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Fabio Alves

 FÁBIO ALVES: PRECIFICANDO AS TARIFAS APÓS 2 DE ABRIL


Há um sentimento de confusão no mercado, segundo vários analistas, à medida que se aproxima o dia 2 de abril, data prevista para o início da vigência das tarifas de importação recíprocas dos Estados Unidos. E a pergunta que muitos se fazem agora é: estaria o mercado precificando corretamente o nível de tarifas que, de fato, vai prevalecer a partir de 2 de abril? Onde a régua vai parar? No cenário mais otimista, de praticamente nenhum aumento tarifário? Ou no mais pessimista, de uma guerra comercial global de maiores proporções? Ou ainda, um meio termo? Já estamos chegando ao fim deste mês, e ainda não há consenso sobre o que resultará em termos de elevação das alíquotas dessas tarifas de importação. O presidente americano Donald Trump sugeriu que pode haver flexibilidade na adoção das tarifas recíprocas e espaço para negociação. Assim, o mercado vem operando relativamente no escuro, daí o erro de precificação correta do cenário adiante. Inicialmente, os investidores chegaram a duvidar que Trump levasse a cabo seu planto de imposição de tarifas pesadas, deflagrando uma guerra comercial que poderia resultar em inflação mais alta e recessão nos EUA. Depois, houve uma fase de histeria, quando os anúncios se sucederam. Em seguida, os investidores passaram a ignorar esses anúncios, diante dos recuos de Trump, ora assinando decretos de novas alíquotas, ora anunciando pausas na adoção das tarifas. Na quarta-feira, por exemplo, os mercados acionários recuaram quando Trump assinou o decreto impondo a tarifa de 25% sobre os carros importados pelos EUA, mas, no mercado de câmbio, essa notícia praticamente não causou maior estrago. “Talvez o mercado de câmbio esteja lidando com uma fatiga das tarifas, e - para além do que já foi precificado - a pouca reação [às alíquotas sobre automóveis] pode ter sido um reflexo de Trump ter sugerido que as tarifas recíprocas podem ser bem lenientes”, afirmou o chefe global de estratégia e mercados do banco ING, Chris Turner. Já o economista-sênior de mercados da consultoria Capital Economics, Hubert de Barochez, ponderou que os mercados acionários de vários países com peso importante da indústria automobilística sofreram bastante com o anúncio da quarta-feira por Trump. E que os investidores de bolsas não se mostraram indiferentes, como parecia até há pouco tempo. “A diferença é que as ameaças estão se tornando agora cada vez mais concretas”, disse Barochez. Na opinião dele, os mercados globais de ações vão passar por pressão adicional no curto prazo, “talvez até na próxima semana, quando Trump deve finalmente anunciar as tarifas recíprocas”. Segundo Wei Yao, analista do banco francês Société Générale, disse que, considerando tudo o que Trump e seus assessores já falaram até o momento, esperam-se três inciativas a serem anunciadas no dia 2 de abril. “Duas delas sobre o reequilíbrio do comércio (tarifas recíprocas e específicas de setores) e uma sobre geopolítica (tarifas secundárias para os países que importarem petróleo venezuelano)”, explicou Yao. Ainda segundo Yao, Trump sinalizou o foco sobre tarifas recíprocas para 15% dos países que mantêm um desequilíbrio comercial persistente com os EUA. “Nenhuma lista exata foi divulgada, mas devemos esperar que essa lista irá incluir qualquer país [ou região] com superávit comercial com os EUA, os quais, em ordem decrescente, seriam China, União Europeia, México, Vietnam, Japão, Taiwan, Coreia, Canadá, Índia, Tailândia e Suíça”, afirmou a analista do Société Générale. Em resumo: o mais provável é que o nível tarifário que os EUA imporá aos outros parceiros comerciais a partir de 2 de abril fique entre os cenários pessimista e otimista do mercado nas últimas semanas. Resta saber se a precificação está já ajustada a esse eventual meio termo. (fabio.alves@estadao.com) Fábio Alves é jornalista do Broadcast

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