Carlos Alberto Sardenberg, Para que servem as previsões

O Fundo Monetário Internacional trouxe notícias sobre o Brasil nesta semana. A boa: pela nova projeção, que aparece no Panorama Econômico Mundial, a economia brasileira deverá crescer 3% neste ano. A ruim: a dívida pública continuará subindo neste e nos próximos dois anos, de acordo como relatórioMonitor Fiscal.

O governo, claro, gostou da primeira e rejeitou a segunda.

Mas uma ampla opinião entre economistas brasileiros concorda com as duas informações. Na verdade, é o contrário. O FMI é que chegou agora às projeções já feitas por aqui. É normal.

O fundo produz duas versões por ano do extenso documento que dá uma geral na economia mundial. A instituição tem seus próprios especialistas, mas está claro que se baseia em dados produzidos localmente. E esses dados são gerados toda semana.

O Boletim Focus, publicado toda segunda-feira pelo Banco Central (BC), traz o que se chama de “consenso de mercado”. Não é, pois, a opinião do BC, mas de mais de uma centena de instituições financeiras e consultorias que, toda sexta-feira, enviam seus cenários para o banco. Os técnicos tabulam tudo no fim de semana e chegam às medianas, publicadas no Focus.

Muita gente reclama dos erros nas previsões.O presidente Lula e o ministro Haddad não perdem oportunidade de lembrar que, no início deste ano, o Focus previa umcrescimento bem menor do que de fato vem ocorrendo. Mas é normal, em qualquer país, que previsões sejam refeitas. Elas refletem os dados disponíveis no momento, um quadro que pode mudar.

É possível antecipar com alguma antecedência o tamanho da safra agrícola, incluindo aí previsões do tempo.

Não se prevê, entretanto, um desastre climático, uma mudança brusca que derruba plantações. Do mesmo modo, observando dados sobre a economia mundial, pode-se fazer uma previsão bem aproximada do consumo de energia e, pois, dos preços do petróleo. Até que estoura uma guerra, e lá se vão os prognósticos.

E o dólar? Pelo Boletim Focus, a moeda americana será negociada a R$ 5,42 em 31 de dezembro deste ano. Qual a chance de acertar? Zero. E, se acertar, terá sido por acaso. Sãomuitas variáveis em jogo. Se Trump ganhar, espera-se um dólar mais forte no mundo todo e, pois, a desvalorização das moedas locais, incluindo o real. Se Kamala ganhar, o cenário será diferente. Uma declaração desastrada de Lula—da quelas que rejeitam cortes de gastos—faz subir o dólar e os juros.

Tudo considerado, poderá perguntar o leitor: se é assim, por que fazer previsões? Porque elas indicam as tendências, mostram o que seria o normal, descontadosos eventuais desvios. Por isso, são constantemente refeitas, agregando novos dados. No fim das contas, dá certo.

Neste momento, governo, economistas e FMI concor-

dam que o Brasil crescerá em torno de 3% neste ano.O go-

verno é sempre um pouco mais otimista, mas também ele

esperava menos quando 2024 se iniciou. Quanto às contas

públicas, FMI e boa parte dos economistas brasileiros con-

cordamquehaverádéficitsexpressivosemtodososanosdo

governo Lula. Gastará mais do que arrecada. O ministro

Haddad continua falando em déficit zero, ou perto disso,

mas há muita desconfiançana praça.

Não por causa dele, ministro, mas por causa de Lula, de parte do governo e do Congresso. Neste lado do cenário, ou o pessoal quer gastar ou quer oferecer reduções de impostos e subsidiar certos setores da economia. Combinação ex plosiva: mais gasto, menos receita.

O mercado aprecia quando Haddad declara que as metas do arcabouço fiscal—déficit zero, com ganhos de receita e cortes de gasto —serão cumpridas. Declarações nesse sentido derrubam dólar e juros, empurrama Bolsa para cima. O pessoal desconfia é da capacidade e da força política do ministr de impor essa agenda dentro do governo e no Congresso.

Enquanto permanece a desconfiança, a perspectiva é de crescimento menor em 2025, por causa dos juros altos, consequência dos déficits, da dívida pública em alta.

Viram como é difícil acertar as previsões?

Para que servem as previsões?

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sardenberg@cbn.com.br

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

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