Extensão do ciclo de alta de juros volta a ganhar força antes da decisão do Copom
Gabriel Roca Victor Rezende e Gabriel Caldeira De São Paulo
O mercado volta a mostrar maior inclinação pela continuidade do ciclo de aperto monetário para a próxima reunião do Banco Central, e, durante a tarde, a probabilidade de uma alta de 0,25 ponto era negociada a 65% frente a 35% de chance de manutenção. Ainda que os motivos para o ajuste de posições do dia não sejam claros, diversos agentes financeiros consultados pelo Valor relatam desconforto em apostar no fim do ciclo quando, na avaliação deles, a própria comunicação oficial do comitê buscou reforçar a possibilidade de um novo incremento na Selic na semana que vem.
É uma opinião praticamente consensual no mercado que houve um forte reajuste de orientação na comunicação dos membros do Copom no intervalo entre as reuniões. Ainda que a possibilidade de extensão do ciclo não estivesse encerrada após a divulgação da ata, a leitura era a de que a barra para uma alta de 0,25 ponto percentual na reunião de junho era extremamente elevada.
Nesse intervalo, os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e da Pnad Contínua de abril surpreenderam, desafiando, parcialmente, a visão recente e mais convicta do Copom de que a atividade econômica iria perder força. Mesmo assim, poucos players avaliam que esses dados, de maneira isolada, teriam sido suficientes para justificar tamanha alteração na visão dos membros do colegiado.
Relatos de que os membros da diretoria do colegiado se mostraram mais conservadores em reuniões privadas com agentes de mercado acabaram encontrando respaldo nas falas do presidente do BC, Gabriel Galípolo, em palestra realizada no Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP). Novos ruídos ocorreram em outras reuniões fechadas à imprensa e, no fim de semana, Galípolo buscou reafirmar que a comunicarão do colegiado era feita apenas pelos canais oficiais.
A dúvida que paira na cabeça dos agentes de mercado é: se o colegiado não tinha — ou não tem — a intenção de prosseguir com o ciclo de aperto monetário, por que houve a tentativa de abrir a porta para este desfecho quando a discussão já parecia pacificada?
A resposta acabou traduzida, rapidamente, nos preços dos ativos financeiros. Gestores e tesoureiros apontam que, após a mudança na comunicação, o mais razoável, do ponto de vista dos preços de mercado, seria o cenário onde as opções apontam uma probabilidade de 60% para a alta de 0,25 ponto e 40% pela manutenção às vésperas da decisão. Esse seria um novo "preço justo".
Algumas explicações buscam elucidar a volatilidade das opiniões nos últimos dias. Entre as reuniões, a narrativa de desaceleração do PIB global relacionada à guerra comercial travada pelos EUA perdeu força, amenizando um dos vetores baixistas para a inflação citados pelo Copom no balanço de riscos da última reunião.
Já no cenário doméstico, após o imbróglio envolvendo o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), há participantes do mercado céticos de que ocorra, de fato, um encarecimento no crédito e consequente aperto nas condições financeiras. Isso justificaria uma reversão em parte das apostas de fim de ciclo, que se avolumaram no início do mês passado. Além disso, os números de atividade que ainda serão divulgados nesta semana — dados do varejo e do setor de serviços — passam a ser considerados cruciais para o desfecho da reunião de quarta-feira que vem e também podem estar por trás de uma postura mais defensiva dos agentes.
Para alguns participantes de mercado, ao estender o ciclo de aperto monetário, ou ao menos endurecer o discurso de forma relevante, o BC conseguiria, por ora, afastar a ideia dos cortes prematuros nos juros. Isso porque a precificação excessiva de um afrouxamento monetário adiante poderia comprometer os esforços realizados pelo colegiado até o momento com o ciclo de alta.
As dúvidas são bem maiores, no entanto, sobre a viabilidade da estratégia do comitê de, após reacender o debate sobre a extensão do ciclo, simplesmente não elevar a Selic e fechar a porta para novas altas. A leitura majoritária é a de que, buscando ganhar uma "opcionalidade", o Copom será obrigado a entregar um novo aperto nos juros. Nos próximos dias, revisões de cenário sobre a reunião de quarta-feira devem deixar claro que boa parte do mercado migrou para uma nova alta de juros na semana que vem.
"É um BC independente e, em teoria, pode muito bem avaliar que uma nova alta não é necessária e surpreender o mercado. Não fosse, o Copom não precisava existir e o mercado definiria a taxa. A questão é: se o mercado estava precificando zero, por que ele (BC) fez o mercado migrar para o 0,25 p.p?", questiona um gestor que avalia como de difícil leitura o desfecho da próxima reunião do Copom. 11/06/2025 16:39:00
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