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José Augusto Lambert

Eu entrei para a universidade (UFRJ) em 1974. Na época, ouvi muito avisos de familiares e amigos para tomar cuidado com o que falava e com quem falava. Eu, como outros (poucos) colegas, arriscamos não ficarmos mudos. Fui representante de turma, participei do DCE Mário Prata, fiz discurso a favor de uma greve contra o Pacote de Abril de 1977 e corri de uma tropa de choque que um dia baixou no Fundão, Tinha a certeza, com alguma soberba, de que o DOPS devia ter alguma ficha com meu nome. Assim eram os tempos de chumbo.

Eu, como consequência quase inevitável para todos que se opunham à ditadura, era de esquerda. Assim continuei por mais uma década até começar a entender como funciona o ser humano  e a sociedade.

Uma das coisa que aprendi é que a democracia não é o estado "natural" dos grupamentos humanos. É uma conquista civilizacional ainda muito pouco entendida e praticada. O autoritarismo, sim, é a condição primária do individuo e da maioria das sociedades. Apenas 30 dos 193 paises da ONU são considerados democracias, "relativas" ou não.

Como lembrava Otávio Mangabeira, "a democracia é planta tenra, é frágil e precisa de cuidados constantes para se desenvolver e sobreviver". 

Se descuidarmos, haverá sempre quem se aproveite de momentos muito difíceis (ou muito fáceis) para violar os principios democráticos básicos.

O autoritarismo sempre esteve presente na vida institucional brasileira. Simplificando, podemos dizer que a Esquerda, com suas fantasias igualitaristas,  não receia em pisar nas liberdades democráticas, especialmente a liberdade de expressão. A Direita, com seu reacionarismo, tende a subestimar o direito à diferença das minorias.

O que assistimos, hoje, é a degradação, acumulada em décadas, dos tres poderes, resultado último do descuido com a educação durante a fase em que a população pobre cresceu em ritmo geométrico, especialmente a partir dos anos 50.

A CF de 88, pré queda do Muro de Berlim, ao invés de procurar a autonomia dos indivíduos carentes, optou pelo assistencialismo dos direitos sem _plata_ ou contrapartida na produtividade. Para piorar, a CF preservou os vícios institucionais impostos pela ditadura no seu esforço de esticar sua permanência no poder, com destaque para a super-representação do Norte e Nordeste no Legislativo e os subsídios à improdutividade protegida.

O resultado foi a eleição de políticos fisiológicos e populistas que, eternizando-se nos Executivos e Legislativos, acabaram também por envenenar as supremas cortes com indicação de cumplices despreparados.

Todos saqueando a Viúva até chegarmos ao ponto em que, exauridas a capacidade produtiva e arrecadatória do país, tentam se manter no poder, calando as vozes dissidentes mais agressivas ou ameaçadoras aos seus projetos de poder. Muitas dessas vozes, é bom não deixar passar, também de recorte autoritário e rentistas do erário público.

Milei, com todos os suas esquisitices e alguns traços autoritários, vem, porém, mostrando o caminho. É possivel ganhar eleições, rejeitando o ilusório e impagável assistencialismo estatal. O problema é que a situação na Argentina teve que piorar muito. Só depois de muita inflação e corrupção, é que os argentinos resolveram dar uma chance à realidade de que _there is no such thing as free lunch_.


Parece que estamos ainda muito longe de aqui surgir alguém como Milei. Precisaremos chegar ao ponto em nossos _hermanos_ chegaram?

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