Copom tenta evitar que curva de DI precifique corte da Selic cedo demais, segundo analistas
Por Gustavo Nicoletta
São Paulo, 07/05/2025 - O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) trouxe uma série de elementos que indicam menor propensão a uma nova alta nos juros, mas também pretende evitar que os investidores se precipitem em apostas sobre o momento em que a Selic começará a cair, segundo especialistas.
A favor de um potencial fim do ciclo de alta da Selic estão as mudanças no balanço de riscos para a inflação. O Copom deixou de considerá-lo assimétrico e igualou o número de fatores que podem estimular ou deprimir a alta de preços - agora são três para cada lado. Antes, havia um a menos entre os riscos baixistas.
A redução nas projeções de inflação para 2025 e 2026 também pode entrar nesta conta - embora a previsão para o ano que vem esteja ligeiramente acima de algumas das estimativas que circulavam no mercado para o horizonte relevante da política monetária.
Mas o comunicado também ressalta que o cenário ainda é de "expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho", e que isso prescreve "uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período prolongado".
Luciano Telo, executivo-chefe de investimentos do UBS Global Wealth Management, afirma que este trecho do comunicado do Copom e a ênfase dada à incerteza vinda do exterior e dos efeitos da guerra comercial sobre a atividade, a inflação e os preços de ativos indicam que há uma preocupação do colegiado em indicar que apostas de corte na Selic seriam "prematuras".
"Ele procurou evitar que isso fosse para o preço muito rápido, evitar este tipo de discussão. O mercado sempre tenta se antecipar. O Copom fez esforço no comunicado para demorar mais algum tempo para entender a volatilidade das tarifas, se mostrou preocupado e quer de fato manter a política mais apertada", diz.
Huang Seen, head de renda fixa da Schroders, avalia que o Copom está tentando não soar "dovish" - propenso a afrouxamento da política monetária - depois de, na prática, ter indicado que há grandes chances de a Selic parar de subir e permanecer no nível atual, agora de 14,75% ao ano.
"Mesmo que não esteja explicitamente no texto, se tudo correr de acordo com o que eles esperam, praticamente dá para dizer que o ciclo se encerrou. Nos dá a entender que provavelmente o plano de voo deles é manter esse nível, que eles entendem que já é significativamente contracionista por um período prolongado. O que eles não querem é parar e o mercado entender como sinal verde para sair cortando", afirmou.
Gean Lima, estrategista e trader de juros e moedas da Connex Capital, aponta que o posicionamento do Copom e a preocupação em "espantar a precificação de cortes muito cedo" deve resultar numa inclinação da curva de juros futuros.
"A precificação de manutenção da Selic para a próxima reunião deve aumentar, e ele está falando que não pretende cortar juros tão rápido, de preservar a taxa de juros mais alta por mais tempo", afirmou.
Contato: gustavo.nicoletta@estadao.com
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