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IA Chinesa

 A destruição criativa da IA chinesa

29 jan. 2025
Estadão
A competição pela IA parecia vencida por umas poucas ‘big techs’ americanas. Mas uma startup chinesa mostrou que o jogo só começou e está aberto a empresas de todo o mundo
No seu discurso de posse na semana passada, o presidente americano, Donald Trump, anunciou uma “nova era eletrizante de sucesso nacional”. Turbinado pela tecnologia mais disruptiva de nosso tempo, talvez de todos os tempos, a inteligência artificial (IA), o sucesso do novo império americano poderia ir tão longe até fincar sua bandeira em Marte. Um dos primeiros compromissos de Trump foi anunciar planos para investimentos privados de meio trilhão de dólares no “maior projeto de infraestrutura de IA na história”.
Faz todo sentido. Dois anos após a OpenAI lançar o ChatGPT, o primeiro aplicativo de IA para o público em geral, o consenso é de que o desenvolvimento exige uma quantidade brutal de energia e de chips de última geração. Os investimentos em centros de dados pelas três gigantes da computação em nuvem (Alphabet, Amazon e Microsoft) e a Meta cresceram 57% em um ano, chegando a US$ 180 bilhões. A Microsoft, principal investidora da OpenAI, anunciou US$ 80 bilhões em infraestrutura para este ano; e a Meta, US$ 65 bilhões em IA. A tecnologia da IA parecia se concentrar em umas poucas big techs americanas, e os custos formariam uma fortaleza inexpugnável para os competidores.
Então, uma jovem, pequena e obscura startup chinesa, a DeepSeek, jogou uma granada na sala: lançou um modelo de linguagem de grande escala tão eficiente quanto o ChatGPT, mas produzido com uma quantidade muito menor de chips de segunda categoria e, portanto, com custos comparativamente ínfimos.
No fim de semana, o DeepSeek-R1 ultrapassou o ChatGPT em downloads. Na segunda-feira, as empresas de tecnologia americanas perderam US$ 1 trilhão no mercado de ações. As ações da campeã da produção de chips, a Nvidia, que cresceram 10 vezes em dois anos, o que a tornou a empresa mais valiosa do mundo, despencaram 17%, com perda de quase US$ 600 bilhões, a maior de um único ativo na história. Entre as empresas de energia, também foi um banho de sangue.
Rapidamente, investidores concluíram que estamos no “momento Sputnik da IA”, numa referência ao lançamento do satélite Sputnik pelos russos em 1957, evento que assustou os americanos, temerosos de perder a decisiva corrida espacial em meio à guerra fria. Para alento dos EUA, sabe-se que o “momento Sputnik” da URSS foi efêmero, pois os americanos, depois de investirem muito dinheiro e criatividade, acabaram superando os soviéticos nessa disputa e chegaram à Lua.
Mas a comparação tem limites. A DeepSeek não só é brutalmente mais barata, mas seus códigos são abertos. Qualquer empreendedor com uma quantidade moderada de dinheiro pode replicálos e redesenhá-los, o que deve multiplicar exponencialmente a oferta do serviço mundo afora.
Além do choque no mercado, as implicações geopolíticas são imensas. “O lançamento do DeepSeek deve ser um alerta para as nossas indústrias de que precisamos estar focados em competir para vencer”, disse Trump. “Isso é bom porque você não precisa gastar tanto dinheiro”, arrematou, como se fosse um CEO empenhado em aumentar margens de lucro, e não um presidente da República que deve pensar em estratégias de longo prazo.
No início dos anos 2000, a China se abriu ao mercado global e o inundou com produtos baratos. Como reação, não poucos países parecem ter entendido que esse desenvolvimento chinês se deu por causa do “capitalismo de Estado”, e não a despeito dele. Até os EUA agora emulam esse modelo, seja através de políticas industriais com impulso estatal, seja por meio de protecionismo brutal. Mas, assim como o crescimento econômico chinês das últimas décadas, o DeepSeek foi resultado do empreendedorismo. As tentativas dos EUA de controlar exportações de tecnologia, ao invés de sufocar a inovação chinesa, as estimularam. Os EUA e outros países precisam focar em competir, e não em proteger.
O jogo da IA parecia definitivamente vencido pelas big techs americanas. Mas a pequena DeepSeek não só mostrou que esse jogo está apenas começando, como conseguiu mudar completamente as regras. A corrida espacial foi disputada pelos governos de duas superpotências. A corrida pela IA agora pode ser disputada por empresas de todo o mundo.

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