Pular para o conteúdo principal

Amilton Aquino

 https://www.facebook.com/share/1VFBV2EAk8/


"A hora da verdade 


Preparem-se, amigos! Os próximos meses prometem ser intensos, com grandes inflexões no Oriente Médio, Europa, EUA, China, Argentina e Brasil. Vou focar neste post em Brasil e Argentina, mas aguardem um específico sobre geopolítica.


Vamos começar pelos hermanos. Assim como o Estadão publicou recentemente um editorial admitindo ter subestimado Milei, confesso que também enxerguei sua eleição com ceticismo. Não pelas ideias econômicas, com as quais tenho quase total concordância, mas porque considerava a Argentina um caso perdido: uma sociedade presa há décadas na ilusão paternalista deixada por Perón. Adicione-se o estilo espalhafatoso de Milei (que em alguns aspectos remete a Bolsonaro), a falta de base parlamentar e o fato de ser o primeiro libertário a liderar um país, e meu ceticismo foi às alturas.


Um ano depois, que grata surpresa. A Argentina melhorou quase todos os seus indicadores. Apesar da má vontade da imprensa, que sempre divulga suas conquistas seguidas de um “mas” – frequentemente apontando o aumento da pobreza como um "preço", ainda que este indicador quebrasse recorde sucessivos há anos –, o fato é que até mesmo este "calcanhar de Milei" começou a melhorar, e pelo quarto mês consecutivo. Portanto, em menos de um ano, já temos a reversão de trajetórias entre Brasil e Argentina. Vejamos:


O Brasil chega ao final de 2024 crescendo 3,5%, enquanto a Argentina ainda amarga uma recessão de 3,4%. Mas nossa vantagem termina por aqui. Nos demais indicadores, a trajetória da Argentina é de melhora gradativa, enquanto nós pioramos. Entre os indicadores macro mais voláteis, como juros, câmbio e desempenho da bolsa, por exemplo, perdemos de goleada: enquanto o Peso argentino foi a moeda que mais se valorizou no ano, o Real foi uma das que mais perdeu valor, pior até mesmo que a de países em guerra. O mesmo ocorre com os ETFs dos dois países, com a Argentina no topo e o Brasil na última posição.


Quanto aos juros, na mesa semana em que o Brasil elevou a Selic para 12,25%, a Argentina conseguiu reduzi-los para 32%. Sim, uma taxa ainda absurda, porém muito inferior ao recorde de 113% registrado no início do ano. No caso da inflação, seguimos em aceleração, enquanto a Argentina comemora a reversão de uma trajetória explosiva: apesar de ainda alta, a inflação mensal de 2,6% é dez vezes menor do que no início de 2024.


O risco-país também segue trajetórias opostas. O Brasil piorou de 121 para 172 pontos, enquanto a Argentina reduziu de incríveis 4.281 para 772. O mesmo ocorre com o desemprego e a recuperação salarial, que começaram a melhorar no segundo semestre. 


Apesar disso, a situação dos hermanos segue crítica devido à sua imensa dívida pública, que alcançou 155% do PIB em dezembro de 2023. Mesmo com dez superávits fiscais consecutivos, a economia desse esforço ainda não compensa os acréscimos dos altíssimos juros que incidem na dívida. Além disso, Milei enfrenta o desafio de manter o apoio de pelo menos 51% da população, algo delicado em um país que frequentemente recorre a soluções mágicas na economia.

Se conseguir contornar esses desafios, Milei pode se tornar não apenas a solução para a Argentina, mas também um exemplo para o mundo. Não à toa, foi capa da The Economist na semana passada.


Por aqui, infelizmente, continuamos no impasse, chegando ao ponto de o dólar cair forte com a notícia da cirurgia de Lula, porém voltando a disparar com expectativas de melhora, mesmo com o Banco Central vendendo bilhões de dólares para tentar conter a alta. 


Ou seja, apesar de o Brasil ter começado 2024 em uma posição muito melhor, com grandes reservas internacionais, uma dívida pública menor e quase toda interna, menores juros e inflação, nossa situação inspira menos confiança que a da Argentina. Como explicar? 


A diferença está nas posturas dos presidentes. Enquanto Milei prometeu e implementa um forte ajuste fiscal, cortando um terço dos gastos públicos, Lula – que assumiu com o primeiro superávit em uma década – termina o segundo ano resistindo até mesmo a economizar no cartão corporativo, que segue batendo recordes.


Quem planta colhe. Pena que quando se trata de governos, a colheita nem sempre coincide com o mandatário. Que Lula e Milei continuem vivos para colher os frutos de suas gestões."

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Prensa 0201

 📰  *Manchetes de 5ªF, 02/01/2025*    ▪️ *VALOR*: Capitais mostram descompasso entre receitas e despesas, e cresce risco de desajuste fiscal       ▪️ *GLOBO*: Paes vai criar nova força municipal armada e mudar Guarda   ▪️ *FOLHA*: Homem atropela multidão e mata pelo menos 15 em Nova Orleans  ▪️ *ESTADÃO*: Moraes é relator da maioria dos inquéritos criminais do STF

BDM 181024

 China e Netflix contratam otimismo Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato* [18/10/24] … Após a frustração com os estímulos chineses para o setor imobiliário, Pequim anunciou hoje uma expansão de 4,6% do PIB/3Tri, abaixo do trimestre anterior (4,7%), mas acima da estimativa de 4,5%. Vendas no varejo e produção industrial, divulgados também nesta 6ªF, bombaram, sinalizando para uma melhora do humor. Já nos EUA, os dados confirmam o soft landing, ampliando as incertezas sobre os juros, em meio à eleição presidencial indefinida. Na temporada de balanços, Netflix brilhou no after hours, enquanto a ação de Western Alliance levou um tombo. Antes da abertura, saem Amex e Procter & Gamble. Aqui, o cenário externo mais adverso influencia os ativos domésticos, tendo como pano de fundo os riscos fiscais que não saem do radar. … “O fiscal continua sentado no banco do motorista”, ilustrou o economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel, à jornalista Denise Abarca (Broadcast) para explicar o pa...

NEWS 0201

 NEWS - 02.01 Agora é com ele: Galípolo assume o BC com desafios amplificados / Novo presidente do Banco Central (BC) agrada em ‘test drive’, mas terá que lidar com orçamento apertado e avanço da agenda de inovação financeira, em meio a disparada no câmbio e questionamentos sobre independência do governo- O Globo 2/1 Thaís Barcellos Ajudar a reverter o pessimismo com a economia, administrar a política de juros, domar o dólar e a inflação — que segundo as estimativas atuais do mercado deverá estourar a meta também este ano —, além de se provar independente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, são os maiores desafios de Gabriel Galípolo à frente do Banco Central (BC). Mas não são os únicos. Com o orçamento do BC cada vez mais apertado, o novo presidente do órgão tem a missão de dar continuidade à grande marca de seu antecessor, Roberto Campos Neto: a agenda de inovação financeira. Também estão pendentes o regramento para as criptomoedas e um aperto na fiscalização de instituições...