quarta-feira, 16 de julho de 2025

José Fucs

 Finalmente um verdadeiro jornalista.


Nossa, a intelectualidade brasileira com a ajuda dos intelectuais tucanos do Estadão, que sempre são neutros, mas voltam a cena do crime passando pano para o PT, “como um perigo menor para a democracia que Bolsonaro”, vão carregar a vergonha histórica de culpar quem denuncia o assalto a democracia no país por parte do STF como traidor da pátria (os Bolsonaros), ao invés de condenarem a venezuelização da nação, que foi punida por sanções assim como em Cuba, Rússia, Nicarágua e Venezuela. 


Inversão de valores !


“*O lado bom do tarifaço e das investigações de Trump contra o Brasil*

José Fucs (no X)


Pensei, pensei e cheguei à conclusão de que, apesar dos efeitos nocivos no curto prazo para o Brasil e os brasileiros, que serão pesados, o tarifaço e as investigações de Trump contra as práticas comerciais do País, têm um lado positivo. Entenda por quê:


- Trazem para o debate as tarifas escandalosas e as barreiras não tarifárias impostas sobre os produtos americanos (e de outros países);


- Podem levar a uma maior abertura econômica do País, um dos mais fechados do mundo, com a redução de tarifas alfandegárias e outras barreiras que encarecem a importação de bens e serviços e limitam a concorrência, em prejuízo do consumidor;


-  Escancaram a política antiamericana praticada por Lula e Amorim e defendida pelo PT e por seus aliados;


- Reforçam a discussão sobre o alinhamento geopolítico do Brasil com a China e o Eixo do Mal pelo atual governo e sua tentativa de impulsionar o famigerado bloco do Sul Global, em detrimento da ligação histórica do País com o Ocidente, em especial com os Estados Unidos;


- Revelam a estupidez da proposta de "desdolarização" feita por Lula no âmbito do Brics;


-  Jogam os holofotes sobre as práticas autoritárias e a censura promovidas pelo STF, que colocam em risco a democracia no País, com apoio nada discreto de Lula, do PT e de seus parceiros; 


- Dão dimensão global aos questionamentos sobre o tal "inquérito do fim do mundo" e a perseguição aos desafetos políticos do consórcio Lula/STF/PGR;


- Colocam em xeque a legitimidade dos processos contra Bolsonaro e os atos de 8/1, bem como a narrativa imposta pelo consórcio Lula/STF/PGR a respeito dos acontecimentos.


Podem me chamar de "bolsonarista", "traidor da pátria", "judeu apátrida" e "sionista". Podem colocar os influencers do PT no meu cangote e me ameaçar de degredo e de perda de cidadania. Mas, na minha visão, não dá para negar que tudo isso representa uma contribuição e tanto para o debate sobre os rumos do País e o Brasil que queremos construir. Não é pouca coisa.”

Paulo Baía

 A máquina de repetir:

manifesto sobre o banimento do pensamento nas ciências humanas universitárias


            * Paulo Baía 


“A verdade é filha do tempo, não da autoridade.”

Galileu Galilei


As engrenagens da produção acadêmica giram com precisão quase industrial. Os Qualis, os rankings, os fatores de impacto e os critérios de indexação formam um sistema implacável que transforma o pensamento em mercadoria. Não há tempo para hesitar, para errar, para arriscar. É preciso publicar. Publicar sempre. Publicar rápido. Publicar muito. E publicar dentro dos moldes. A escrita universitária, sob o jugo dessas exigências, tornou-se uma prática burocrática e previsível. O que antes poderia ser um gesto inaugural de reflexão sobre o mundo converte-se em exercício de replicação de fórmulas consagradas. Escrever tornou-se um gesto automático, domesticado, repetido. Um protocolo a ser cumprido.


A criatividade tornou-se um risco. A originalidade passou a ser suspeita. O pensamento, quando não se alinha ao vocabulário legitimado pelo circuito dominante, é ignorado, rejeitado ou corrigido. As revistas acadêmicas, digitais ou impressas, funcionam como pequenos clubes de afinidades. Círculos fechados onde a repetição de vozes, abordagens e referências forma uma liturgia que sufoca qualquer respiração nova. As edições impressas, cada vez mais raras, já não interessam. Tornaram-se caras, obsoletas, silenciosas. O digital não é apenas uma mudança de suporte, mas uma mudança de lógica, de controle, de domesticação. A tela substituiu o papel, mas não substituiu a rigidez.


Nas revistas digitais, tudo parece democrático. Mas o que se vê é a domesticação da crítica. Antes mesmo de um novo número ser publicado, já se sabe o que virá. Os títulos mudam. Os nomes variam. Mas a substância permanece. Os objetivos são conhecidos. O tom é previsível. O vocabulário é o mesmo. O que se escreve não brota da urgência do mundo. Brota das exigências da plataforma. Publica-se para pontuar. Publica-se para cumprir prazos. Publica-se para atender a metas produtivistas. A escrita nasce já acorrentada, modelada por normas que asfixiam e limitam o que poderia ser livre, imprevisto e corajoso. Não há surpresa, não há espanto, não há desvio.


No lugar de uma universidade que estimule a ruptura, promove-se o conformismo. O gesto inaugural do pensamento foi substituído por um silêncio obediente, camuflado sob camadas de jargão. Jovens pesquisadores aprendem rápido a adaptar-se ao que é aceito. Não podem inventar conceitos. Não podem propor estilos. Não podem arriscar vozes. A linguagem acadêmica tornou-se prisão. Frases longas. Jargões ocos. Referências obrigatórias. Nada pode ser dito com clareza demais. Com emoção demais. Com vida demais. A precisão, que deveria ser uma virtude, tornou-se couraça. A linguagem virou um simulacro de rigor.


A produção acadêmica virou contabilidade. Mede-se o valor do pensamento pela quantidade de artigos publicados. O que se premia não é a transformação da realidade, mas a quantidade de inserções em revistas indexadas. A lógica é produtivista. Os programas de pós-graduação pressionam os docentes. Os docentes pressionam os discentes. E todos seguem um mesmo caminho: o da adaptação. O saber, que poderia ser travessia e experiência, torna-se expediente, estratégia, sobrevivência. Um cálculo contínuo entre o que se pode dizer e o que será aceito pelo algoritmo da Capes.


E o mais simbólico – e devastador – é o desaparecimento da palavra “intelectual” das ciências humanas universitárias. Intelectual tornou-se sinônimo de desvio. De desajuste. De falha no sistema. A universidade não quer mais intelectuais. Quer acadêmicos. Quer Lattes robusto, recheado de artigos em revistas bem ranqueadas. Quer produtividade medida por métricas. O pensamento que atravessa o mundo e se dirige à sociedade foi expulso das bancadas. Já não tem lugar nos pareceres. Já não serve aos editais. Ser intelectual é um risco. É uma anomalia. É como estar no lugar errado, falando uma língua esquecida.


O intelectual hoje mora do lado de fora. Está nas artes, no cinema, na dramaturgia, na poesia, na literatura. É lá que o pensamento pulsa com liberdade. É lá que a linguagem respira. É lá que a crítica se ergue com coragem e forma. A universidade expulsou o intelectual. E com isso perdeu a sua alma. Nas ciências humanas universitárias, o que se chama “pesquisa” tornou-se prática disciplinar. Um saber asséptico, domesticado, que se dobra à lógica da produtividade. Os poucos que ainda insistem em pensar como intelectuais são olhados com desconfiança. Como se fossem distraídos. Como se não entendessem a regra do jogo.


E no entanto, é fora dessas regras que o pensamento vive. Fora do Qualis. Fora do ranking. Fora das universidades que se orgulham de seus indicadores e se esquecem do mundo. É no corpo do poema que a linguagem ainda se reinventa. É no teatro que a crítica encarna. É no cinema que o tempo social é revivido. É na literatura que o pensamento volta a ser afetado pela beleza e pela dor. E é no encontro entre arte e vida que a figura do intelectual ressurge. Não como celebridade. Não como autoridade. Mas como aquele que pensa com o mundo. Que intervém. Que escreve com urgência e com sangue.


O espaço da revista acadêmica, que poderia ser campo de experimentação, tornou-se uma engrenagem de vigilância. Editores evitam o risco. Conselhos editoriais operam por afinidades ideológicas. O pensamento que destoa é ruído. A ousadia, quando tolerada, deve ser disciplinada. Domada. Enformada. Em cada novo artigo publicado, repete-se o já dito. Em cada nova edição, reitera-se o já aceito. A crítica virou arquivo. O texto virou protocolo. A ciência virou produto de prateleira. A publicação virou estatística.


Mas nem tudo está perdido. Há territórios de fuga. Para escapar da máquina de repetir, restam os sites libertários que florescem à margem. Restam os blogs literários, onde a palavra dança fora do protocolo. Restam os sites jornalísticos que acolhem o pensamento vivo. Restam as revistas não indexadas, periféricas e ousadas, que publicam o que pulsa. E, acima de tudo, resta o mundo das esquinas.


As esquinas do pensamento não seguem normas. São lugares de invenção e risco. Ali a linguagem ainda respira. Ali o intelectual exilado ressurge em voz, corpo e gesto. Nas esquinas se pensa com o mundo. Se escreve com o real. Se sonha com palavras. Ali ninguém cobra fator de impacto. Ninguém exige citação em ABNT. Ali o que importa é a intensidade. A necessidade. O desejo de dizer. E é nessas margens que o pensamento ainda sobrevive.


Enquanto a publicação acadêmica continuar servindo ao conformismo institucional, seguirá reprodutora da mesmice. E o pensamento seguirá empobrecido, encastelado, vigilante, repetitivo. Resistir a isso é urgente. É um chamado à reinvenção da escrita, do saber e do sentido da pesquisa.


Pensar é romper. Escrever é arriscar. A universidade só se justifica se for espaço de liberdade. Liberdade começa pela linguagem. Pelo gesto de escrever contra a corrente. De dizer o que não se espera. De incomodar. De errar bonito. De arriscar ser incompreendido. E quando isso não for possível, que se escreva do lado de fora. Que se pense nas margens. Que se publique nas frestas. Que se sonhe nas esquinas.


Porque é nas esquinas que a liberdade, mesmo cansada, ainda dança. E é ali que o intelectual, desterrado das universidades, reencontra o seu lugar: entre o grito e o silêncio, entre a beleza e a falha, entre a palavra e o mundo.


             * Sociólogo, cientista político e professor da UFRJ


Este texto de Paulo Baía é um alerta e uma denúncia: a universidade brasileira está matando o pensamento crítico nas ciências humanas. A produção acadêmica virou rotina burocrática, onde o que importa não é pensar, mas publicar dentro de regras rígidas e previsíveis. O intelectual foi substituído pelo "produtor de artigos". A criatividade virou risco, a originalidade passou a ser punida, e a escrita se tornou um ato

domesticado. Mas ainda há resistência - nas margens, nos blogs, nas artes, nas esquinas onde o pensamento segue vivo. Este manifesto é um chamado para romper com a máquina de repetir e recuperar o sentido da escrita como ato de

liberdade.


https://utopiasposcapitalistas.com/2025/07/15/22091/

Bankinter Portugal Matinal

 Análise Bankinter Portugal 


SESSÃO: HOJE irá evoluir de fraco a melhor. ONTEM a yield das obrigações americanas aumentou cerca de +5 p.b. depois de sair o aumento da inflação americana até +2,7% desde +2,4% (Subjacente +2,9% desde +2,8%), portanto as bolsas (EUA e Europa) terminaram a enfraquecer depois do dado. Contudo, a tecnologia conseguiu subir e os semis bastante (SOX +2% a meio da sessão americana e +1,3% no fecho) graças a uma notícia que não era de todo nova e que comentámos ontem à primeira hora: Nvidia retoma as vendas de chips à China, com modificações (limitações) para o H20 (geração anterior), mas ainda não o Blackwell (geração atual). O aspeto divertido volta a ser de Trump: a inflação aumentou, mas escreveu na sua própria rede social: "Consumer Prices LOW. Bring down the Fed Rate, NOW!!!" Ataca novamente Powell…


Os bancos americanos que publicaram (Blackrock, JP Morgan, Citi e Wells Fargo) bateram expectativas amplamente, mas o mercado reagiu a realizar lucros, exceto no caso de Citi (+3,7%), portanto isso não ajudou nada a que Nova Iorque aguentasse em positivo. Voltando às obrigações, como consequência do aumento da inflação americana, a 30 anos americana voltou a situar a sua yield > 5% (5,015% ontem, embora 5,005% agora) e o USD apreciou-se desde 1,168 até 1,160, embora tenha regressado até 1,162 durante a noite. Ambos os movimentos foram bastante chamativos para apenas uma sessão. 


Além disso, 2 declarações interessantes: (i) Dimon (CEO JPMorgan) defende a independência do governador da Fed (Powell), fundamental para a independência e prestígio da própria instituição, independentemente de quem estiver a liderar. Pronunciamento tão oportuno e valente como sensato por parte de uma das pessoas que mais sabe sobre o mercado (talvez a que mais sabe) perante os ataques de Trump. (ii) Bayrou, Primeiro-ministro francês, apresenta uma redução do défice fiscal (-5,8%) que poderá derivar numa moção de confiança, que poderá perder porque lidera um governo em minoria, como aconteceu ao seu antecessor (Barnier), porque Rasemblement National/Le Pen tem a chave e isso levaria a uma crise de governo e a novas eleições. Bayrou cometeu o excesso de comparar a dívida francesa com a crise da dívida da Grécia de 2008, portanto as obrigações francesas deverão sofrer, elevando a yield (O10A 3,41% vs. 3,32% ESP vs. 3,15% PT).


Renault fez um profit warning ontem com a Europa fechada, portanto hoje cairá, mas nós continuamos a ter recomendação de Vender para todos os automóveis.


Esta manhã cedo: (i) ASML resultados 2T com alguns aspetos cinzentos. Melhores do que o esperado em todas as linhas, carteira de pedidos inclusive. Contudo, as guias 3T25 ficam abaixo do consenso. As guias para 2025 completo mantêm-se, mas adverte sobre o contexto de incerteza elevado pelo risco macroeconómico e geopolítico. Em relação à parte cinzenta do 3T, o mercado será implacável e o valor irá sofrer hoje (-3%?). (ii) O Reino Unido publica aumento da inflação, como a inflação americana ontem, e confirma as nossas estimativas de aumento geral da inflação no 2.º semestre: +3,6% desde +3,4% (Subjacente +3,7% desde +3,5%). 


Durante a tarde: 11:45 h BoA (EPS 0,85 $; +3%), 11:45 h J&J (2,696 $; -4%), 12:30 h M. Stanley (1,965 $; +6%) e 12:30 h Goldman (9,774 $; +12%). Na frente macro, 2 referências americanas que influenciarão pouco ou nada: 13:30 h Preços Industriais bastante elevados (+2,5% vs. +2,6%) e 14:15 h Produção Industrial decente (+0,1% vs. -0,2%).


CONCLUSÃO: Arranque em baixa (-0,3%), pode ser que em Nova Iorque também durante a tarde, mas os resultados dos bancos americanos poderão fazer com que reverta para melhor, talvez terminando a sessão plana. É fundamental convencer-se de que a tecnologia continua a ser o motor principal de geração de lucros, apesar da complexidade do contexto, porque demonstra ser quase imune a vaivéns passageiros como o atual. Apesar de ASML, hoje. Quando a tecnologia sofre, é uma oportunidade. O SOX está há 8 semanas consecutivas a subir e é onde recomendamos que invista, além de cibersegurança, defesa e bancos europeus (americanos apenas: JP e MS). A sessão provavelmente evoluirá de fraca para melhor.


S&P500 -0,4% Nq-100 +0,1% SOX +1,3% ES50 -0,3% IBEX -1,2% VIX 17,4% Bund 2,71% T-Note 4,48% Spread 2A-10A USA=+53pb B10A: ESP 3,32% PT 3,15% FRA 3,41% ITA 3,60% Euribor 12m 2,108% (fut.2,094%) USD 1,162 JPY 173,0 Ouro 3.341$ Brent 68,9$ WTI 66,9$ Bitcoin +0,6% (117.844$) Ether +5,7% (3.136$). 


FIM

BDM Matinal Riscala

 *Rosa Riscala: Investigação contra o Brasil amplia tensão*


Mercado ainda esperam desfecho para impasse do IOF. Em NY, é dia de PPI, produção industrial, Livro Bege e mais balanços


… PPI, produção industrial, Livro Bege, mais Fed boys e mais balanços de bancos nos Estados Unidos movimentam os negócios em NY. Aqui, em mais um dia sem agenda, os mercados esperam um desfecho para o impasse do IOF, que será decidido por Moraes, e acompanham as reuniões entre governo e os empresários para definir a resposta à tarifa dos Estados Unidos. Mas uma decisão de Trump, ontem à noite, vai repercutir feio. Depois de dizer que Bolsonaro “não é meu amigo, apenas alguém que conheço”, mandou investigar as práticas comerciais “injustas” do Brasil. Pode vir mais coisa por aí, atingindo as tarifas preferenciais “injustificáveis”, que “restringem” o comércio americano.


… Em comunicado, o Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos informou que estava iniciando uma investigação sobre o Brasil, nos termos da Seção 301 da Lei de Comércio de 1974.


… Terá como alvo os “ataques do País às empresas americanas de mídia social e outras práticas comerciais desleais que prejudicam as empresas, os trabalhadores, agricultores e inovadores tecnológicos americanos”.


… Além das tarifas preferenciais, serão investigados o comércio digital, serviços de pagamento eletrônico, a proteção da propriedade intelectual, falhas na fiscalização anticorrupção, desmatamento ilegal e o mercado de etanol.


… Assim que saiu a nota do representante comercial, Jamieson Greer, o ETF – principal fundo de empresas brasileiras negociadas em bolsa – passou a cair no after hours em NY, com os ADRs acompanhando o movimento.


… A notícia é uma sinalização de guerra de Trump, enquanto o Comitê Interministerial de negociação só começou as reuniões com o setor produtivo, que ainda não apresentou uma reação formal do Brasil aos 50%.


… Toda a argumentação do governo estava sendo construída em cima da motivação política da tarifa e da evidente falta de racionalidade econômica, já que o País é o deficitário na balança comercial com os Estados Unidos.


… Agora, as coisas parecem estar tomando outro rumo, com Trump saindo fora de Bolsonaro e buscando justificativas técnicas contra o Brasil, o que torna mais difícil contestar a tarifa de 50%, na opinião de Nicolas Borsoi.


… Ao Broadcast, o economista-chefe da Nova Futura Investimentos disse que “o processo agora se institucionalizou”. Para ele, a ação é “mais inteligente e joga água fria sobre a expectativa de que Trump poderia recuar”.


… Para Sergio Vale (MB Associados), Trump sinalizou uma agressividade maior, que não está a fim de concessões e que pretende manter os 50% para forçar algum acordo que seja vantajoso para os Estados Unidos.


… “De cara, já nos culpam antes de investigar e tentam obter mais vantagens. Isso vai dificultar a negociação, com maiores chances de forçar algum tipo de retaliação mais agressiva do governo brasileiro.”


… Sobre os mercados, ambos avaliam que a abertura será tensa, com alta do dólar ante o real e queda da bolsa.


O APELO DO SETOR PRODUTIVO – Nas reuniões com Alckmin, indústria e agronegócio defenderam um adiamento do prazo de 01/08 para a alíquota, mas ouviram que o governo Lula prefere ter “tudo resolvido até 31/07”.


… No Valor, a posição dos representantes foi unânime ao pedir que o governo aposte nas negociações e esgote todas as possibilidades de tratativas com os Estados Unidos antes de decidir contramedidas.


… O receio é com os impactos de uma possível aplicação da Lei de Reciprocidade, citada por Lula como uma opção.


… Sobre isso, o ministro Rui Costa – que participa do Comitê – garantiu que não está no horizonte do governo fazer “bravatas diplomáticas”, que a ordem de Lula é caminhar com “serenidade, cautela e negociação”.


… A reunião com o agro definiu que os empresários brasileiros buscariam contatar seus congêneres americanos, que também podem sair muito machucados se a tarifa de 50%, de fato, for aplicada aos produtos importados.


MAIS REUNIÕES – Pela manhã, Alckmin e ministros se reuniram com 18 executivos de diferentes setores industriais, como siderurgia, papel e celulose, aeronáutica, calçados, têxtil, máquinas e equipamentos, madeira e autopeças.


… Também os representantes da indústria, como a CNI e a Fiesp, bateram na tecla de que o governo não deve decidir uma retaliação imediata aos Estados Unidos, devendo afastar o viés político do debate público.


NADANDO DE BRAÇADA – Mas isso é um pouco demais para esperar de Lula, que ganhou essa crise de presente para recuperar a popularidade, enquanto Bolsonaro fica cada vez mais isolado na chantagem da família pela anistia.


… Na primeira pesquisa para avaliar o impacto do imbróglio, o instituto Atlas/Bloomberg mostrou que a aprovação a Lula subiu de 47,3% para 49,7% após a tarifa de 50%, com queda da desaprovação de 51,8% para 50,3%.


… A pesquisa revelou ainda que 62,2% consideram injustificada a medida de Trump, enquanto 36,8% a justificam.


… Para hoje, está prevista a divulgação da pesquisa Quaest, enquanto Alckmin realiza novas reuniões com a Amcham, indústria química, CNA e CNC. Pela manhã, o vice reúne-se com Davi Alcolumbre. Com Motta, já conversou.


A PAUTA DE TRUMP – Também ontem à noite, o presidente dos Estados Unidos disse que notificará em breve países menores – “talvez em uma carta única” – de que eles também enfrentarão tarifas um pouco maiores que 10%.


… Trump disse, ainda, que “provavelmente imporá tarifas sobre produtos farmacêuticos já no final do mês” e que as taxas sobre semicondutores também poderão ser aplicadas “em breve”, sugerindo a data de 1º de agosto.


… “Daremos às empresas farmacêuticas um ano ou mais para construir, e então faremos uma tarifa muito alta.”


… Mais cedo, anunciou taxa de 19% para a Indonésia, destacando que as exportações dos Estados Unidos para o país serão isentas e que eles comprarão US$ 15 bilhões em energia, produtos agrícolas e 777 jatos Boeing.


SEM ACORDO – Ficou para Alexandre de Moraes decidir se haverá ou não aumento do IOF, se o decreto presidencial é ou não constitucional. Na audiência de conciliação no STF, não houve acordo. As duas partes foram inflexíveis.


… No Estadão, Moraes sinalizou que o decreto de Lula tem legitimidade, mas indicou o caráter de arrecadação, e não regulatório, de parte das medidas, sobretudo nas operações de risco sacado e previdência privada (VGBL).


… O ministro Haddad demonstrou aos jornalistas que já espera uma vitória parcial. “Tem uma questão pendente, que vai ser resolvida, na minha opinião, rapidamente, pelo ministro Alexandre, minha percepção é essa.”


… Questionado, confirmou que essa “pendência” é quanto ao risco sacado – espécie de adiantamento que os bancos concedem a fornecedores de insumos para grandes empresas, que são garantidoras da operação.


… Na audiência, governo e Legislativo asseguraram que, seja qual for a decisão de Moraes, será acatada.


MP – No Congresso, foi instalada a comissão mista da Medida Provisória com as medidas alternativas ao aumento do IOF. Renan Calheiros (MDB) está confirmado na presidência e Carlos Zarattini (PT) será o relator.


LDO – Ainda ontem, a Comissão Mista do Orçamento aprovou o relatório preliminar da LDO de 2026, que manteve as principais diretrizes estabelecidas pelo Executivo, como a meta fiscal de 0,25% do PIB (R$ 34,3 bilhões).


… Foram mantidos ainda outros parâmetros, com crescimento de 2,5% do PIB, inflação de 3,5% e dólar a R$ 5,91.


… O texto não traz um detalhamento das receitas e despesas, mas confirma a estimativa de déficit previdenciário de R$ 362 bilhões para o regime geral e outros R$ 148 bilhões para os regimes próprios da União.


… O relatório final da LDO deve ser apresentado no dia 22 de agosto e votado na semana seguinte, no dia 28.


PRECATÓRIOS – No esforço concentrado desta semana, última antes do recesso parlamentar, a Câmara aprovou em dois turnos, ontem à noite, a PEC que estabelece limites para o pagamento de precatórios. Vai para o Senado.


… A proposta abre novo prazo de parcelamento de débitos dos municípios, que poderão pagar as suas dívidas com a União em até 360 parcelas mensais, de 60 meses hoje, com débitos previdenciários divididos em 300 vezes.


… O parecer aplica aos municípios todas as disposições sobre o parcelamento de dívidas estaduais do Propag e define o IPCA para a atualização monetária e juros para precatórios da União, dos Estados, municípios e do DF.


… Para compensar a perda de espaço fiscal decorrente desse ajuste, será permitido incorporar à base de 2026 créditos suplementares e especiais referentes ao diferencial de IPCA, estimados num valor de R$ 12,5 bilhões.


… O governo conseguiu emplacar no parecer a redução do teto para classificação de pagamentos como RPV, que caiu de 60 para 40 salários mínimos, gerando um alívio momentâneo nas contas públicas.


… E, principalmente, conseguiu a exclusão temporária de precatórios e RPVs (pequenos valores, com pagamento em 60 dias) do arcabouço fiscal em 2026, com a incorporação gradual das despesas da União a partir de 2027.


LULA – Vai ser reunir nesta quarta-feira (9h) com os dirigentes dos principais bancos públicos do país para discutir um novo modelo de crédito imobiliário. Participam: BB, BNDES, Caixa, Banco da Amazônia e Banco do Nordeste.


MAIS INFLAÇÃO – Após o CPI de junho nos Estados Unidos mostrar os primeiros sinais das tarifas, hoje o PPI (9h30) deve desacelerar para 2,5% na base anual (de 2,6% em maio) no índice cheio e para 2,7% (de 3%) no núcleo.


… Os mercados em NY ainda monitoram a produção industrial em junho (10h15), que tem previsão de estabilidade, contra -0,2% em maio, e os estoques de petróleo do DoE (11h30) na semana até 11/7.


… Às 15h, o Fed divulga Livro Bege, com as condições macroeconômicas dos distritos, que fundamentarão as decisões da próxima reunião do Fomc, no fim do mês, quando as apostas ainda convergem para a manutenção dos juros.


FED BOYS – Falam hoje Beth Hammack (10h15), Michael Barr (11h) e John Williams (19h30).


BALANÇOS EM NY – Mais três grandes bancos americanos divulgam hoje os seus resultados do segundo trimestre antes da abertura: BofA, Goldman Sachs e Morgan Stanley. Após o fechamento, Alcoa e United Airlines.


… Aqui, estão previstos apenas a segunda quadrissemana de julho do IPC-S (8h) e o fluxo cambial do BC (14h30).


BFF SQN – O comentário de Trump de que não é amigo de Bolsonaro, só conhecido, entrou como motivo alegado por parte do mercado para o câmbio ter testado uma melhora e o Ibovespa ter parado de piorar ontem.


… O investidor se animou na aposta (prematura) sobre um gesto de abertura do diálogo com os Estados Unidos.


… Em paralelo, também as informações na imprensa de que o governo brasileiro descartaria retaliação imediata consolidaram a valorização do real, que interrompeu a sequência de quatro quedas contra a moeda americana.


… Mas hoje, pelo menos na abertura dos negócios, o ensaio de otimismo tem tudo para sofrer uma reversão, porque será difícil o Brasil contestar as investigações iniciadas pelos EUA sobre as práticas domésticas “injustas”.


… Ontem, porém, o dólar à vista fechou em baixa de 0,47%, a R$ 5,5581, descolado da alta nos EUA, onde o dado do CPI deixou a sensação de que sinais preliminares de pressão das tarifas de Trump já aparecem na inflação (abaixo).


… Na máxima intraday aqui, o dólar voltou à faixa dos R$ 5,60, negociado a R$ 5,6041. Mas o alívio logo em seguida coincidiu justamente com a declaração de Trump de que não tem esta proximidade toda com Bolsonaro.


… A sinalização de falta de prestígio maior do ex-presidente junto à Casa Branca foi apontada como gatilho também para a virada do Ibovespa para o positivo no melhor momento do dia, quando chegou a subir mais de 0,50%.


… Até o fechamento, neutralizou toda a força. Mesmo assim, o investidor gostou de a bolsa ter conseguido se defender perto da estabilidade (-0,04%), aos 135.250,10 pontos, ainda que em queda pelo sétimo pregão seguido.


… Em uma virada de terreno, os papéis dos bancos abandonaram a queda da manhã. Itaú subiu 0,34%, cotado a R$ 35,02; Banco do Brasil ganhou 1,06%, valendo R$ 20,90; e as units do Santander avançaram 2,28%, a R$ 27,80.


… Só as ações do Bradesco fecharam estáveis: ON, +0,07%, a R$ 13,83; e PN, -0,06%, a R$ 16,10.


… Vale cumpriu mais um dia de queda (ON, -2,62%, a R$ 53,91), na contramão do minério de ferro (+0,13%). De olho na queda do petróleo, Petrobras também não foi bem: ON recuou 1,14% (R$ 34,69) e a PN caiu 0,78% (R$ 31,95).


… Sob o ultimato de Trump para a Rússia acabar com a guerra contra a Ucrânia em 50 dias, o barril do tipo Brent para setembro voltou a cair (-0,72%), a US$ 68,71, ainda que fontes da Reuters indiquem que Putin não se abalou.


… O presidente russo estaria disposto a manter os ataques até que o Ocidente se comprometa com seus termos de paz. Entre outros pontos, o governo de Moscou quer a promessa de que a OTAN não se expandirá para o leste.


… Putin continua ignorando as ameaças de Washington, diante da percepção de que os americanos ainda não estão pegando tão pesado como deveriam, ao concederem um prazo logo (até setembro) para o conflito acabar.


DO CONTRA – Entre os ativos domésticos, a curva do DI não conseguiu esboçar nesta terça-feira a mesma esperança do câmbio de que o Brasil e os EUA pudessem resolver as diferenças comerciais pelo caminho da diplomacia.


… Os juros futuros registraram alta expressiva no trecho médio e longo, seguindo a pressão das taxas dos Treasuries, a grande oferta de NTN-Bs pelo Tesouro e a recuperação da popularidade de Lula na pesquisa Atlas/Bloomberg.


… O contrato do DI com vencimento em Jan/26 terminou em 14,935% (de 13,941% no ajuste anterior); Jan/27, a 14,340% (de 14,304%); Jan/29, a 13,615% (de 13,493%); Jan/31, a 13,780% (13,667%); e Jan/33, 13,880% (13,750%).


RED FLAG – A leitura da inflação ao consumidor americano em junho colocou no jogo a chance de o Fed demorar ainda mais para cortar o juro. O início do ciclo de flexibilização na próxima reunião já era bastante improvável.


… Mas agora também setembro é colocado em xeque. Esta ainda é a aposta principal na ferramenta do CME (55,7%), mas perdeu força contra antes do CPI (65,3%), esvaziada pela chance de manutenção (34,8% para 44,3%).


… Por trás desta migração de apostas estão os sinais de que a inflação começa a ser contaminada pelo tarifaço.  


.. O índice de preços ao consumidor subiu 0,3% em junho e 2,7% na comparação anual, superando os consensos no mercado, de 0,2% e 2,6%, respectivamente. O núcleo avançou 0,2% na margem e 2,9% na base anualizada.


… Segundo o Wells Fargo, a leitura de junho do CPI mostra que, ainda que nos estágios iniciais, “ficaram evidentes” os sinais das tarifas afetando os preços ao consumidor, obrigando o Fed a manter sua postura de esperar para ver.


… O banco americano, no entanto, ainda espera relaxamento da política monetária no encontro de setembro.


… Dentro do Fed, a dirigente Susan Collins reconheceu pressões concretas vindas das tarifas, avisou que vem mais a caminho e recomendou uma abordagem “ativamente paciente” em relação à taxa de juro neste momento.


… Ou seja, na dúvida, a ordem é não fazer nada. Só não se sabe por quanto tempo o Fed teria que ficar parado, o que deixa Trump ainda mais furioso com Powell: “não imagino trabalho pior do que o que está sendo feito por ele”.


… Pelo raciocínio de Trump, a inflação está baixa e o Fed deveria reduzir os juros imediatamente. O presidente americano deve intensificar a busca por um substituto mais dovish na troca de comando de Powell, em abril.


… Na Bloomberg, o diretor do Conselho Econômico Nacional dos Estados Unidos, Kevin Hassett, assume o favoritismo para o cargo, seguido do secretário Scott Bessent (Tesouro). Christopher Waller corre como azarão.


DEVAGAR, QUASE PARANDO – Se o choque da guerra tarifária começar a aparecer mais fortemente nos próximos indicadores de inflação, aí é que o Fed, que já estava sem pressa nenhuma de cortar o juro, pode empacar de vez.


… A chance despertada pelo CPI de juro estável por mais tempo explicou a alta dos retornos dos Treasuries: de 2 anos subiu a 3,953% (de 3,901%); 10 anos, a 4,484% (de 4,428%); e 30 anos ultrapassou os 5%, a 5,012%, de 4,971%.


… Também o dólar colocou no radar a eventual exigência de uma postura mais conservadora pelo Fed por causa do impacto inflacionário do protecionismo comercial de Trump. O índice DXY fechou em alta de 0,54%, a 98,616 pontos.


… O euro caiu 0,53%, a US$ 1,1602; a libra esterlina perdeu 0,36%, a US$ 1,3389; e o iene recuou para 148,90/US$.


… Crescem as chances de o BCE interromper semana que vem o ciclo de redução do juro, após sete cortes seguidos. Para o presidente do Bundesbank, Joachim Nagel, o conflito comercial com os EUA é “extremamente incerto”.


… Diante da reprecificação das apostas para o Fed, as bolsas em NY caíram: Dow Jones, -0,98% (44.023,29 pontos); e S&P 500, -0,40% (6.243,73 pontos). Só o Nasdaq (+0,18%) emplacou novo pico histórico (20.677,80).


… Teve como aliado a Nvidia (+4,04%), autorizada por Trump a retomar as vendas de chips para a China.


EM TEMPO… Subsidiária da Petrobras, a TRANSPETRO terá de pagar R$ 24,5 milhões por vazamento de petróleo em Angra dos Reis em 2015…


… Ministérios públicos federal e do Estado do Rio de Janeiro concluíram acordo de reparação de danos ambientais causados pelo acidente.


GPA. Os investidores André Luiz Coelho Diniz, Alex Sandro Coelho Diniz, Fábio Coelho Diniz, Henrique Coelho Diniz e Helton Coelho Diniz aumentaram participação conjunta no grupo para 17,7% do total de ações ON (Valor)…


… Em maio, os acionistas detinham participação conjunta de 10%.


BRB informou que contratou o BTG Pactual Investment Banking e o escritório Demarest Advogados para a prestação de serviços especializados de assessoria financeira e jurídica no âmbito do Projeto Securities do BRB.


RUMO. Citi reduziu preço-alvo da ação de R$ 20,00 para R$ 19,50, mantendo recomendação neutra; revisão refletiu o entendimento de que a companhia pode apresentar algum enfraquecimento nos resultados do segundo trimestre.


ENEVA informou que a geração bruta de energia no segundo trimestre foi de 1.872 gigawatt-hora, o que significa aumento de 120% frente ao volume do segundo trimestre de 2024.


AURA MINERALS confirmou a precificação de sua oferta pública inicial na Nasdaq, com a distribuição de 8.100.510 ações ordinárias, a um preço de US$ 24,25. A empresa levantou US$ 200 milhões com a operação.

terça-feira, 15 de julho de 2025

Marcello Estêvão - linda homenagem

 Como sabem, meu pai morreu na semana passada. Aqui um texto curto que fiz para marcar o momento. (Quebrando a minha regra de não postar nada pessoal em mídia social.)  As you know, my father passed away last week. Here’s a short piece I wrote to mark the moment. (Breaking my usual rule of not posting anything personal on social media.) The English version is below the Portuguese version.

 

Meu pai foi uma pessoa extraordinária.


É difícil descrever a dimensão do que ele enfrentou e do que ele nos ensinou. Nascido cego, viveu uma vida de obstáculos concretos — a deficiência física num Brasil ainda despreparado para acolher, a dificuldade de concluir os estudos universitários nos anos 1950 (que fez de forma exemplar junto a dois outros amigos cegos, que se tornaram os primeiros cegos a se formarem numa universidade brasileira) e depois, aos 37 anos, a perda da esposa, minha mãe, quando ficou sozinho com cinco filhos pequenos: eu, com 2 anos; meus irmãos com 12, 9, 4 anos e o caçula com apenas 6 meses de idade.


Mas o que sempre me impressionou não foi só a sua força, foi a forma como ele a exercia. Meu pai combinava estoicismo com leveza. Ele encarava a vida com uma seriedade silenciosa — fazia o que precisava ser feito — mas também com um sorriso no rosto, uma piada pronta e um coração cheio de gratidão a Deus. Ele nunca se achou herói, mas era. E não por querer parecer invencível, mas porque sabia cair e levantar com humildade e confiança.


Ele enfrentou tudo isso sem autoimportância. Trabalhou muito, mas também teve a sabedoria de pedir ajuda quando era necessário — como quando conseguiu bolsas de estudo para que estudássemos em ótimos colégios. Sim, éramos bons alunos, mas as bolsas foram dadas por necessidade, e meu pai nunca teve vergonha disso. Ao contrário, ele sabia argumentar com clareza e dignidade quando o futuro dos filhos estava em jogo. Essa mistura de inteligência emocional, bom senso e resiliência é, talvez, a maior lição de vida que ele me deu.


E depois de nos criar com tanto amor e sacrifício, ele teve o direito — e soube exercer esse direito — de viver bem. Nos últimos 41 anos de sua vida, encontrou em Carminha uma companheira formidável, uma mulher incrível que caminhou ao lado dele com afeto, humor e parceria. Juntos, construíram uma nova fase, mais leve, cheia de descobertas, viagens ao Sul do Brasil, ao exterior, e uma vida doméstica serena, feita de conversas, projetos e alegrias. Foi bonito ver meu pai feliz, realizado, completo.


Hoje, ao olhar para tudo que ele viveu e tudo que nos deixou, não posso deixar de sentir orgulho — mas acima de tudo, sentirei falta do amigo. Do meu pai companheiro de todas as horas. Das piadas, das estórias da infância em Ubá e Belo Horizonte, das aventuras no Instituto Benjamin Constant, que ele contava com aquele jeito todo especial, entre risadas e reflexões. 


Pensando bem, não vou sentir falta das estórias em si, pois estão gravadas em mim. Vou contá-las aos meus filhos e netos, não como a saga de um herói (embora ele tenha sido), mas como as memórias de um pai amigo, espirituoso, generoso — um homem que me ensinou que é possível enfrentar a vida com coragem e alegria ao mesmo tempo.


Meu pai vai estar comigo para sempre. Nas palavras que repito sem perceber. No jeito que olho para as dificuldades. No riso que escapa mesmo em momentos difíceis. Ele está no fundo do meu coração. E é de lá que ele nunca sairá.


English version:


My father was an extraordinary person.


It’s hard to express the full extent of what he went through and what he taught us. Born blind, he lived a life full of real, tangible obstacles — a physical disability in a Brazil still unprepared to offer support, the challenge of completing university studies in the 1950s (which he did brilliantly, alongside two other blind friends: the first blind people to graduate from a Brazilian university), and then, at age 37, the loss of his wife — my mother — when he was left alone with five small children: I was 2; my siblings were 12, 9, and 4; and the youngest was just 6 months old.


But what always struck me wasn’t just his strength — it was the way he carried it. My father combined stoicism with lightness. He faced life with a quiet seriousness — he did what needed to be done — but always with a smile on his face, a ready joke, and a heart full of gratitude to God. He never thought of himself as a hero, but he was. Not because he wanted to appear invincible, but because he knew how to fall and rise again with humility.


He faced all of it without self-importance. He worked hard but also had the wisdom to ask for help when it was needed — like when he secured scholarships so we could attend excellent schools. Yes, we were good students, but those scholarships were granted out of necessity, and my father was never ashamed of that. On the contrary, he knew how to make his case with clarity and dignity when his children’s future was at stake. That blend of emotional intelligence, common sense, and resilience is perhaps the greatest life lesson he gave me.


And after raising us with so much love and sacrifice, he had the right — and knew how to exercise that right — to live well. In the last 41 years of his life, he found in Carminha a remarkable partner, an incredible woman who walked by his side with affection, humor, and companionship. Together, they built a new chapter — lighter, full of discovery, trips to southern Brazil and abroad, and a calm domestic life filled with conversations, projects, and joy. It was beautiful to see my father happy, fulfilled, complete.


Today, when I look at everything he lived through and everything he left behind, I can’t help but feel proud — but above all, I will miss my friend. My father, my constant companion. The jokes, the childhood stories about Ubá, Belo Horizonte, and the adventures at the Benjamin Constant Institute, which he told in that unique way of his — a mix of laughter and reflection. 


Come to think of it, I won’t really miss the stories themselves, because they’re all etched in me. I’ll tell them to my children and grandchildren — not as the saga of a hero (though he was one), but as the memories of a father who was funny, generous, and kind — a man who taught me that it’s possible to face life with both courage and joy.


My father will always be with me. In the words I repeat without noticing. In the way I face difficulties. In the laughter that escapes even in hard times. He lives deep in my heart. And from there, he will never leave.

Marcos Lisboa

 "O descontrole nas contas públicas parece estar disseminado nos três Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Projetos que implicam aumentos de gastos são aprovados sem fonte de receita que os financiem, ao contrário do que prevê a Lei de Responsabilidade Fiscal. Decisões judiciais implicam gastos públicos crescentes, com frequência ampliando as interpretações da legislação. O Executivo tem sido criativo em adotar mecanismos que permitem gastos maiores do que o previsto pelo arcabouço fiscal, criado pelo próprio governo ... Usualmente, essa agenda de extração de renda do Estado une a maioria da base aliada e da oposição, esquerda e direita. O problema das contas públicas vai além do dilema entre política social ou ajuste fiscal." Marcos Lisboa

Economista - https://lnkd.in/dhrmyKic

Augusto Franco

Vale a leitura, porque explica o motivo de tantas experiências e iniciativas extraordinárias no campo social não irem adiante. Nascem, encantam, e morrem. São esquecidas e, muitas vezes, ou aparecem novamente em outro ponto, como novidade, ou são retomadas praticamente do zero. 

Ao permanecermos presos ao modelo milenar de estruturas baseadas em hierarquias autocráticas, isso não mudará, explica Augusto. 

Como diz o autor: “enquanto essa topologia não for alterada, com o aumento dos graus de distribuição da rede, de conectividade e de interatividade, haverá reprodução, não criação.”  

”POR QUE SOMOS SEMPRE ASSOLADOS POR IDEIAS QUE JULGÁVAMOS MORTAS


Nenhuma boa experiência dura para sempre. Vejam o caso da democracia inventada pelos atenienses em 509 a. C. Depois o autocrata-conquistador Felipe (levando a tiracolo seu filho Alexandre, "O Grande") invadiu a Ática e acabou com a festa: "- Um povo sem um senhor? Onde já se viu tal disparate? Parem imediatamente com isso". E aí a primeira democracia feneceu em 322 a. C. E durante os próximos cerca de 2.000 anos não ouvimos mais falar de democracia. Durou menos que a República romana, surgida coincidentemente no mesmo ano (mas que era apenas uma oligarquia disfarçada, jamais chegou a ser uma democracia). 


Isso vale para tudo. Todas as experiências que ousam abrir uma brecha no muro da cultura patriarcal (que ainda é dominante na civilização em que vivemos) duram pouco. São bolhas, que só existem enquanto duram. Não têm continuidade a não ser para o observador que cria uma narrativa, inventando uma linha imaginária de continuidade. Talvez lancem esporos, mas que só vão florescer novamente quando caírem em ambientes propícios. Então a questão não é a de procurar garantir a continuidade de um experimento inovador e sim a de configurar ambientes sociais capazes de evocar (ou invocar) manifestações semelhantes de uma fenomenologia da interação que consiga quebrar a reprodução de modos de vida e de convivência social patriarcais. E essas manifestações também serão zonas autônomas temporárias (como percebeu Hakim Bey, em TAZ e, depois, um pouco tardiamente, também eu percebi, em Small Bangs).


Todos nós, que tentamos, alguma vez na vida, uma inovação social, aprendemos isso por experiência própria. Quantas coisas bacanas que fizemos e que desapareceram como se não tivessem existido. Eu mesmo presenciei coisas incríveis acontecendo no entorno dos anos 2000 em processos de desenvolvimento local baseados no investimento em capital social (ou em redes). E depois não é que apenas não tivessem continuado. As próprias ideias que estavam na raiz dessa experiência evaporaram. E nas quase duas décadas seguintes as pessoas não as reconheciam, sequer as entendiam. Explicar para elas o que aconteceu era como falar grego. 


Aliás, o mesmo aconteceu com os gregos do século 5 a. C. Se Protágoras ou outro sofista, como Górgias, comparecessem à universidade de Bolonha, ou de Oxford, ou de Paris, já nos anos 1200 a 1500 da nossa era, para explicar por que o kairós tem a ver mais com a opinião (doxa) do que com o conhecimento (episteme), não seriam apenas não compreendidos, mas possivelmente sairiam acorrentados desses excelsos centros do pensamento, talvez diretamente para a prisão ou, dependendo da época e do lugar, para a fogueira.


Não há nada, na vida social, que possamos chamar de evolução, no sentido biológico do termo, de desdobramento de um processo a partir de uma qualidade intrínseca. Não há nada na sociedade como uma epigênese (capaz de manter o padrão genético anterior). O que há é a resiliência de certas configurações, que ensejam a manifestação de fenômenos semelhantes. Se não houver mudança no padrão de organização, não há alteração significativa dos fluxos interativos da convivência social, que criam e desfazem realidades, mundos. 


O que chamamos de social é um campo aberto à invenção (isso é, fundamentalmente, o que chamamos de liberdade - que só pode existir em mundos sociais), mas essa possibilidade é eliminada (ou reduzida drasticamente) pela obstrução de fluxos, pela deformação do campo introduzida por estruturas hierárquicas regidas por dinâmicas autocráticas. Enquanto essa topologia não for alterada, com o aumento dos graus de distribuição da rede, de conectividade e de interatividade, haverá reprodução, não criação. 


Por isso, os mundos em que vivemos ainda estão aprisionados, o futuro ainda está, em grande parte, fechado. Por isso, somos tão intermitentemente assolados, ao longo do que chamam de história, pela volta de antigos modelos, de antigas ideias, de antigas narrativas que imaginávamos já definitivamente enterradas. Não basta inventar novos softwares. Os padrões patriarcais vão ressurgir continuamente enquanto não alterarmos os hardwares. Está nas nossas mãos fazer isso, mas não fazemos. E não fazemos porque nós - e não algum sodalício maligno qualquer, conspirando em algum lugar secreto contra a humanidade - somos os agentes de reprodução do sistema (os Agentes Smith da Matrix).


Então, quando você for tentar fazer alguma coisa inovadora em termos sociais, não fique pensando em mudar o mundo. Você vai mudar o seu mundo - o mundo social configurado por aquela experiência particular - e isso é tudo. É possível que os esporos lançados por essa experiência caiam em outros lugares e floresçam. Mas nem você, nem ninguém, sabe quando isso vai acontecer, onde vai acontecer e se vai acontecer. E se soubesse, que graça haveria na aventura da vida?


Mudar um mundo já é o bastante. Os comportamentos coletivos mudam assim, a partir de experiências singulares e precárias e não de grandes projetos transformadores totalizantes. Pequenas mudanças, aqui e ali, vão alterando padrões de interação, possibilidades de percepção e modos de atuação. Mas nada indica que isso fará a humanidade virar algo que ela não é. E o que a humanidade é senão a sua humanidade?”

Produtividade é a saída

  O mundo está girando (e rápido): o Brasil vai acompanhar ou ficar para trás? 🌎🇧🇷 Acabei de ler uma análise excelente de Marcello Estevã...