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Amilton Aquino

 Uso muito os textos dele. Amilton Aquino é sensacional.


"As ilusões e hipocrisias do debate geopolítico


Acompanhando as repercussões dos ataques às instalações nucleares do Irã, chama-me a atenção a inocência de alguns analistas ocidentais. Comecemos por Guga Chacra que, antes mesmo do ataque, já havia “enquadrado” o embaixador israelense ao vivo ao questionar: por que Israel, que não assinou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), pode ter armas nucleares e o Irã, que assinou, não?


Primeiro, é estarrecedor que um “especialista” em geopolítica faça uma pergunta dessas — ainda mais no tom afrontoso com que foi feita. Ora, os israelenses, embora possuam armas nucleares desde 1967, jamais prometeram varrer qualquer inimigo do mapa, como o Irã promete fazer com Israel há décadas. Aliás, neste exato momento, Israel tem total controle do espaço aéreo iraniano. Poderia matar milhões, mas mira alvos militares — ao contrário do Irã, que procura provocar o máximo possível de vítimas civis. Tentar colocar em pé de igualdade a única democracia liberal do Oriente Médio com uma teocracia tirânica financiadora dos principais grupos terroristas do mundo já revela o grau de desconexão com a realidade do referido analista.


Segundo, a pergunta contém um erro cronológico imperdoável para qualquer especialista: o TNP entrou em vigor em 1970, ou seja, depois de Israel já ter desenvolvido suas armas nucleares. Terceiro, o Irã que assinou o acordo não é o mesmo dos aiatolás, que tomaram o poder em 1979, sob os aplausos da esquerda mundial — sobretudo a francesa.


Mas isso nem foi o pior na renomada Globo. A comentarista para assuntos aleatórios Eliane Cantanhêde viralizou nesta semana praticamente lamentando que os ataques iranianos a Israel provoquem “no máximo, umas mortezinhas aqui e ali”. De fato, é verdade. Mas não por falta de esforço iraniano, e sim pela preocupação dos governos israelenses com a proteção de seus civis, que contam com um sofisticado sistema de bunkers — mais uma diferença civilizacional que separa o pequeno Estado judeu do regime iraniano, cujo valor da vida dos próprios cidadãos está abaixo dos objetivos declarados de destruição em massa de seus inimigos.


Portanto, a diferença civilizacional é óbvia, mas a diplomacia finge não ver. O Irã, um Estado reconhecidamente terrorista, recorrer à ONU para reclamar de ações de Israel e dos EUA, é do mesmo nível de cinismo de um Putin — um sujeito que respira guerras desde sempre — ao se declarar “preocupado” com a eclosão de uma terceira guerra mundial. Haja estômago.


Até aí, tudo dentro do script. Regimes autoritários sempre fizeram e sempre farão ameaças. O Irã, totalmente encurralado, continua prometendo respostas apocalípticas. Medvedev, o “louquinho” utilizado por Putin para ecoar ameaças, já apareceu para insinuar que há “um grupo de países disposto a fornecer bombas nucleares ao Irã”!


Ou seja: mais do mesmo. Ditadores apostando na covardia ocidental em confrontá-los. Se as nações democráticas tivessem se unido para destruir as instalações nucleares da Coreia do Norte na década de 1990, hoje não teríamos mais um déspota ameaçando explodir o mundo.


Restou a Israel, mais uma vez — como já fez no Iraque e na Síria — partir para o ataque, a fim de evitar que mais um inimigo se torne uma ameaça global, enquanto a maioria dos analistas ocidentais de viés esquerdista finge acreditar que o programa iraniano tem fins pacíficos.


A verdade, meus amigos, é que ditadores e terroristas aprenderam a usar nossa própria democracia contra nós. E, enquanto o Ocidente não despertar para os riscos que corre ao fazer vistas grossas a tais chantagens, mais eles recorrerão a esses artifícios.


Já vejo diversos analistas ecoando as cínicas reclamações do representante iraniano de que os EUA os “traíram”, que o ataque às usinas “sepultou as negociações diplomáticas”, ignorando que o próprio Irã rejeitou até a proposta norte-americana de manter seu programa nuclear, desde que o urânio enriquecido fosse exportado para o país.


Claro que tais negociações não levariam a lugar algum. Eram mero teatro, uma estratégia para ganhar tempo até o Irã finalmente anunciar ao mundo que dominou a tecnologia nuclear militar. Felizmente, Trump percebeu o óbvio. Só resta agora que ele adote a mesma lucidez em relação à Rússia, que há mais de dois anos não consegue derrotar a Ucrânia e aposta em concessões de um possível novo governo Trump para abocanhar o máximo possível do território invadido.


Risco de uma 3ª Guerra Mundial? Sim, corremos. Mas não será com covardia e excesso de diplomacia que vamos evitá-la. O Ocidente ainda é mais forte que o eixo do mal. Se não mostrar as garras agora, poderá ser tarde demais.


O fato é que Israel, sozinho — um pequeno país 74 vezes menor que o Irã — tem lutado simultaneamente em sete frentes de guerra há mais de dois anos contra um mal que ameaça todo o Ocidente. Como bem admitiu o chanceler alemão: “Israel está fazendo o serviço sujo por nós.” Faltou incluir a Ucrânia na frase."

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