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Amilton Aquino 2801

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"E Trump tomou posse. De um lado, vejo muita euforia. Do outro, muita lamúria. Narrativas à parte, o fato é que a ordem liberal estabelecida no pós-guerra, liderada pelos EUA e apoiada pelas democracias ocidentais, parece estar chegando ao fim. E, ao que tudo indica, sentiremos muita saudade dela. 


O mais lamentável de tudo isso é que a maioria das pessoas nem sequer entende o que essa ordem mundial do pós-guerra representou para a paz global. Como todo arranjo humano, era cheia de falhas, mas o que conquistamos nessas poucas décadas foi responsável pelo período mais pacífico e próspero da história da humanidade.


O fato é que o nosso frágil consenso, intermediado por organizações internacionais com regras básicas de convivência e, principalmente, com a proibição de guerras expansionistas e mecanismos de sanções comerciais como alternativa ao uso da força, está agora sendo questionado até mesmo pelos EUA, o principal fiador do arranjo anterior.


Nesta nova ordem mundial (multipolar), os tratados internacionais perdem importância, enquanto a lei do mais forte ganha força — inclusive com os EUA de Trump, que agora fala em anexar a Groenlândia, o Canadá e o Canal do Panamá.


Naturalmente, a maioria dos analistas geopolíticos vê essas ameaças sob o ponto de vista “transacional” de Trump, caracterizado por um discurso mais duro para negociar uma posição intermediária mais vantajosa logo em seguida. Se for realmente esse o caso, o máximo que pode acontecer é EUA e Dinamarca chegarem a um acordo para a exploração de minérios raros na Groenlândia (e, talvez, a instalação de bases militares), a obtenção de condições mais favoráveis para navios norte-americanos no Canal do Panamá e uma participação mais efetiva do Canadá e do México no controle da imigração para os EUA. Melhor assim. Vamos esperar para ver.


Um resultado mais rápido parece vir justamente com a arquirrival China, que já demonstrou disposição em comprar mais dos EUA para equilibrar melhor suas balanças comerciais. E, no acordo dos gigantes, claro, pode sobrar para os emergentes exportadores de commodities, como o Brasil, que correm o risco de perder mercado em ambos os países. A ver.


Quanto à Ucrânia, a primeira impressão é que Trump falou mais grosso com Putin do que ele esperava. A ameaça de Trump de impor novas sanções contra a Rússia pode não ter grande efeito, assim como sua provocação de que seu “amigo” Putin está destruindo a Rússia. Ainda assim, a forma contida com que os russos responderam a tais declarações demonstra que eles estão um pouco menos beligerantes.


Em segundo plano nas negociações entre os gigantes, os dois maiores párias mundiais — Irã e Coreia do Norte — continuam desmoralizando o principal instrumento de dissuasão da ordem mundial do pós-guerra: as sanções comerciais. Graças à China e à Rússia, seus principais aliados no drible às sanções, esses e outros párias seguem desafiando a ordem liberal, torcendo pelo sucesso dos BRICS, especialmente no objetivo de substituir o dólar como moeda de negociação comercial.


Se não perder a mão no discurso e conseguir evitar reunir o mundo contra si, Trump pode, sim, recuperar parte do protagonismo perdido pelos EUA. O problema é que sua fórmula aponta para o protecionismo e o isolacionismo, o que é ruim para o mundo, especialmente para a Europa. Mas aí está mais um cálculo de Trump: ele espera forçar a Europa a se armar contra a ameaça russa, reduzindo sua dependência do escudo norte-americano.


Mas como investir mais em defesa em um momento economicamente difícil? Eis o dilema da Europa. Ou seja, tudo parece apontar para a redução do Estado de bem-estar social, um dos fatores que atraem imigrantes de todo o mundo, especialmente islâmicos — a principal razão da tensão social que fortalece partidos nacionalistas e partidários de políticas de deportação em massa, defendidas por Trump.


No Oriente Médio, o conflito segue complicado. Mesmo lutando em sete frentes, Israel continua firme, apesar da celebração dos terroristas pelo acordo forçado pelos norte-americanos, que libertará milhares de terroristas em troca de algumas dezenas dos reféns que sobraram vivos. E a história se repete: o idealizador do ataque de 7/10 foi um dos mais de mil libertados em troca de um único soldado israelense na década passada. O fato é que os israelenses valorizam a vida; os terroristas, não. Eis a força dos terroristas, que comemoram como se tivessem vencido uma guerra, em meio aos destroços e com um número de vítimas 22 vezes maior que o lado israelense.


E, pasmem, há “judeu” petista comemorando junto com os terroristas, sugerindo que Lula contrate o pessoal do marketing do Hamas para a Secom!


E aqui eis um dos principais responsáveis pela vitória de Trump: a loucura woke, especialmente nas universidades norte-americanas, com a defesa explícita de terroristas, ostentando a bandeira palestina ao mesmo tempo em que queimaram a bandeira norte-americana. Mas a loucura woke apenas tornou o descolamento da realidade da esquerda mais evidente. O fato é que mesmo mesmo a esquerda do pós guerra nunca deu o devido valor à ordem liberal estabelecida.


Sim, é um mundo bem mais complicado. Não por acaso, o governo brasileiro parece mais cauteloso desde antes da vitória de Trump. Rejeitou a adesão da Venezuela aos BRICS, recusou a proposta de adesão à Rota da Seda chinesa e não respondeu à altura a provocação de Trump de que o Brasil precisa mais dos EUA do que os EUA precisam do Brasil.


Enfim, seguimos assistindo a tudo como se fosse um filme. Mas é vida real. Bem mais rápido do que o esperado, o mundo parece ter se cansado da cultura woke. A vitória de Trump representa isso também. O pêndulo está mudando para uma direita iliberal, já que o esquerdismo se apropriou de algumas bandeiras liberais e as levou ao extremo, provocando uma reação igualmente extremista. Resta saber se os exageros dos nacionalistas em ascensão não levarão ao retorno da esquerda woke ao poder no futuro."

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