News 0702
NEWS - 07.02
Medidas fiscais já deixadas de lado voltam ao radar do governo / Supersalários, previdência dos militares e aperto do BPC são alguns dos temas que podem ser retomados na busca de déficit zero- Valor 7/2
Fernando Exman / Lu Aiko Otta
O governo estuda retomar medidas que foram deixadas de lado em novembro do ano passado e acioná-las, caso as projeções fiscais apontem para a necessidade de um congelamento muito forte de despesas, a fim de cumprir a meta de déficit zero este ano. Será oferecida ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a opção de promover algumas iniciativas de ajuste, em vez de dar um “tranco” nas despesas.
Sabe-se que será preciso melhorar o ambiente político para viabilizar esse plano. Além disso, não deverão ser apresentadas a Lula propostas de caráter estrutural, cobradas por especialistas em contas públicas, como a desindexação de despesas em relação ao salário mínimo. Isso só deve ocorrer após as eleições de outubro de 2026: antes do pleito não haverá condições políticas para aprovar medidas impopulares, dizem interlocutores do governo, mas sem elas o próximo presidente da República enfrentará dificuldades para operar dentro das regras definidas pelo novo arcabouço fiscal.
A estratégia tem sido discutida em reuniões da Junta de Execução Orçamentária (JEO), da qual fazem parte os ministros da Fazenda, do Planejamento, da Casa Civil e da Gestão. E a data da divulgação do segundo relatório bimestral de receitas e despesas, prevista para 22 de maio, é vista como o “Dia D” para uma decisão.
A essa altura do ano, já será possível ter um quadro mais claro sobre o comportamento das receitas, diante da queda na atividade econômica projetada para o período, fruto dos juros mais elevados. Se a retração se confirmar, é provável que se torne necessário um contingenciamento elevado. O economista-chefe da Warren Rena, Felipe Salto, por exemplo, estima que seriam precisos R$ 35 bilhões.
Neste início de ano o governo tem sido beneficiado por um ritmo mais lento na execução das despesas. É um comportamento típico dessa época, intensificado pelo fato de o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025 não ter sido aprovado ainda pelo Congresso. A lei diz que, nesses casos, os ministérios podem gastar 1/12 do previsto no ano em determinadas rubricas. No entanto, a liberação tem sido mais restrita, ao ritmo de 1/18 a 1/20 por mês.
Além disso, as receitas tendem a ser fortes neste início do ano, refletindo ainda a atividade robusta de 2024. Não se deve descartar, também, receitas extraordinárias relevantes: existe uma expectativa, por exemplo, em relação ao lançamento pela Caixa Seguridade de sua oferta subsequente de ações (“follow-on”). Segundo o Valor revelou, a operação está sendo preparada para o próximo dia 13, ou seja, logo após a divulgação do resultado do quarto trimestre de 2024.
Na equipe econômica, reconhece-se a necessidade de medidas estruturais para dar um claro sinal de que as contas públicas deixarão o campo deficitário. No entanto, também se avalia que só deve haver espaço político para o avanço neste momento de ajustes pontuais, os quais permitem cumprir as metas do arcabouço, mas não a estabilização da dívida - inclusive porque para isso será preciso uma redução relevante da taxa básica de juros.
Segundo fontes do governo, a novela do pacote de novembro passado deixa isso claro. O presidente Lula não concordou com as medidas de ajuste mais duras, justamente as que teriam impacto na estrutura dos gastos públicos. O conjunto já chegou desidratado ao Congresso Nacional, que, por sua vez, ao contrário do que era esperado por alguns integrantes do mercado e do próprio governo, não aprofundou o ajuste. Pelo contrário, o afrouxou.
Agora, o desafio dos articuladores políticos do Executivo será dar tração a essa agenda após a eleição das novas Mesas Diretoras da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Na avaliação de interlocutores do governo, o novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), tem dado todos os sinais de alinhamento com a pauta fiscal. Depende dele o avanço da proposta de alteração do sistema de proteção social dos militares.
Recém-eleito presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) também tem uma boa interlocução com o Palácio do Planalto. Porém, não passou despercebido que em seu primeiro discurso após receber 73 dos 81 votos da Casa, o senador afirmou no sábado (1º) que o Congresso trabalhará para melhorar a vida dos brasileiros, mas que por vezes isso exigirá um “posicionamento corajoso” perante os outros Poderes, a opinião pública e o mercado. Depende dele o andamento da proposta que visa reduzir os chamados “supersalários” do funcionalismo.
Avalia-se nos bastidores do Executivo que essas duas propostas têm chances de passar, mas com alterações. Na noite de quarta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou durante entrevista à GloboNews que foi estabelecido um “entendimento” com Hugo Motta sobre a proposta dos “supersalários”.
“Se o projeto que já foi votado na Câmara e que está no Senado voltar com ingredientes novos para corrigir essa distorção, a Câmara está disposta [a analisar as mudanças]”, disse Haddad, acrescentando que já se encontrou com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para tratar do assunto e que se reunirá na terça-feira (11) com senadores.
Segundo Haddad, “existem indenizações [pagas atualmente] que são corretas”. “Muitas vezes um juiz está substituindo o outro em uma comarca e tem despesas de estadia e alimentação que não teria se não substituísse”, ponderou.
Em outra frente, é possível que o governo retome também a tentativa de apertar os critérios de concessão dos Benefícios de Prestação Continuada (BPC). A proposta do governo foi afrouxada pelo Congresso, que excluiu, por exemplo, a proibição de serem pagos dois benefícios numa mesma família. Além disso, forçou um acordo pelo qual Lula vetaria o dispositivo que proibia a concessão a pessoas com deficiência leve.
Neste caso, será necessário muito poder de convencimento dos parlamentares para que o aperto seja retomado, dado que o Legislativo já decidiu sobre o tema no ano passado. O governo argumenta que a concessão do BPC a pessoas com deficiência leve por decisão da Justiça tem acelerado desde 2022. No ano passado, as despesas com o programa atingiram R$ 105,7 bilhões, ante R$ 88,9 bilhões no ano anterior.
A revisão de gastos tributários, sempre prometida pelo governo federal, entra no cardápio das medidas adicionais na lógica de o ajuste não investir apenas sobre os pobres. No curto prazo, a ideia é fazer uma espécie de “pente-fino” no uso dos benefícios fiscais, e cortá-lo para empresas que não se enquadram nas regras de fruição. Esse trabalho já vem sendo feito pela Receita Federal, e poderá ser ampliado. Uma opção lembrada é buscar um maior controle em relação ao Simples, para que se evite que uma mesma pessoa abra diversas empresas com o intuito de se enquadrar nesse regime.
O plano de voo discutido na JEO pressupõe uma condução mais conservadora do Orçamento no curto prazo. É como pretende recuperar a credibilidade do mercado na política fiscal e, assim, reduzir a pressão que o desequilíbrio das contas públicas exerce sobre o câmbio, a inflação e os juros. Por isso, o contingenciamento forte e mirando no déficit zero está sobre a mesa.
Contingenciamento, bloqueios e a programação financeira limitada nas despesas que vem sendo aplicada na ausência da lei orçamentária anual são instrumentos tradicionais da política fiscal que, diz-se nos bastidores, “o mercado entende”. O primeiro é acionado quando as projeções apontam para o descumprimento da meta. O segundo, quando as despesas projetadas “estouram” o teto estabelecido no arcabouço.
O valor do teto é corrigido pela inflação, e as taxas maiores do que as esperadas no fim de 2024 farão com que haja um acréscimo da ordem de R$ 10 bilhões a R$ 12 bilhões. Esse é um dos ajustes que o governo precisará fazer no PLOA de 2025.
No entanto, embora a margem mais elevada para gastos esteja animando ministérios, técnicos avaliam que não haverá espaço adicional para gastos. Isso porque as despesas com a Previdência também subirão acima do que consta do PLOA e consumirão toda a margem extra.
A falta de credibilidade na política fiscal atingiu seu auge no final do ano passado, quando contribuiu para impulsionar a cotação do dólar para o recorde de R$ 6,27. Admite-se nos bastidores que parte desse aumento é, de fato, explicada pelo pacote anunciado quando o mercado esperava um “pacotão”, e pela falta de aval de Lula a medidas mais ambiciosas. Mas parte é considerada um exagero que agora reflui.
Se o governo Lula não der mais sinais errados no campo fiscal, argumentam altas fontes do Executivo, o dólar pode voltar a seu padrão tradicional de funcionamento, pautado atualmente principalmente pelo cenário político externo e pelos efeitos do clima sobre a produção de commodities.
Entrevista: ‘Não adianta Lula fazer como Bolsonaro e ficar o tempo todo falando para uma bolha’, diz Hugo Motta / Novo presidente da Câmara afirma que governo tem ‘vacilado’ em tomar decisões necessárias na economia e detalha proposta ao Supremo Tribunal Federal para destravar emendas parlamentares- O Globo 7/2
Renata Agostini / Thiago Bronzatto
O novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), avalia que o presidente Lula não pode ficar refém de ideologias e “o tempo todo falando para uma bolha que o faz errar”. Em entrevista, o parlamentar antecipa a proposta que pretende levar ao ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), para solucionar o impasse sobre as emendas que estão suspensas. Ele irá sugerir a aplicação das regras de transparência que valeriam a partir de 2025 ao que foi indicado pelos deputados e empenhado em 2024.
O novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), avalia que o presidente Lula não pode ficar refém de ideologias e “o tempo todo falando para uma bolha que o faz errar”. Em entrevista, o parlamentar antecipa a proposta que pretende levar ao ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), para solucionar o impasse sobre as emendas que estão suspensas. Ele irá sugerir a aplicação das regras de transparência que valeriam a partir de 2025 ao que foi indicado pelos deputados e empenhado em 2024.
O senhor diz ser necessário unir direita e esquerda. Como isso será possível no debate da proposta de anistiar os condenados pelos atos golpistas de 8 de Janeiro?
É um tema que dificilmente teremos consenso. A pauta da anistia cria tensão com o STF e Executivo. Não podemos inaugurar o ano legislativo gerando mais instabilidade. Teremos de, em algum momento, em diálogo com o Senado, combinar como faremos com esse tema. Vamos sentindo o ambiente na Casa. Não faremos uma gestão omissa. Enfrentaremos os temas, mas com responsabilidade e sem tocar fogo no país.
Lideranças do PL garantem que o senhor se comprometeu a pautar o projeto de anistia. Esse acordo foi feito?
Fomos instados por ambos os lados. Na conversa que eu tive com o presidente Bolsonaro, em um determinado momento, ele falou: “Eu queria que, se houver o acordo no colégio de líderes e se houver o ambiente na Casa, você não prejudique a pauta da anistia”. Na reunião com o PT, falaram: “Olha, essa pauta da anistia não pode andar. É uma pauta ruim e é uma pauta que nós não concordamos”. A nossa eleição foi construída do ponto de vista de uma convergência. Vamos sentindo o ambiente na Casa para que, a partir daí, se decida.
Na Câmara, há deputados usando peruca, dando tapas e travando uma guerra de bonés. O que o senhor pretende fazer para manter o decoro?
A guerra dos bonés não produzirá soluções e é ruim para a Casa. Vai contra o ritual do exercício do mandato. Vamos prezar para que isso não volte a acontecer e cobrar certo código de postura dentro do plenário, porque não é o que a sociedade quer. Com a proximidade da eleição em 2026, a temperatura deve subir. O exercício da presidência é ainda mais desafiador.
O senhor se posicionou a favor de alterações na Lei da Ficha Limpa. Isso não seria um retrocesso num projeto aprovado pelo Congresso?
Não há dessa presidência compromisso ou desejo de se mudar a lei. Se essa matéria for trazida, por exemplo, pelo PL, do presidente Jair Bolsonaro, vamos levar ao colégio de líderes. Agora, com eleição de dois em dois anos, não reconhecer que oito anos de inelegibilidade é muito tempo é não reconhecer a realidade democrática do país. Quatro eleições é uma eternidade.
O senhor defende que a transparência dos três Poderes “tem que ser total”. Por que até hoje não se tem acesso total às informações sobre a destinação das emendas parlamentares?
O Legislativo é o mais transparente de todos os Poderes. A questão das emendas tem sido desvirtuada. Sou do interior da Paraíba. Quanto mais recursos eu puder levar para lá, melhor para mim. Faço questão de divulgar. A transparência não pode ser relativa. Não podemos ter o Executivo com sigilo de 100 anos. Não vamos admitir que seja exigido apenas para nós, porque denota que estamos abaixo dos demais Poderes. Não estamos. O STF, grande bastião e defensor da democracia, não ficará contra o Judiciário ser mais transparente.
O senhor enviou R$ 10 milhões para Patos, cidade da Paraíba onde seu pai foi reeleito como prefeito. Nem todo município na região recebeu esses recursos. Isso gera um desequilíbrio?
De forma alguma. Se quer indicar recursos ao Orçamento, tem de se filiar a um partido, se candidatar e se eleger. É prerrogativa parlamentar. Consegui R$ 10 milhões para Patos porque foi a cidade que me deu as maiores votações, assim como levei recursos a outros municípios.
Qual será sua proposta ao STF para resolver o bloqueio das emendas?
Temos uma lei aprovada pelo Congresso, sancionada pelo Executivo e que foi dialogada com o Poder Judiciário. Penso que a solução seria trazer transparência para o que foi empenhado em 2024 em cima dessa nova lei, que valeria a partir de 2025. Tenho conversado com ministros do Supremo e sentido interesse em vencer essa pauta. Para o Executivo também é importante. A governabilidade está diretamente ligada ao Orçamento. É o que os deputados precisam para justificarem apoio a pautas difíceis de serem aprovadas. Essa tensão não interessa a ninguém.
Há uma série de iniciativas no Congresso para limitar o poder do STF como encurtar mandatos e limitar decisões individuais de ministros. O senhor concorda com elas?
É natural pelo nível de tensão que tivemos nos últimos anos, com decisões duras que incomodaram bastante os parlamentares. É muito ruim quando um Poder tenta emparedar ou acuar outro. O Legislativo jamais se ajoelhará ao Supremo. São medidas de reação a decisões que poderiam ter sido evitadas. Existem exageros. Será uma constante daqui para frente se essas decisões continuarem.
No caso do Marco Civil da Internet, o julgamento no STF ocorre diante da inação do Congresso. O senhor pretende pautar a regulação das redes?
Não é atribuição do STF legislar. Não estamos obrigados a legislar sobre qualquer tema no momento em que é trazido pela sociedade. A Casa pode entender que não é prioridade. É uma decisão política também. Acho até que temos de discutir, mas é um tema complexo na Casa.
O Senado aprovou a regulação da Inteligência Artificial. O senhor pretende dar sequência a esse projeto?
Antes de encerrar seu mandato, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, nos pediu para priorizar o tema. Diversos parlamentares também têm nos procurado. Queremos e vamos avançar nessa discussão. Vamos colocar na ordem do dia, porque é uma pauta mundial. É inegável a força que a Inteligência Artificial tem tido, inclusive mudando de forma significativa a vida das pessoas.
Das medidas prioritárias que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou ao Congresso, quais terão dificuldades para avançar?
Noto receio na Casa com aumento de carga tributária. Passamos dois anos ajudando com projetos que elevaram a arrecadação. Só que o problema não está apenas na arrecadação, mas na responsabilidade com os gastos públicos. É uma pauta que o governo tem dificuldade em avançar.
Se o objetivo é o ajuste fiscal, cabe aumentar a faixa de isenção do imposto de renda?
Quem não quer aprovar isenção para a grande maioria da população? É pauta fácil de ser votada. Mas qual será a consequência? Vai trazer mais estabilidade fiscal? As pessoas estão recebendo o salário mínimo, mas não conseguem encher o prato em casa. Temos um cenário de alta de alimentos, com moeda fraca, poder de compra da população sendo corroído. Temos de encarar de maneira responsável e não estar atrás de discurso populista, eleitoreiro. Já vimos esse filme antes e ele não acaba bem.
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, disse que Haddad é um ministro fraco. O governo está errando na economia?
O ministro Haddad é uma grata surpresa no governo. A agenda que ele defende é positiva, mas muitas vezes ele fica vencido na decisão política tomada pelos ministros que estão no Palácio e, claro, pelo presidente da República. Isso não tem ajudado na condução da economia. Vamos procurar ajudar a agenda do ministro naquilo que concordamos.
O presidente do seu partido, Marcos Pereira, disse que o governo Lula está sem rumo e que a “tendência” é estar com a centro-direita em 2026. O senhor concorda com ele?
Vejo pontos positivos, como o Pé-de-Meia, o Minha Casa Minha Vida, os leilões. Agora, do ponto de vista econômico, o governo tem vacilado e deixado de tomar decisões necessárias. Isso tem trazido instabilidade. Não podemos, em um país complexo como o Brasil, ficar refém de posicionamentos ideológicos. Quem mais precisa quer resultado. O governo precisa entender isso. Não adianta Lula fazer o que Bolsonaro fez e ficar o tempo todo falando para uma bolha que o faz errar. Não tem governo que traga crescimento sem discutir responsabilidade com as contas públicas.
COLUNA DO ESTADÃO- 8/2
CONSTATAÇÃO. Relator do Orçamento da União de 2025, o senador Ângelo Coronel (PSB-BA) afirmou num artigo enviado a empresários do Esfera Brasil que “o Executivo subestimou riscos” da inflação ao enviar o projeto da lei orçamentária ao Congresso. “O salário mínimo projetado ignorava estimativas mais realistas do INPC”, observou.
DESABAFO. O texto com o título “Técnica e política na corda bamba da sustentabilidade fiscal” critica também disputa de poder sobre quem deve definir o gasto público. “Se o orçamento fosse só uma planilha, não precisaríamos de democracia. O Executivo esquece que seu próprio projeto é amplamente contestado por órgãos federais, que imploram ajustes a esse relator”, continuou.
AGENDA. A aprovação do Orçamento é prioridade do Planalto, mas com o clima azedo ainda não tem data para votação.
(Roseann Kennedy, com Eduardo Barretto e Iander Porcella)
ESTADÃO: PÉ-DE-MEIA PODE ENTRAR NA PAUTA NA PRÓXIMA SEMANA- 7/2
Brasília, 06/02/2025 - O ministro do TCU Augusto Nardes vai pautar para a próxima semana votação de recurso do governo para liberar as verbas do programa Pé-de-Meia, bloqueadas pela Corte por terem sido operadas fora do Orçamento. Nardes se reuniu na terça-feira com os ministros da Educação, Camilo Santana, e da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, para tentar resolver o impasse em torno do bloqueio.
Um dos principais programas do governo, o Pé-de-Meia é uma bolsa criada pelo governo federal para beneficiar estudantes de ensino médio com R$ 200 por mês e uma poupança adicional de R$ 1 mil ao fim de cada ano da etapa. A iniciativa tem custo aproximado de R$ 5,7 bilhões por ano.
O TCU bloqueou os recursos de fundos privados que foram direcionados para o Pé-de-Meia e não passaram pelo Orçamento. O entendimento da Corte é de que o governo não poderia ter operado o programa dessa forma, pois se desviou da lei orçamentária e dos limites fiscais ao pagar a bolsa para os estudantes. (Paula Ferreira)
PEC que amplia isenção de igrejas: Motta sinaliza que pode votar em fevereiro; governo quer 'travas' / Parlamentares da bancada evangélica dizem que Congresso tem voto para aprovar texto sem trava alguma e dizem que Planalto ‘volta atrás’ em acordo firmado.- Globo g1 7/2
Por Marina Franceschini, Elisa Clavery, GloboNews — Brasília
O relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que amplia a imunidade tributária de templos e igrejas, deputado Fernando Máximo (União-RO), disse à GloboNews que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), sinalizou que pode pautar a proposta em plenário ainda em fevereiro.
Segundo o relator, Motta pediu para que seja marcada uma reunião com o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, e com o autor da PEC e articulador político do texto, deputado Marcelo Crivella (Republicanos-RJ).
O novo presidente da Câmara é um dos signatários da PEC e já abriu o ano legislativo com uma missa na Câmara dos Deputados.
Tributações indiretas
Atualmente, a Constituição já proíbe a cobrança de tributos sobre patrimônio, renda e serviços vinculados a atividades essenciais de igrejas e templos.
Isso contempla, por exemplo, a isenção do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) aos edifícios em nome de uma entidade religiosa.
Mas a ampliação da imunidade, prevista na PEC, valeria inclusive para tributações indiretas, como no imposto embutido na luz utilizada pela igreja ou no material de construção para o templo.
Interlocutores do Palácio do Planalto dizem que o governo topa votar a proposta, mas quer criar algumas travas. Por exemplo: se a igreja ou templo criar um restaurante no terreno, a isenção não serviria para o estabelecimento. O mesmo ocorreria se o chefe religioso comprar uma BMW – neste caso, a imunidade não serviria para o carro.
Aceno à bancada
Reservadamente, deputados da bancada evangélica que antes tentavam diálogo com o governo sobre o tema dizem que o Planalto combinou uma coisa e, depois, desfez. Segundo esses parlamentares, o Congresso tem voto para votar a proposta sem trava alguma – e que incluir travas na medida acaba com o "coração" da PEC.
Agora, a articulação com o Planalto para a aprovação da proposta, segundo interlocutores do governo, tem sido feita pelo deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), também da bancada evangélica.
O entendimento é que a aprovação do texto seria uma forma do governo acenar para o público evangélico.
A avaliação interna é que a aprovação da PEC também poderia cacifar Otoni para a eleição como coordenador da bancada evangélica, que acontecerá no dia 26 de fevereiro.
A frente, hoje, se divide justamente pela resistência que parlamentares da oposição têm com o nome de Otoni, que se aproximou do governo e esteve presente em um evento no Palácio do Planalto em que orou pelo presidente Lula. Por isso, parlamentares mais bolsonaristas lançaram o nome do deputado Gilberto Nascimento (PSD-SP).
A PEC que amplia a imunidade tributária das igrejas chegou a entrar na pauta do plenário da Câmara e teve sua discussão iniciada no dia 13 de novembro. Contudo, a votação teve que ser interrompida por conta da tentativa de atentado na praça dos Três Poderes, quando um homem detonou explosivos em si mesmo em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Governo pedirá ao Congresso prioridade para PECs da Segurança e militares e regulação de redes / Alexandre Padilha (Relações Institucionais) entregará lista de pautas na próxima semana a presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP)- Folha SP 7/2
Fábio Zanini / Danielle Brant
Após levar a agenda econômica ao novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), o governo Lula apresentará na semana que vem ao Congresso a lista de projetos prioritários em outras áreas.
Entre os temas a serem levados a Motta e a seu colega do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), estão a PEC da Segurança Pública, a emenda que proíbe militares da ativa de se candidatarem e projetos sobre a inteligência artificial e regulação de redes sociais.
Neste último caso, integrantes do governo, como o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, defendem que não seja enviado um projeto novo pelo Executivo, como o que vem sendo elaborado pelo Ministério da Justiça.
Ele prefere que o governo encampe dois textos já em tramitação, de parlamentares de oposição: um do deputado Silas Câmara (Republicanos-AM), que veda o anonimato nas redes e estabelece regulação pelas plataformas, e outro do senador Alessandro Vieira (MDB-SE), que prevê medidas de proteção a crianças e adolescentes nas redes.
"Eu defendo que o governo não debata a regulação, mas que debata a proteção das pessoas, das famílias e dos negócios no ambiente digital. E que o governo invista no projeto do Senado de proteção à criança e adolescente e abrace o do Silas Câmara, que foi apresentado e foi construído com mais de 30 agências públicas", diz Padilha.
Eleições de 2026 emperram troca de ministros de Lula / Desincompatibilização obrigatória em março de 2026 limita escolhas para ministérios- Folha SP 7/2
Mônica Bergamo
O presidente Lula (PT) enfrenta alguns dilemas para mexer nas peças do tabuleiro de seu governo na reforma ministerial, o que tem retardado as decisões.
MARCHA 2 - Uma delas é o fato de que ministros que serão candidatos a cargos eletivos em 2026 terão que se desincompatibilizar em março do próximo ano, permanecendo apenas por 12 meses à frente das pastas que assumirem agora.
MARCHA 3 - É o caso, por exemplo, do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Cotado para a pasta da Saúde, ele teria pouco tempo para implantar políticas de impacto na área.
MARCHA 4 - O ministério sofreria também com a descontinuidade da breve gestão. Interlocutores do presidente tem feito o alerta, e defendido que Padilha, que deve deixar as Relações Institucionais, ocupe outro cargo no governo.
MARCHA 5 - A presidente do PT, Gleisi Hoffmann também deve ser candidata em 2026. Mas ela está cotada para pastas que enfrentariam menos problemas do que a Saúde com uma gestão breve e descontinuada.
com KARINA MATIAS, LAURA INTRIERI e MANOELLA SMITH
Lula aposta em retomada de viagens contra queda de popularidade e para fortalecer alianças / Presidente começa roteiro com Rio e Bahia e deve visitar Amapá na próxima semana, estado de Davi Alcolumbre- Folha SP 7/2
Renato Machado
O presidente Lula (PT) começou nesta quinta-feira (6) a realizar as suas prometidas viagens pelo Brasil, na tentativa de reverter a tendência de queda na aprovação do seu governo e também de olho no fortalecimento de alianças políticas.
A nova fase de viagens, retomadas após se recuperar da intervenção cirúrgica na cabeça, terá a região Nordeste como um dos focos. Anteriormente considerando como berço do PT, a região foi onde a queda na aprovação do seu governo esteve mais acentuada.
Auxiliares palacianos, no entanto, minimizam essa escolha. Afirmam que é natural o Nordeste estar mais presente no roteiro, por ser a região com o maior número de estados. E que essa situação já havia ocorrido nos dois primeiros anos do mandato.
O primeiro destino do presidente em 2025 foi a cidade do Rio de Janeiro, comandada pelo aliado Eduardo Paes (PSD). Lula participou da reabertura da emergência do Hospital Federal de Bonsucesso, na zona norte da capital fluminense.
Nesta sexta-feira (7), o presidente vai a Paramirim (BA) para cerimônia no âmbito do programa Água para Todos. Serão feitos anúncios relacionados à segurança hídrica na Bahia, estado também governado por um aliado, o correligionário petista Jerônimo Rodrigues.
Lula havia interrompido as suas viagens pelo país após ter batido a cabeça em uma queda no banheiro da residência oficial do Palácio da Alvorada. O presidente precisou passar por uma intervenção no cérebro, em dezembro. No início deste ano, o mandatário foi liberado para voos.
O início das viagens acontece no momento em que a aprovação do governo se tornou motivo de alerta no Palácio do Planalto. A avaliação negativa do governo atingiu 37%, segundo pesquisa Quaest, e pela primeira vez ultrapassou a aprovação (31%).
A intensificação das viagens também acontece após a chegada do novo ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência), o publicitário Sidônio Palmeira.
O novo ministro defende a ideia de que Lula representa um "produto" forte e precisa ser colocado em evidência, inclusive em entrevistas e na publicidade do governo. O próprio Lula também defendeu em reunião ministerial, no dia 20 de janeiro, "mais rua e menos palácio".
Por isso, a comunicação do governo planeja eventos em que haja mais contato do presidente com a população. O objetivo também é usar as imagens em recortes nas redes sociais ou mesmo fazer repercutirem essas cenas na mídia tradicional.
Além disso, Lula tem pedido mais rua para seus apoiadores e aliados, para ir para o enfrentamento das ideias com o bolsonarismo. O objetivo seria comparar os dois anos de governo com a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em jantar com a bancada do PT da Câmara, na sexta-feira (31), o mandatário falou que "acabou o paz e amor" com os bolsonaristas.
A preocupação com o Nordeste tem relação com a queda na aprovação do governo na região. A popularidade da gestão caiu de 48% para 37%, ainda segundo a Quaest.
Além da Bahia, o presidente deve ir no fim do mês ao Ceará, para anúncios na área dos transportes. O Planalto, no entanto, ressalta que o presidente deve ter viajado para todas as regiões do país até o fim de fevereiro.
Auxiliares do presidente afirmam que o roteiro de viagens também está sendo programado com base na possibilidade de entregas de obras, inaugurações ou anúncios expressivos dos ministérios. Para isso as pastas estão sendo consultadas, para apresentar um panorama para a Casa Civil.
O presidente vem repetindo que 2025 será o "ano da colheita". A perspectiva é que as entregas sejam na área de infraestrutura, em particular ligadas ao Novo PAC ou programas específicos, como o Minha Casa Minha Vida.
As viagens também devem ser usadas pelo presidente para estreitar alianças. Lula deve ir na próxima semana ao Amapá, estado do novo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil).
A confirmação da viagem foi dada pelo líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), que disse que o presidente vai inaugurar o Instituto Federal do Amapá Tartarugalzinho e visita ao parque aeroportuário.
Uma viagem à Paraíba, estado do presidente da Câmara Hugo Motta (Republicanos), também está no radar, segundo interlocutores, mas ainda não consta no cronograma. Auxiliares apontam que é preciso realizar um planejamento, com o levantamento de possíveis entregas no estado.
O presidente também deve ir na próxima semana a Belém, para anúncio de obras relacionada com o fato de que a cidade vai sediar a COP30 no segundo semestre. O estado é governador pelo aliado Helder Barbalho (MDB). O mandatário também deve ir ao Rio Grande do Sul.
Auxiliares de Lula têm afirmado que o cronograma de viagens será impactado com a tendência de melhor organização da área de comunicação, que vem intensificando a contratação de novas pesquisas, trackings e monitoramento das redes. Em particular as pesquisas de tracking estavam praticamente paradas no ano passado, antes das trocas na Secom.
Fala de Lula sobre ‘educar o povo’ contra inflação afeta plano do governo para reverter imagem ruim / Oposição critica Lula após ele dizer que povo pode baixar preço dos alimentos evitando itens caros; no X, a hashtag #LulaEnganouOPobre alcançou mais de 30 mil menções nesta sexta- Estadão 6/2
Por Gabriel de Sousa
BRASÍLIA - Políticos de oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) o criticaram fortemente nas redes após ele afirmar, em entrevista às rádios Metrópole e Sociedade, da Bahia, nesta quinta-feira, 6, que os brasileiros devem parar de comprar produtos caros. A declaração de Lula foi um revés para a nova gestão da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), chefiada por Sidônio Palmeira, escalado para melhorar a imagem do petista diante do baixo índice de aprovação.
“Uma das coisas mais importantes para a gente poder controlar o preço é o próprio povo. Se você vai ao supermercado e desconfia que tal produto está caro, você não compra. Se todo mundo tiver a consciência e não comprar aquilo que acha que está caro, quem está vendendo vai ter de baixar para vender, porque, senão, vai estragar”, afirmou Lula.
Segundo Lula, é preciso “educar” as pessoas para trocarem produtos caros por baratos e não serem “extorquidas”. “Esse é um processo educacional que nós vamos ter que fazer com o povo brasileiro. É necessário que a gente faça isso. O povo não pode ser extorquido. A pessoa sabe que a massa salarial cresceu, que o salário aumentou, aí aumenta o preço. Não, é preciso ter responsabilidade.”
O novo ministro da Secom, que assumiu o cargo deixado por Paulo Pimenta no último dia 14, entrou na Esplanada visando corrigir os erros de comunicação cometidos por Lula, muito deles ocasionados por falas de improviso do chefe do Executivo. A nova declaração de Lula sobre os preços dos alimentos, além de municiar a oposição, foi um dos assuntos mais comentados do X (antigo Twitter) nesta quinta, com a hashtag #LulaEnganouOPobre alcançando mais de 30 mil menções.
Um dos parlamentares de oposição que criticaram a fala de Lula foi o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), o algoz da primeira grande crise do governo federal em 2025, com um vídeo que continha informações falsas sobre a fiscalização do Pix proposta pelo Ministério da Fazenda. Em uma publicação do X, Nikolas ironizou o petista e sugeriu que o povo também teria poder para derrubar o presidente da República.
“Se a água tá cara, é só não tomar banho. Se você está com fome, é só não comer. Se a conta de luz está cara, é só não ligar. Se a gasolina está cara, é só não andar de carro. Se a passagem está cara, é só ficar em casa. Se o presidente tá ruim, é só tirar”, disse Nikolas no vídeo.
Também pelo X, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reproduziu a declaração de Lula nas redes sociais dele. No final da fala do petista, ele colocou um ponto de interrogação. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, também se posicionou e afirmou a orientação do presidente seria mais uma “narrativa”. “As narrativas de Lula: não tem inflação, culpa da inflação é do BC nomeado por Bolsonaro, culpa é do empresário que quer lucrar, culpa é sua, consumidor, que compra coisa cara”, disse o parlamentar.
Outros deputados do PL também partiram para o ataque contra o presidente. Filipe Barros (PL-PR) disse que a orientação de Lula era uma “façanha” e Carla Zambelli (PL-SP) afirmou que o petista “zomba da população na cara dura”. José Medeiros (PL-MT), por sua vez, sugeriu que o chefe do Executivo deveria ganhar o Prêmio Nobel de Economia.
As críticas a Lula não ficaram concentradas nos políticos do PL. João Amoêdo, ex-presidente do Novo e candidato à Presidência em 2018, disse que o presidente “deveria trabalhar para reduzir suas despesas, em vez de perder tempo com falas inúteis e sem sentido como essa”. “Quem realmente extorque o povo brasileiro é o governo, com altos impostos e inflação elevada”, declarou Amoêdo.
O deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), que integra um partido que compõe a base de Lula na Câmara, afirmou que a declaração “parece deboche”. “Essa realmente foi a solução apresentada por um presidente da República para reduzir o preço dos alimentos”, completou.
Folha Editorial - Haddad oficializa programa fiscal frouxo neste ano / Documento apresentado ao Congresso tem medidas corretas, como limitar supersalários, mas nada que detenha dívida pública – 7/2
Mudanças mais profundas e de impacto mais permanente nas contas públicas não figuram entre os objetivos do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). É o que está oficializado no plano de trabalho que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi autorizado a apresentar ao Congresso.
A esse respeito, em sentido estrito, não há providência fiscal nova na lista de "iniciativas para o biênio 2025 e 2026".
Além de elencar ações aprovadas no ano passado, o documento em que a Fazenda apresenta seus projetos trata apenas de "implementação e acompanhamento de medidas aprovadas e política permanente de revisão de despesas", que são ou deveriam ser atividades de rotina de qualquer governo.
É verdade que outros planos oficiais podem ter efeitos positivos no Orçamento. Por exemplo, consta das propostas a necessária limitação dos supersalários, à beira de ser inutilizada pelo Congresso e pelo lobby do Judiciário e do Ministério Público, para citar os mais poderosos.
Está lá também a reforma do regime previdenciário dos militares, também correta, urgente e politicamente difícil, mas que terá ou teria pequeno impacto imediato nas públicas.
Até mesmo o projeto de lei da conformidade tributária e aduaneira pode levar algum dinheiro para o Tesouro Nacional, se vier de fato a premiar o bom pagador e punir devedores contumazes, embora não seja esse o objetivo principal dessa iniciativa. Mas isso ocorreria a longo prazo.
Quanto às dificuldades crescentes e alarmantes com a dívida pública, mais não foi dito no documento da Fazenda. Seria uma surpresa se fosse diferente.
Lula repete com frequência que é grande e histórico defensor da responsabilidade fiscal, mas afirma que, no que depender dele, não haverá mais medidas que possam reduzir o déficit orçamentário de modo expressivo.
Assim, o governo petista reitera que sua noção de responsabilidade fiscal permite o crescimento ainda sem limite do endividamento. No máximo, talvez se possa esperar, logo no início do ano, uma contenção de despesas suficiente para o cumprimento, de modo seguro, da relaxada meta fiscal fixada para este 2025.
Note-se, porém, que mesmo a observância dos limites de gasto e de saldo primário não causa impacto maior em expectativas e condições financeiras.
As exceções na contagem de despesas, formais ou não, levam economistas independentes a desenvolver seus próprios métodos de aferição do saldo do Tesouro.
Não se pode dizer com justiça que o método atual da Fazenda lembra as artimanhas do governo Dilma Rousseff (PT), várias delas ilegais. Mas a contabilidade oficial padece de descrédito, o que contribuiu de modo importante para o salto das taxas de juros de mercado com início em maio de 2024. Apenas discursos e objetivos frouxos não vão alterar de modo decisivo tal cenário.
ESTADÃO/EDITORIAIS: LULA RAZOAVELMENTE PERDIDO- 7/2
A retomada do circuito radiofônico de Lula da Silva é, sem dúvida, parte da estratégia para tentar estancar a queda de popularidade. Mas as primeiras entrevistas do ano mostram o presidente perdido ao avaliar a inflação, o problema que atualmente mais aflige a população. A tática tem sido a de terceirizar responsabilidades, com argumentos que colocam o governo como vítima da alta de preços, e não como um de seus principais causadores, numa narrativa absolutamente desconectada da realidade.
Primeiro, a ouvintes de Minas Gerais, Lula buscou passar a ideia de que o governo leva “muito a sério” a inflação, que, segundo ele, “está razoavelmente controlada”. No dia seguinte, para rádios baianas, jogou a culpa do descontrole dos preços sobre o Banco Central (BC), acusando a gestão passada da instituição - sob o comando de Roberto Campos Neto - de ter armado “uma arapuca” para seu governo. Essa armadilha, segundo o petista, não pode ser desmontada “de uma hora para outra”.
Difícil convencer a audiência de que a inflação está “razoavelmente controlada” diante do avanço dos preços de alimentos. Levantamento divulgado no fim de janeiro pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) mostrou aumentos significativos em itens como leite longa vida (18,83%), carne (25,25%), óleo de soja (29,22%) e café torrado (39,6%). Todos esses produtos integram a cesta básica, ou seja, ao menos em teoria são imprescindíveis a todas as famílias.
Tampouco é irretorquível o discurso sobre a seriedade com que o governo Lula da Silva trata a estabilidade inflacionária. Por óbvio, efeitos climáticos extremos têm prejudicado a agricultura e a pecuária com reflexos nos preços, mas considerável parcela dessa escalada se deve, como é notório, a uma demanda que cresce acima da capacidade econômica do País. Esse sobreaquecimento, por sua vez, é causado por políticas de governo sustentadas na expansão de gastos e no incentivo desmesurado ao crédito.
Lula diz que sua preocupação maior é evitar que o preço dos alimentos “prejudique o povo” e, para que isso não aconteça, tem feito “reuniões sistemáticas com os setores”. Ora, qualquer consumidor sabe que a inflação dos alimentos é sentida mais fortemente pela população mais carente, que despende maior parcela do orçamento mensal para custear a alimentação. E não serão reuniões com varejistas ou agricultores que derrubarão preços. Afinal, não há como o governo intervir em preços livres, e o passado recente demonstrou da pior forma para o consumidor a ineficácia de congelamentos.
Ao governo Lula da Silva cabe, principalmente, o respeito à responsabilidade fiscal, que parece se distanciar do Planalto na proporção inversa à proximidade das eleições de 2026. O presidente fala em “compensação” caso o reajuste dos combustíveis - que também têm preços livres e deveriam ser ditados por critérios de mercado - tenha impacto sobre os preços de transporte e alimentos. Vende um discurso vazio, como se tivesse o poder de evitar o repasse do aumento de gasolina e diesel aos transportes e às cargas conduzidas por caminhões.
O maior problema é que Lula enxerga o que quer enxergar e parece acreditar no dom de fazer com que o eleitorado veja o cenário sob a mesma ótica. “A economia está bem, o emprego está crescendo, massa salarial crescendo, coisas estão crescendo”, afirmou. O resultado imediato da política expansionista foi, de fato, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e do emprego, mas indicadores recentes começam a apontar para a perda de fôlego, tanto que o temor de retração da economia já entrou no radar para 2025 e 2026.
Entre as “coisas que estão crescendo” Lula poderia incluir a dívida pública federal, que no ano passado
chegou a R$ 7,3 trilhões, aumento de 12,2% em relação ao fim de 2023, sem contar a correção da inflação. O esforço para conter a inflação ficou por conta apenas do Banco Central, alvo de críticas do presidente por elevar juros com o único intuito de conter a inflação - esta sim uma arapuca capaz de minar a popularidade de qualquer governo.
Editorial / Valor - Ampliar crédito de bancos públicos é real ‘arapuca’ / O presidente Lula pode estar montando outra arapuca para seu governo, diferente da que atribui fantasiosamente ao Banco Central- Valor 7/2
Não há pior época para expandir o crédito do que quando as taxas de juros estão subindo muito, mas isso pode estar nas intenções do governo Lula. O Banco Central tem tentado, sem sucesso até agora, esfriar a economia, trazendo a inflação para a meta de 3%, e já avisou que o IPCA continuará acima de 4,5%, o teto do objetivo, pelo menos nos próximos seis meses. O presidente Lula, porém, não parece estar muito preocupado com isso, mas sim com seu índice de popularidade, em baixa nos últimos meses. Ele disse que nos próximos dias vai anunciar medidas para ampliar a atuação dos bancos públicos. “O crédito está crescendo, e haverá mais medidas nos próximos dias, porque não parou por aí”, afirmou.
Lula acredita que seu indicado para a presidência do Banco Central, Gabriel Galípolo, recebeu uma herança maldita, “uma arapuca que não se pode mudar de uma hora para outra”, a saber, a indicação futura de que a Selic teria de subir mais 1% nas reuniões do Comitê de Política Monetária de janeiro e março, elevando-a para 14,25%. O IPCA fechou o ano passado em 4,83% e, pelas projeções dos analistas, atingirá 5,5% ou mais em 2025, mesmo com juros reais acima de 8%, uma anomalia até para um país acostumado a ocupar rotineiramente o ranking das maiores taxas do mundo.
Na ata do Copom é apontado que o mercado de crédito se manteve “pujante” e que a autoridade monetária espera, como é natural, que com um aperto das condições financeiras e a elevação dos prêmios de risco o crédito bancário declinará. É insólito que a oferta de crédito continue crescendo acima dos dois dígitos mesmo com o custo do dinheiro tão alto como agora. Um dos motivos principais para isso é o aumento dos gastos públicos, que aqueceu a economia, reduziu o desemprego, aumentou os salários e propiciou que o consumo mantivesse um fôlego incompatível com o potencial de crescimento, com a alavanca coadjuvante do crédito. Não é pouca coisa. O estoque de crédito no ano subiu 2 pontos percentuais do PIB, para 54,4%. Somado ao déficit primário de 0,4% do PIB, obtêm-se 2,5% do PIB de injeção de recursos, o que em grande parte explica um crescimento de 3,5% no ano passado.
Com limitações para ampliar gastos em decorrência de metas fiscais que ele próprio criou, e para as quais gera exceções, o governo tem no crédito uma válvula de escape que poderá usar para sustentar a economia, ainda que isso dificulte o combate à inflação. O crédito direcionado, oferecido principalmente por bancos públicos, mas não só eles, atingiu R$ 2,68 trilhões - ou 22,7% do PIB -, e cresceu mais que o crédito livre, 11,4% ante 10,6%, respectivamente, segundo estatísticas do Banco Central.
A diferença do grau de expansão entre crédito livre e direcionado é pequena, mas chama a atenção a disparidade das taxas de juros. A média dos juros cobrados no crédito livre foi de 40,8% ao ano, enquanto no direcionado foi de 10,9%, quase um quarto. Essa taxa já está abaixo da que o Tesouro paga para se financiar, cada vez mais alta à medida que a Selic sobe. A situação é muito diferente da do governo Dilma, quando a TJLP, cobrada nos empréstimos do BNDES, era altamente subsidiada, com funding alavancado por dotações do Tesouro para o banco.
O BNDES tem aumentado expressivamente seus empréstimos para pessoas jurídicas, que crescem em algumas linhas acima da expansão do mercado (10,5%), como nas de capital de giro, que avançaram 84,7% nos últimos 12 meses. O financiamento para a agroindústria avançou 45,1%, e, no carro-chefe dos empréstimos, o do financiamento a investimentos, a alta foi de 14,9%. No total, os empréstimos do BNDES para empresas subiram 20,9%. O total do crédito, para empresas e pessoas físicas, atingiu R$ 431,6 bilhões, 7,8% maiores que no período anterior.
O saldo dos empréstimos dos bancos públicos encostou no dos bancos privados, R$ 2,72 trilhões ante R$ 2,79 trilhões, respectivamente. No fim do governo Bolsonaro, a diferença, ainda pequena, colocava os bancos privados à frente. Não há nenhuma disparada do crédito estatal até agora, como ocorreu no governo de Dilma Rousseff, o que não impede que um governo acuado pelas pesquisas não tente melhorar sua posição oferecendo dinheiro barato com alguma prodigalidade. O presidente Lula, que não está convencido de que equilíbrio fiscal é essencial para o combate à inflação, pode se sentir tentado a isso.
Há pouco tempo, quando o resultado da meta fiscal estava na berlinda, Lula se empenhou em iniciativa pública para aumentar o crédito consignado para os trabalhadores do setor privado, cujo montante é uma fração ínfima daquela hoje ofertada a aposentados e servidores públicos. Agora parece se entusiasmar com a ideia de elevar a disponibilidade de recursos a empresas e consumidores em um período de juros proibitivos e ainda em elevação. O presidente pode estar montando outra arapuca para seu governo, diferente da que atribui fantasiosamente ao BC. A inflação vai demorar mais a cair se a economia for estimulada, estendendo-se pelo período eleitoral. E os juros permanecerão altos, com enorme impacto na dívida pública.
Kassab agora diz que Lula é forte e pode reverter cenário para 2026 e nega querer ser vice em SP / Presidente do PSD ainda elogiou André do Prado como um “excelente nome” para compor a chapa ao governo estadual e disse que reforma ministerial “não faz diferença” para o PSD- Estadão 6/2
Por Geovani Bucci (Broadcast)
O secretário de Governo e Relações Institucionais do Estado de São Paulo e presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, recuou sobre a declaração que deu na semana passada de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não se reelegeria se a eleição de 2026 fosse hoje. “Ainda é muito cedo para afirmar qualquer coisa sobre a eleição. Ele ainda pode reverter o cenário. Ele é forte”, disse em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast nesta quinta-feira, 6, durante a Premiação Outliers Infomoney.
A fala do presidente do PSD causou muita repercussão porque seu partido possui três ministérios no governo federal – Minas e Energia, Agricultura e Pesca. O próprio presidente respondeu à declaração, afirmando que “começou a rir quando olhou para o calendário e viu que a eleição não é hoje.”
Conforme apurou o Estadão/Broadcast, Lula teria se irritado com a fala do secretário e cobrado o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, filiado à legenda, para procurá-lo e evitar que falas como essa se repetissem.
Kassab também disse na ocasião que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é “fraco” e que isso seria um “péssimo indicativo” para um governo durante o evento em questão. “O que eu disse deu muita repercussão, não era para tanto. Era apenas algo relacionado à postura dele no governo”, afirmou.
Ainda sobre as eleições de 2026, o secretário garantiu que não quer ser candidato a vice-governador na chapa de Tarcísio de Freitas (Republicanos). Para ele, o presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, André do Prado (PL), é um “excelente nome” para o cargo hoje ocupado por Felicio Ramuth do PSD.
Presidente do PSD diz que reforma ministerial não faz diferença para o partido
Na conversa, Gilberto Kassab, afirmou que a reforma ministerial pretendida por Lula “não faz diferença” para o partido. “Nossa torcida é que o presidente Lula faça um bom governo para o Brasil”, disse durante painel. Lula pretende manter nos ministérios apenas partidos que devem continuar na base de apoio do governo nas eleições de 2026.
Atualmente, o PSD possui três pastas sob seu comando - Minas e Energia, Agricultura e Pesca. Kassab ressaltou que o Brasil é um “País de moderados” e que o “liberalismo econômico” caminha para ser a preferência da maioria da população. “É um País de centro, mas não um centro fisiológico”, disse.
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