Despedidas (7)
Hoje, domingo, a temperatura chegou a 33 graus Celsius (eu ja estou desmobilizando meus cálculos em Farenheit, pounds, gallons, yards e inches, e voltando para o meu lar métrico decimal). A previsão para amanha é máxima de 34 e depois de amanha 35 (não olhei a previsão para o resto da semana, preferi não saber).
Com isso estamos nos despedindo também da sequencia de estações bem definidas que parece caracterizar o mundo inteiro, menos o Rio e, em menor grau, Sao Paulo. Em Lisboa, as estações são também bem marcadas, como aqui, mas amplitude de variação entre inverno e verão é menor, mais confortável para administrar.
O calor de Nova York no verão (e nos ainda não chegamos nele) é forte e piora com o aumento vertical da umidade do ar. Vir para cá’ em julho ou, pior, em agosto é um erro serio que so se justifica se a viagem é a trabalho, para alguma coisa urgente e inadiável. Como na Europa, a cidade fica também muito menos atrativa. As coisas de arte, musica, teatro, entram em recesso (os musicais de sucesso ficam, a espera da multidão de turistas que aproveitam as ferias para vir a cidade de qualquer modo). Os museus ficam abertos, os bares e restaurantes põem mesas nas calcadas, mas não é fácil ficar numa com o efeito-forno (o nome é esse mesmo, oven effect), que é o que acontece quando o ar esquenta e você é envolto pelo calor.
A umidade faz suar em bicas, encharcando as roupas e dando aquela permanente sensação desagradável de que você precisa de um banho com urgência (não é a sensação de que um banho seria agradável, é a outra, aquela de que você precisa mesmo tomar um banho antes que o proíbam de andar pela cidade). Eu não gostava de temperaturas assim no Rio (todo ano eu pensava em me mudar para alguma outra cidade, provavelmente no nordeste onde a brisa do mar sobre o tempo todo) e odeio essas temperaturas aqui também.
Por outro lado, se dá para chegar a 40 C em agosto (o normal é ficar nos trinta e muitos, mas chega a 40, 41 de vez em quando), chega-se a -20 C no inverno com facilidade, apesar do normal também ser ficar um pouco acima disso, mas dias e dias abaixo de zero. Eu não sei o que me incomoda mais. O frio intenso, menos pela temperatura em si, e mais pelo incomodo de ter que colocar todos os agasalhos necessários para ir a rua mesmo para uma bobagem rápida, ou sair da rua gelada e entrar em um ônibus ou vagas do metro superaquecido, cheio de passageiros suando por que não da’ para tirar o excesso de roupa e depois colocar de novo na hora de descer é o fim da picada.
Ou o verão em que tudo é quente demais, e da’ vontade de se ficar no metro indo e voltando o tempo todo para não sair do ar condicionado. O inverno e’ provavelmente pior, por causa da neve. Quando chegamos aqui, em 1982, como a maioria dos compatriotas, nos nunca tínhamos visto neve. A imaginação sobre como era isso corria solta, alimentada pela melancolia de ver aqueles papais noeis de shopping no Rio, suando como um bode, apesar da roupa vermelha ser de cetim, e colocar Despedidas (9) em arvore de natal para simular neve quando fazia 40 graus la fora.
Quando ouvimos no radio que nevaria numa noite pouco depois de chegarmos, ficamos acordados quase toda a noite e quando ela começou a cair, pelas 3 da manha, fomos os três, Fernanda, Thiago e eu para o meio da rua ver como era. Caiu so um pouquinho, mas para nos foi grandioso (dias depois caiu uma nevasca de verdade, com mais de trinta centímetros de neve acumulada na calcada). Foi um grande barato, mas na segunda vez que caiu neve, voce se lembra que vai ter que sair com uma pá para limpar sua calcada, porque se alguém cair vai processar você pelos danos (aqui no nosso prédio são os porteiros quem tem de fazer isso).
No dia seguinte, a neve se transformou em um barro sujo, pela combinação de poluição e o sal que e’ jogado nas ruas para ajudar a derreter. Muitos dias depois essa neve se transformou em poças disfarçadas em que voce pisa e seu pe’ afunda e fica todo molhado ou se solidifica e se transforma em gelo, onde se escorrega e se vai ao chão, sem consequências piores so porque o volume de roupas que esta’ usando amortece a queda. Enfim, para mim (Fernanda e’ mais romântica) a despedida do inverno, que aconteceu no começo de abril, quando caiu a ultima neve deste ano foi a mais Benvinda. Se eu nunca mais vir neve na vida, ainda assim vou ter visto neve demais.
Mas a despedida das estações (meias estações?) e’ mais triste. Primavera e outono sao um barato, inacessível a quem vive no Rio. Na primavera o barato e’ ver a volta do verde, principalmente, todas aquelas arvores secas se cobrindo de folhas de um dia para o outro. No outono e’ ver a mudança das cores das folhas quando as arvores se preparam para hibernar. Em Lisboa as estações sao tambem bem marcadas, com amplitude de variação de temperatura menor, mais confortável. O calor e’ forte, mas o frio e’ muito mais ameno do que aqui. La’, como aqui, a delicia e’ mesmo ir numa meia estação.
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