*Rosa Riscala: Agenda cheia encerra a semana*
… Em meio ao estresse dos mercados em Wall Street, JP Morgan, Wells Fargo e Morgan Stanley abrem a temporada de balanços, antes da abertura. O ânimo dos investidores com a trégua das tarifas não durou 24 horas e os sinais da guerra comercial que Trump mantém com a China voltaram com tudo, refletindo os riscos de inflação e recessão global, que parecem não ter solução a curto prazo. Na agenda tem Lagarde, PPI nos EUA, sentimento do consumidor americano e Fed boys alertando para as incertezas do cenário. No Brasil, são destaques: o IPCA de março e o IBC-Br de fevereiro (ambos às 9h), além de uma entrevista ao vivo de Fernando Haddad à BandNews (8h50).
… Com o mercado novamente negativo, o presidente Trump tentou injetar ânimo nos investidores, repetindo que quer um acordo com a China e restabelecer as relações bilaterais. “Xi Jinping tem sido meu amigo por muitos anos e espero conversar com ele”.
… O presidente chegou a dizer que “autoridades chinesas” já teriam entrado em contato com o governo americano, mas que não poderia revelar quem. “Só posso dizer que estou esperançoso”. Não conseguiu reverter o pessimismo.
… Enquanto isso, as projeções continuam a ser feitas considerando as piores variáveis.
… Para a Capital Economics, a tarifa de 145% imposta pelos Estados Unidos à China pode reduzir o PIB global em até 1% nos próximos dois anos, caso não haja avanços em acordos comerciais. A China seria a mais prejudicada, com retração de 1,2% do PIB.
… Os efeitos indiretos também atingiriam Canadá e México, que seriam afetados pela desaceleração da economia americana. UE, Índia e Japão sofreriam impactos mais contidos, enquanto o Reino Unido praticamente escaparia ileso.
… O economista-chefe do banco BTG Pactual, Mansueto Almeida, afirma que a falta de acordo entre os EUA e a China afeta os preços de commodities e prejudica países da América Latina, como o Brasil, que são grandes exportadores de produtos básicos.
… Segundo ele, além da instabilidade e possível queda no preço das commodities, as incertezas ainda devem dificultar investimentos de empresas no Brasil, uma vez que elas vão buscar moedas mais fortes. “O cenário é delicado.”
… Em entrevista à CNN no final da tarde, o conselheiro econômico da Casa Branca, Peter Navarro, também tentou acalmar os mercados, dizendo que Índia, Austrália e Reino Unido já estão em negociação com os EUA. “Os acordos vão acontecer o mais rápido possível.”
… Hoje, o ministro de Política Econômica e Fiscal do Japão, Ryosei Akazawa, disse que deseja visitar os EUA “o mais rápido possível” para abrir negociações sobre as tarifas aplicadas pela Casa Branca, que, segundo ele, são “uma crise nacional”.
UNIÃO EUROPEIA – A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse ontem que a UE buscará um acordo “completamente equilibrado”, mas alertou estar pronta para expandir dramaticamente a guerra comercial se essas negociações falharem.
… “Estamos desenvolvendo medidas retaliatórias. Há uma ampla gama de contramedidas em estudo e podemos incluir um imposto sobre as receitas de publicidade digital que afetaria grupos de tecnologia como Meta, Google e Facebook.”
… Pouco antes, Trump disse que a União Europeia foi “esperta” ao recuar em retaliações aos EUA. “Viram o que fizemos com a China e resolveram recuar”, disse o presidente, em referência ao aumento das tarifas aos produtos chineses, atualizadas para 145%.
… Trump informou que lidará com a UE como bloco ao negociar as tarifas, descartando acordos individuais com os países membros.
… Enquanto isso, a China fica soltando notícias sobre a aproximação com a Europa (pra cutucar a onça).
… Hoje, o South China Morning Post informa que os líderes da União Europeia estão planejando viajar para Pequim para uma cúpula com o presidente chinês, Xi Jinping, no final de julho.
HADDAD – O ministro deve ser questionado hoje na entrevista à BandNews sobre a crise tarifária nos EUA, mas ele tem tido todo cuidado para tratar do tema, porque o governo brasileiro ainda espera negociar um acordo para os 10% e os 25% do aço e do alumínio.
… Haddad reconhece que há “muita insegurança” sobre o que está acontecendo porque não há uma diretriz clara [de Trump], afirmando que, por ora, não é possível fazer uma avaliação criteriosa. “Vamos aguardar o posicionamento final para saber como proceder.”
… Aos jornalistas nesta 5ªF, Haddad negou estudo na Fazenda ou na Casa Civil para ampliar a tarifa social da energia elétrica, como havia dito o ministro Alexandre Silveira (MME) pouco antes, antecipando que o número de beneficiados aumentaria em 50%.
… Também descartou que haja previsão de alterar a meta de resultado primário para o ano que vem, de um superávit de 0,25% do PIB. A meta estará prevista no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026, que será divulgado na próxima 3ªF (15).
… Haddad admitiu ainda que pode haver uma audiência de conciliação entre governo e Senado no STF sobre a política de desoneração da folha, já que as medidas aprovadas pelo Congresso não foram suficientes para compensar a perda de arrecadação com o benefício.
… O relator da matéria, ministro Cristiano Zanin, acionou o Senado a se manifestar, após ter sido informado pela AGU do risco de prejuízo de R$ 20,23 bilhões para os cofres públicos neste ano, com a prorrogação da renúncia fiscal.
… O governo quer garantir no STF a compensação da perda de receita com a desoneração da folha, seja por meio da revisão do benefício, de um aperto maior na regra para reoneração gradual ou até mesmo exigindo que o Congresso apresente as soluções.
… Essa é uma das preocupações da equipe econômica nos próximos meses.
IPCA – A inflação deve arrefecer para 0,54% em março, após alta de 1,31% em fevereiro. As projeções variam de 0,46% a 0,59%. O IPCA em 12 meses deve subir para 5,46%, de 5,06% até fevereiro. O dado será divulgado pelo IBGE às 9h.
… A saída do efeito rebote do bônus de Itaipu na tarifa de energia elétrica, somada ao alívio no preço de combustíveis, deve contribuir para a desaceleração da alta do IPCA em março, de acordo com economistas consultados pelo Projeções Broadcast.
… De outro lado, o mercado prevê aceleração no grupo Alimentação, como alta de alimentos in natura, como tubérculos, carnes e ovos.
… Também a média dos núcleos deve desacelerar de 0,60% para 0,45% em março, com recuo nos preços livres (0,68% para 0,63%), preços administrados (3,16% a 0,27%), bens industriais (0,40% a 0,24%), serviços (0,82% a 0,59%) e serviços subjacentes (0,69% a 0,63%).
… Já a expectativa para a alimentação no domicílio é de alta do núcleo do IPCA (de 0,79% para 1,30%).
… Ainda que os números da inflação agradem, a recente depreciação do câmbio – com as incertezas causadas pelas tensões das tarifas de Trump – surgem como obstáculo para as expectativas de que o BC possa encurtar o ciclo de alta da Selic.
IBC-BR – A mediana do mercado indica expansão de 0,30% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central de fevereiro, após alta de 0,89% em janeiro. A produção agropecuária e o resultado acima do esperado dos serviços prestados devem impulsionar o IBC-Br.
… Os dados serão divulgados pelo Banco Central às 9h, tendo como novidade as aberturas setoriais do indicador.
… Nesta 5ªF, a Pesquisa Mensal de Serviços mostrou alta de 0,8% em fevereiro ante janeiro, superando o teto das estimativas (0,4%).
MASTER – Gabriel Galípolo reúne-se (9h) com o presidente do Banco Master, Daniel Vorcaro, na sede do BC em Brasília.
NOS EUA – O Índice de Preços ao Produtor (PPI) de março nos EUA tem estimativa de alta de 0,3% para o núcleo na margem, após -0,1% em fevereiro, subindo para 3,5% na comparação anual (de 3,4% em fevereiro). O dado será divulgado às 9h30.
… Nesta 5ªF, o índice de preços ao consumidor (CPI), com alta de 0,1% do núcleo em março, veio abaixo da mediana (0,3%).
… Às 11h, é importante a preliminar de abril do Índice de Sentimento do Consumidor medido pela Universidade de Michigan, que deverá recuar para 54,0 (57,0 em março). Junto, saem as expectativas de inflação para 1 ano e para 5 anos.
FED BOYS – Mais dois dirigentes do Fed falam hoje Alberto Musalem/St. Louis (11h) e John Williams/NY (12h).
… Na Polônia, a presidente do BCE, Christine Lagarde, participa de coletiva de imprensa do Eurogrupo à primeira hora (6h45).
… Nesta 5ªF, Austan Goolsbee (Chicago) disse que a incerteza pode frear os investimentos. “Há muita ansiedade nas empresas que visito. Temem que a inflação volte a sair do controle, como em 2021.” Disse ainda que a barra para mexer nos juros está “bastante alta”.
… Jeffrey Schmid (Kansas City) disse que está “preocupado que qualquer novo aumento nos preços possa subir ainda mais as expectativas de inflação”, e ressaltou que a política atual e o ambiente econômico tornaram-se “consideravelmente mais complicados”.
… Susan Collins (Boston), que as tarifas, “grandes e abrangentes”, podem elevar o núcleo do PCE para “bem acima de 3% este ano”.
BALANÇOS EM NY – Pesos pesados de Wall Street puxam a fila da temporada de balanços, que estreia daqui a pouco, antes da abertura dos mercados. Além de JPMorgan, Wells Fargo e Morgan Stanley, também a BlackRock divulga resultados.
… A FactSet estima que o setor financeiro registre a quinta maior taxa de crescimento anual dos lucros entre todos os 11 setores do S&P 500 no 1Tri, com 2,3%. A exceção deve ser o mercado de seguros, que deve reportar queda de 15% nos lucros do 1Tri.
… Muitas seguradoras americanas devem reportar perdas no período por conta dos incêndios florestais em Los Angeles, no início do ano. Os prejuízos foram estimados entre US$ 20 bilhões e US$ 25 bilhões por casas como Evercore ISI e a corretora britânica Aon.
… Reportagem da correspondente da AE em NY, Aline Bronzati, revela que analistas adotaram cautela nas projeções para os lucros devido aos receios com o impacto das tarifas, definindo um corte de 4,2% para o período sobre as estimativas anteriores.
… O grupo conhecido como Sete Magníficas sofreu cortes ainda maiores nas projeções para os lucros, de cerca de 10%, diante dos receios tarifários. Apple, Alphabet (dona do Google), Nvidia, Microsoft, Amazon e Tesla já caíram em bloco nesta 5ªF (abaixo).
NÃO COLOU – Em seu esforço para tranquilizar os mercados, Trump também sugeriu ontem à tarde que a pausa das tarifas recíprocas poderia ser maior que 90 dias. Mas as bolsas em Wall Street não tomaram nota e continuaram caindo.
… A pausa nas retaliações anunciada pela UE também não contribuiu para amenizar o clima.
… A senha para as ações entrarem em nova liquidação, depois da alta histórica da véspera, foi o esclarecimento da Casa Branca de que as tarifas aplicadas à China não somavam 125%, mas sim 145%. Tinham esquecido dos primeiros 20%.
… Liderando as perdas das Sete Magníficas, a ação da Tesla caiu 7,3%. Mas todas sofreram quedas expressivas: a Meta devolveu 6,7%, a Nvidia, -5,9%; Amazon, -5,2%; Apple, -4,3%; Alphabet, -3,53%; e Microsoft, -2,3%.
… O S&P 500 fechou em queda de 3,46% (5.268,05 pontos). Nasdaq, -4,31% (16.387,31). E Dow Jones, -2,50% (39.593,66).
… A deflação do CPI, que seria excelente notícia, foi ofuscada pelo vaivém das tarifas. Mesmo porque, o futuro já começou.
… Analistas não acreditam que a leitura benigna da inflação, antes do anúncio das tarifas recíprocas, seja sustentada nos meses à frente diante da guerra comercial com a China, e mesmo com as relações instáveis com outros países.
… A deflação, então, sugeriu uma diminuição na demanda com o medo de recessão provocada pelo aumento das tarifas de importação.
… Apesar do dado, no fim da tarde o FedWatchTool, da CME, mostrava aposta majoritária (71%) na manutenção dos juros na reunião do Fed em maio. Para todo o ano, as apostas se dividiam entre corte total de 100pbs (33,2%) e de 75pbs (30,7%).
… Investidores seguiram se desfazendo de Treasuries, com consequente alta dos rendimentos. Os juros dos títulos tiveram um momento de alívio após a divulgação do CPI, mas foi só. Depois, apenas o yield da note de 2 anos caiu a 3,845% (de 3,921%).
… O rendimento da note de 10 anos subiu a 4,412% (de 4,352% na véspera) e do título de 30 anos subiu a 4,921% (de 4,891%). Um leilão de bonds de 30 anos teve boa demanda, mas sem conseguir reduzir o juro do papel.
… A liquidação dos títulos do Tesouro americano teria sido o gatilho para o recuo de Trump, à medida que estariam colocando em risco a confiança no governo dos Estados Unidos. Cerca de US$ 8,5 trilhões desses papéis estão nas mãos de países estrangeiros.
… Japão (US$ 1 trilhão), China (US$ 760 bilhões) e Reino Unido (US$ 740 bilhões) são os maiores detentores.
… Também o dólar foi mal. O mercado global voltou a dar preferência a moedas como o iene e o franco suíço. O índice DXY caiu 1,97%, a 100,867 pontos. O euro disparou 2,07%, para US$ 1,1175, e a libra subiu 1,05%, a US$ 1,2948. O iene avançou 1,96%, a 144,529/US$.
… Entre as moedas emergentes, o dólar levou a melhor e o real continuou com um dos piores desempenhos diários entre seus pares. No mercado à vista a moeda americana subiu 0,88%, a R$ 5,8988. Na máxima, chegou a R$ 5,95.
… Os juros tiveram alta firme nos vencimentos médios e longos, com o mercado avesso ao risco e sob pressão do câmbio.
… O DI Jan/26 ficou estável em 14,805%; o Jan/27 subiu a 14,520% (de 14,475% na véspera); o Jan/29, foi para 14,470% (de 14,350%); o Jan/31, para 14,790% (de 14,600%) e o Jan/33, avançou a 14,900% (de 14,700%).
… Com as tensões crescendo entre Estados Unidos e China, as commodities foram novamente penalizadas, o que é ruim para o Ibovespa, que tem cerca de 35% de seu peso relacionado a empresas de matérias-primas.
… O índice fechou em baixa de 1,13%, aos 126.354,75 pontos, com giro de R$ 25,9 bilhões. Petroleiras levaram a pior, puxadas pela baixa de 3,28% no contrato do Brent com vencimento em junho, que fechou a US$ 63,33 o barril na Ice londrina.
… Petrobras ON (-6,49%; R$ 33,26) e PN (-6,22%; R$ 31,23), foram seguidas por Prio (-8,13%; R$ 32,89), Brava Energia (-6,82%; R$ 16,40) e Petrorecôncavo (-6,30%; R$ 13,38). Vale teve alta de 1,79% (R$ 52,78), seguindo o minério de ferro em Dalian (-3,06%).
… A mineradora também foi favorecida após o BofA elevar a recomendação e aumentar o preço-alvo das ADRs de US$ 11 para US$ 11,5.
… Bancos caíram em bloco: Santander (-1,50%), BB (-0,68%), Itaú (-0,41%), Bradesco PN (-0,16%) e ON (-0,09%).
… Entre as poucas altas do dia, LWSA subiu 4,58%; Magazine Luiza, +4,50%; e Hapvida; +2,78%.
EM TEMPO… ELETROBRAS defendeu eleição de chapa indicada pela administração em carta a acionistas; adoção ou não de voto múltiplo é irrelevante para indicações da União ao CA…
… Processo de indicação e sucessão, liderado por Vicente Falconi, com envolvimento do Comitê de Pessoas, foi criterioso e cuidadosamente estruturado…
… Companhia fez mapeamento para composição da matriz de competência do CA, que apontou necessidade de renovação controlada do colegiado…
… Indicação de Pedro Batista foi solicitada por cinco acionistas; CA considerou desempenho e avaliações de cada conselheiro para reconduções; nome de Ferreira foi indicado por quatro acionistas e incorporado em proposta da Administração.
NEOENERGIA. Energia injetada aumentou 3,6% no 1TRI, na comparação anual, para 22.903 GWh.
CYRELA. Lançamentos chegaram a R$ 3,4 bilhões no 1TRI, valor 183% acima do atingido no mesmo intervalo de 2024.
SANTANDER aprovou distribuição de R$ 1,5 bilhão em JCP, o equivalente a R$ 0,1913 por ação ON, R$ 0,2105 por ação PN e R$ 0,4019 por unit, com pagamento em 8/5; ex em 18/4.
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