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 NEWS - 03.01 / 2


Inflação, juros e crise fiscal colocam em alerta setores de consumo e de serviços / Rápida deterioração do cenário econômico, nas últimas semanas, acendeu preocupação- Valor 3/1


Adriana Mattos / Beth Koike


O risco de que o cenário de forte instabilidade visto nas últimas semanas - com juros e inflação voltando a subir, e dólar na casa dos R$ 6 - afete o bolso e a confiança da população colocou em “banho-maria” as expectativas de avanço mais forte do consumo de produtos e serviços nos próximos meses.


Sustentados pelo ganho de renda e emprego, empresas e consultores de varejo, educação e saúde até continuam a sinalizar um otimismo moderado para o início de 2025. Mas fazem ressalvas por conta da deterioração recente do ambiente econômico.


Além de projetar alta contínua na taxa Selic - já se estima juros de 15% ao ano em meados de 2025 -, os orçamentos das companhias consideram uma perda de vigor do PIB (Produto Interno Bruto) e no ritmo de geração de empregos.


Não há também um novo “gatilho” de renda à vista que possa ser um fato gerador de novas expectativas, a ponto de transformar a atual dinâmica desses mercados. Em 2024, o governo chegou a antecipar a liberação de bilhões em precatórios e do abono do INSS para dar um novo fôlego ao mercado local. Só que, para 2025, pelo risco sobre as contas públicas, a antecipação não foi confirmada ainda.


“Para muitos negócios, vai pesar o fato de termos muitas variáveis negativas no começo de 2025, se movendo na mesma hora, o que torna difícil alguma estabilidade maior no mercado. E isso não ajuda o consumo em geral”, disse João Soares, analista do Citi, ao se referir à incerteza causada pelos ruídos no cenário fiscal, inflação e juros.


A deterioração do ambiente após novembro, e de maneira muito rápida, vem moldando o atual cenário.


No varejo, por exemplo, as vendas da Black Friday superaram as expectativas, com alta entre 8% e 19%, a depender do levantamento, e chegaram a reforçar a percepção de uma nova onda de aceleração na demanda. Porém, três semanas após a data, com a crise fiscal dando o tom de fim de ano, voltou o discurso de prudência para o primeiro semestre de 2025.


O economista da Confederação Nacional do Comércio, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes, projeta uma alta superior a 4% no faturamento do comércio em 2024. Em 12 meses até outubro, avança 4,8% e, para 2025, a estimativa é de crescimento de até 2%.


Na visão de Bentes, o país conseguiu “quebrar”, em 2024, o círculo anterior de alta nas vendas pouco superior ao crescimento vegetativo do país - o ano deve ser o melhor em taxa de expansão do comércio em 11 anos. Só que a desaceleração de 2025 não se dará apenas por uma questão de base mais forte de comparação. “É fato que, no primeiro semestre de 2025, vamos ter que levar em conta que a comparação se dará sobre uma alta de 5,2% nas vendas [de janeiro a junho de 2024], que é um número muito bom. Mas ainda temos que adicionar o efeito da concorrência das ‘bets’, que tiram renda do consumo, e do avanço dos ‘crossborders’ [as plataformas de compras estrangeiras]”, disse o economista.


Em novembro, o Valor antecipou a existência de um movimento de negociação de reajuste de preços em alimentos, bebidas, itens de higiene, beleza, limpeza, e em eletrônicos e eletrodomésticos, na faixa de 5% a 10%, para repasses neste mês de janeiro. É algo em andamento, e contaminado pela escalada da moeda americana, por conta da crise de credibilidade enfrentada pelo atual governo.


Segundo João Soares, do Citi, nesse ambiente, se consolidam mais as preferências de investidores por determinadas empresas e negócios. “Vemos, de novo, um cenário melhor para consumo de luxo, com o dólar a R$ 6, pois aumenta a demanda local por produtos, já que viagens e compras no exterior são afetadas”, afirmou ele.


Quem também se beneficia são empresas que estão em momento diferente nos seus setores, com visões positivas que foram se consolidando entre os investidores, como Mercado Livre, Vivara e C&A, por exemplo.


Bentes, da CNC, lembra que há fatores positivos que podem, eventualmente, equilibrar, um cenário mais difícil nos primeiros meses de 2025. Isso inclui uma retomada na aceleração do emprego, e os sinais de uma boa safra de alimentos, com uma oferta no mercado que pode barrar mais pressões em preços.


Uma eventual acomodação da atual crise de credibilidade e confiança do mercado, relativa à situação fiscal do país, também pode ajudar a mudar esse ambiente no começo de 2025, de acordo com ele.


No setor de ensino superior, o sentimento é de prudência nesse primeiro semestre, momento mais importante para as faculdades por conta do período de matrículas, diante de um ambiente de pressão da inflação e juros elevados que podem comprometer a renda do estudante com pagamento de dívida. Já no segundo semestre de 2024, o setor patinou. Mesmo com o aumento de renda e do emprego, não houve crescimento relevante no número de matrículas, inclusive em cursos de ensino a distância, cuja mensalidade média é de R$ 250.


“Não há nada transformacional para mudar o setor no curto prazo. Ao contrário, tem a regulação do ensino a distância, que pode elevar o valor da mensalidade desse curso que atende à baixa renda, e é muito suscetível a preço”, disse Vinicius Figueiredo, analista do Itaú BBA. “Quando a renda aumenta, o ensino superior não é a primeira opção de consumo do aluno. Ele tem que estar estabilizado no emprego para tomar a decisão de se matricular”, afirmou Leandro Tavares, do Citi.


Já no setor de saúde, há uma expectativa um pouco mais otimista para 2025, principalmente na comparação com os últimos três anos, quando as operadoras de convênio médico acumularam prejuízos de R$ 15 bilhões. Porém, não é todo o setor de saúde que respira aliviado. Para a Anahp, associação que reúne os maiores hospitais do país, o ano ainda vai ser de dificuldades, apesar de as operadoras de planos terem registrado lucro operacional de R$ 3 bilhões nos nove primeiros meses. “As operadoras melhoraram, mas isso ainda não se reflete para os hospitais, elas ainda nos pressionam”, disse Antonio Brito, diretor superintendente da Anahp.


Para José Marcelo, presidente do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o setor hospitalar terá um próximo ano parecido com 2024. “Hoje, não dá para arriscar em grandes projetos de longo prazo com esse patamar de juros, e também não temos muita visibilidade de um crescimento disruptivo em 2025”, disse.


Outro ponto que chama atenção no setor de saúde é que, mesmo com o aumento de empregos com carteira registrada, o que acaba impactando o volume de pessoas com planos de saúde, o que sustentou o crescimento do mercado de convênios médicos foram as MEIs (microempreendedores individuais).


No ano passado, havia 5,3 milhões de usuários em planos de saúde PME com até cinco integrantes, o que representa cerca de 10% do total do setor. Nos oito primeiros meses do ano, 548 mil pessoas contrataram o convênio médico por meio de suas MEIs.


“Temos crescimento de emprego em ritmo menor, a abertura de MEIs também cresce, mas vem perdendo fôlego. Então, o desempenho do setor de planos de saúde deve ficar meio parecido com o que foi 2024”, disse Luiz Feitoza, sócio da consultoria Arquitetos da Saúde.


Em outubro, havia no país 47 milhões de empregos formais, o que representa um incremento líquido (já subtraindo as demissões) de 132,7 mil de pessoas com carteira assinada. Neste mesmo período, havia 16,2 milhões de MEIs, um acréscimo de 535 mil CNPJs (Cadastros Nacionais de Pessoa Jurídica) de micro empresários individuais, segundo dados do Caged e da Receita Federal, respectivamente.


Os professores Walter Cintra, da FGV, e Rudi Rocha, da FGV e do IEPS, ressaltam que a melhora nos indicadores financeiros das operadoras vem acompanhada de piora nas condições dos planos de saúde, com cobertura de atendimento menor e custo elevado para a população.


Enquanto professores e economistas adotam postura mais cética, há companhias e entidades de varejo e serviços que veem sinais de uma retomada em curso.


Em comum, há um entendimento entre lojas e indústrias de consumo de que já houve uma “virada de página” e de que o pior já passou, assim como entendem que as empresas estão bem melhor estruturadas para suportar uma alta na taxa Selic do que em 2021, quando a escalada foi muito rápida e pegou muitos negócios desprevenidos.


Para o IDV, maior entidade empresarial do varejo, apesar de uma inflação com projeções maiores, ela segue controlada e com sinais claros do BC (Banco Central) atuando com foco na meta anual traçada. E o uso dos juros para reduzi-la, apesar de seu efeito na venda a prazo, pode ser administrável com o aumento do número de parcelas a prazo em datas comemorativas.


Na Black Friday, o prazo chegou a 30 vezes, o que ajuda a compra a caber no bolso. No Natal, os parcelamentos atingiram 21 vezes, sem juros, nos cartões de varejistas, como Magazine Luiza. Em dezembro, a Casas Bahia ofereceu parcelamento no carnê em 24 vezes, com juros.


Jorge Gonçalves Filho, do IDV, ainda cita alta da massa salarial de 7% no ano, descontada a inflação, e seu efeito ao longo do tempo. “Acreditamos que o ambiente positivo de novembro se estende no Natal e começo do ano, mesmo com Selic maior.”


Gonçalves lembra que, após agosto, a definição de imposto para compras de itens estrangeiros acima de US$ 50 - a chamada “taxação das blusinhas” - também pode favorecer a venda do mercado local, como já ocorreu no segundo semestre.


“As pessoas têm de entender que o varejo hoje já é outro, que o chip já virou. Temos que parar de ver o varejo como vítima”, disse Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza, associada ao IDV. Segundo ele, ao se olhar o resultado do segundo e terceiro trimestres, os indicadores mostram a melhoria de indicadores. E a precificação dos ativos financeiros das empresas, como dívida e ações, não está mais compatível com os resultados positivos que as empresas vêm apresentando.


“Não vejo nenhuma questão de confiança, nem de endividamento”, afirmou. Trajano cita os dados do BC, que mostram estabilidade na inadimplência no acumulado do ano, e afirma que a venda do setor subiu em 2024, e não está ancorada em crédito, “o que é bom porque isso significa que elas [vendas] não estão anabolizadas”, disse ele.


No setor de educação, o diretor do Semesp, entidade do setor, Rodrigo Capelato, afirma que a maior procura dos jovens por cursos de ensino presencial - cuja demanda dos calouros cresceu em 2024, após nove anos de queda - vai se manter em 2025.


“É um movimento que vem crescendo aos poucos desde 2022. Mas, vale ponderar que essa demanda é para determinados cursos como saúde, medicina, direito e tecnologia”, disse Capelato. “Nas rodagens que fazemos, percebemos os alunos otimistas para fazer matrícula em 2025”, complementou.


O presidente da Yduqs, dona da Estácio, Eduardo Parente, diz que o quatro trimestre está melhor do que o terceiro trimestre, o que é um indicador a se considerar para o início de 2025, quando ocorre o principal período de matrículas no setor.


Há um consenso de que as empresas de saúde - que fizeram dezenas de aquisições entre 2021 e 2022, com Selic abaixo de 5% - deverão adotar uma estratégia mais conservadora no atual cenário de juros com viés de alta.


Em educação, as aquisições ocorrem praticamente no segmento de cursos de medicina, cujos “valuations” despencaram pela metade com a onda de judicialização que está colocando centenas de cursos no mercado.


No setor de consumo, as operações de fusões e aquisições perderam fôlego após 2022, quando o custo do capital disparou, pela necessidade de as empresas tocarem uma agenda de corte de despesas e renegociação de dívidas. E aquelas operações que ocorreram, foram em segmentos muito resilientes, como em moda premium (Arezzo e Soma) e “pets” (Cobasi e Petz).


Governo planeja crédito a pequenas empresas com garantia do Pix – Valor 3/1


O governo prepara uma espécie de “crédito consignado” para micro e pequenos empresários, com base no faturamento deles com o Pix. O projeto é elaborado numa parceria do Ministério da Fazenda com o Banco Central (BC) e faz parte da linha de trabalho que busca reduzir o custo do crédito no Brasil.


A ideia é que os empresários possam oferecer o fluxo de recebimentos em Pix como garantia para tomar empréstimos bancários. “Em uma parte ele vai receber o Pix, e outra parte vai ser direcionada para pagar o financiamento que ele tem com o banco”, disse ao Valor o secretário de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda, Marcos Pinto. “É como se fosse um consignado do lojista.”


Uma medida de segurança, explicou, é limitar o número de chaves Pix que podem ser criadas pelo empresário.


Economista e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carla Beni aponta que se espera em 2025 um ambiente mais difícil para o pequeno empresário, com juros mais altos e consequente aumento do custo de crédito. A Selic está atualmente em 12,25% ao ano, e o Banco Central sinalizou que pode fazer mais duas elevações e levar a taxa para 14,25% ao ano em março.


Para Beni, criar essa alternativa de crédito para o pequeno empresário pode ser interessante, mas ainda é necessário saber se haverá uma efetiva redução de custos. “O empresário está com a faca da taxa Selic de um lado e a faca do spread bancário do outro. Resta saber se ele conseguirá algum tipo de redução séria no custo de operação se der seu fluxo futuro”, disse.


Para esse novo produto ser oferecido, ainda falta desenvolver uma tecnologia própria, explicou Pinto. É algo que será feito ao longo de 2025.


Será necessário agregar em uma base de dados as informações de fluxo de recebimentos do lojista via Pix. Os bancos teriam acesso a essas informações, e com base nelas poderiam oferecer os empréstimos.


Leandro Vilain, sócio da Oliver Wyman na área de prática de serviços financeiros, avaliou que a ideia é positiva e “bem-vinda”, mas apontou que há algumas questões operacionais que precisam ser superadas. Uma delas é justamente o compartilhamento de informações.


Vilain disse que, caso o Pix Agendado (quando o pagador programa a transferência para uma data futura) seja utilizado para possibilitar esse crédito, será necessário realizar algumas mudanças. Isso porque, atualmente, o banco do lojista não tem a informação de que há um pagamento a ser recebido com o Pix Agendado. “O banco com o qual esse lojista tem relacionamento precisa saber que o lojista tem um fluxo de recebíveis de Pix para ser recebido daqui pra frente”, disse.


Além disso, Vilain pontua que, se o projeto utilizar o fluxo de recebimentos do Pix Agendado, será necessário ter garantia de não cancelamento do pagamento, por exemplo. O especialista destacou também que o Pix Agendado ainda não é muito popular e, se esse for o caso, as inovações necessárias não seriam de curto prazo. “A medida é bem positiva, principalmente para o pequeno lojista, mas é de efeito mais limitado, pelo menos no curto prazo”.


O Pix como garantia é sequência de outras inovações que ajudaram a reduzir o custo dos financiamentos para os lojistas, disse o secretário. Já houve uma queda depois que começaram a funcionar os novos mecanismos de descontos de duplicadas e o de recebíveis de cartão de crédito. “A gente acertou”, comentou o secretário. “O custo de capital para os lojistas caiu muito.”


Os financiamentos ficaram menos caros porque esses mecanismos atacam um problema de boa parte dos empresários brasileiros, que é a falta de garantias para oferecer aos bancos na tomada de crédito.


O Pix como garantia é mais uma alternativa e será diferente do Pix Garantido, que é uma forma de os consumidores fazerem compras parceladas por esse meio de pagamento. Também é diferente do Pix Crédito, que permite às pessoas fazerem transferências usando o limite do cartão.


O governo também pretende “turbinar” o crédito consignado para trabalhadores do setor privado. Para isso, é necessário aprovar uma lei no Congresso Nacional. As regras, porém, ainda estão em discussão dentro do governo e deverão ser apresentadas ao longo de 2025.


Pelo que se sabe das discussões internas do governo, a principal diferença do novo consignado em relação ao atual é que as operações serão feitas diretamente entre o trabalhador e a instituição financeira, e não mais por meio das empresas. Com essa mudança, empregados domésticos com carteira assinada poderão ter acesso a esse crédito.


Os bancos deverão informar aos trabalhadores, por meio da carteira de trabalho digital, sobre a existência de empréstimo disponível e a taxa de juros a ser cobrada. Várias ofertas da modalidade poderão ser apresentadas, como se fosse um leilão.


Há, porém, uma questão política a ser resolvida antes de o projeto ser apresentado ao Congresso Nacional. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, quer acabar com o saque-aniversário Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e com os empréstimos feitos com base nele. Quer substituí-los pelo novo consignado. O Ministério da Fazenda e os bancos são contra, pois o crédito com base no saque-aniversário é a modalidade mais barata disponível hoje aos trabalhadores privados.


Além disso, há discussões pendentes quanto ao funcionamento dessa plataforma de crédito consignado para trabalhadores do setor privado. A tecnologia, porém, já está desenvolvida.


Governo vai recorrer ao STJ para permitir empréstimo consignado imediato a novos aposentados- Valor 2/1


Jéssica Sant'Ana


O governo vai recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) da decisão liminar do Tribunal Regional Federal da 1º Região (TRF-1) que suspendeu uma instrução normativa do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que permitia, a partir deste ano, que aposentados e pensionistas pudessem tomar empréstimo consignado sem respeitar o prazo de 90 dias da concessão do benefício.


A informação foi antecipada pelo jornal "O Globo". Segundo apurou o Valor, o recurso é preparado pela Procuradoria Federal Especializada do INSS.


Até o ano passado, havia uma regra que proibia que os novos aposentados e pensionistas pegassem empréstimo consignado – que tem desconto em folha – por 90 dias após a concessão do benefício. O objetivo era oferecer um prazo para reflexão sobre a necessidade da contratação do empréstimo.


Em agosto do ano passado, o INSS publicou uma Instrução Normativa (IN) permitindo que, a partir de 2025, os novos segurados pudessem pegar empréstimo imediatamente após o benefício ser concedido, desde que com o banco que venceu a licitação da folha. Foi uma forma de tornar o leilão, realizado em outubro do ano passado, mais atrativo.


A Crefisa venceu 25 dos 26 lotes oferecidos, só perdendo os benefícios concedidos em cidades do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, que ficarão com o banco Mercantil.


A Associação Brasileira de Bancos (ABBC), que representa instituições financeiras de médio porte, entrou na Justiça pedindo a suspensão da nova regra do INSS. A associação afirmou que a medida “claramente resulta em um desequilíbrio concorrencial em relação às demais instituições financeiras autorizadas a oferecer a modalidade”.


Para a ABBC, a mudança na regra do consignado cria uma reserva de mercado para os bancos pagadores da folha do INSS, prejudicando a livre concorrência.


Pela IN publicada pelo INSS, o banco vencedor do leilão, além de ficar com a folha de pagamento dos benefícios concedidos entre 2025 e 2029, poderia oferecer empréstimo consignado durante os 90 primeiros dias de concessão. Os demais teriam que esperar esse prazo.


Ainda em outubro, o Tribunal Regional Federal da 1º Região (TRF-1) acatou o pedido da ABBC e suspendeu a nova regra, fazendo valer a regra de 90 dias para todos os bancos. O governo vai agora recorrer ao STJ.


MEC libera R$ 774 milhões e 112 mil novas vagas para o Fies neste ano / De acordo com a pasta, esse volume de vagas também será disponibilizado em 2026 e 2027- Valor 2/1


Beth Koike


O Ministério da Educação (MEC) vai liberar, neste ano, R$ 774 milhões para a criação de 112 mil novas vagas do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).


Do total de vagas, 67.301 serão ofertadas nos seis primeiros meses do ano e 44.867, no segundo semestre. De acordo com o MEC, esse volume também será disponibilizado em 2026 e 2027.


Desde o ano passado, o Fies opera com novas regras. Das vagas totais, 50% são destinadas a candidatos inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) e com renda familiar per capita de até meio salário mínimo. Além disso, há cotas para pretos, pardos, indígenas, quilombolas e pessoas com deficiência.


A nova modalidade do programa, batizado de Fies Social, permite financiamento de até 100%. No primeiro semestre de 2024, 39.419 estudantes migraram do Fies para o Fies Social.


Das 112,1 mil vagas de Fies abertas no ano passado, apenas 19,15% foram preenchidas, entre janeiro e novembro de 2024. Nesse período, foram fechados 21,8 mil contratos de financiamento estudantil contra 48 mil no ano de 2023.


‘O juro alto também embute risco mais alto’, diz economista sobre saída forte de dólares do país em dezembro / Para Alex Agostini, da Austin Rating, incerteza fiscal por aqui também explica a fuga dos investidores- O Globo 3/1


João Sorima Neto


Para o economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, Alex Agostini, a saída forte de dólares do país em dezembro tem explicações diversas. Entre elas, os juros nos Estados Unidos, que caíram menos do que se esperava, e, claro, o risco fiscal do Brasil. Ele alerta ainda que, a Selic mais elevada no Brasil embute um risco maior.


Por que dezembro bateu recorde de saída de dólares do Brasil, mais até do que durante a crise de 2008?


Há várias explicações, e a taxa de juros nos Estados Unidos é uma delas. Havia expectativa de que ela caísse um pouco mais forte, mas, com a resiliência da atividade econômica e também do mercado de trabalho e da inflação, o juro está caindo em um ritmo mais moderado.


Com a chegada de Donald Trump a expectativa é de mais inflação e, portanto, de juro mais alto?


A expectativa é de mais inflação com Trump na presidência, o que exigirá do Federal Reserve (o Fed, banco central americano) uma postura mais austera em relação à taxa. Com juro mais alto nos EUA, os investidores neste momento de dúvida acabam indo para os Treasuries (títulos do Tesouro) americanos para proteger seu capital.


O que mais explica a fuga de investidores do Brasil?


A incerteza fiscal por aqui. Isso preocupa porque já temos um descontrole inflacionário, com o IPCA fechando em quase 4,9% este ano. Outro fator é o mercado doméstico aquecido, com crescimento de vendas, o que acabou elevando o envio de remessas de lucros e dividendos mais expressivos de companhias multinacionais.


Mas por que essa saída de dólares acabou sendo maior do que a da crise de 2008?


Nesses momentos de incerteza global, com riscos geopolíticos (Oriente Médio, Rússia e Ucrânia), os investidores tiram os recursos de países emergentes e levam para economias mais seguras. Esse cenário teve mais potencial para levar o investidor a tirar dólares daqui do que na crise de 2008.


Normalmente, quando o Brasil tem juro mais alto, atrai mais recursos de investidores. O que mudou?


Sim, quando o Brasil tem juro alto, o país recebe mais capital para aproveitar essa taxa. O problema é que agora o juro alto também embute risco mais alto, com uma dívida bruta em relação ao PIB crescente. Por isso o investidor saiu.


A possibilidade de taxação da alta renda também poderia ter levado à saída de dólares?


Não acredito. Na verdade é uma taxação de quem ganha R$ 50 mil ao mês. Alta renda a gente sabe que é muito mais que esse valor. Claro que quando a gente compara com a renda medina ado país, que é de R$ 3 mil, os R$ 50 mil são alta renda. Mas, para estímulo de investimento ou saída de capital, R$ 50 mil não é considerado alta renda.


Essa saída recorde se configura como uma fuga de dólares, uma crise?


Não, não é uma crise, que estimule uma fuga de capitais. É um “voo para qualidade”, o chamado fly to quality. Um momento mais para o país colocar as barbas de molho em termos domésticos e globais do que uma preocupação como na crise de 1997, no Sudeste asiático.

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