Abertura 2002
Abertura: Balanços guiam exterior e resultado da Vale concentra atenções no Brasil
São Paulo, 20/02/2025
Por Luciana Xavier e Maria Regina Silva
OVERVIEW. Dirigentes do Federal Reserve (Fed) ficam no radar nesta quinta-feira em meio às incertezas sobre os rumos da política monetária no governo Trump. Também é esperado o balanço do Walmart. No Brasil, o presidente Lula dará uma entrevista, às 8 horas, para a Rádio Tupi FM, do Rio. Destaque ainda para os resultados do quarto trimestre da B3, Engie, Lojas Renner, Rumo, Santos Brasil, Nubank, PagSeguro, após o fechamento dos mercados.
NO EXTERIOR. Os futuros de Nova York recuam, enquanto na Europa apenas a Bolsa de Londres cai, diante da queda de ações de petroleiras, mas a alta de alguns papéis após balanços, como Lloyds e Anglo American, limita as perdas. Os investidores digerem falas de dirigentes do Fed ontem à noite. O presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, afirmou que, assim que a autoridade monetária tiver uma compreensão mais detalhada das políticas do governo Trump, será possível definir com mais clareza os próximos passos da política monetária nos Estados Unidos. Ele disse estar confortável com a pausa nos cortes de juros. O vice-presidente do Fed, Philip Jefferson, afirmou que a inflação no país baixou bem nos últimos dois anos e meio, “mas continua um pouco elevada em relação à nossa meta de 2%.”O presidente dos EUA, Donald Trump, disse ser possível alcançar um novo acordo comercial com a China, sinalizando que está aberto a evitar um conflito entre Washington e Pequim.
POR AQUI. Os investidores repercutem hoje o resultado do quarto trimestre da Vale, Banco do Brasil (leia mais abaixo em O que Sabemos), além de Gerdau e outras empresas. A alta de 2,26% do minério de ferro tende a beneficiar ações de mineração e siderurgia. Já o petróleo ronda a estabilidade e os ADRs da Petrobrás estavam perto da estabilidade às 7h18 no pré-mercado em NY. O EWZ, principal fundo de índice (ETF, na sigla em inglês), brasileiro negociado em Nova York caía 0,15% em meio ao sinal negativo dos futuros de NY. Os bancos já chegaram a um acordo com o governo Lula para destravar o novo modelo de concrédito signado no setor privado. Os quatro pleitos expostos pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), como mostrou o Estadão, foram considerados razoáveis pelo Ministério do Trabalho e aceitos pela equipe econômica, segundo interlocutores a par das conversas.
NA POLÍTICA. O Supremo Tribunal Federal (STF) deve julgar ainda este ano a possível ação penal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, evitando que o caso se arraste até 2026. Aliados de Lula dizem que denúncia da PGR 'fragiliza' a percepção do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), de que não houve tentativa de golpe em 8/1. Após tumulto ontem, Motta disse que o plenário não será palco para lacração de nenhum dos lados. Em delação premiada, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, afirmou que o Gabinete de Segurança Institucional comprou motos para acompanhar o então presidente nas motociatas pelo País.
AGENDA.
DIRIGENTES DO FED E AUXÍLIO-DESEMPREGO NO FOCO - A agenda desta quinta-feira traz o Produto Interno Bruto da França (8h) e índice de confiança do consumidor da zona do euro (12h). Nos Estados Unidos, são esperados os pedidos de auxílio-desemprego nos EUA (11h35) e falas e falas de dirigentes do Federal Reserve (Fed), Austan Goolsbee, de Chicago (11h35); Alberto Musalem, de St Louis (14h); vice-presidente de supervisão, Michael Barr (16h30); diretora Adriana Kugler (19h). No Brasil, o Tesouro faz leilões de LTN e NTN-F (11h). Após o fechamento, saem os balanços da B3, Engie, Lojas Renner, Rumo, Santos Brasil, Nubank, PagSeguro e Renault.
O QUE SABEMOS.
VALE - A mineradora apresentou um lucro líquido atribuível "pro forma" aos acionistas - por incluir arrendamentos - de US$ 872 milhões no quarto trimestre de 2024, queda de 64% ante igual período de 2023. O lucro ficou 41,8% abaixo do valor projetado pelo Prévias Broadcast. Se considerado o resultado no critério “atribuível”, houve prejuízo de US$ 694 milhões. No balanço financeiro do período, a mineradora também relatou um prejuízo atribuível de US$ 694 milhões.
EM TESE: A despeito do prejuízo de quase US$ 700 milhões, as ações podem avançar em sintonia com a valorização de 2,26% do minério de ferro hoje, em Dalian, na China, e ainda em meio a uma visão menos pessimista sobre os números da empresa. Um prenúncio são os ADRs da companhia, que sobem 1,33% nesta manhã no pré-mercado de Nova York. Pode ser bem visto o fato de que a Vale cumpriu a promessa de reduzir custos e o conselho de administração da empresa ainda aprovou ontem um novo programa para a aquisição de até 120 milhões de ações ordinárias em um prazo de 18 meses. O montante representa cerca de 3,0% do número de ações da companhia em circulação. Contudo, a teleconferência da direção da Vale com analistas será acompanhada com lupa, na tentativa de encontrar sinais sobre como a empresa fará, por exemplo, para elevar seus investimentos no momento de grandes desafios no mundo, seja por conta das tarifas americanas, seja em razão das incertezas com a China.
BB - O Banco do Brasil registrou lucro líquido ajustado de R$ 37,89 bilhões em 2024, uma alta de 6,6% ante o ano anterior e o maior resultado da sua história. No quarto trimestre, o lucro líquido foi de R$ 9,58 bilhões, avanço de 1,5% na comparação anual, ficando em linha com o esperado. O resultado do banco foi influenciado positivamente pelo crescimento das operações de crédito e pela queda nas provisões contra a inadimplência.
EM TESE: O resultado recorde do BB pode estimular para cima as ações da instituição, a despeito das sinalizações de cautela do banco na mesma direção que os concorrentes privados recentemente. No ano passado, a carteira de crédito do Banco do Brasil cresceu 11,7%, bem próximo do teto do guidance, ficando acima das demais instituições. Para 2025, espera-se que o crescimento volte a ficar acima dos concorrentes ainda que menor. O BB prevê alta de 5,5% a 9,5%, muito próxima às que Itaú e Bradesco divulgaram.
OVERNIGHT.
RISCO DE CRÉDITO - O Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) do Banco Central decidiu manter o Adicional Contracíclico de Capital Principal relativo ao Brasil (ACCPBrasil) em zero. Apesar da manutenção, o colegiado recomendou que as instituições financeiras persistam com a política de gestão prudente de capital e de liquidez em virtude das incertezas econômicas. O ACCPBrasil é uma parcela do capital a ser acumulada na expansão do ciclo de crédito e consumida em sua contração. O instrumento trata o risco sistêmico cíclico do crédito e dos preços dos ativos.
RESTOS A PAGAR - O Senado aprovou ontem, por 65 votos a um, o projeto de lei complementar (PLP) que resgata restos a pagar (RAPs) desde 2019 que tiverem sido cancelados em 2024. O único senador a votar contra a proposta foi Eduardo Girão (Novo-CE). O impacto da medida é incerto. O relator da proposta, senador Carlos Portinho (PL-RJ), disse que o impacto máximo seria de R$ 4,6 bilhões, de acordo com o Tesouro. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), porém, citou um efeito ainda maior, em torno de R$ 15,7 bilhões.
ATACAREJO - O Assaí registrou lucro líquido (Pós-IFRS16) de R$ 430 milhões no quarto trimestre de 2024, uma alta de 44,8% em comparação com o mesmo período de 2023. No ano, o lucro líquido acumulou R$ 769 milhões, apresentando alta anual de 8,3% e uma margem de 1,0%.
QUEDA NO LUCRO - A Gerdau apresentou lucro líquido ajustado de R$ R$ 666 milhões no quarto trimestre de 2024, uma queda de 9% ante o mesmo período de 2023 e de 53,5% sobre o terceiro trimestre. O resultado foi 21,8% menor do que o previsto pela média das previsões das casas consultadas pelo Prévias Broadcast. Em meio à safra de resultados, a Gerdau e a Metalúrgica Gerdau informaram que mudarão a forma de divulgar as informações de seus segmentos a partir dos resultados do primeiro trimestre de 2025. Também ontem, a Gerdau e Metalúrgica Gerdau aprovaram o pagamento de dividendos referente ao exercício social de 2024.
GREVE - Greve de dois meses e meio e operação tartaruga dos analistas tributários e dos auditores da Receita Federal e do Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf) afetam consumidores, empresas e o governo. Cerca de 75 mil remessas expressas de importação e exportação estão paradas nos terminais alfandegários, segundo estimativas das empresas do setor, relatadas pelo presidente da Frente Parlamentar de Livre Mercado (FPLM), o deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP).
MADEIRA SERRADA - O presidente americano, Donald Trump, afirmou que anunciará tarifas sobre madeira serrada e tábuas. Ao mesmo tempo, assinou um decreto para acabar com os benefícios federais direcionados a pessoas em condição ilegal no país. A administração do novo governo pode buscar ainda fechar um acordo simplificado sobre minerais com a Ucrânia.
PPI - O índice de preços ao produtor (PPI, pela sigla em inglês) da Alemanha subiu 0,5% em janeiro ante igual mês do ano passado, segundo dados divulgados hoje pelo Destatis. O resultado do mês passado veio abaixo da expectativa de analistas, que previam ganho anual de 1,2%.
PBOC - O banco central da China (PBoC, na sigla em inglês) manteve as taxas de juros de referência inalteradas. A taxa de empréstimo primário (LPR) de 1 ano permaneceu em 3,1%, enquanto a taxa de 5 anos ficou em 3,6%.
RIO TINTO - A Rio Tinto registrou lucro líquido de US$ 11,6 bilhões em 2024, o que representou um crescimento de 15% ante os US$ 10,1 bilhões de 2023. Mas a segunda maior mineradora do mundo anunciou redução em seu dividendo após os preços mais baixos do minério de ferro pesarem em seu lucro subjacente. A companhia pediu aos seus acionistas que rejeitassem a proposta de um investidor para abandonar sua listagem primária na Bolsa de Londres e consolidar suas ações na Austrália.
MÉXICO - O Banco Central do México (Banxico) cortou sua previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2025 de 1,2% para 0,6%. O intervalo de variação esperada do PIB para este ano também foi atualizado para entre -0,2 e 1,4%. O Banxico afirmou que a mudança se deve a "uma grande incerteza sobre as políticas que o novo governo dos EUA adotará em 2025" e manteve previsão de crescimento econômico para 2026 em 1,8%.
E NOS MERCADOS.
TREASURIES- Os rendimentos dos Treasuries operam em baixa, estendendo perdas da sessão anterior, ainda sob o efeito da ata de política monetária do Federal Reserve (Fed), que não trouxe novidades. Investidores vão acompanhar hoje comentários de várias autoridades do Fed, além da pesquisa semanal dos EUA sobre pedidos de auxílio-desemprego. Além disso, o Tesouro americano leiloa US$ 9 bilhões em títulos atrelados à inflação - conhecidos como Tips - de 30 anos. Às 7h28, o juro da T-note de 2 anos caía a 4,258%, de 4,271% no fim da tarde de ontem em Nova York, o da T-note de 10 anos recuava a 4,521% (de 4,536%) e o do T-bond de 30 anos diminuía a 4,757% (de 4,770%).
FUTUROS DE NY - Os índices futuros das bolsas de Nova York cedem, depois de Wall Street registrar ganhos modestos ontem após a divulgação da ata do Fed. Às 7h23, no mercado futuro, o Dow Jones caía 0,11%, o S&P 500 recuava 0,15% e o Nasdaq tinha perda de 0,16%.
BOLSAS EUROPEIAS - As bolsas europeias sobem em sua maioria, em meio à reação favorável a balanços de grandes empresas da região. Exceção, o mercado inglês é pressionado pelo setor petrolífero. Na esteira de balanços, o banco britânico Lloyds saltava 4,2% e a mineradora anglo-australiana Rio Tinto subia 1,2%. Por outro lado, a Airbus recuava 1,3% em Paris, após a fabricante aviões divulgar Ebit ajustado e previsão de entregas abaixo do consenso e a montadora francesa Renault caía marginalmente. Às 7h25, a Bolsa de Frankfurt subia 0,55% e a de Paris avançava 0,63%, enquanto a de Londres caía 0,25%, sob o peso de petrolíferas como BP (-1,1%) e Shell (-0,30%).
MOEDAS FORTES - O dólar opera em baixa ante outras moedas de países desenvolvidos na madrugada desta quinta-feira, após se valorizar ante euro e libra na sessão anterior, enquanto investidores aguardam comentários de dirigentes de grandes bancos centrais e acompanham desdobramentos das conversas sobre a guerra na Ucrânia. Às 7h29, o euro subia a US$ 1,0441 (de US$ 1,0426), a libra avançava a US$ 1,2613 (de US$ 1,2586) e o dólar caía a 150,15 ienes (de 151,50 ienes). Já o índice DXY do dólar - que acompanha as flutuações da moeda americana em relação a outras seis divisas relevantes - tinha baixa de 0,27%, a 106,88 pontos, após subir 0,11%, a 107,173 pontos ontem.
PETRÓLEO - Os contratos futuros do petróleo operam próximos da estabilidade, enquanto investidores aguardam pesquisa semanal do DoE sobre estoques de petróleo bruto e derivados dos EUA e seguem monitorando desdobramentos das conversas sobre a guerra na Ucrânia e da ofensiva tarifária do governo Trump. Segundo a Reuters, levantamento do American Petroleum Institute (API) apontou aumento de 3,34 milhões de barris no volume de petróleo bruto estocado nos EUA na semana passada. Às 7h33, o barril do petróleo WTI para abril caía 0,06% na Nymex, a US$ 72,21, enquanto o do Brent para o mesmo mês subia 0,17% na ICE, a US$ 76,15.
BOLSAS DA ÁSIA - As bolsas da Ásia e do Pacífico fecharam sem direção única nesta quarta-feira, após novas ameaças tarifárias dos EUA. O índice japonês Nikkei caiu 0,27% em Tóquio, pressionado por ações de montadoras como Honda (-2,3%) e Toyota (-1,7%), após o presidente americano, Donald Trump, dizer ontem que está considerando tarifas "de cerca de" 25% a importações de carros. Ele também ameaçou tarifar produtos farmacêuticos e semicondutores. O Hang Seng recuou 0,14% em Hong Kong, enquanto o sul-coreano Kospi avançou 1,70% em Seul, e o Taiex registrou modesta perda de 0,26% em Taiwan. O Xangai Composto subiu 0,81%, e o menos abrangente Shenzhen Composto avançou 1,90%. Na Oceania, a bolsa australiana caiu pelo terceiro dia seguido, com baixa de 0,73% do S&P/ASX 200 em Sydney.
*Colaborou Sérgio Caldas
Contato: luciana.xavier@estadao.com e reginam.silva@estadao.com
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