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Alex Ribeiro

 ANALISE: O desafio do BC para manter o aperto monetário apenas com a comunicação


Alex Ribeiro De São Paulo


 


O Banco Central enfrenta o desafio de manter o grau de aperto monetário necessário para cumprir a meta de inflação apenas com a sua comunicação, agora que o ciclo de alta da taxa Selic se aproxima do fim.


O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse na segunda-feira, em evento da Goldman Sachs, que o Comitê de Política Monetária (Copom) ainda está calibrando o grau de aperto monetário adequado para baixar a inflação para a meta — portanto, ainda não se sabe se ele terminou. E afirmou que, cada vez mais, ganha importância manter os furos altos por mais tempo do Que em ciclos de aperto anteriores.


A reação do mercado foi considerar nas opções de Copom da B3 chances maiores (70%) de manutenção da taxa básica em 14,75% ao ano na reunião do colegiado de junho, além de reduzir um pouco a trajetória da Selic precificada em praticamente todos os prazos da curva de juros futuros.


Cada vez mais, os mercados buscam pistas nos pronunciamentos do BC sobre quando os juros precisarão baixar. Já a preocupação do próprio BC é convencer o mercado de que não é hora de falar em corte de juros e que a Selic precisa seguir em níveis elevados.


Especialistas em política monetária do mercado estão fazendo propostas ao BC para lidar com o problema. No evento da Goldman Sachs, mais de um analista econômico sugeriu que o Banco Central adote um "forward guidance" (prescrição futura) para mostrar um firme compromisso de manter a taxa de juros em patamar apertado.


Não é o que o BC pretende fazer. No evento, Galípolo respondeu que, num ambiente de incertezas como o atual, o Copom precisa manter flexibilidade para mudar a política monetária se o cenário econômico não se desenrolar da forma esperada. Por isso, não achava adequado fazer um "forward guidance".


Ainda assim, o Banco Central está fazendo uma espécie de indicação futura de sua intenção para a taxa de juros. Porém, essa comunicação, tecnicamente, não pode ser chamada de "forward guidance", já que ela não amarra as mãos do Copom para seguir uma prescrição independentemente do que vier a acontecer no futuro.


Qual é a indicação futura do BC? O comitê disse, no comunicado de sua reunião de maio, que o "cenário prescreve uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta".


Na segunda-feira, Galípolo foi um pouco além: deu uma ideia do prazo mínimo em que seria preciso manter o aperto. Segundo ele, como o aperto monetário de 2021 a 2023 não surtiu o efeito necessário para esfriar a economia, desta vez será preciso manter o grau de aperto por mais tempo. Naquele período, o comitê manteve o juro em 13,75% ao ano por sete reuniões. Então, desta vez, precisaria ser mais do que sete reuniões.


Essa indicação futura não é uma promessa firme porque o BC procurou manter a flexibilidade para reagir a mudanças no cenário. A única promessa que o Copom faz é a de fazer o que for necessário para cumprir a meta de inflação, seguindo sua forma usual de agir — o que, tecnicamente, chama-se de "função de reação".


Como não amarrou as mãos, a desconfiança no mercado é que, a despeito das promessas, o Banco Central vá ceder à tentação de cortar. É por isso que alguns especialistas em política monetária têm sugerido um compromisso mais firme. Ex-diretor de política econômica do BC, Fabio Kanczuk sugeriu a Galípolo, no evento da Goldman Sachs, que a autoridade monetária se comprometesse a não baixar o juro até a inflação cair abaixo de 3,5%.


Ou seja, o Copom só flexibilizaria depois que a inflação, hoje em 5,53%, andasse mais de 80% de seu percurso em direção à meta, de 3%. Mas essa regra limitaria a margem de manobra do BC. Quando decide a taxa de juros, o Copom considera como vários outros fatores podem afetar a inflação muitos trimestres à frente, como expectativas de inflação, o grau de aquecimento da economia e todos os riscos mapeados. A intenção do "forward guidance" sugerido por Kanczuk seria exatamente essa: o BC se comprometeria a fazer algo mesmo que a sua função de reação mandasse fazer algo diferente.


Como o Copom não fez um "forward guidance", a sustentação dos juros de mercado vai depender da credibilidade do comitê. Ou seja: o mercado tem que acreditar que o Copom vai seguir com a postura austera necessária para baixar a inflação para a meta. Com o choque de juros em dezembro, o BC de Galípolo ganhou alguns pontos, mas a reputação do BC será testada a cada comunicação e decisão.

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