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Ordem econômica global

 A visão de Scott Bessent e Stephen Miran para remodelar a ordem econômica mundial reflete uma abordagem estratégica que combina políticas econômicas agressivas com uma reorientação do papel dos Estados Unidos no comércio global, embora suas ideias nem sempre estejam perfeitamente alinhadas ou totalmente implementadas na prática pelo governo Trump em 2025. Bessent, como Secretário do Tesouro dos EUA, e Miran, um ex-conselheiro econômico sênior do Tesouro e coautor de um influente artigo econômico, compartilham a crença de que o sistema econômico internacional precisa ser ajustado para priorizar os interesses americanos, mas suas perspectivas diferem em detalhes e execução.


*Visão de Scott Bessent:* Bessent defende uma reestruturação do sistema econômico global que fortaleça a posição dos EUA, usando ferramentas como tarifas e políticas fiscais para "rebalancear" as relações comerciais. Ele vê as tarifas não como um fim, mas como um meio de pressionar outros países a negociar termos mais favoráveis aos EUA, promovendo o que chama de "interligações que podem ser reordenadas para avançar os interesses do povo americano". Em discursos recentes, como o de março de 2025 no Economic Club de Nova York, ele argumentou que o acesso a bens baratos não é o cerne do "sonho americano", justificando os custos de curto prazo (como preços mais altos) em prol de ganhos estratégicos de longo prazo. Bessent também propôs o "Plano 3-3-3" — reduzir o déficit orçamentário para 3% do PIB, alcançar 3% de crescimento do PIB e aumentar a produção de petróleo em 3 milhões de barris por dia —, visando estabilizar a economia americana enquanto pressiona parceiros comerciais. Ele acredita que essa abordagem, combinada com uma postura firme contra adversários como a China (com tarifas de até 54% em 2025), pode iniciar uma "era dourada" para os EUA, reafirmando sua dominância econômica.


*Visão de Stephen Miran*: Miran, em um artigo de novembro de 2024 amplamente debatido, sugere uma estratégia mais estruturada, inspirada no Acordo de Plaza de 1985, que ajustou moedas globais para beneficiar os EUA. Ele propõe um "Acordo de Mar-a-Lago", um pacto comercial e monetário que enfraqueceria o dólar em relação a outras moedas para impulsionar as exportações americanas e reduzir déficits comerciais, especialmente com países como China e Vietnã. Diferentemente de Bessent, que foca em tarifas como alavanca tática, Miran enfatiza uma coordenação multilateral para redefinir as regras do comércio global, embora reconheça em entrevistas que essa não é a política exata de Trump em 2025. Ele vê as tarifas de Trump como parte de um plano mais amplo para forçar negociações, mas alerta que, sem um acordo formal, o resultado pode ser caótico.


*Convergências e Divergências*: Ambos concordam que o sistema atual, herdado de Bretton Woods, favorece países com superávits comerciais (como China e Vietnã) às custas dos EUA, e que os americanos devem usar seu poder econômico para corrigir isso. Bessent, porém, adota uma postura mais pragmática e unilateral, enquanto Miran busca uma solução mais sistêmica e multilateral. Em 2025, as ações de Trump — como tarifas de 46% sobre o Vietnã e 20% sobre a UE — refletem mais a visão de Bessent de pressão imediata do que o plano coordenado de Miran. Críticos, como o economista Adam Tooze, chamam isso de "sane-washing", sugerindo que se tenta impor racionalidade a decisões impulsivas de Trump.


*Impacto Proposto*: Juntos, eles imaginam um mundo onde os EUA recuperam a liderança econômica, reduzindo a dependência de cadeias de suprimentos estrangeiras e forçando países a alinharem suas políticas aos interesses americanos. Isso incluiria desincentivar a "desdolarização" e conter a ascensão da China como superpotência econômica, embora Miran note que a China, ao contrário do Japão em 1985, não é subordinada militarmente aos EUA, tornando acordos mais difíceis. Em resumo, a visão de Bessent e Miran é ambiciosa, mas enfrenta desafios como resistência global, inflação doméstica e a imprevisibilidade das decisões de Trump.


*o que pode dar certo e o que pode dar errado na implementacqao atual da estrategia ?*


A implementação da estratégia de Scott Bessent e Stephen Miran, conforme refletida nas políticas econômicas dos EUA em 2025 sob a administração Trump, tem potencial para gerar resultados positivos e negativos, dependendo de como os fatores econômicos, políticos e globais se desenrolam. Aqui está uma análise do que pode dar certo e do que pode dar errado, com base no contexto atual e nas dinâmicas descritas:


*O que pode dar certo:*


*Fortalecimento da Indústria Doméstica*  

*Como*: As tarifas elevadas (46% sobre o Vietnã, 54% sobre a China, 20% sobre a UE) podem incentivar a produção nos EUA, especialmente em setores como manufatura e energia. O aumento de 3 milhões de barris diários na produção de petróleo, parte do plano de Bessent, já mostra sinais de progresso em 2025, com o Texas e o Dakota do Norte ampliando operações.  


*Por quê:* Reduzir a dependência de importações pode criar empregos e fortalecer a resiliência econômica americana, alinhando-se à visão de "America First".


*Pressão Negociadora Bem-Sucedida*  

*Como:* Países como o Vietnã e a UE, enfrentando tarifas punitivas, podem ceder em negociações bilaterais, comprando mais produtos americanos (como LNG ou soja) para evitar perdas maiores. Em março de 2025, o Vietnã já sinalizou interesse em importar mais etanol e equipamentos dos EUA para equilibrar o déficit comercial.  


*Por quê:* Bessent vê as tarifas como uma alavanca tática, e, se bem calibradas, elas podem forçar concessões sem escalar para uma guerra comercial total.


*Estabilização Fiscal e Crescimento*  

*Como:* O "Plano 3-3-3" de Bessent — déficit em 3% do PIB, crescimento de 3% e mais 3 milhões de barris de petróleo — pode ser alcançado se os cortes fiscais propostos (como os 2 trilhões de dólares em debate no Congresso em abril de 2025) estimularem a economia sem disparar a inflação.  


*Por quê:* Um dólar mais competitivo (como sugerido por Miran) e maior produção energética podem atrair investimentos e aumentar as exportações.


*Contenção da China*  

*Como:* Tarifas altas e sanções podem limitar a expansão econômica chinesa, especialmente em tecnologia e manufatura, enquanto os EUA atraem cadeias de suprimentos de volta ao Ocidente ou para aliados próximos.  


*Por quê*: Isso reforçaria a dominância americana e enfraqueceria um rival estratégico, um objetivo central da estratégia.


*O que pode dar errado:*


*Inflação e Custos para o Consumidor*  

*Como:* Tarifas amplas já elevaram os preços de bens importados em 2025 — roupas do Vietnã subiram 15% e eletrônicos da China, 20%, segundo o Bureau of Labor Statistics. Sem alternativas domésticas imediatas, os consumidores americanos arcam com o custo.  


*Por quê*: Bessent minimiza isso como um preço pelo "sonho americano", mas a insatisfação pública pode crescer, pressionando o governo a recuar.


*Retaliação Comercial*  

*Como:* A UE ameaçou em abril de 2025 impor tarifas de 25% sobre carros americanos, e a China pode retaliar reduzindo compras de soja e Boeing, afetando estados agrícolas e industriais dos EUA. O Vietnã, por sua vez, cortou importações de algodão americano em 10% como resposta inicial.  


*Por quê:* Parceiros comerciais não estão passivos, e uma guerra comercial pode reduzir as exportações americanas, anulando ganhos das tarifas.


*Fracasso na Coordenação Global*  

*Como:* O "Acordo de Mar-a-Lago" de Miran exige cooperação multilateral, mas a abordagem unilateral de Trump e Bessent (tarifas primeiro, negociações depois) alienou aliados. A UE e o Japão rejeitaram propostas de ajuste cambial em uma cúpula em fevereiro de 2025.  


*Por quê:* Sem um acordo tipo Plaza, o dólar pode se fortalecer demais (já subiu 5% em 2025), prejudicando exportadores americanos.

*

**Desafios Domésticos e Político*s*  

**Como*: Cortar o déficit para 3% do PIB exige reduzir gastos ou aumentar impostos, mas o Congresso, dividido, resiste. A inflação (4,2% em março de 2025) e os juros altos do Fed (mantidos em 5%) podem frear o crescimento, frustrando o alvo de 3%.  


*Por quê:* A estratégia depende de execução precisa, mas a imprevisibilidade de Trump e a polarização política podem descarrilar os planos.


*Resistência da China e Desdolarização*  

*Como:* A China, menos dependente dos EUA que o Japão em 1985, intensificou esforços para usar o yuan em acordos com o Sudeste Asiático e a África, reduzindo o domínio do dólar. Em 2025, 12% do comércio Vietnã-China já é em yuan.  


*Por quê:* Isso mina a alavanca americana e pode levar a uma ordem econômica multipolar, contrária aos objetivos de Bessent e Miran.


*Cenário Balanceado:*


*Sucesso Parcial:* As tarifas podem trazer alguns ganhos (mais empregos em Ohio, por exemplo, com fábricas realocadas), e o petróleo extra pode estabilizar preços energéticos. Mas os custos inflacionários e as retaliações provavelmente limitarão o impacto, enquanto a falta de um acordo global deixa a estratégia incompleta.  


*Risco Principal:* Se a inflação disparar (acima de 5%) ou aliados como a UE se voltarem para a China, a tentativa de remodelar a ordem econômica pode sair pela culatra, enfraquecendo os EUA em vez de fortalecê-los.


A implementação atual é um jogo de alto risco: pode dar certo se os EUA calibrarem a pressão e conseguirem concessões rápidas, mas pode dar errado se o resto do mundo resistir ou se os custos internos se tornarem insustentáveis. Até abril de 2025, os sinais são mistos — crescimento modesto, mas tensões crescentes.

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