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Indústria de ETFs: por que ainda nao decolou?

 Cenário Setorial/Investimentos: Indústria brasileira de ETFs ainda não decolou, mas qual o motivo?


Por Bruna Camargo


São Paulo, 22/11/2024 - Uma indústria com recém-completados 20 anos de história, R$ 51 bilhões de patrimônio líquido e 677 mil investidores. Os números referentes ao mercado brasileiro de fundos de índice (ETFs, na sigla em inglês) são dignos de nota, mas estão longe do potencial se comparados ao mercado multitrilionário dos Estados Unidos, por exemplo. Ou mesmo na comparação com outros ativos no Brasil, dado que os ETFs são menos de 1% do mercado. Mas qual o motivo para os ETFs ainda não terem deslanchado por aqui? Não há resposta única.


Globalmente há cerca de 11.200 ETFs e US$ 14,3 trilhões de ativos sob gestão. Cerca de 70% desse total está nos Estados Unidos, de acordo com relatório de outubro divulgado pelo JP Morgan Asset Management. A taxa de crescimento anual composta (CAGR, na sigla em inglês) do volume de ETFs no mundo foi de 20% desde 2014. E o documento ainda destaca os gatilhos que geraram picos de crescimento nos Estados Unidos, como a aprovação da nova regra de ETFs pela SEC (a CVM americana) em 2020, o lançamento de ETFs de equity ativos em 2021 e o lançamento dos ETFs de bitcoin à vista neste ano. A projeção é que os ETFs alcancem US$ 20 trilhões só no país até 2030.


Porém, no Brasil, o cenário é um pouco diferente. O boletim mensal de ETFs mais recente divulgado pela B3 indica que essa indústria cresce a passos menores por aqui. Embora os ETFs tenham 20 anos de história no País, só começaram a crescer de fato nos últimos cinco anos, com um salto de R$ 12 bilhões de volume em 2018 para R$ 30 bilhões em 2019, e avançando até a casa de R$ 50 bilhões conforme os dados mais recentes. Outro destaque é que 61,2% do volume de custódia está com pouco mais de dois mil investidores institucionais. Já os 556 mil investidores pessoa física têm 30,5% de participação.


 

Fonte: B3


"No Brasil, as coisas acontecem mais devagar", afirmou Bruno Stein, superintendente de produtos do Safra Asset Management, durante o Encontro Anual de Índices e ETFs, promovido pela S&P Dow Jones Indices e B3 no início do mês. “Vinte anos depois, continuamos vendo um potencial enorme, mas o mercado brasileiro, de certa forma, demora”, concordou Sérgio Foldes Guimarães, assessor sênior na área de Mercado de Capitais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que participou da organização para o lançamento do PIBB11, o primeiro ETF brasileiro, em 2004. “Ainda é um produto jovem, com muito a amadurecer”, avalia Thalita Forne, superintendente executiva da B3.


A questão sobre o ritmo de crescimento dos ETFs no Brasil foi abordada em mais de um painel do evento, indicando ser algo que intriga os próprios profissionais envolvidos. Para Renato Eid Tucci, sócio e superintendente de estratégias beta e investimento responsável da Itaú Asset Management, não há um único motivo para o mercado não deslanchar de vez. "Mesmo depois de 20 anos, muita gente olha e fala: 'Ainda é 1% do mercado, é pouco'. Mas há um potencial crescimento pela frente, não considerando apenas uma mudança ou bala de prata. É uma série de elementos que precisamos trabalhar para ajudar o investidor a investir melhor", disse, no evento.


Instrumento para investimentos táticos


Quando falam nos benefícios oferecidos pelos ETFs, os gestores desse segmento sempre destacam fatores como facilidade de acesso, tíquetes iniciais considerados baixos, taxas de administração menores que as de fundos com gestão ativa, e meio de diversificação e exposição a diferentes teses. Mas tem uma questão. Na verdade, os investidores ficam, em média, nove dias posicionados em ETFs, segundo dados apresentados por Joe Nelesen, responsável por Especialistas e Estratégia de Investimento em Índices na S&P Dow Jones Indices.


Na G5 Partners, o ETF costuma ser utilizado justamente para movimentações táticas. “Os ETFs dão uma liberdade grande para fazer a alocação tática, por conta da liquidez”, diz Fernando Donnay, sócio e gestor de fundos de fundos (FoFs) da G5.


Preferência por gestão ativa e baixo apetite a risco


Outro ponto que pode estar segurando o crescimento dos ETFs é a aversão a risco, segundo Donnay, da G5 Partners. Isso porque a maioria (94) dos ETFs listados na B3 são de renda variável, e o investidor pessoa física do Brasil tem apego à segurança da renda fixa, ainda mais considerando os juros historicamente altos. Na outra ponta, a renda variável é uma classe na qual os alocadores preferem fundos de gestão ativa para maturar ganhos de alfa no longo prazo.


“Também olhamos a dispersão de retorno dos investimentos. Quanto maior a dispersão na classe de ativos, pegando os melhores e piores, a gestão ativa tende a capturar melhor o alfa, se houver boa seleção dos gestores”, afirma Donnay.


O ponto de virada vem aí?


Há quem considere a transição do mercado de investimentos para a remuneração fee based como um ponto de virada para os ETFs, dado que o movimento foi um catalisador na indústria americana. Segundo Nicolas Gomez, diretor e líder de ETFs (iShares) e investimentos indexados da BlackRock para a América Latina, 60% das carteiras nos Estados Unidos são fee based, e dentro disso, 40% delas possuem ETFs. Isso porque, por lá, o papel do financial advisor está mais voltado para prospectar novos clientes do que gerir os portfólios individuais. Então há busca por instrumentos mais eficientes como os ETFs, avalia Gomez.


“A questão da distribuição pode sim travar esse investimento”, diz Donnay, da G5 Partners. Como os ETFs têm a característica de uma taxa de administração baixa, também pagam menos comissões para o profissional de investimentos. Então, há uma expectativa no mercado de que as novas regras de transparência da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) 175 e 179 possa mudar as dinâmicas de alocação dos investidores.


De todo modo, é consenso que há espaço tanto para gestão ativa quanto passiva nos portfólios. “A alocação para ETF é interessante e deveria ser mais explorada pelo investidor comum”, afirma Donnay. “A distribuição é uma questão-chave num primeiro momento, mas há a questão da estrutura do Brasil mesmo. Se a economia tivesse um patamar de juros mais baixo, o investidor buscaria mais risco e os ETFs seriam utilizados como uma das principais opções. Vai maturar ao longo do tempo.”


Contato: bruna.camargo@estadao.com



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