Pular para o conteúdo principal

Cesinha Benjamin

Por Cesar Benjamin 

Anotem aí: salvo em situações excepcionais, não acredite em narrativas de torturas feitas em primeira pessoa. 


Quando mais escalafobéticas, mais mentirosas. Elas se tornaram um prato feito para os picaretas e os traidores.


Quem foi torturado não gosta de falar disso. É imensamente doloroso. Nem a minha família conhece detalhes do meu pesado ciclo de interrogatórios. 


Lembro-me de ter falado apenas uma vez desse assunto, sinteticamente, em depoimento à Comissão da Verdade. Era um imperativo moral.


Ultimamente, ouvi um cidadão dizer que “fui torturado diariamente durante seis meses”. Outro, um eterno deputado estadual, garante que “carrego no meu corpo as marcas da tortura”.  Outro(a) foi torturada durante 38 dias, sem nada revelar.


Todos foram delatores, que não receberam nem um beliscão. Não conheceram a tortura, que não se conta em meses nem em semanas e nem mesmo em muitos dias em sequência, mas em horas intercaladas. 


Vomito nesses filhos da puta. É um imenso desrespeito.


As pessoas mais éticas são as mais silenciosas.  As mais estridentes são as mais canalhas. Para elas, a verdade não é um valor.


A esquerda brasileira está repleta de canalhas. Sei do que estou falando.


__________


Em tempo - Conheço bem e respeito a história política, pessoal e intelectual de César Benjamin. Entrou para a guerrilha urbana ainda adolescente. Participou de ações armadas. Foi um dos guerrilheiros mais procurados pelo aparelho de repressão. Preso, foi dos mais torturados. Conheço detalhes de seu interrogatório. Aguentou muitos anos em Bangu. Com a Anistia, reconstruiu a vida como editor. Fundou o PT e depois o PSol, mas rompeu com ambos quando esses partidos desandaram. Respeito Benjamin também por sua coerência e honestidade ideológica.


Tem semanas que aparecem nas redes sociais dezenas de relatos escalafobeticos de supostas torturas d'antanho, cada uma mais inverossímil que a outra. Choques elétricos em bebês, crianças em pau de arara, tesouras em bicos de seios, estupros coletivos, tortura por semanas, meses, anos... Alguns dos supostos torturados conheci pessoalmente. Conheço bem os métodos de interrogatório da ditadura militar. Aliás, minhas teses de mestrado e doutorado trataram do tema.


Enfim, muito estranha essa onda de relatos a esta altura da nossa história. O regime militar durou 20 anos, sendo sete sob ditadura explicita. A democracia foi instaurada há 40 anos. A Comissão Nacional da Verdade, que terminou há 12 anos, foi fundo na apuração das violações dos Direitos Humanos... e agora, do nada, as redes sociais são tomadas de relatos de tortura. 


O que está por trás disso? Será que buscam justificar os estupros coletivos que Suas Supremas Sapiências têm perpetrado contra a Carta Magna?


Não sei. Mas sei que esses relatos extemporâneos e inverossímeis estão incomodando um ex guerrilheiro de verdade, que de fato foi estupidamente torturado, mas que não está gostando da banalização desses crimes.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Livros

  " O livro de Marshall B. Reinsdorf e Louise Sheiner oferecem, em The Measure of Economies: Measuring Productivity in an Age of Technological Change, uma análise pertinente e necessária ao panorama económico contemporâneo. Este trabalho, publicado em 2024, desafia os métodos tradicionais de medição do PIB, argumentando que as práticas do século XX são inadequadas para avaliar a produtividade no contexto do século XXI, marcado pela transformação tecnológica. Com capítulos assinados por peritos em economia, a obra não se limita a apresentar os problemas inerentes às práticas actuais, mas propõe alternativas inovadoras que abrangem áreas como a economia digital, os cuidados de saúde e o ambiente. A estrutura é equilibrada, alternando entre a crítica aos métodos estabelecidos e as propostas de solução, o que proporciona uma leitura informativa e dinâmica. Um dos pontos fortes deste livro é a sua capacidade de abordar questões complexas de forma acessível, sem sacrificar a profundidad...

Já deu...

  Fernando Haddad, mais um poste criado pelo Deus Lula, disse que o cidadão é o "maestro da Orquestra". Estamos fufu. Lula não tem mais a mínima condição de ser maestro de nada, nem da sua casa, em quem manda é a Janja. É o ocaso de um projeto de poder, do lulo-petismo, que foi se transformando num culto fajuto à personalidade, nas piores personificações das ditaduras corruptas de esquerda. Lula já não consegue concatenar ideias, está cansado e sim, mto velho. Já deu.

Guerra comercial pesada