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Amilton Aquino

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"Hoje vou abordar dois assuntos completamente diferentes, mas ligados a uma mesma pauta: o esforço midiático do governo já na campanha presidencial para 2026.


O primeiro é a tentativa da imprensa de desgastar a imagem do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o único potencial candidato que Lula realmente teme enfrentar. De fato, a imagem de um policial jogando uma pessoa de uma ponte foi impactante. Tanto que o próprio governador admitiu publicamente ter errado ao não abraçar a ideia das câmeras nos uniformes dos policiais. Para os bolsonaristas mais irredutíveis, mais uma “traição” do governador ao bolsonarismo. Para o eleitor mais moderado, ponto para o governador.


O fato é que, cada vez mais, veremos a imprensa alinhada ao governo dando destaque a cada caso de violência policial em São Paulo, mesmo que, proporcionalmente, o estado apresente os melhores indicadores de segurança pública do país. Isso contrasta com a Bahia, por exemplo, governada pelo PT há anos e campeã absoluta não apenas em violência policial, mas em quase todos os indicadores de criminalidade, dados frequentemente ignorados pela mesma imprensa.


O segundo ponto é a narrativa petista, amplificada pela Globo, de que o “mercado” — sempre tratado como um ente conspiratório — estaria boicotando o governo por propor tributar os mais ricos para subsidiar os mais pobres. A pesquisa que aponta que apenas 10% dos “farialimers” confiam no Lula seria, segundo essa visão, a prova cabal dessa “conspiração”.


Para mim (e até para o próprio Lula, que ironizou a pesquisa), é surpreendente que ainda haja 10% de agentes de mercado que confiam no governo. Lembrando que, logo após a aprovação do arcabouço fiscal, esse número chegou a 90%! Ou seja, como já mencionei aqui na época, o mercado abusa do otimismo porque acredita que o Brasil, apesar de suas crises, jamais vai colapsar como a Venezuela ou a Argentina. Além disso, mesmo que o pior cenário se concretize, “crises trazem oportunidades”, como repetem 11 em cada dez gurus de investimentos.


O fato é que hoje estamos mais calejados. A sensação de dejavu é generalizada. O governo comemora um PIB anabolizado por gastos insustentáveis com um desemprego na mínima desde Dilma. Dilma, aliás, que comemorava uma taxa de desemprego de 4% às vésperas da catástrofe de 2015, vale lembrar.


Enfim, o pessimismo do mercado agora reflete apenas um choque de realidade. Continuo ouvindo suas opiniões, mas dou mais atenção a economistas ortodoxos — aqueles “chatos” que sempre alertam sobre a necessidade de gastar menos do que se arrecada. São os tais “neoliberais”, frequentemente acusados de só se preocuparem com números, ignorando os pobres.


Um dos números que ouvi nesta semana é um cálculo de que o aumento de um ponto percentual nos juros dos títulos indexados à inflação, reflexo da frustração com o pacote de cortes de gastos do governo, terá impacto de R$ 550 bilhões na dívida pública em cinco anos!


Ou seja, enquanto o governo estima, de forma otimista, uma economia de R$ 70 bilhões em dois anos para cobrir um déficit de R$ 1,1 trilhão, já contratou um acréscimo de mais de R$ 500 bilhões, o que vai gerar mais juros e demandar ainda mais esforço fiscal. E aqui está a ironia: eu sou um dos credores desses R$ 500 bilhões, pois comprei títulos com IPCA + 7,3%! Certamente, alguém aqui vai me xingar de “rentista”. Mas o que fazer em um ambiente onde a política ignora a matemática básica?


Seguimos à beira do precipício. O consolo é que o Brasil já enfrentou cenários bem mais adversos. O atual panorama pode mudar radicalmente se surgir uma proposta verdadeiramente crível de controle de gastos — algo que já foi apresentado por três deputados no Congresso. Sim, é impopular e difícil de ser aprovado. Porém, quando o efeito temporário do PIB anabolizado com gastos públicos insustentáveis se dissipar, a urgência do ajuste, hoje empurrada para 2027, pode ser antecipada por necessidade, o que até pode favorecer o governo, que poderá seguir posando de “defensor dos pobres” contra congressistas desalmados que querem impor medidas “neoliberais” a qualquer custo.


As narrativas já estão prontas, assim como a mídia alinhada e o STF, que atua como extensão do governo. Só falta combinar com a matemática e com a realidade."


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