para fechar contas do ano / Ministro diz que governo precisa da receita do IOF e se diz disposto a discutir a respeito das medidas com deputados e senadores- Valor 1/7


Lu Aiko Otta / Guilherme Pimenta / Fernando Exman


Em uma entrevista em que destacou sua disposição de buscar o entendimento com o Congresso Nacional, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, insistiu ao Valor que precisa das receitas a serem geradas pelo aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), da aprovação da Medida Provisória (MP) 1.303/25 e de um corte de pelo menos R$ 15 bilhões em gastos tributários para fechar as contas de 2025 e 2026.


Originalmente, contou, o governo queria cortar R$ 40 bilhões e abarcar todos os incentivos fiscais. No entanto, na reunião com a cúpula do Congresso no último dia 8 ficou claro que não haveria condições de avançar com essa proposta. A ideia sobre a mesa é cortar apenas os gastos tributários infraconstitucionais, por isso a cifra menor.


Há também oito propostas de redução de gastos primários enviadas pelo governo que aguardam apreciação pelo Legislativo, entre elas a regulamentação dos supersalários, previdência dos militares e um aperto na concessão do seguro-defeso. O ministro disse querer discutir estas e outras medidas com deputados e senadores, para sentir quais temas têm chance de prosperar. Nada foi descartado pelo chefe da equipe econômica.


O diálogo com o Congresso, porém, não avançou depois daquela reunião. Pelo contrário, deputados e senadores aprovaram um decreto legislativo que sustou o aumento do IOF. “Eu espero que, superado esse momento, a gente retome [o diálogo] com o Congresso”, disse.


As declarações foram dadas no mesmo dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia decidir sobre o ingresso de ação no Supremo Tribunal Federal (STF) questionando a decisão do Congresso sobre o IOF. A possível iniciativa é vista até por parte dos integrantes do governo como algo que pode tensionar ainda mais as relações.


Se for deflagrada, a ação no Judiciário não terá sido motivada por questões políticas e sim por “dever funcional” do presidente, argumentou o ministro. A ação será protocolada se a Advocacia-Geral da União (AGU) concluir que o Congresso, ao derrubar o decreto, invadiu prerrogativas que a Constituição atribui ao Poder Executivo.


Respondendo ao vídeo postado por Motta, que fala na tentativa de criar uma “polarização social”, numa referência ao discurso de pobres contra ricos adotado pelo PT, Haddad disse que a polarização “é concreta” e afirmou que o governo não está defendendo só os mais pobres, mas os 90% da população que pagam impostos.


Questionado sobre a estratégia do Banco Central (BC) de manter os juros elevados por um tempo prolongado para combater a inflação, Haddad disse que está ainda observando os movimentos da autoridade monetária. Acrescentou que a economia muda rapidamente e o Fed, banco central dos Estados Unidos, sinaliza corte nos juros, o que pode trazer uma surpresa positiva. A seguir os principais pontos da entrevista ao Valor:


Valor: O presidente Hugo Motta disse hoje que não houve traição por parte do Congresso e que ele havia avisado que o aumento do IOF teria dificuldade em avançar. O governo foi avisado?


Fernando Haddad: Eu tenho uma boa relação com o presidente Hugo Motta e pretendo manter essa amizade com muita tranquilidade. Essas coisas podem acontecer. Nosso papel é buscar caminhos para resolver o problema. O que nós estamos fazendo, na verdade, é fechando brechas de planejamento tributário em que vai se construindo soluções para escapar da tributação. Quando nós explicamos isso para os parlamentares, começou a ficar claro.


Valor: Por exemplo?


Haddad: O gasto no exterior paga o IOF câmbio, aí alguém inventa um jeito de transferir recursos para o exterior para escapar da tributação. O próprio risco sacado, que é uma operação de crédito, que estava sendo vendida como uma coisa que não é bem uma operação de crédito, era uma venda de ativo. E nós sabemos que não é bem assim. É natural que as pessoas vão tentando desenvolver teses, mas a base fiscal do Estado acaba ficando comprometida. Nós negociamos as alíquotas, reduzimos, reconhecemos lá que podia ficar salgado e atendemos o setor do varejo. Conversamos com o sistema financeiro. Desde o começo do governo eu estou dizendo: “Olha, a evasão fiscal, a elisão fiscal atingiu patamares insustentáveis”. Se todo mundo está comprometido que as contas públicas têm que ser ajustadas, a pergunta é onde é possível fazer o melhor trabalho possível. Primeiro, recuperando a base fiscal. Com tanta elisão fiscal, com tanto jabuti, não é melhor enfrentar as injustiças? Nós procuramos enfrentar o IOF, que era driblado. O Congresso nos deu respaldo até aqui. Você não vai me ver criticar um Congresso que apoiou as medidas.


Valor: O sr. já retomou o diálogo com o presidente Hugo Motta?


Haddad: Eu não só não consegui, como eu não recebi nenhuma explicação para o que aconteceu. E eu não estou falando aqui esse termo que você utilizou [traição], ele não cabe no meu discurso. Falar em traição não faz parte do meu relacionamento com nenhum parlamentar. Não me sinto assim. Eu quero entender justamente porque eu não acho que o que aconteceu foi isso, porque nós estamos fechando brechas pelas quais o imposto escapa.


Valor: O Congresso também cobra respostas no front das despesas.


Haddad: Nós estamos procurando fazer a coisa do ponto de vista mais justo e limitando a despesa, que você sabe que está sendo uma grande dificuldade. E o presidente comprou: todo mundo falando de um contingenciamento com bloqueio da ordem de R$ 15 bilhões, R$ 18 bilhões, e nós entendemos que tínhamos que fazer mais. E fizemos. Então, cobram que o governo não está cuidando das despesas... Como não? Quem é que no meio do ano faz um corte desse? Tem áreas muito prejudicadas com esse corte.


Valor: O sr. falou que pretende manter a amizade, com um discurso mais conciliador. No entanto, tem essa possibilidade de o governo ingressar na Justiça para manter o decreto do IOF...


Haddad: A minha personalidade é de buscar um entendimento. O que o presidente me disse na sexta-feira e deve estar sendo resolvido hoje [segunda-feira] com a AGU [Advocacia-Geral da União] foi: “Eu tenho o dever funcional de defender a Constituição, pois jurei cumpri-la. Se o advogado-geral disser que o decreto legislativo invade prerrogativas do Executivo, eu tenho de defender o ato por dever funcional”. Aí não é uma questão política. Não tem nada a ver com política. É de prerrogativas constitucionalmente atribuídas ao chefe do Executivo. Não é uma questão de conveniência. É quase que um dever funcional. Ele não pode mudar a Constituição por omissão. Isso também não tem a ver com rompimento ou não rompimento, assim como quando o Congresso toma decisões de derrubar um veto presidencial.


Defendo que nós voltemos a sentar e conversar, inclusive sobre gasto primário, que ficou pendente naquela reunião”


Valor: Estamos às vésperas do relatório bimestral de receitas e despesas de julho. Pode haver uma medida alternativa para compensar a arrecadação que estava prevista com o IOF?


Haddad: Se nós tivermos o decreto do IOF e a MP que foi encaminhada, isso vai dar conforto para o Brasil. Não para o governo, mas para o Brasil executar o seu Orçamento sem prejudicar programas sociais, sem descontinuidade de políticas públicas importantes para a população e, ao mesmo tempo que fazemos justiça social, comprometidos com as metas que foram pactuadas até aqui, com as metas fiscais.


Valor: Somando também a economia prevista com o corte dos gastos tributários?


Haddad: Mas não aquele que tinha sido anunciado pelo próprio presidente Hugo Motta, de um corte linear. Houve uma espécie de manifestação de alguns parlamentares dizendo que não topavam o corte de benefícios fiscais de natureza constitucional.


Valor: Mas não dá para fazer linear de forma infraconstitucional?


Haddad: Foi isso que eu pedi. Como é muito complexo um processo de corte linear infraconstitucional, que eu teria que rever lei por lei, nós estamos estudando aqui uma maneira de fazer. Porque a sensação que eu tive é que não havia espaço para corte de gastos tributários de natureza constitucional. Nós estávamos com a medida pronta.


Valor: Era uma proposta de emenda constitucional (PEC), incluindo Zona Franca, Simples e todo mundo?


Haddad: Nós estávamos com a PEC pronta. Pegava tudo e ia definir a régua, o percentual. Já existe uma emenda constitucional, como vocês sabem, que já foi aprovada pelo Congresso Nacional, de número 109, determinando a redução do gasto tributário. Então, de novo, qual é a incoerência do Executivo Federal? Por isso que eu defendo que nós voltemos a sentar e conversar, inclusive sobre gasto primário, que ficou pendente naquela reunião.


Valor: Mas não aconteceu nada em relação à discussão do gasto primário depois da reunião.


Haddad: Não aconteceu nada depois. Mas nós chegamos a incluir na MP coisas que não estavam previstas, como o disciplinamento do seguro-defeso. Quando a gente fala: “Vamos disciplinar melhor o BPC para ele continuar um programa importante, vamos disciplinar melhor o seguro-defeso, vamos colocar o Pé-de-Meia dentro do piso da educação, vamos corrigir os supersalários...”


Valor: No entanto, essas medidas não são tímidas?


Haddad: Não são tímidas. Lançamos aquele conjunto de medidas no final do ano passado, houve uma confusão enorme de frustração com as medidas. Depois, muita gente boa foi fazer a conta, dizendo que as medidas são coerentes.


Valor: Quando o sr. diz que quer voltar à mesa para debater o gasto primário, isso significa que são as medidas encaminhadas ou novas medidas?


Haddad: Nós encaminhamos, em seis meses, dez medidas. Só foram duas aprovadas. Só foi a política de valorização do salário-mínimo, que foi revista. E a questão do abono constitucional foi revista. Outras oito não foram apreciadas ainda pelo Congresso. E eu falei que não tenho nenhum problema em sentar-se à mesa para discutir, inclusive porque eu quero ter a sensibilidade do Congresso do que ele está disposto a encarar do ponto de vista do debate público. Porque vários ali [na reunião com os parlamentares] se manifestaram de que não é simples debater as medidas em ano de eleição. Mais uma razão para nós sentarmos e discutirmos quais são as condições políticas de nós avançarmos. O Executivo está aberto. A área econômica vai participar do debate.


Valor: O Legislativo está fechado a esse diálogo?


Haddad: Eu creio que não, porque nos discursos, pelo menos do ponto de vista de narrativa, eu vejo cobrança de medidas nessa direção. Eu preciso saber do que nós estamos falando. Inclusive essas oito medidas que ainda podem ser apreciadas, elas serão?


Valor: Quais são essas outras oito medidas?


Haddad: Tem quatro na MP, além de outras quatro. O supersalário, previdência dos militares, tinha uma questão que era uma coisa ligada ao BPC, que ficou para ser discutido o veto presidencial [veto à medida que restringia a concessão do BPC a pessoa com deficiência], e a questão do indexador do Fundo do GDF, que nós queríamos que fosse o mesmo do Fundo de Desenvolvimento Regional, que vale para todo o país, ou alguma outra sugestão que aparecesse porque estava havendo um descasamento entre os fundos de desenvolvimento.


Valor: O que está faltando para a agenda avançar?


Haddad: Eu mandei uma mensagem dizendo que eu continuo à disposição. Eu não posso impor uma agenda legislativa. Eu sou ministro. Existe o chefe do Executivo, o chefe do Legislativo. Eu posso, como faço sempre, me colocar à disposição. Não vai faltar empenho da minha parte, mas eu preciso saber o que está na mesa para nós avançarmos.


Valor: O que o governo pode propor de medidas estruturantes? Há medidas sempre lembradas pelo mercado, como desvinculação do salário mínimo dos benefícios previdenciários e sociais, os pisos da saúde e educação...


Haddad: Fala-se de tudo. Em tese, fala-se muito disso ou daquilo. Mas, quando você consulta os parlamentares, os líderes das bancadas, a coisa muda de figura.


Valor: Esse discurso do andar de cima e do andar de baixo não acaba prejudicando o diálogo com o Congresso Nacional, de que o governo está defendendo os mais pobres?


Haddad: Nós não estamos protegendo só os mais pobres. Não é verdade. Nós estamos falando de 90%, 95% da população. Todo mundo paga imposto. Por que o morador da cobertura não paga? Não tem sentido o sistema tributário brasileiro. Ele é um dos mais criticados do mundo, primeiro por uma razão, que ele era caótico. Nós resolvemos a parte mais caótica, que era a questão do imposto sobre consumo. Com a introdução do IVA, o caos vai acabar. Mas, segundo, porque ele é injusto. Ele é pouco progressivo, então nós estamos corrigindo a parte da progressividade.


Valor: Não passa a impressão de que o governo coloca o Congresso como o protetor dos mais ricos?


Haddad: Não, não é a verdade.


Valor: O presidente Hugo Motta disse nesta segunda-feira que, com esse discurso, o governo está buscando a “polarização social”.


Haddad: Primeiro o seguinte: a polarização social é concreta. Tem 140 mil pessoas que não pagam imposto e que deveriam estar pagando, estamos falando de no mínimo 10%, gente. O imposto em um país desenvolvido para essa camada social é 30%, 40%, 50%. Nós estamos falando de 10%. É a pessoa começar a contribuir.


Valor: Mas o discurso, reforçado pela propaganda do PT, tem gerado reações públicas do Congresso de que essas medidas vieram com uma pegada de “pobres contra ricos”, uma pegada de “campanha”.


Haddad: Essa acusação foi feita de parte a parte, e eu não considero isso. Falaram que derrubaram o decreto porque começou [a campanha eleitoral de] 2026, derrubaram o decreto do presidente porque vai vir um golpe. Eu não vou entrar nessa, nem nessa narrativa que derrubaram porque estão preocupados com a recuperação da popularidade do presidente, nem do lado contrário, do governo não poder defender uma visão de mundo para o qual esse partido, a que eu pertenço se constituiu, que era corrigir desigualdades sociais.


Valor: Estamos próximos do governo enviar a proposta de Orçamento de 2026. Diante dessa resistência do Congresso de aprovar medidas de receita e até de gasto primário, a meta de superávit primário de 0,25% do PIB está ameaçada? Ela pode ser revista?


Haddad: Em 2023, nós mandamos uma série de medidas enjoadas para o Congresso, porque mexia com jabutis, mexia com interesses muito localizados. E eu dependia daquilo para cumprir a meta de zerar o déficit no ano seguinte. Eu não fiquei falando em mudar a meta. Eu acredito que, ao colocar o dedo na ferida de que nós precisamos recuperar o Orçamento público no Brasil, eu estou comprometendo o país inteiro com isso. Não é só o Executivo. É uma forma de chamar a atenção do Judiciário, para não ter outra Tese do Século. É uma forma de chamar a atenção do Legislativo de que não dá para brincar com jabuti a essa altura do campeonato. É uma forma de clamar por racionalidade. Então, você vai me perguntar, mas depende do Congresso? Depende, óbvio que depende. Eu dependo do decreto do IOF. Eu dependo da MP que nós mandamos. Eu dependo do Congresso, mas eu estou sempre atrás de alternativas. Eu não faço milagre, mas o que nós fizemos o ano passado para ficar dentro da banda [de resultado primário], mais perto do centro do que do teto, foi um trabalho de botar a mão na massa mesmo. E eu vejo alguns analistas dizendo: “É, mas teve que fazer um acordo com a Petrobras”. O cara quer que eu faça o quê? Que eu imprima dinheiro? Eu fui buscar alternativa [para cumprir a meta].


Valor: A Receita informou que precisaria de R$ 118 bilhões em receitas extras para fechar o Orçamento de 2026. Vão ter novas medidas de arrecadação?


Haddad: Esse valor entra tudo, inflação, tudo.


Valor: Então, essas medidas que estão no Congresso são suficientes para 2026?


Haddad: E o IOF.


Valor: Qual a expectativa de arrecadação com o corte de gastos tributários?


Haddad: Nós temos que voltar para conversar com os líderes, mas eu acredito em alguma coisa em torno de R$ 15 bilhões [no ano]. Se pensava [aqui na Fazenda] em algo maior, porque pegava todos os benefícios, por PEC. Nesse caso, seria um impacto perto de R$ 40 bilhões, mas veio a demanda dos líderes de não mexer com benefícios constitucionais.


Valor: Haverá necessidade de ajuste no Bolsa Família?


Haddad: Eu acho que a demanda não vai surgir, porque o Brasil é referência de combate à fome neste governo. O parâmetro [de ajuda governamental para combate à fome] é US$ 40 por família. Nós estamos atendendo mais que isso.


Valor: O BC fala em Selic contracionista por período “bastante prolongado”. O mercado espera que ciclo de queda comece só em 2026. Isso pode prejudicar a economia?


Haddad: Eu ainda estou observando esses movimentos do BC, lendo as atas. Nós estamos aí a quatro reuniões do Copom [até o fim de 2025], vamos ver como é que as coisas andam. Hoje saiu revisão da inflação de um grande banco, que passou de 5,4% para 5%. E o ano que vem já está em menos de 4%. Essas coisas são muito dinâmicas. Quem três meses atrás iria dizer que o dólar ia estar em R$ 5,45? E o mundo está numa dinâmica muito particular. O Fed já está sinalizando, mesmo com o tarifaço do Trump, de que vai cortar. O Brasil está numa posição boa. Essa é a verdade. Tudo somado, nós podemos tirar proveito dessa situação, fazendo as coisas certas.


 


Governo bate martelo e vai brigar por decreto do IOF no Supremo / Ação contra decisão do Congresso deverá ser protocolada nesta terça-feira pela AGU- Folha SP 1/7


Catia Seabra /Ana Pompeu


Apesar da resistência de uma ala do governo e do PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu brigar na Justiça pela reativação do decreto com elevações no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que foi derrubado na terça-feira (24) pelo Congresso Nacional.


A AGU (Advocacia-Geral da União) deve protocolar uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) nesta terça-feira (1°). A ideia é questionar a constitucionalidade da decisão do Congresso, com base na análise técnica e jurídica.


A própria ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, informou a parlamentares nesta segunda-feira (30) que a decisão está tomada. A pedido do presidente, o ministro-chefe da AGU, Jorge Messias, já concluiu a ação —apontada por integrantes do governo como tentativa de resgate da normalidade institucional no país.


Na semana passada, o presidente solicitou que AGU elaborasse recursos ao STF para reativar o decreto. A orientação foi dada a Messias na noite da quinta-feira (26), durante reunião que contou com a presença de Gleisi.


Segundo integrantes do governo, Lula pediu à AGU para analisar a constitucionalidade da decisão do Congresso, com o argumento de que a derrubada do decreto ameaça uma prerrogativa do presidente da República de editar esse tipo de mecanismo.


Ministros afirmam haver brechas legais, e o próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já se manifestou a favor de um recurso ao STF.


Aliados do presidente chegaram a defender um esforço para evitar novo confronto entre a cúpula do Congresso e o Supremo, uma vez que, na avaliação desses governistas, existe base legal para uma vitória judicial na corte. Integrantes do governo também alegam que uma ação direta de inconstitucionalidade poderia fornecer um discurso para a oposição nas redes sociais: o de que Lula teria entrado na Justiça para aumentar imposto (ainda que sobre operações financeiras).


Lula está, no entanto, irritado com a condução do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que informou no fim da noite de segunda-feira (23), pelas redes sociais, a decisão de levar a matéria a voto no dia seguinte. O presidente teria classificado o gesto como uma traição a ele, não apenas a Haddad.


Esse mal-estar se acentuou depois de Motta responder, com um vídeo, às críticas de integrantes do governo e da base. Nesta segunda, ele criticou discurso do Executivo de que seu objetivo é fazer justiça tributária, a que chamou de "polarização social".


"Capitão que vê barco ir em direção ao iceberg e não avisa não é leal, é cúmplice. E nós avisamos ao governo que essa matéria de IOF teria muita dificuldade de ser aprovada no Parlamento", disse Motta.


"Presidente de qualquer Poder não pode servir ao seu partido. Tem que servir ao seu país", completou, após classificar como falsa a declaração de que o governo se sentiu traído e foi pego de surpresa com a derrubada da medida.


Motta avisou no fim da noite que antecedeu a votação que o tema estaria na pauta da Câmara. Na manhã seguinte à postagem, dia da derrubada do decreto, ele não atendeu aos telefonemas de Gleisi e Haddad. Uma audiência com o presidente, programada para a mesma manhã, acabou cancelada.


Já há duas ações sobre o tema no STF (Supremo Tribunal Federal), apresentadas pelo PL e pelo PSOL, com pedidos opostos. O presidente da corte, Luís Roberto Barroso, encaminhou a ação do PSOL para retomar o decreto com mudanças no IOF ao gabinete do ministro Alexandre de Moraes, que será relator do caso.


Nesta segunda, o ministro redistribuiu o processo que havia sido sorteado inicialmente ao decano da corte, Gilmar Mendes, por entender que outra ação semelhante já está sob o comando de Moraes.


Motta envia recados sobre crise do IOF, enquanto governo mantém tom de confronto


 


STF/MORAES TRABALHARÁ NO RECESSO E PODERÁ ANALISAR PEDIDO DE LIMINAR SOBRE IOF- Broadcast 30/6


Por Lavínia Kaucz


Brasília, 30/06/2025 - O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), continuará trabalhando normalmente durante o recesso do Judiciário, que começa nesta terça-feira, 1º, e se estende por todo o mês de julho. Durante esse período, o ministro poderá, se quiser, proferir uma decisão liminar para reativar o decreto que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), derrubado pelo Congresso na semana passada.


Moraes assumiu a relatoria da ação movida pelo Psol contra a derrubada do decreto do IOF porque já era relator de outra ação do PL sobre o tema. O processo havia caído nas mãos do ministro Gilmar Mendes na última sexta-feira, mas ele pediu ao presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, que avaliasse a remessa da ação para Moraes para evitar decisões contraditórias.


Normalmente, o poder de proferir decisões liminares - que devem ser concedidas apenas quando estiver presente o requisito da urgência - ficaria restrito durante o recesso ao presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, e ao vice-presidente, Edson Fachin. Os dois se revezam no plantão: Fachin fica a postos de 2 a 16 de julho, e Barroso volta no dia 17 e fica no plantão até o fim do mês.


A maioria dos ministros, contudo, optou por continuar trabalhando de forma integral ou parcial. Além de Moraes, André Mendonça, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Nunes Marques decidiram trabalhar normalmente durante todo o recesso.


Já os ministros Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin vão atuar em parte dos processos. Dino trabalha até o dia 14 em algumas classes processuais, e volta a trabalhar normalmente a partir do dia 15. Cármen trabalha durante todo o mês de julho somente nas classes criminais, e Zanin atua apenas em processos sigilosos. Luiz Fux vai tirar férias durante os 30 dias.


O decreto que elevaria o IOF foi sustado pelo Congresso na semana passada, medida que o Psol argumenta ser inconstitucional por violar a prerrogativa do Executivo de alterar as alíquotas do IOF. O governo também avalia se vai entrar com ação no Supremo contra a derrubada do decreto.


Na última sexta, a Advocacia-Geral da União (AGU) informou que estuda, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), medidas jurídicas para manter a alta do IOF. Na prática, mesmo se não ajuizar ação própria, o governo será intimado a se manifestar no processo do Psol e poderá marcar posição contra a derrota no Congresso. Essa intimação pode ser feita nos próximos dias.


Presidente da Câmara diz que não aceitará judicialização do caso; Haddad diz que governo continuará fazendo justiça- O Globo 1/7


Bernardo Lima / Camila Turtelli / Victoria Abel / Sérgio Roxo / Daniel Gullino / luiza marzullo


Após sofrer a maior derrota no Congresso durante o terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, na semana passada, o governo manteve a estratégia de adotar a retórica do confronto e recebeu recados do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Sem uma alternativa negociada para compensar a derrubada do decreto que elevou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), Motta avisou reservadamente que não aceitaria a judicialização do caso. Nas redes sociais, também negou ter traído o Palácio do Planalto ao pautar a proposta.


Em vídeo publicado ontem nas redes sociais, o parlamentar reiterou que já havia feito alertas sobre o assunto:


— Capitão que vê o barco indo em direção ao iceberg e não avisa não é leal, é cúmplice. E nós avisamos ao governo que essa matéria do IOF teria muita dificuldade de ser aprovada no Parlamento.


A decisão do Congresso de derrubar o decreto que aumentava as alíquotas do IOF agravou a crise fiscal e piorou a situação política entre Executivo e Parlamento. Motta voltou a dizer que não atende a projetos políticos individuais:


— Presidente de qualquer Poder não pode servir a um partido, tem que servir ao seu país.


Impasse e congelamento


O Ministério da Fazenda calculava uma receita de R$ 10 bilhões neste ano com a medida, e o dobro disso no ano que vem. Para 2025, a receita é considerada necessária para evitar um congelamento ainda maior nos gastos, hoje em R$ 31,3 bilhões.


O projeto que derrubou a alta do IOF foi aprovado por ampla margem na Câmara, com 383 votos favoráveis e 98 contrários. Já no Senado a votação foi simbólica, sem o registro nominal.


Como informou a colunista do GLOBO Bela Megale, Motta deu um recado duro a auxiliares de Lula sobre as consequências de entrar com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para questionar a decisão do Congresso.


Motta destacou que o gesto será visto como um enfrentamento claro e só levará o Congresso a querer dobrar a aposta nos embates com Planalto. A leitura da judicialização do caso, segundo ele, será que “o governo abriu mão de governar com os parlamentares e agora busca governar com o STF.”


A falta de base no Congresso e a crescente insatisfação de parlamentares com o governo Lula são apontadas por Motta como fatores que podem levar à ingovernabilidade, caso o Planalto não consiga mudar sua relação com os congressistas. Para o presidente da Câmara, judicializar o IOF é aumentar a aposta no enfrentamento sem colocar no radar as possíveis consequências.


Embora o governo ainda não tenha dado esse passo, o PSOL já ingressou com uma ação neste sentido, que ficará sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes.


Ontem, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo seguirá fazendo “justiça social” e que não adianta “gritar”. Durante o evento de lançamento do Plano Safra para a Agricultura Familiar, no Palácio do Planalto, Haddad falou das políticas sociais do governo, como o reajuste da tabela do Imposto de Renda, e o projeto do governo que visa isentar quem recebe até R$ 5 mil.


— Vamos continuar fazendo justiça social. Pode gritar, pode falar, vai chegar o momento de debate, mas temos que continuar fazendo justiça social e não podemos nos intimidar — disse Haddad.


Ele voltou a criticar o “andar de cima”:


— Estão falando de aumento de imposto por quê? Porque estamos fechando brechas? Fazendo o andar de cima pagar? Nós vamos continuar fechando todas as brechas —afirmou. — Isso não é aumento de imposto, é o mínimo de respeito com o trabalhador que paga as contas em dia.


Na mesma cerimônia, Lula afirmou que o caminho para tornar o país mais justo começa pela tributação:


— Nós queremos fazer deste país um país justo. E ele começa a ser justo pela tributação e depois pela repartição. É por isso que estamos isentando o Imposto de Renda até R$ 5 mil e trabalhando para que o gás chegue mais barato à casa das pessoas.


Em conversas com integrantes do governo, Motta se queixou de que o Planalto ignorou as medidas positivas que ele pautou e que foram aprovadas no mesmo dia da derrubada do IOF. Como a medida provisória (MP) que autoriza o uso de até R$ 15 bilhões do Fundo Social do pré-sal para habitação popular e que permite ao governo leiloar óleo e gás excedente, com potencial de arrecadar até R$ 20 bilhões.


Enquanto parte do governo mantém a narrativa de embate com o Congresso, a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, costura a retomada do diálogo com lideranças da Câmara. Alguns dos integrantes do Centrão já começam a ceder, falam em “virar a página”. Para eles, é momento de olhar para frente, desde que o governo se comprometa com mais medidas de ajuste fiscal e não insista no aumento de impostos.


'Virar a página’


Nas redes, o governo vem apostando no discurso de “nós contra eles” e em defesa dos mais pobres. Nos bastidores, porém, o Planalto vem correndo atrás do prejuízo nos últimos dias.


— O governo tem que entender que nem sempre seremos convergentes. Essa narrativa de ir para o confronto não ajuda. Temos que virar a página e sentar com o governo. Quero conversar com a Gleisi nesta semana— afirmou o líder do União Brasil, Pedro Lucas Fernandes (MA).


Na noite de ontem, Motta participou de um jantar na casa do ex-governador de São Paulo João Doria. Além de empresários, estavam presentes o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), o presidente do PSD, Gilberto Kassab, e o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. Nas redes sociais, Doria postou que “o empresariado aplaude” a postura do presidente da Câmara.


Motta, por sua vez, disse que “a polarização existe”, mas defendeu um caminho de diálogo:


— A Câmara tem uma responsabilidade muito grande, representando o povo brasileiro nessa pluralidade. (Colaborou Sérgio Quintella)


'Não queremos arroubos e nem instabilidade', diz Motta em jantar de Doria em São Paulo / Encontro, em meio à crise entre Congresso e governo Lula (PT), é visto como apoio do empresariado ao presidente da Câmara- O Globo 30/6


Sérgio Quintella


Um jantar na casa do ex-governador de São Paulo, João Doria, reúne lideranças em apoio ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos), na noite desta segunda (30), na capital paulista.


O encontro, no Jardim Europa, bairro nobre da cidade, é uma homenagem de Doria a Motta e ocorre em meio à crise entre o Congresso e o governo Lula (PT) devido à derrubada do IOF. Durante o jantar, Motta afirmou que não querer "arroubos nem instabilidade". A declaração ocorre após o deputado dizer a aliados que, se o governo recorrer ao STF para contrapor a decisão dos congressistas, a crise iria escalar.


"A votação da última semana foi um retrato de um parlamento muito aguerrido, pronto pra fazer um enfrentamento a favor do país. Não queremos arroubos e nem criar instabilidade. Momentos como esse são importantes. Quando eu assumi essa função eu sabia o tamanho da responsabilidade. É uma posição complexa e desafiadora, mesmo em momentos de divergência buscamos oportunidade de impulsionar o Brasil através da política", disse Motta, durante o encontro.


Entre os presentes, estão lideranças como Gilberto Kassab (presidente do PSD e secretário estadual de Governo e Relações Institucionais), o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central. A lista de convidados tem ainda 50 empresários, o que fez o jantar ser visto como uma demonstração de apoio do setor a Motta — embora estivesse marcado antes da escalada da crise.


— Hugo (Motta) tem se revelado uma grande liderança, dedicado às causas do Brasil. O empresariado aplaude sua postura, equilíbrio e firmeza. O País espera gestões públicas eficientes e comprometidas com o controle fiscal. Parabéns Hugo Motta — disse Doria, em postagem durante o jantar.


O aumento do OIF enfrentava críticas dos empresários e da chamada Faria Lima. Entre os presentes estão nomes de empresários e executivos como Cláudio Lottenberg (presidente do conselho deliberativo do Einstein), Roberto Musto (executivo do BlueBank) e Antonio Alban, presidente Confederação Nacional da Indústria.


"Ao longo dessa semana, houve um movimento crucial para a vida do país, liderado pelo Hugo Motta. Ele fez a defesa de um princípio que atende todo o Brasil. Ele se colocou e convenceu seus colegas da Câmara e do Senado de que a decisão tomada não era contra o presidente Lula, mas sim uma decisão a favor do Brasil. Eu mandei uma mensagem pra ele essa semana e agora reafirmo: Hugo, você é o herói do Brasil", disse Doria aos presentes, durante o jantar.


É o segundo encontro de Motta com Doria neste mês. No dia 11, ambos participaram do 2º Brasília Summit, promovido pelo Lide, grupo empresarial de Doria, no Hotel Brasília Palace, na capital federal.


O jantar teve início por volta das 21h. Também eram esperados o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), e o vice-governador paulista, Felício Ramuth (PSD).


Cúpula da Câmara critica discurso de Lula de ricos contra pobres e cita riscos a outras propostas / Aliados de Hugo Motta citam que pacote da reeleição depende do Legislativo e defendem pacificação- Folha SP 30/5


Raphael Di Cunto / Victoria Azevedo


A cúpula da Câmara dos Deputados se incomodou com o discurso do presidente Lula (PT) e de integrantes do governo que classifica o Congresso como defensor dos ricos, enquanto o governo petista estaria a favor dos mais pobres, e passou a cobrar uma pacificação, com o alerta de que o "pacote eleitoral" prometido para 2026 depende do Legislativo.


Lula pretende melhorar sua popularidade e chegar com mais força para a reeleição sustentado por um pacote de ações, como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000, a ampliação do auxílio-gás e da gratuidade da conta de luz para mais famílias, além do fortalecimento do Susp (Sistema Único de Segurança Pública).


Esses projetos todos estão no Congresso, com maior ou menor grau de dificuldade. Deputados aliados ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), dizem que um atrito maior com os parlamentares poderá comprometer o clima para votar essas medidas.


O relatório do projeto de lei do Imposto de Renda, por exemplo, já teve a apresentação adiada pelo relator, deputado Arthur Lira (PP-AL), e agora não tem data definida para divulgação. Há um impasse sobre a forma de bancar a proposta. O governo defende criar um imposto mínimo sobre rendas acima de R$ 50 mil mensais, mas parte do Congresso é contra.


O adiamento ocorreu após a Câmara e o Senado derrubarem na quarta-feira (25) o decreto que aumentou o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para elevar a arrecadação. O Executivo avalia agora se recorre ao Judiciário para manter o aumento do imposto ou se promove novos cortes em investimentos, verbas dos ministérios e emendas parlamentares.


Mas, paralelamente a isso, Lula adotou a estratégia de acusar o Congresso de estar ao lado dos mais ricos, enquanto o governo busca beneficiar os mais pobres. Nesta segunda (30), em ato no Palácio do Planalto, o presidente citou o pacote de medidas e afirmou que quer "fazer com que esse país se transforme num país justo".


"Nós vamos continuar fazendo justiça social. Podem gritar, podem falar, mas chegou o momento de fazer justiça pelo Brasil", apoiou o ministro Fernando Haddad (Fazenda).


As falas ocorreram após Motta gravar um vídeo para rebater as críticas e afirmar que "quem alimenta o nós contra eles acaba governando contra todos". Ele ainda disse que "a polarização política tem cansado muita gente, agora querem criar a polarização social".


Nos bastidores, dois aliados de Motta defendem que o confronto com o Congresso deve ser evitado porque o governo também precisará contar com o presidente da Câmara e com sua base para controlar os trabalhos da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) dos desvios no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).


Outro assunto que os ataques podem enterrar de vez, segundo esses deputados, é a medida provisória que aumenta impostos sobre bets, fintechs e investimentos hoje isentos. Parte dos aliados de Motta afirma, porém, que essa proposta já enfrenta muita resistência no Congresso e que os ataques mudam pouco o clima de rejeição.


Motta procurou aliados desde o fim de semana para combinar uma estratégia conjunta em defesa do Legislativo e enviar emissários ao governo em busca de desmobilizar a pressão contra o Congresso nas redes sociais.


Líder do União Brasil na Câmara, o deputado Pedro Lucas (MA) afirma que o "diálogo é a melhor forma de solucionar os problemas" e que o embate é ruim para os dois lados. "Não sinto que o presidente Hugo quer esticar a corda. Sinto que ele quer sentar, mas com responsabilidade e com honestidade para discutir o problema das despesas", diz.


Já governistas dizem que não buscaram o embate e que a resposta do PT e do Executivo é uma reação natural à resistência do Legislativo às pautas.


O PT divulgou na última semana um vídeo sobre pagamento de impostos no qual fala que o governo vai "passar a taxar quem sempre pagou pouco ou quase nada: os super-ricos".


Um auxiliar de Lula afirma que não há uma cruzada contra o Congresso, muito menos contra Motta, mas que o governo não vai abandonar uma agenda que considera prioritária —e que ela não deve ser encarada como uma agenda contra os parlamentares.


Outro aliado do petista diz que fazer uma disputa política não significa romper com o Congresso. Ele afirma que uma diz que não interessa ao Palácio do Planalto gerar ruídos com os parlamentares.


O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), minimizou as críticas de que o governo estaria tensionando a relação com o Congresso ao defender justiça tributária.


"Direito dele [Motta] de responder, a gente também pode se posicionar. Não é subir o tom, é explicar a nossa posição, o governo precisa explicar a posição que tem para as pessoas entenderem. Não é necessariamente subir o tom", disse a jornalistas nesta segunda, em evento.


Wagner também disse que esse clima de tensionamento "não deveria" comprometer a pauta do governo no Congresso e citou a reunião do dia 8 de junho em que parlamentares, presidentes das duas Casas e ministros discutiram alternativas ao decreto do IOF.


"O que estamos fazendo fora das normas? Nada. É bom lembrar que foi feita uma coisa acordada, vocês foram testemunhas na saída [da reunião] daquele domingo. Ali saiu o texto. A rapidez que resolveram derrubar o texto depois de ter havido… Houve um primeiro texto que foi retirado e feito um segundo mais brando, de acordo com a demanda. Mas eles resolveram ir com o PDL [projeto de decreto legislativo]", disse Wagner.


Banqueiros minimizam tensão entre governo e Congresso / Para eles, apesar de IOF ser medida do Executivo, Congresso colocou outras alternativas na mesa- Painel S.A- Folha SP 30/6


Três banqueiros ouvidos pelo Painel S.A. afirmam que a disputa de forças entre o Congresso e o presidente Lula em torno do aumento do IOF marca o início de uma fase de confrontos que se estenderá até 2026.


Para eles, o governo entendeu, com o episódio do IOF, que o grupo com quem negociava apoio no Congresso é o mesmo que tenta asfixiá-lo financeiramente para que Lula se enfraqueça até a campanha eleitoral.


Um dos executivos, acionista de uma dos maiores bancos de varejo do país, considera que a recente declaração pública do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que é hora de vestir o uniforme do embate, foi um recado já ciente dessa realidade junto ao Congresso.


Essa avaliação, no entanto, não é a mesma feita pelos outros dois banqueiros. Para eles, apesar da tensão e os danos de imagem ao governo com o revés no Congresso, o IOF não foi aprovado, mas, em contrapartida, há na mesa outras medidas que geram receitas para o governo: o leilão de novas áreas do pré-sal, um recolhimento maior de dividendos dos bancos e a intensificação de congelamento das despesas e revisões de gastos, como os tributários.


Um desses executivos lembra que Haddad foi até aconselhado por parlamentares a ingressar com um projeto de lei para o corte de 10% dos gastos tributários não protegidos pela Constituição. Isso exigiria menos votos e traria novas receitas.


O ministro, contudo, prefere mais segurança, algo oferecido por uma emenda constitucional. Neste caso, precisa de apoio de dois terços do Congresso.


Caberá a Haddad a difícil tarefa de negociar no Congresso para tentar, ao máximo, não judicializar as decisões –especialmente a derrubada do IOF.


Assessores do presidente Lula afirmam que ele se irritou com a decisão do Congresso em relação ao IOF, vista como uma interferência no Executivo, a quem cabe regular sobre o imposto, e cogitou ir ao STF.


Os recados do Congresso para o Planalto foram de que o governo não deveria recorrer ao Supremo. Caso contrário, outras medidas de interesse do governo serão barradas.


Com Stéfanie Rigamonti


 


O DIA NA POLÍTICA: 'CLIMA PÓS IOF' E LENTIDÃO ADIAM PAUTA ECONÔMICA NO SENADO- Broadcast 30/6


Brasília, 30/06/2025 - A menos de três semanas do recesso do meio do ano, propostas da pauta econômica do governo federal que tramitam no Senado enfrentam um cenário de indefinição ou lentidão. Na lista, estão a segunda parte da regulamentação da reforma tributária, a criação de regras sobre devedores contumazes, a limitação de supersalários no serviço público e a autonomia orçamentária para o Banco Central. O rescaldo da votação que derrubou o decreto que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) tornou o cenário ainda mais indefinido, apurou o Broadcast Político. Embora o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), tenha afirmado na semana passada, depois da derrota do governo no IOF, que o resultado não afetaria votações de outros temas defendidos pelo Palácio do Planalto, nenhum desses projetos consta da pauta do Senado desta semana. Restariam duas semanas antes do recesso. Mas o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), já disse que gostaria de usar os últimos dias antes das "férias" dos senadores para votar vetos em uma sessão conjunta entre Câmara e Senado.


MP do Fundo Social deve ser votada nesta terça / Texto autoriza a União a fazer os leilões das áreas adjacentes ao pré-sal- Valor 1/7


Gabriela Guido / Caetano Tonet


A Medida Provisória (MP) 1.291, que amplia as possibilidades de uso do Fundo Social do pré-sal e autoriza o governo federal a aplicar até R$ 15 bilhões por ano em projetos de habitação de interesse social, infraestrutura social - como saneamento, saúde e educação - e enfrentamento de calamidades públicas deve ser votada pelo Senado nesta terça-feira (1). A MP perde a validade na quinta-feira (3), caso não seja aprovada.


A medida, que passou no plenário da Câmara na quarta-feira (25), permite que o governo leiloe o excedente em óleo e gás da União nos contratos de partilha do pré-sal, o que pode representar uma arrecadação extra de até R$ 20 bilhões. O texto foi aprovado na mesma sessão que derrubou o decreto do governo que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).


Após um pedido do Planalto, o relator da MP na comissão mista, deputado José Priante (MDB-PA), incluiu no seu parecer um trecho de um projeto do governo que autoriza a União a fazer leilões de áreas adjacentes ao pré-sal, com potencial de arrecadar entre R$ 15 bilhões e R$ 35 bilhões, de acordo com o governo. Essa proposta, enviada pelo Planalto ao Congresso em regime de urgência, estava parada na Câmara.


Por conta dos valores que pode arrecadar, o projeto chegou a ser proposto pelo Ministério de Minas e Energia (MME) como uma alternativa aos recuos do governo no IOF.


Segundo lideranças ouvidas pelo Valor, o acordo é o Senado aprovar a medida provisória sem a mudança do texto de Priante, o que garantiria a autorização da União para fazer os leilões das áreas adjacentes ao pré-sal.


Chegou a ser negociada a possibilidade de a Tarifa Social, política fundamental da MP do setor elétrico, ser fatiada e levada para essa MP do fundo social. Entretanto, ela não foi contemplada no parecer do emedebista.


Em uma semana esvaziada no Congresso com os parlamentares em eventos internacionais, o Senado deve votar a MP do crédito consignado na quarta (2).


Os governistas têm a expectativa de que outras duas medidas provisórias importantes para o governo, a do setor elétrico e a que estabelece alternativas ao aumento do IOF, tenham suas comissões instaladas na próxima semana. A presidência da primeira ficará com o líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM), e a relatoria com o deputado Fernando Filho (União-PE).


Além da Tarifa Social para o pagamento de energia elétrica, a MP do setor elétrico tornou-se ainda mais sensível para o governo após a derrubada dos vetos feitos ao projeto das eólicas offshore pelo Congresso. O Planalto pretende editar uma medida provisória com políticas para evitar o aumento da conta de luz com a manutenção dos jabutis, mas há, no Parlamento, quem defenda que essas alternativas sejam adicionadas à MP presidida por Braga. Um deles é o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).


Já a presidência da comissão mista da MP do IOF, que cabe a Alcolumbre indicar, ainda não foi definida. O governo quer que o cargo fique com um senador alinhado à sua base, assim como a relatoria ficou com o deputado petista Carlos Zarattini (SP).


Câmara pode votar hoje urgência de projeto sobre corte de benefícios tributários / Proposta é de autoria parlamentar e não teve participação do ministro da Fazenda- O Globo 1/7


Victoria Abel


O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), incluiu na pauta desta terça-feira um pedido para acelerar a análise de um projeto de lei que prevê cortes de benefícios tributários no país. A proposta, aprovada pelo Senado em 2023, entrou em discussão após o Ministério da Fazenda anunciar a intenção de enviar uma medida de mesmo tema, mas apenas em agosto, de acordo com Fernando Haddad.


A iniciativa da Câmara ocorre em meio à tensão com Executivo após os parlamentares derrubarem o decreto presidencial que previa aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).


A proposta sobre benefícios fiscais, de autoria do senador Espiridião Amin (PP-SC), chegou a ser mencionada na última reunião entre Haddad e líderes no Congresso, no dia 8 de junho. O ministro pontuou, porém, que a Fazenda estava elaborando um texto próprio. Para os governistas, ambos os textos poderiam andar juntos, com ajustes. Mas os deputados saíram na frente.


O texto prevê aperfeiçoar a Lei de Responsabilidade Fiscal, reavaliar o alcance dos benefícios e seu impacto para as contas de estados e municípios. Para integrantes da Fazenda, uma proposta do Executivo seria mais detalhada.


 


Dólar vai ao menor nível em 9 meses / Juros futuros mais longos despencaram a patamares inéditos desde novembro; Ibovespa subiu 1,45% no dia e teve o melhor 1º semestre depois de 2016- Valor 1/7


Gabriel Roca / Bruna Furlani /. Maria Fernanda Salinet / Gabriel Caldeira


Na contramão de boa parte das previsões de agentes financeiros que estimavam um avanço da moeda americana no ano, o dólar à vista encerrou o último pregão do primeiro semestre no menor patamar desde 19 de setembro de 2024, a R$ 5,4335, uma queda de 0,91%. O desempenho do real foi o melhor entre as 33 moedas mais líquidas acompanhadas pelo Valor no pregão de ontem. Com o resultado diário, a moeda americana acumulou uma desvalorização de 12,08% frente à divisa brasileira entre janeiro e junho deste ano.


O recuo mais expressivo do dólar à vista na sessão também deu suporte para as taxas domésticas. Os juros futuros fecharam em queda forte, principalmente nos vértices de mais longo prazo, que despencaram aos menores níveis desde novembro de 2024. O movimento foi puxado pelo Caged de maio, que registrou um número de contratações líquidas no mercado de trabalho abaixo do esperado e, assim, alimentou a expectativa pelo início do ciclo de corte de juros do Banco Central (BC).


A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento de janeiro de 2026 teve queda modesta de 14,935%, do ajuste anterior, para 14,925%; a do DI de janeiro de 2027 caiu de 14,18% para 14,095%; a do DI de janeiro de 2029 recuou de 13,315% para 13,07%; e a do DI de janeiro de 2031 cedeu de 13,475% a 13,17%.


O movimento garantiu um fôlego extra ao Ibovespa, que encerrou com alta de 1,45%, aos 138.855 pontos. No acumulado do primeiro semestre, o avanço do índice foi de 15,44%, no melhor resultado para o período desde 2016, segundo dados compilados pelo Valor Data.


“Esse fluxo externo que vimos no ano é pequeno próximo do potencial que pode vir, já que essa grande puxada [do Ibovespa no semestre] foi do estrangeiro”, avalia o gestor de renda variável do ASA, Marcelo Nantes. Para ele, o que pode manter ou acelerar o otimismo dos alocadores globais é uma visibilidade maior sobre o início do ciclo de corte de juros no Brasil, além de uma antecipação do cenário eleitoral para o ano que vem.


Participantes notam que o fluxo estrangeiro para os ativos locais também se mostrou presente na sessão de ontem. Eles lembram que o último pregão do semestre costuma marcar o rebalanceamento das carteiras dos investidores globais. Assim, no contexto de dólar fraco no exterior e de uma demanda elevada dos investidores por ampliar a exposição para fora dos Estados Unidos, há bons argumentos que sustentam, neste momento, algum otimismo com o Brasil.


Os profissionais citam ainda uma taxa Selic bastante elevada, “valuations” descontados e expectativas do mercado sobre uma mudança na política econômica local após as eleições do ano que vem como fatores que ajudaram a contribuir para o bom desempenho conjunto dos ativos brasileiros ontem.


Com a Selic na faixa dos 15%, o gestor de moedas da ACE Capital, Daniel Tatsumi, nota que é bastante “caro” apostar contra o real neste momento. “O dólar futuro para janeiro de 2027 está em R$ 6,17. Ou seja, mesmo que suba até R$ 6,17 na virada do ano que vem, quem comprar hoje sai no zero a zero", aponta, notando o custo de oportunidade elevado.


Sobre a sessão de ontem, o executivo da ACE observa que havia certa expectativa dos agentes financeiros de que o Banco Central pudesse anunciar alguma medida para neutralizar os efeitos do vencimento dos US$ 2,1 bilhões em contratos de linha com prazo para hoje. Parte do volume - US$ 1 bilhão - já havia sido compensado na semana passada, quando o BC anunciou o leilão de dólares à vista com o swap reverso.


“Achei que o BC ia acabar fazendo mais. Mas, no final, deixou o estoque de linha vencer, e nem fez falta, pelo contrário. O mercado foi bem ‘vendedor’ de dólar”, aponta Tatsumi.


Participantes do mercado também destacam que, na semana passada, havia uma discussão sobre o rebalanceamento do índice GBI-EM, do J.P. Morgan, que acompanha títulos de dívida de mercados emergentes emitidos em moeda local. Com a expectativa de perda de peso do Brasil dentro do indicador, o mercado acabou se antecipando ao episódio e aumentando a busca por dólares, o que chegou a aumentar a demanda pela divisa americana.


A despeito dos temores do mercado sobre a divisa americana, Tatsumi nota que não houve sinais fortes de compra de dólares ontem, nem na Ptax e nem mesmo no ajuste.


Economistas do Bradesco, liderados pelo economista-chefe do banco, Fernando Honorato, aproveitaram o momento para revisar as projeções para o câmbio e passaram a esperar um dólar a R$ 5,50 ao fim de 2025 e 2026, de uma estimativa anterior de R$ 5,70 para os dois próximos anos.


Para a equipe do Bradesco, um cenário externo de dólar enfraquecido e sinais incipientes de desaceleração da atividade econômica devem levar o Comitê de Política Monetária (Copom) a reduzir a Selic antes do que a maioria dos economistas projeta. A casa prevê que o primeiro corte da taxa básica de juros ocorrerá já em dezembro e será de 0,5 ponto percentual, a 14,50%.


“Se o corte ocorrer apenas quando as expectativas do Focus estiverem no centro da meta, então o tempo e o espaço para ajustes podem demorar mais e serem bastante menores. Nossa avaliação é de que o modelo [do BC] terá um peso maior do que as expectativas, uma vez que ele já considera essa desancoragem em sua formulação”, avaliam os economistas.


O recuo dos juros futuros potencializou os ganhos de ações domésticas na sessão, replicando o movimento visto ao longo do primeiro semestre. Entre os maiores destaques de alta nos primeiros seis meses do ano ficaram o papel ordinário de Cogna, que avançou 164,78%, seguido por Assaí ON, com ganhos de 103,13%, e por Yduqs ON, que teve alta de 100,22%.


Após o avanço de alguns papéis, o gestor do ASA diz que agora está atrás de entender “histórias que ficaram para trás” e que está mais seletivo na escolha dos papéis.


Entre as posições adicionadas recentemente por Nantes, do ASA, estão RD Saúde e Hidrovias do Brasil. Em contrapartida, a casa reduziu alocação em Itaú e Sabesp, em função da forte alta recente.


Para o Bradesco BBI, a valorização do índice no ano, especialmente de ações mais cíclicas, e os juros reais ainda elevados aumentam a cautela. Os analistas apontam que o foco se volta para empresas expostas à economia local, mas com potencial de ganho.

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