Bruno Funchal 2801
EXCLUSIVO/BRADESCO ASSET/BRUNO FUNCHAL: NÃO ESTAMOS EM DOMINÂNCIA FISCAL
Por Karla Spotorno São Paulo, 28/01/2025
A economia brasileira não está em dominância fiscal. A política monetária está fazendo efeito e vai frear a demanda e, assim, a inflação. A avaliação é de Bruno Funchal, presidente da Bradesco Asset e exsecretário do Tesouro Nacional. "Não estamos em dominância fiscal. Quanto mais incerteza temos, mais risco fiscal e maior a possibilidade de dominância fiscal", disse Funchal em entrevista exclusiva ao Broadcast Investimentos. "Dominância fiscal é quando a política monetária não tem mais efeito nenhum. Com 10% de juros reais, a inflação vai baixar", disse Funchal (na foto) "Mas tenho certeza que com 10% de juros reais, a economia vai desacelerar, a inflação vai baixar. E a dominância fiscal é quando a política monetária não tem mais efeito nenhum. Não é o caso agora. Basta ver as projeções do mercado", ponderou Funchal. Nas projeções da Bradesco Asset, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerra 2025 a 5,7% e a 4% no ano seguinte. Para este ano, as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) são de 1,5% e da Selic em dezembro é de 15%. A inflação de alimentos, que incitou uma discussão sobre novas medidas por parte do governo federal, é resultado de choques tanto de oferta quando de demanda, na avaliação do economista. Ele pontua que o aumento da demanda resulta do crescimento da economia com queda do desemprego, aumento da renda e da expansão fiscal com pagamento de precatórios. "Acredito que o governo precisa ter tranquilidade e entender que tem duas ferramentas para administrar esse problema. Uma é fazer uma boa comunicação e explicar para a população o porquê dos aumentos de preços", disse. A outra ferramenta, apontada por Funchal, é "ornar a política fiscal com a política monetária". "O Banco Central tem de fazer uma política mais restritiva de juros e o governo tem de fazer uma política mais restritiva no fiscal. Porque se o Banco Central ficar pisando no freio e o governo pisando no acelerador, continua esse problema", disse Funchal. Efeito Trump Para Funchal, o programa de campanha do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é inflacionário. "A mensagem principal do Trump é impor tarifa e deportação [de imigrantes ilegais]. Isso é inflacionário", disse o executivo, fazendo uma ressalva: "Mas o Trump é um cara que vê as reações de mercado". E, por conta disso, abrandou algumas medidas, na visão de Funchal. Ele pontuou que, em relação ao "tarifaço", o governante já adotou medidas mais suaves do que aquelas prometidas durante a campanha eleitoral. "E isso até já refletiu nas expectativas de inflação e nos juros. Os juros de longo prazo nos Estados Unidos já estão menores do que estavam na época da eleição", afirmou Funchal. "Então, agora é observar e separar o que era discurso de campanha, o que era barganha comercial e política, e o que é a ação", afirmou. Gestão da dívida pública Sobre a gestão da dívida pública federal, Funchal não vê muita alternativa: com juros altos, é preciso atender a atual demanda por títulos pós-fixados. "O que seria o ideal? Uma dívida pré-fixada a níveis não muito elevados, de um dígito de preferência, e alongada. Isso traz previsibilidade. O problema é que não tem demanda para título pré. Não adianta 'forçar a mão'", afirmou. O ex-secretário do Tesouro disse que, diante da incerteza e dos juros altos, a demanda dos agentes de mercado vai permanecer nos títulos pós-fixados. "Só faz sentido mudar o perfil da dívida para prefixado quando a taxa de juros estiver estruturalmente mais baixa e o fiscal estiver resolvido", disse. Contato: karla.spotorno@estadao.com
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